terça-feira, 26 de setembro de 2023

"Hoje o céu está em festa!"

"Hoje o céu está em festa!"

Quinze anos passados fiz a celebração das exéquias do Leonardo, o “Léo”, que acompanhei por pouco tempo, mas o bastante para jamais esquecê-lo. Há pessoas que nos marcam, nem tanto pelo tempo que viveram, mas pela intensidade com que viveram. O “Léo”, o “Leozinho” foi uma delas... Com  pouco mais de dois anos, nos antecipou na glória dos céus. 

Leonardo foi uma criança muito especial. Fez transplante de medula óssea, não teve sua vida prolongada entre nós, mas diante de Deus eternizada.

No hospital por longo tempo, enfrentou quimioterapias, radioterapias, mas o Léo sempre correndo de um lado para outro. Na fragilidade teimava e ousava contra a dor que se impunha aos limites que carregava. 

A todos impressionava, pela alegria e coragem. Sem se entregar, com desejo puro de viver; desejo que carrega dentro de si toda criança, os preferidos de Deus. Aquela criança que entrava no coração das pessoas há quatro anos entrou na glória dos céus. 

Como explicar que no velório de uma criança, quatro padres tenham passado para a oração e solidariedade ao longo do dia, considerando que isto não é tão comum? Todos nós com alguma ligação com a família, e sensibilizados pela páscoa de uma criança. Tivemos a presença da Igreja num momento tão difícil, tão dilacerante como é a morte, sobretudo a morte de uma criança, um inocente. Ali, inerte, feito anjo, sem movimentos, mas no céu sua alma se movimenta, porque adentrou na alegria e na plenitude do amor da glória de Deus. 

Estavam presentes seus pais, sua irmã, avós, avôs, padrinho e madrinha, tios e tias, familiares, amigos e amigas... E também a Comunidade de Fé, ali, ao redor daquele pequenino corpo, morada provisória que um dia acolheu aquele no Batismo por Leonardo foi chamado. 

Hoje, não mais um casebre possui, mas desfeito o seu corpo perecível, Deus lhe concedeu uma mansão espiritual, porque adentrou na plenitude dos céus. 

Leozinho está no céu, certamente sorrindo, livre de toda dor que com serenidade suportou, agora junto de Deus, dos Anjos e Santos, contemplando a face da Virgem Maria, talvez no colo da mesma, deve estar nos dizendo: 

“Estou bem!

Agradeço por vocês um dia terem me acolhido com todo carinho. Vivi só um pouquinho entre vocês, mas um dia a gente vai se encontrar para sempre. 

Estou tão bem!

Sei que vocês choram a minha partida, compreendo! Mas não fiquem tristes, estou mergulhado num mar infinito de amor. Os anjos brincam comigo, não sinto um pingo de dor, porque aqui não tem lugar para ela, reina o puro amor. 

Ah, Deus me deu uma morada muito linda como Ele prometeu, embora eu ainda não soubesse disso, porque não tive tempo de conhecer o Evangelho, mas o Senhor me revelou. 

Obrigado por tudo que fizeram a mim! Continuem unidos a mim em Oração, pois eu estarei sempre unido a vocês na Comunhão dos Santos. Embora não tenha tido tempo de aprender, gostava de ficar olhando para os Santinhos, para o Padre... 

Mamãe, não sabia que eu era apenas um grãozinho de trigo que ao morrer produziria os frutos queridos por Deus. 

Espero que com a minha partida, (não digo perda, pois sei onde estou), as pessoas valorizem e amem mais a vida. 

Peço que todos se lembrem de mim sempre; amando e defendendo a vida, sobretudo a vida de crianças e inocentes. Isto me trará muita alegria ao coração e a minha partida não terá sido em vão. 

Eu entrei na glória dos céus. Espero um dia acolher vocês por aqui, com um sorriso e um abraço. Tenho que parar agora, o coral dos Anjos me chama para o canto, para o louvor ao Senhor da vida... 

Continuem firmes na Oração e até um dia! Eu amo vocês, e serei sempre para vocês o Leonardo, o Léo, o Leozinho".

Ao final da celebração cantamos: “Mãezinha do céu, eu não sei rezar, azul é seu manto, branco é seu véu, mãezinha eu quero te ver lá no céu” O que aqui provisoriamente cantamos, o Leozinho contempla, o que nós queremos ele já alcançou! 

Na ocasião, veio a minha mente, outros momentos de separação provisória: Marquinhos e Maciel (dois irmãozinhos que morreram afogados em Rondônia em 2002) e tantos outros, que de Deus vieram, se moveram, viveram e para Deus tão cedo voltaram. Mistérios de Deus que meditamos em nosso coração! 

Jamais esquecerei aquela frase da mamãe e papai dos dois acima (Marquinhos e Maciel) – “Eles foram dois presentes que Deus nos deu, brincamos por algum tempo, e para Deus voltaram...”. 

Acolhamos e valorizemos a vida como “presente de Deus”, aproveitemos cada dia, cada hora, cada segundo, cada momento... 

A morte de inocentes nos leva a pensar, avaliar e valorizar a vida como dom divino que não pode ser desprezado, desvalorizado, desperdiçado.

A vida tem sua beleza para além do tempo que se vive. A vida destes inocentes tem uma medida que é infinitamente maior que a soma dos dias que viveram.

Quantos não valorizam a própria vida e têm atitudes que se voltam contra a mesma. É tempo de amar, defender e promover a vida, como a Igreja sempre nos ensina: do princípio até o seu declínio natural, para desabrochar na eternidade. 

Leonardo, o Leozinho, e outros tantos desabrocharam e floresceram na eternidade, no jardim de Deus!

“Ave Maria, cheia de graça...”.

Nenhum comentário:

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG