O amor, a única retribuição que Deus nos pede
Vivendo o Tempo da Quaresma, tempo favorável de conversão e santificação, reconciliando-nos com Deus e com os irmãos e irmãs, sejamos enriquecidos por um dos Sermões do Bispo de São Gregório de Nazianzo (Séc. IV), no qual ele nos exorta a manifestar, uns para com os outros, a bondade do Senhor.
“Considera de onde te vem a existência, a respiração, a inteligência, a sabedoria, e, acima de tudo, o conhecimento de Deus, a esperança do reino dos céus e a contemplação da glória que, no tempo presente, é ainda imperfeita como num espelho e em enigma, mas que um dia haverá de ser mais plena e mais pura.
Considera de onde te vem a graça de seres filho de Deus, herdeiro com Cristo e, falando com mais ousadia, de teres também sido elevado à condição divina. De onde e de quem vem tudo isso?
Ou ainda, – se quisermos falar de coisas menos importantes e que podemos ver com os nossos olhos – quem te concedeu a felicidade de contemplar a beleza do céu, o curso do sol, a órbita da lua, a multidão dos astros e aquela harmonia e ordem que se manifestam em tudo isso como uma lira afinada? Quem te deu as chuvas, as lavouras, os alimentos, as artes, a morada, as leis, a sociedade, a vida tranquila e civilizada, a amizade e a alegria da vida familiar? De onde te vem poderes dispor dos animais, os domésticos para teu serviço e os outros para teu alimento? Quem te constituiu senhor e rei de todas as coisas que há na face da terra? E, porque não é possível enumerar uma a uma todas as coisas, pergunto finalmente: quem deu ao homem tudo aquilo que o torna superior a todos os outros seres vivos? Porventura não foi Deus?
Pois bem, agora, o que Ele te pede em compensação por tudo, e acima de tudo, não é o teu amor para com Ele e para com o próximo?
Sendo tantos e tão grandes os dons que recebemos ou esperamos d’Ele, não nos envergonharemos de não lhe oferecer nem mesmo esta única retribuição que pede, isto é, o amor? E se Ele, embora sendo Deus e Senhor, não Se envergonha de ser chamado nosso Pai, poderíamos nós fechar o coração aos nossos irmãos?
De modo algum, meus irmãos e amigos, de modo algum sejamos maus administradores dos bens que nos foram concedidos pela graça divina, a fim de não ouvirmos a repreensão de Pedro: ‘Envergonhai-vos, vós que vos apoderais do que não é vosso; imitai a justiça de Deus e assim ninguém será pobre’.
Não nos preocupemos em acumular e conservar riquezas, enquanto outros padecem necessidade, para não merecermos aquelas duras e ameaçadoras palavras do profeta Amós: ‘Tomai cuidado, vós que andais dizendo: Quando passará o mês para vendermos; e o sábado, para abrirmos nossos celeiros?’ (cf. Am 8,5).
Imitemos aquela excelsa e primeira lei de Deus, que faz chover sobre os justos e os pecadores e faz o sol igualmente levantar-se para todos; que oferece aos animais que vivem na terra a extensão dos campos, as fontes, os rios e as florestas; que dá às aves a amplidão dos céus, e aos animais aquáticos, a vastidão das águas; que proporciona a todos, liberalmente, os meios necessários para a sua subsistência, sem restrições, sem condições, sem fronteiras; que põe tudo em comum, à disposição de todos eles, com abundância e generosidade, de modo que nada falte a ninguém. Assim procede Deus para com as Suas criaturas, a fim de conceder a cada um os bens de que necessita segundo a sua natureza e dignidade, e manifestar a todos a riqueza da Sua bondade”.
Deus, que tantas maravilhas realiza e tantas graças nos concede, quer tão apenas de nós uma resposta de amor, como nos falou o Bispo em seu Sermão.
Este amor, podemos expressar, cotidianamente, contemplando a ação e presença de Deus em nossas vidas, mas de modo especial, quando criamos relações mais humanas, fraternas e solidárias, como nos propõe a Campanha da Fraternidade deste ano de 2024, com o tema - "FRATERNIDADE E AMIZADE SOCIAL, e com o lema - "Vós sois todos irmãos e irmãs" (cf. Mt 23,8).
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