Aspiremos uma vida perfeita
“Onde quer que estejamos,
devemos e podemos aspirar à vida perfeita.”
Meditemos parte “Da Introdução à Vida Devota”, que retrata a devoção que deve ser praticada, de modos diferentes e num enriquecimento mútuo, escrita pelo Bispo São Francisco de Sales (séc.XVI).
“Na criação, Deus Criador mandou às plantas que cada uma produzisse fruto conforme sua espécie. Do mesmo modo, Ele ordenou aos cristãos, plantas vivas de Sua Igreja, que produzissem frutos de devoção, cada qual de acordo com sua categoria, estado e vocação.
A devoção deve ser praticada de modos diferentes pelo nobre e pelo operário, pelo servo e pelo príncipe, pela viúva, pela solteira ou pela casada. E isto ainda não basta. A prática da devoção deve adaptar-se às forças, aos trabalhos e aos deveres particulares de cada um.
Dize-me, por favor, Filoteia, se seria conveniente que os bispos quisessem viver na solidão como os cartuxos; que os casados não se preocupassem em aumentar seus ganhos mais que os capuchinhos; que o operário passasse o dia todo na Igreja como o religioso; e que o religioso estivesse sempre disponível para todo tipo de encontros a serviço do próximo, como o bispo. Não seria ridícula, confusa e intolerável esta devoção?
Contudo, este erro absurdo acontece muitíssimas vezes. E, no entanto, Filoteia, a devoção quando é verdadeira não prejudica a ninguém; pelo contrário, tudo aperfeiçoa e consuma. E quando se torna contrária à legítima ocupação de alguém, é falsa, sem dúvida alguma.
A abelha extrai seu mel das flores sem lhes causar dano algum, deixando-as intactas e frescas como encontrou. Todavia, a verdadeira devoção age melhor ainda, porque não somente não prejudica a qualquer espécie de vocação ou tarefa, mas ainda as engrandece e embeleza.
Toda a variedade de pedras preciosas lançadas no mel, tornam-se mais brilhantes, cada qual conforme sua cor; assim também cada um se torna mais agradável e perfeito em sua vocação quando esta for conjugada com a devoção: o cuidado da família se torna tranquilo, o amor mútuo entre marido e mulher, mais sincero, o serviço que se presta ao príncipe, mais fiel, e mais suave e agradável o desempenho de todas as ocupações.
É um erro, senão até mesmo uma heresia, querer excluir a vida devota dos quartéis de soldados, das oficinas dos operários, dos palácios dos príncipes, do lar das pessoas casadas.
Confesso, porém, caríssima Filoteia, que a devoção puramente contemplativa, monástica e religiosa de modo algum pode ser praticada em tais ocupações ou condições. Mas, para além destas três espécies de devoção, existem muitas outras, próprias para o aperfeiçoamento daqueles que vivem no estado secular.
Portanto, onde quer que estejamos, devemos e podemos aspirar à vida perfeita.”
O Bispo se dirige à personagem Filoteia (amiga de Deus, numa tradução mais aproximada). Como desejamos também aprofundar nossa amizade com Deus, sem nos afastarmos da comunhão com o próximo, esta mensagem é também dirigida a cada um de nós, vocacionados a viver esta intensa e fecunda amizade com Deus.
Esta amizade implica numa aspiração à vida perfeita, que não se entende como fuga do mundo, pelo contrário, compromisso em santificá-lo, transformá-lo, independente da vocação de cada um.
Como discípulos missionários do Senhor, devemos aspirar por uma vida perfeita, em que a Palavra Divina esteja sempre nas entranhas profundas de nossa alma.
Estamos no mundo não para destruí-lo, mas “dominá-lo”, biblicamente falando, como nas primeiras páginas da Sagrada Escritura. Precisamos aprender com as abelhas: cada um fazer bem e com o amor o que lhe é próprio, sem prejuízo do outro (pessoas e coisas), para que o “mel” do bem, da vida, da fraternidade, da paz, possa ser deliciosamente saboreado neste tempo e sempre e por toda a vida:
“A abelha extrai seu mel das flores sem lhes causar dano algum, deixando-as intactas e frescas como encontrou. Todavia, a verdadeira devoção age melhor ainda, porque não somente não prejudica a qualquer espécie de vocação ou tarefa, mas ainda as engrandece e embeleza.”
Em nossas comunidades, independente do ministério que exerçamos, que seja feito com amor e dedicação, aspirando à realização do amor, e assim chegaremos à perfeição, como o Senhor nos exortou:
“Portanto, deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48).
PS: Bispo São Francisco de Sales: Memória celebrada dia 24 janeiro.
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