Ressurreição, evento inesperado e fonte de compreensão do Mistério de Jesus.
Os quatro Evangelhos nos apresentam o acontecimento da Ressurreição, num contexto em que os discípulos se encontravam profundamente desanimados, desiludidos e inquietos (e não por acaso, haja vista o fim inglório de seu Mestre).
- Como manter o entusiasmo despertado na experiência da Transfiguração (Mc 9,2-10; Mt 17,1-9; Lc 9,28-36), e pelos milagres testemunhados com os próprios olhos, as ressurreições realizadas: a filha de Jairo (Mc 5,21-24.35-43), o filho da viúva de Naim (Lc 7,11-17), Lázaro de Betânia (Jo 11,1-45)?
A morte de Jesus provocou um sofrimento tão profundo que anulou toda esperança, de modo que foi necessária uma longa pedagogia de encontros e de provas sobre a realidade do Ressuscitado:
- Deixar-Se tocar por Tomé (Jo 20,27);
- Caminhar com os discípulos de Emaús (Lc 24, 15);
- Comer com eles (Lc 24,42-43; Jo 21,10-12).
Voltemo-nos, de modo especial, para a passagem da caminhada de Jesus com os discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35):
Caminhavam desiludidos, entristecidos, afinal viram ocorrer o naufrágio do sonho de liberdade:
– “Nós esperávamos que Ele seria o que devia libertar Israel. Mas, com tudo isso, já é o terceiro dia que esses fatos se deram” (Lc 24,19-21).
De fato, o “evento da Paixão e Morte havia provocado neles desânimo e até a negação. Pedro que confessara Jesus como ‘o Cristo, o Filho do Deus vivo’ (Mt 16,16), diante de Jesus aprisionado e humilhado (Mt 26,67) admite não O reconhecer mais.” (1)
Mas a Ressurreição foi o acontecimento inesperado “... que ofereceu aos discípulos a verdadeira compreensão de Jesus. A luz da Páscoa ilumina em sua autêntica realidade a história terrena de Jesus, pela qual os discípulos passam de um reconhecimento superficial e incompleto à confissão convicta, ao anúncio inabalável, até a entrega da própria vida no martírio.
É a Ressurreição que de fato restitui a Pedro e aos discípulos a fé e o entusiasmo em Jesus, tornando-os difusores tenazes e perseverantes do seu Evangelho de Salvação” (2)
A Ressurreição é, portanto, o não naufrágio dos sonhos, da esperança, da liberdade, da vida.
Com Ela renovam-se as forças, pois está Vivo, com os discípulos, com a Igreja, Aquele que sempre estivera, mas agora Ressuscitado e Glorioso, como dissera.
A ausência de inteligência de alguns e a lentidão para crer de outros, ou ambas presentes no coração e na mente dos discípulos, foram dissipadas aos poucos, quando o próprio Ressuscitado Se deu a conhecer, e a eles comunicou a Sua presença e Palavra.
(1) (2) Dicionário de Homilética – Verbete Ressurreição – p. 1492.
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