Ressurreição de Jesus, um evento transcendente e, ao mesmo tempo, real e histórico.
Qual foi o cenário real, após a Morte de Jesus, na vida dos discípulos?
Eles ficaram tristes, temerosos, céticos, incrédulos, duros de coração e cheios de dúvida, sem inteligência e lentos para crer (Lc 24,18; Mc 16, 4: Mt 28,17: Lc 24,37).
Evidentemente, somente um grande acontecimento conseguiria mudá-los, leva-los a retomar a missão confiada por Jesus, quando ainda Se encontrava no meio deles.
Somente a Ressurreição de Jesus reestabeleceria o primeiro entusiasmo e lhes devolveria a coragem, o ardor, a ousadia para anunciarem, a partir de Jerusalém, para todo o mundo, como alegres e convictas testemunhas da Ressurreição de Jesus e da Vida Nova que Ele tem a oferecer à humanidade.
Enquanto acontecimento transcendente, Jesus foi restituído com a Sua humanidade à vida gloriosa, plena e imortal de Deus, de modo que Seu corpo Ressuscitado “...mesmo mantendo Sua identidade e realidade humana, foi habilitado a viver eternamente na comunhão divina trinitária.
Ocorre a transfiguração gloriosa do corpo, que se torna, como diz São Paulo, um corpo ‘pneumático’ (espiritual: 1 Cor 15,44) no sentido forte de corpo inteiramente penetrado pelo sopro vital do Espírito criador de Deus, que o transformou de corruptível em incorruptível, de desprezível em glorioso, de fraco em forte (1Cor 15,42-43).” (1)
Enquanto acontecimento histórico e real, podemos afirmar fundamentados nos testamentos simultâneos e abundantes pelos diversos escritos do Novo Testamento: “Ela de fato constitui o ponto alto dos quatro Evangelhos e a linha vermelha que une a pregação eclesial desde Pedro até nossos dias” (p 1494).
Segundo o Catecismo da Igreja Católica (n.647), a passagem instantânea da humanidade de Jesus da morte à vida divina trinitária, é um evento essencialmente transcendente e meta-histórico, mas continua mantendo “...sólido e fundamentado vínculo com a história mediante a constatação do sepulcro vazio e a realidade das aparições, que constituem um misterioso encontro entre transcendência de Deus e imanência do homem, entre eternidade e tempo.
Por essa sua intrínseca natureza ‘do alto’, deixar-se reconhecer é um dom de graça do Ressuscitado” (2)
Em todas as manifestações do Ressuscitado, culminando em seu reconhecimento, foi sempre uma iniciativa e prerrogativa divina, não uma iniciativa humana:
É Ele quem Se dá a conhecer, que Se manifesta, que chama pelo nome, que partilha o Pão com os discípulos de Emaús, assim como o reconhecimento por Maria Madalena na madrugada da Ressurreição, quando fez uma refeição com gosto Eucarístico com os discípulos à beira do Lago de Tiberíades ( Jo 21, 1-14).
As aparições de Jesus Ressuscitado é o tocar a história, e com este contato pôde ser documentado pelos autores da Sagrada Escritura.
Evidentemente que não se trata de “uma historicidade imediata, mas mediata.
Os Evangelhos não testemunham a Ressurreição no momento preciso em que ela ocorre no tempo: só o Evangelho apócrifo de Pedro ousa apresentar de modo grosseiro o momento da Ressurreição de Jesus, descrevendo um fantasma enorme que se eleva até o céu. Imediatamente a histórica capta a fé dos discípulos no Cristo Ressuscitado com base nos dois fatos concretos do sepulcro vazio e do ciclo das aparições” (3).
Com isto, podemos afirmar, a partir da fé, que a Ressurreição não se trata de revivescência (CIC 646), nem imortalidade da alma, nem reencarnação e tão pouco uma simples lembrança de Jesus e dos Seus Ensinamentos que teria provocado na mente dos discípulos a convicção de uma presença d’Ele depois de Sua morte.
Afasta-se qualquer possibilidade de afirmar que a Ressurreição é uma criação psicológica dos discípulos, mas trata-se de um evento concreto, referiu-se essencialmente a Jesus e à volta à vida eterna do Seu corpo mortal:
“...foi o encontro com Jesus Ressuscitado que provocou nos discípulos a fé na Ressurreição e não o contrário. A Ressurreição não foi a consequência, mas a causa da fé dos discípulos.
Não se tratou de uma realidade criada pelos discípulos por fraude (como queriam os sumos sacerdotes e os fariseus (Mt 27, 62-65), por alucinação (segundo interpretações racionalistas ultrapassadas) ou por conversão pós-pascal aos ensinamentos de Jesus, independentemente das aparições e do sepulcro vazio (segundo uma linha de interpretação contemporânea)” (4).
A Ressurreição e quaisquer outros termos indicam a volta à vida d’Aquele que havia morrido, e mais precisamente o retorno do corpo morto de Jesus à vida Trinitária.
Deste modo, a Sagrada Escritura também chama a Ressurreição de exaltação, glorificação, senhorio cósmico, entrada no santuário celeste (Hb 9, 11-12), presença viva (1 Cor 13,4; Rm 14,9).
(1) (4) Dicionário de Homilética – Verbete Ressurreição – p. 1493.
(2) (3) Idem – p. 1494.
Nenhum comentário:
Postar um comentário