domingo, 7 de dezembro de 2025

A voz de João ressoa em todos os tempos (IIDTAA)

                                                                          

A voz de João ressoa em todos os tempos

“Preparai- o caminho do Senhor,
endireitai suas estradas!”  (Mc 1,3)

Celebrando a Liturgia do segundo Domingo do Tempo do Advento, sejamos enriquecidos pelo Sermão de São Máximo de Turim (sec. V), que nos fala através da voz de João, convocando-nos a preparar o caminho do senhor e aplainar os caminhos de nosso Deus (cf. Mt 3,1-12; Mc 1,1-8; Lc 3,1-6).

“A Escritura divina não cessa de falar e gritar, como se escreveu de João: Eu sou a voz que grita no deserto. Pois João não gritou somente quando, anunciando aos fariseus o Senhor e Salvador, disse: Preparai o caminho do Senhor, aplainai os caminhos de nosso Deus, mas hoje mesmo a sua voz segue ressoando em nossos ouvidos, e com o estrépito de sua voz sacode o deserto dos nossos pecados. E mesmo que ele durma já com a morte santo do martírio, sua palavra segue, contudo, viva. Também a nós ele nos diz hoje: Preparai o caminho do Senhor, aplainai os caminhos de nosso Deus. Assim, pois a Escritura divina não cessa de gritar e falar.

Entretanto, hoje João grita e diz: Preparai o caminho do Senhor, aplainai os caminhos de nosso Deus. Se ele nos manda preparar o caminho do Senhor, a saber: não se refere às desigualdades do caminho, mas à pureza da fé. Porque o Senhor não deseja abrir um caminho nas veredas da terra, mas no segredo do coração.

Porém, vejamos como esse João nos manda preparar o caminho do Senhor, se ele mesmo o preparou ao Salvador. Ele dispôs e orientou todo o curso de sua vida para a vinda de Cristo. Foi, de fato, amante do jejum, humilde, pobre e virgem. Descrevendo todas estas virtudes, diz o evangelista: João se vestia de pele de camelo, com uma correia de couro na cintura, e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre.

Cabe maior humildade em um profeta que, desprezando as vestes macias, cobrir-se com a aspereza da pele do camelo? Cabe fidelidade mais fervorosa que, com a cintura cingida, estar sempre disposto para qualquer serviço? Existe abstinência mais admirável que, renunciando às delícias desta vida, alimentar-se de gafanhotos estridentes e mel silvestre?

Penso que todas estas coisas das quais o profeta se servia eram em si mesmas uma profecia. Pois que o precursor de Cristo levasse uma veste trançada com os rudes pelos do camelo, que outra coisa podiam significar senão que vindo Cristo ao mundo iria se revestir da condição humana, que encontrava-se tecida pela aspereza dos nossos pecados? A correia de couro que leva à cintura, que outra coisa evidencia senão esta nossa frágil natureza, que antes da vinda de Cristo estava dominada pelos vícios, enquanto que depois de sua vinda foi encaminhada para a virtude?” (1)

Dando os primeiros passos neste Tempo do Advento, em que nos preparamos para celebrar o nascimento do Salvador, e renovar sagrados compromissos na espera de Sua vinda gloriosa, acolhamos a voz profética de João – “Preparai- o caminho do Senhor, endireitai Suas estradas!” (Mc 1,3).

Vivemos o início de uma crise “poliédrica”, como nos fala o Cardeal José Tolentino de Mendonça que nos desafia à conversão e reorientação dos rumos de nossa história:

“Que tempo é este que estamos a viver? A que o havemos de comparar? Podemos, efetivamente, olhar apenas para o assédio devastador desta crise que começa por ser sanitária, mas que depressa contaminou tantos outros âmbitos, tornando-se uma crise poliédrica: econômica, social, política, eclesial, civilizacional... Este não é o momento para fazer cair os braços em desânimo, mas é um tempo para apostas de confiança... Não é só um tempo para fechar a semente no celeiro enquanto se aguardam as condições que considerarmos propícias: este é um tempo bom para os semeadores saírem para o campo, para os pescadores se aventurarem ao lago. Não é só uma estação para gerir aflições crescentes: é também a ocasião em que Deus nos ordena que arrisquemos como Igreja e que compremos um campo novo.”

Urge que a voz de João Batista ressoe mais forte em nossos ouvidos, e como o “estrépito de sua voz sacode o deserto dos nossos pecados”, nos acorde para novos tempos, nesta preparação para a celebração do nascimento do Salvador da humanidade.


(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pp.277-278

Poços de Água Cristalina (IIDTAA)

                                                            

Poços de Água Cristalina

A Liturgia do 2º Domingo do Advento nos apresenta a emblemática e profética pessoa de João Batista.

João, o grande precursor do Messias, soube escutar a expectativa do povo que vivia num deserto simbólico, ou seja, num lugar e contexto árido, privado da fonte de vida.

Como pessoas que creem, sentimos a sede e a fome do mundo, procuramos apreender o “deserto” no qual o homem moderno vive ou apenas sobrevive:

Um deserto feito, nas sociedades ocidentais, de palavras e coisas vazias, superficiais, de imagens sem espessura nem substância. Nessa aridez o cristão deve descobrir poços novos e cada vez mais profundos de água.” (1)

Falar em deserto é pensar no lugar da privação, das dificuldades, da sede, da solidão, da provação...

Falar em deserto, relacionando à fé, remete-nos imediatamente à possibilidade da sede, que é terreno fértil para cavar novos poços de água viva na aridez do deserto da cidade.

A sede, aqui, como metáfora de uma carência profunda da condição humana, coração da humanidade caminha sempre inquieto, tomado por uma sede que jamais se sacia.

De alguma forma, somos todos caminhantes, fazendo de cada ponto de chegada um novo ponto de partida. Assim canta o poeta “O mesmo trem que chega é o trem da partida...”.

E, no caminho da existência de cada pessoa são presentes pedras, espinhos, riscos e novas possibilidades.

Os riscos presentes são os das portas fechadas, dos muros e das cercas, do preconceito e da discriminação, das leis feitas pelos ricos e para os ricos, o desemprego e subemprego, o trabalho escravo ou degradante, a rua, os lixões, a prostituição, o abandono, e dito de forma global, a exclusão social. É a sede de vida, de amor e de paz de quem está a caminho!

No meio do caminho é possível e necessária a abertura de poços, onde a água viva nutre novas potencialidades de vida, para que seja mais bela, mais plena, mais de acordo com o querer de Deus.

Como cristãos, precisamos escavar espaços de futuro, com perspectivas de justiça e de paz, sob a crosta dura do egoísmo e da violência que ceifa vidas até de jovens e inocentes, um mundo com cenas de barbárie, resignação e conformismo com consequências indesejáveis.

Nas encruzilhadas dos caminhos também se criam pontos de encontro, as redes de solidariedade, o fortalecimento e articulação das lutas locais e campanhas globais que pensam e se comprometem com um mundo sustentável, livre do esgotamento, destruição, aniquilamento.

No caminho não se pode perder a utopia. Se pessoas que creem, a não perda da fé, para fundamentar toda esperança, na prática da caridade, no compromisso cotidiano com o Reino, por amor e fidelidade ao Senhor.

No caminho, dentro da própria cidade, poços de água cristalina perfurar, para que construamos uma cidade mais humana, fraterna, de vida digna para todos.

No caminho, dentro da própria cidade, à luz da fé, beber da Divina Fonte de Água Viva que é o próprio Cristo Jesus, para rios de águas cristalinas jorrar. Então, será o grande passo para bem celebrar o Natal do Senhor.


(1) Leccionário Comentado Tempo do Advento e Natal - p.96 e livre interpretação de “O não lugar como novo lugar” (Pe. Alfredo Gonçalves).  

João Batista: seu grito ressoa pelos séculos (IIDTAA)

                                                           


João Batista: seu grito ressoa pelos séculos

A Liturgia do 2º Domingo do Advento (ano A) nos apresenta a passagem do Evangelho de Mateus, em que João Batista encontra-se no deserto pregando o batismo de conversão, anunciando a proximidade do Reino de Deus e a necessária preparação do caminho do Senhor e o endireitar das veredas para a Sua chegada (Mt 3,1-12).

Vejamos esta afirmação:

“João Batista já não está nas margens do Jordão. Já desapareceram todos os que ele fustigava. Também Aquele que o Batista anunciava já deixou a terra, depois de ter cumprido a Sua missão. Mas a voz do Precursor continua a ressoar na Igreja, aos ouvidos dos que receberam o Batismo no Espírito Santo: ‘Praticai ações que se conformem ao arrependimento que manifestais!’ Porque essa conversão não é coisa de um dia; terá de continuar ao longo de toda a vida, com a esperança de que se mantém, graças à ‘paciência e consolação que vêm das Escrituras’, como diz São Paulo (Rm 15,4)”. (1)

A voz de João “continua a ressoar na Igreja” e “aos ouvidos dos que receberam o Batismo no Espírito Santo”.

Passaram-se os tempos, novos contextos, mas a voz de João não perde a força profética, porque ainda há muito que ser transformado, para que tenhamos uma nova realidade, em que a vida humana seja, de fato, um templo vivo onde Deus habita.

Uma passagem rápida pelos noticiários em todos os âmbitos, vemos que os valores efêmeros, transitórios, norteiam ações e decisões. Os interesses econômicos, as vantagens prevalecem em detrimento do bem comum, com desvios execráveis, corrupção, cumplicidade, propinas e um esforço conjunto de desmoralização de ações que venham passar a limpo o que for preciso.

A voz profética de João ressoa em todos os âmbitos, para que a conversão nos leve a produzir frutos bons e agradáveis que a fé exige: como pessoa, família, comunidade e sociedade.

Impossível que sua voz não seja ressoada, inadmissível que seja sufocada.

Tenhamos a coragem de afinar nossos ouvidos e captar seu grito, que chega a cada um de nós, certos de que quanto mais nos abrirmos à sua escuta, em sincera atitude de conversão, mais instrumentos de harmonia, concórdia e comunhão haveremos de ser, deixando-nos guiar pela Sagrada Escritura, que é para nós garantia de constância e conforto em todos os momentos, para que não recuemos no testemunho da fé, como tão bem nos exortou também o Apóstolo Paulo (Rm 15,4-9), na segunda Leitura também proclamada neste segundo Domingo do Advento.



(1) Missal Quotidiano e Dominical - Editora Paulus - Lisboa - 2012 p.63

Conversão: voltar-se à fonte da vida e do perdão, Jesus (IIDTAA)

                                                             


Conversão: voltar-se à fonte da vida e do perdão, Jesus

“Em Jesus, o caminho do homem e o
caminho de Deus se encontram.”

Reflitamos sobre a conversão de que tanto se fala.

O Missal Dominical nos apresenta uma riquíssima reflexão rumo ao Natal do Senhor.

É uma “voz” melodiosa que penetra nossa alma para que trilhemos o caminho da maturação, que passa necessariamente pela conversão, pela transformação de nossa vida, palavras, atos, pensamentos e atitudes.

O primeiro enunciado é uma afirmação que nos enche de alegria e esperança: “Todos os homens encontrarão o Deus que salva”

“O Advento é tempo de conversão, tempo para preparar os caminhos do Senhor, para endireitar as veredas, a fim de que chegue o Reino de Deus.

O homem moderno não é muito atento ao tema da conversão a Deus. Diante dos graves desafios que se lhe impõem (fome, ignorância, guerra, injustiça), mobiliza todas as suas energias, abandona até o comodismo, impõe-se uma conversão cotidiana: a conversão do homem a si mesmo.

Mas a conversão a Deus como disponibilidade radical a Ele é renúncia total a si mesmo, deixa-o insensível ou até hostil, porque o coloca diante de sua fraqueza e parece desviá-lo de sua verdadeira tarefa.

O cristão de hoje está consciente do dever de contribuir para a realização do desígnio de Deus e a solução dos problemas do mundo, colaborando na obra da criação, e dando-lhe o melhor de si mesmo.

Mas, em tudo isso, onde se encontra a conversão a Deus? Se os cristãos perdem o senso da conversão a Deus, e se o cristianismo apresenta apenas o aspecto de um humanismo sem dimensão religiosa, priva-se o mundo de um dom divino."

A segunda parte da reflexão é um imperativo para a nossa vida: Aplanai o caminho!:

“Com João Batista, o Precursor (Evangelho), Deus vai visitar seu povo. A voz severa que clama no deserto nos prepara para o juízo de Deus não com atos puramente exteriores e rituais, mas com a conversão do coração.

Jesus continuará nesta linha de conversão; a opção pelo Reino significará despojamento de si, renúncia a toda forma de orgulho, disponibilidade às inspirações do Espírito, obediência. O homem que quiser seguir a Jesus é chamado a despojar-se de si e a perder-se de algum modo.

Semelhante conversão religiosa é acessível a todos os homens, de qualquer condição social ou espiritual; não está concretamente ligada a nenhuma prática penitencial, embora tenda a exprimir-se em ações significativas, e é proposta a todos os homens, uma vez que todos são pecadores, e Jesus mesmo declara ter vindo só para os pecadores.

É uma mudança radical da mentalidade e das atitudes profundas, que se manifesta em ações novas e vida nova; é uma disponibilidade total a serviço do Amor de Deus e dos homens.

Por isso Paulo pede que os filipenses possam sempre "discernir o que mais convém, ser puros no dia de Cristo" e repletos do "fruto da justiça”.

O Reino de Deus está, pois, a caminho; ninguém poderá detê-lo... O juízo de Deus está sobre nós como o machado na raiz da árvore. Depende de cada um de nós fazer com que seja um juízo de conversão ou de irremediável endurecimento.”

A terceira parte é um convite ao contínuo "caminhar" que devemos todos fazer:

“O itinerário que cada homem deve percorrer em sua vida, como o caminho de toda a humanidade em sua história, não tem a comodidade das modernas estradas de rodagem.

A contínua marcha do homem para a felicidade se abre na precariedade e é semeada de obstáculos, interrompida por encruzilhadas sempre dilacerantes.

Entretanto, o homem não desiste dessa sua contínua peregrinação; como o povo de Israel no deserto, vagueia rumo à "sua" terra. Cristo é a encruzilhada decisiva na estrada dos homens: ou com Ele ou contra Ele.

A de Cristo, porém, é a estrada mais árdua; passa através do Sangue e da Cruz, mas é a única que leva a Deus. Em Jesus, o caminho do homem e o caminho de Deus se encontram.

O convite de Cristo a cada um é sempre premente: "Vem, segue-me". Não há outra estrada para chegar a Deus senão seguir os passos de Cristo; só assim o homem não caminha nas trevas e na incerteza.”

Finalmente, apresenta-nos o caminho do amor e da justiça que devemos fazer como pessoas Eucarísticas que somos:

“Percorrer o caminho de Cristo quer dizer encontrar-se com Ele; quer dizer obstinar-se decididamente em seu caminho vencendo todos os obstáculos.

O sinal visível desse encontro é a Celebração Eucarística. Sinal não só da nossa opção por Cristo, mas também da opção pelos homens como irmãos e companheiros de viagem. É escolher a estrada estreita do amor e da justiça, porque este foi o caminho de Cristo.

Participar humanamente da Eucaristia significa tornar-se pão para os outros, como Cristo o é para nós; significa dar a vida para fazer crescer em torno de nós o amor e a justiça, o sorriso e a esperança.”

Continuemos nossa caminhada de conversão, sempre como um processo contínuo, inacabado, que desabrochará na glória da eternidade.

A cada instante algo clama por conversão em nossa vida, ao nosso redor, em qualquer lugar em que estejamos, que vivamos...

Sem conversão não há Advento, obviamente, não haverá Natal. Somente o esforço contínuo da Conversão nos alcança a alegria do Natal tão esperada, e a contemplação e celebração do mais belo e maior Mistério que a humanidade pode testemunhar: um Deus que Se faz Carne, Se faz gente, habitando em nosso meio, fazendo-Se um de nós, igual a nós, exceto no pecado.

Ele, a fonte do perdão e da vida, nós, os necessitados do perdão e da vida!

Advento: rever o caminho feito (IIDTAA)

                                                               

Advento: rever o caminho feito

Reflexão sobre o Tempo do Advento, quando somos convidados a rever o caminho que estamos fazendo, como peregrinos da esperança:

“A Eucaristia proporciona aos cristãos a oportunidade de provar seu universalismo e recusar uma separação entre ‘fracos’ e ‘fortes’, uma vez que nesta Mesa o Senhor se oferece por todos. É o ‘vínculo da união’: união com os irmãos, união com Deus em Cristo.

O anúncio da libertação trazida por Cristo suscita uma grande esperança. A nossa geração espera ansiosamente um futuro de liberdade, apesar da fuga de muitos para um passado de recordações, ou para um presente de alienações.

O Povo de Deus mantém viva no mundo esta esperança quando, com os olhos no futuro, vive, no presente de modo a merecer confiança, isto é, com fé, caridade e firme esperança”. (1)

Assim ocorre conosco quando da Mesa da Eucaristia participamos: são fortalecidos os vínculos da união com Deus, mas também entre nós, e isto remete ao cotidiano, na superação de toda a desigualdade, para que se viva maior fraternidade, solidariedade, comunhão e partilha dos bens que passam, movidos pelos bens que não passam, os valores do Reino (amor, verdade, justiça, liberdade, fraternidade, perdão, acolhida, alegria...).

É graça e missão que Deus nos concede de sermos no mundo sinal desta nova realidade, porque são solidificados e revigorados os fundamentos de um novo futuro, as virtudes divinas: fé, Esperança e caridade.

Deste modo, não somamos com os que vivem sentimentos nostálgicos de um passado de possíveis boas recordações, até beirando um saudosismo sem fundamentos, que não tenham sido uma expressão concreta (como que fantasiando o passado), porque cada tempo tem seus desafios, suas dificuldades, provações, enfermidades, carências, tristezas, inquietações, superações e o mistério da cruz que nos acompanha.

Não podemos somar também com os que, no presente, se deixam levar pelas alienações, falsas promessas, messianismos sem consistência, promessas infundadas de felicidade, falsa prosperidade, ledo engano de soluções miraculosas ou mesmo mágicas, procura de respostas fundadas em superstições ou algo que não se justifique, até mesmo contradizendo e nos levando a negar a própria fé e os ensinamentos que devem orientar o rumo de nossa vida, de nossa história.

Devemos fixar nossos olhos no futuro, na espera de um novo céu e uma nova terra, mas com compromissos renovados cotidianamente na construção do Reino de Deus.

O Tempo do Advento é um Tempo fecundo de vigilância, conversão, oração, esperança, e, sobretudo, de nos deixarmos envolver pela misericórdia divina, revelada na Pessoa de Jesus, quando Se encarnou em nosso meio, cujo Nascimento, dentro de poucos dias, haveremos de celebrar.

Deste modo, o Natal não será reduzido a uma noite de comidas e bebidas, troca de presentes e amigo secreto, tão pouco reduzindo a montagem de um presépio, ainda que belo seja.

Natal será rever o passado, com seus erros e acertos, dar rumo novo ao presente, para que um novo amanhecer, num futuro cheio de alegria, vida e paz, possamos crer e esperar.

  
(1) Missal Dominical - Editora Paulus - p.11 

Preparar o Caminho do Senhor é…(IIDTAA)

                                                                 

Preparar o Caminho do Senhor é…
 
Advento: é tempo de VIGIAR, de preparar O Caminho do Senhor para que celebremos o verdadeira Natal do Senhor.
 
Deste modo, em muito nos ajudam os profetas Baruc, Isaías e João Batista.
 
Urge nivelar os vales, rebaixar os montes e colinas e endireitar os caminhos tortos: “Preparai o caminho do Senhor!” 
Mas no que consiste em preparar a vinda do Senhor que veio, vem e virá?
 
Preparar o caminho do Senhor é:
 
- Colocar-se em momentos de deserto para o necessário encontro pessoal com Deus no fortalecimento de nossa amizade com Ele: multiplicando momentos de oração pessoal, familiar, comunitária, novena de Natal, confissão…
 
- Dar prioridade aos valores de Deus em nossa vida, diante de tantos apelos que nos cercam;
 
- Procurar por Deus para que por Ele possamos ser encontrados. Ele vem sempre ao nosso encontro, às vezes somos nós que recusamos este vital encontro;
 
- Abrir-se ao futuro de Deus, um futuro que se pode conquistar já nesta terra, mas que se dá em definitivo no céu, com alegre espera, na fidelidade e amor;
 
- Transformar a realidade de exílio e deserto, por que passamos, para uma nova realidade, em que Deus caminha conosco;
 
- Colocar-se num caminho com atitudes de conversão e perdão, procurando o Sacramento da Penitência como expressão do desejo de conversão e esperança de tempos novos;
 
- Procurar viver uma vida pura, sem a mancha do pecado, e na paz. O pecado é a nódoa de nossa alma como disse um santo da Igreja;
 
- Preencher os vales de nossa vida, os nossos vazios existenciais e evitar toda e qualquer forma de omissão;
 
- Rebaixar os montes do orgulho, da vaidade e da ambição que nos destroem;
 
- Endireitar os caminhos do egoísmo, da ganância e do ódio, procurando relações de partilha, solidariedade, justiça, amor e paz;
 
- Procurar uma vida sóbria, desprendida, austera e simples contra toda onda consumista que nos envolve;
 
- Não perder a sensibilidade diante das pessoas e dos fatos, pois a insensibilidade nos embrutece diante do mistério da vida;
 
- Não deixar morrer a alegria e a esperança no coração;
 
- Viver a fidelidade em tudo em nossa vida: à palavra dada, ao compromisso assumido, aos princípios desde a infância aprendido;
 
- Cuidar das ovelhas extraviadas e mais necessitadas, como expressão do amor e da ternura do Bom Pastor;
 
- Oferecer ao outro o melhor que pudermos, colocando, com alegria a serviço do outro, da comunidade os dons que Deus nos concedeu;
 
- Não se acomodar diante do flagelo da fome, das enchentes, dos abandonos e fazer acontecer o milagre do amor que se expressa na alegria da solidariedade, compaixão e partilha;
 
- Procurar a criação e o fortalecimento de relacionamentos verdadeiros e sinceros de amizade na família, na comunidade, no trabalho e em qualquer outro lugar;
 
- Assumir a ética do cuidado da vida humana, do planeta numa espiritualidade ecológica: cuidar da obra do Criador: repensar nossa atitude consumista e depredatória; reutilizar; reciclar; reduzir consumo do que não for reciclável.
 
Reflitamos:
 
- Quais outras possíveis definições poderiam ser somadas às aqui apresentadas?
-  Quais são as definições que mais nos tocam para que preparemos bem a chegada do Senhor? 
 
Esperemos um Natal
belo, maravilhoso e cheio de luz!
Mas não basta esperar. 
Some-se ao verbo esperar o verbo preparar; 
esperar preparando o Caminho do Senhor, 
para que Ele possa irromper 
na escuridão da Noite de Natal, 
 iluminando nossa vida,  
ressoando em nós 
a Sua imprescindível presença amorosa!
E assim poderemos desejar a muitos
Um Santo e Feliz Natal!
Amém.

Alegremo-nos, o Senhor está para chegar! (IIIDTAA)

Alegremo-nos, o Senhor está para chegar!

“Alegrai-vos sempre no Senhor, de novo vos digo,
alegrai-vos: O Senhor está perto” (1)

A Liturgia do 3º Domingo do Advento (ano A) é um convite à alegria pela proximidade do Senhor que está para chegar, cujo nascimento no Natal haveremos de celebrar.

Estamos, portanto, no Domingo da Alegria, que a Igreja chama de Domingo “Gaudete”.

A Palavra nos convida a não nos inquietarmos com nada: “Alegrai-vos, pois a libertação está para chegar”.

Na primeira Leitura, ouvimos a passagem do Profeta Isaías (Is 35, 1-6a.10), em que este tem o desejo de despertar a esperança e a confiança nos exilados.

Está próxima a chegada de Deus, que conduzirá o povo para a Terra da liberdade, da vida plena e feliz.

Trata-se de um hino em que se convida à autêntica alegria, deixando de lado todo desânimo, pois a ação de Deus consiste em gerar vida em abundância.

O Povo de Deus vive um segundo êxodo, ainda mais grandioso que o primeiro. É preciso que olhe o mundo com os olhos da esperança, jamais com os óculos do desespero, para não sucumbir diante das forças da morte que não prevalecem para sempre.

Nisto consiste o verdadeiro Advento: a contemplação da intervenção divina; e ser, no mundo, como o profeta Isaías uma testemunha da alegria, da confiança em Deus e da esperança que n’Ele não decepciona.

De fato, ser Profeta é remar contra a maré, vendo o mundo com os olhos de Deus. É preciso, no mundo, ontem, hoje e sempre, homens e mulheres que deem este testemunho.

Na passagem da segunda Leitura (Tg 5,7-10), Tiago exorta a comunidade a não desistir da espera do Senhor que vem, cultivando a paciência e a confiança.

Tiago é um sábio judeu-cristão que repensa, de maneira muito original, as máximas da sabedoria judaica, vividas plenamente nas Palavras e ação do Senhor.

Preocupa o autor o abuso da sobreposição da fé às obras, bem como o abuso dos ricos sobre os pobres.

Exorta à perseverança, à união e a não perda dos valores cristãos, apresentando para isto, a proposta de uma autêntica vida cristã.

Acentua nesta passagem a esperança que deve iluminar o coração de todos na comunidade, pois a libertação está para chegar, mas a confiança no Senhor não nos permite o cruzar dos braços.

Esta esperança, acompanhada da paciência e confiança, é que dá coragem na luta, no bom combate da fé, em sua perfeita tradução em obras.

Esperar com confiança, mas sem revolta. Empenhar-se prontamente para o Projeto Libertador de Deus, que significa para nós a verdadeira preparação para o Natal.

No Evangelho (Mt 11,2-11), refletimos sobre a ação de Jesus que veio para comunicar vida, alegria e luz. Um Reino de justiça e de paz com Ele se inaugura. 

A passagem pode ser dividida em duas partes: na primeira, Jesus responde a pergunta de João Batista, confirmando que Jesus é Ele mesmo, o Messias esperado.

Na segunda, temos a descrição, pelo próprio Jesus, de Sua Pessoa, mensagem e missão.

A mensagem central é que Deus vem sempre ao nosso encontro, jamais nos abandona e sempre continuará a vir, oferecendo-nos a Salvação.

Com Ele tudo se transforma: os desesperados encontram a esperança; os surdos recuperam a possibilidade de escutar a Sua Palavra em comunicação autêntica; os cegos voltam a enxergar um novo horizonte; os coxos e paralíticos reencontram a liberdade, o dinamismo para a vida e, finalmente, os pobres, correspondendo ao Amor de Deus, vivem a partilha e a solidariedade. O mundo marcado pela mentira e fingimento dará lugar ao mundo novo marcado pela verdade, sinceridade.

Com Jesus, na acolhida de Sua Pessoa e Sua Palavra, tudo se renova. Nisto consistirá para nós o Natal genuinamente cristão.

É esta a mensagem que a Liturgia do Domingo “Gaudete” nos apresenta: alegria verdadeira somente com Deus, e em Deus, pode ser encontrada; e esta tão somente é alcançada no exato momento que reconhecemos nossa fragilidade e nos abrimos à manifestação do poder de Deus e de Sua presença, que comunica graça e perdão.

Somos feitos por Deus para a alegria. Que jamais a percamos, cultivando a paciência necessária, e o nosso olhar de fé seja sempre renovado.

A Liturgia do Advento, os momentos pessoais, familiares e comunitários de Oração e uma boa confissão devem nos transformar.

Reflitamos:

Ø Como estamos preparando o Natal do Senhor?
Ø Como andam nossa alegria, confiança e esperança no Senhor?

Ø Qual é o fundamento de nossa alegria?
Ø Em que consiste a verdadeira alegria que Deus quer nos oferecer?

Ø Num mundo marcado pela depressão, tristeza, dor e morte, como ser sinal de vida e de alegria?
Ø A alegria tem sido uma marca de nossas comunidades?


A Festa do Natal do Senhor se aproxima, muito mais que comemorada, é preciso que seja celebrada e, assim, a alegria e a esperança invadirão nosso coração. No coração dos que creem irromperá a alegria e a luz do Natal.

Não deixemos lugar algum para o desânimo, desesperança. Descruzemos os braços e abramos o coração.

Maranathá! Vem Senhor Jesus!

(1) Antífona de entrada da Missa do 3º Domingo do Advento. 

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