“Acreditamos no amor” (cf. 1 Jo 4, 16)
Neste capítulo, o Papa inicia apontando para a fé que nos desvenda o caminho e nos acompanha nos passos da história.
Apresenta-nos Abraão como o pai da fé, aquele que não viu Deus, mas acreditou na Sua voz. De modo que, a fé é a resposta a uma Palavra que interpela pessoalmente, a um “Tu”, Deus, que nos chama pelo nome. Assim foi com Abraão.
A fé está ligada à escuta, e, como memória do futuro, está intimamente ligada com a esperança. A fé acolhe a Palavra de Deus como rocha segura, sobre a qual se pode construir com alicerces firmes.
É preciso ser fiel a Deus, porque Deus é fiel a nós. Enriquecedora citação de Santo Agostinho ele apresenta: “O homem fiel é aquele que crê no Deus que promete; o Deus fiel é aquele que concede o que prometeu ao homem” (n.10).
Discorre por várias páginas a experiência de fé do Povo de Deus, uma história marcada por fidelidade e infidelidade, adoração e idolatria, mas o Amor divino sempre se faz presente como um pai que conduz o filho pelo caminho.
A idolatria se contrapõe à verdadeira fé. De um lado a “fé pede para se renunciar à posse imediata que a visão parece oferecer; é um convite para se abrir à fonte da luz, respeitando o Mistério próprio de um Rosto que pretende revelar-Se de forma pessoal e no momento oportuno”, de outro a idolatria. Citando o rabino Kock, a idolatria é “quando um rosto se dirige reverente a um rosto que não é rosto” (n. 13).
O ídolo coloca-se a si mesmo no centro da realidade, na adoração da obra das próprias mãos. Ela por sua vez conduz ao politeísmo e não oferece um caminho seguro, mas veredas, introduzindo-nos como que num labirinto. Produz um movimento dispersivo.
A fé, como dom gratuito, por sua vez, é voltar-se para Deus num encontro pessoal. Acreditar é “confiar-se a um Amor misericordioso que sempre acolhe e perdoa; que sustenta e guia a existência, que se mostra poderoso na sua capacidade de endireitar os desvios da nossa história. A fé consiste na disponibilidade a deixar-se incessantemente transformar-se pela chamada de Deus” (n.13)
Em Jesus Cristo se revela a plenitude da fé cristã, por isto todas as linhas do Antigo Testamento se concentram em Cristo.
Ele é a intervenção definitiva de Deus, a suprema manifestação do Amor de Deus por nós. Deste modo, a fé cristã é a fé no Amor pleno, no Seu poder eficaz, na Sua capacidade de transformar o mundo e iluminar o tempo. (n. 150), e a hora da Cruz se constituiu no momento culminante do olhar da fé (n.16).
Pela fé, sabemos que Deus Se tornou muito próximo de nós, transformando-nos e em nós habitando, iluminando a origem e o fim da vida. Assim, abrir-se à fé é deixar-se transformar pelo Amor e alargar o horizonte da esperança.
Na Cruz revela-se o Amor inabalável de Jesus por nós. Este Amor não subtraiu a morte, mas penetrou na morte para nos salvar. (n. 16). Por isto, Jesus, “perito nas coisas de Deus”, é Aquele que nos explica Deus (1 Jo 18).
Crer, acolher, confiar, aderir e seguir o Senhor, é o itinerário da fé em Deus revelado por Jesus, que Se fez próximo e entrou em nossa história. Por isto, a nova lógica da fé centra-se em Cristo.
A vida na fé se constitui, portanto, no reconhecimento do dom originário e radical, que se encontra na base de nossa existência (n. 19). E a Salvação pela fé, por sua vez, é o reconhecimento do primado do dom Deus como graça.
No final do capítulo nos apresenta a forma eclesial da fé: A fé se vive em comunhão, em comunidade. É inconcebível viver a fé isoladamente. A fé nos insere no Corpo de Cristo, no qual professamos a nossa fé.
Excluída a possibilidade da concepção individualista da fé, ela nos leva à comunhão e ao anúncio. Portanto, se torna operativa, transformando-se em luz para os olhos de quem a possui.
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