domingo, 25 de fevereiro de 2024

Quaresma: sejamos transformados por Jesus Cristo (IIDTQA)

Quaresma: sejamos transformados por Jesus Cristo

Enriquecedora a reflexão do Frei Raniero Cantalamessa sobre o Mistério da Transfiguração do Senhor, que nos convida a conhecer, imitar e viver em Comunhão com Cristo, como veremos.

O Conhecimento de Cristo:
"O exemplo mais claro da paixão pelo conhecimento de Cristo é o mesmo Apóstolo Paulo. Não tendo conhecido Jesus ‘segundo a carne’, ele concebeu um desejo ainda mais ardente para descobrir o Mistério do Mestre que lhe aparecera ressuscitado.

Em um trecho escreve: Mas tudo isso, que para mim eram vantagens, considerei perda por Cristo. Na verdade, julgo como perda todas as coisas em comparação com este bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por Ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo (Fl 3,7-8); Paulo se aprofundou no conhecimento de Cristo ficando sempre mais surpreso pelas ‘suas insondáveis riquezas’.

Nós também deveríamos conceber uma nova paixão para conhecer Jesus, uma vontade ardente de ouvir falar d’Ele, julgar – como dizia São Bernardo – sem sabor o que não é condimentado com Jesus. Isto nos deveria levar a um relacionamento pessoal vivo e verdadeiro com o Mestre: Jesus visto não mais como uma memória histórica ou personagem, mas como uma pessoa para nós, amigo, como nós somos amigos d’Ele. Dentro do coração deveria nascer o orgulho de ser reconhecidos, no mundo de hoje, como discípulos de Jesus de Nazaré.

Mas como conseguir tal conhecimento vivo de Jesus? Um meio é o da leitura e da escuta assídua de testemunhos apostólicos na Igreja (magistério dos Bispos, teologia); depois o estudo, sobretudo o estudo da Sagrada Escritura: ‘a Lei’ (isto é, o AT), dizia Santo Agostinho, ‘está grávida de Cristo’; de outra parte, Jesus é a chave para compreender toda a Bíblia; sem Ele, ela permanece como coberta por um véu (cf. 2 Cor 3,15ss)." (1) 

A Imitação de Cristo:
"O conhecimento de Jesus é em vista da imitação de Jesus; o próprio Pai no Evangelho de hoje (Lc 9,28b-36) nos convida a seguir Jesus dizendo: Escutai-O! A Cruz ocupa um lugar muito especial neste caminho de imitação; é a chave de tudo e há uma relação direta entre ela e nossa transfiguração em Cristo: Estou pregado à cruz de Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. (Gl 2,19-20). Tornar-se ‘conformes a Jesus na morte’ é o caminho para ‘alcançar a ressurreição dos mortos’, isto é, nossa transfiguração n’Ele (Fl 3,10-11).

A imitação de Jesus deve ser espiritual, não literal; deve chegar até a intimidade de Jesus, até ter os mesmos sentimentos que estavam em Cristo Jesus (cf. Fl 2,5): tornar-se alguém que seja como Jesus, que permanece diante do Pai em humildade e obediência como Jesus: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração (cf. Mt 11,29)." (2) 

A Comunhão com Cristo:
"Qual é o sentido do esforço que fazemos para conhecer e imitar Jesus Cristo? Talvez aquele de conseguir, desse modo, por nosso mérito, a transformação em Cristo? Absolutamente, não! Mas eu me empenho em conquistá-la – diz Paulo -, uma vez que também eu fui conquistado por Jesus Cristo (Fl 3,12). Nosso esforço é necessário porque Deus quer construir com nossa liberdade; não quer nos salvar sem nossa colaboração, como Ele nos criou sem nossa colaboração.

Todavia não é a nossa vontade de nos salvar que nos salva, mas a vontade de Deus; em outras palavras, a graça: Porque é gratuitamente que fostes salvos mediante a fé. Isto não provém de vossos méritos, mas é puro dom de Deus (Ef 2,8); É Ele que nos reveste com o manto da Salvação (cf. Is 61,10), como revestiu o filho pródigo com a veste nova, com o anel no dedo e sandálias nos pés.

Com nossas forças, apenas ficamos nus e descalços. Nós só podemos encher as talhas de água; só Jesus Cristo, com Seu Espírito, pode transformar a água em vinho, isto é, o esforço da imitação em comunhão de vida com Ele.

Tal comunhão de vida com Cristo encontra seu ápice num Sacramento: a Eucaristia. Ela é o Sacramento por excelência de nossa transfiguração em Cristo. Aparentemente, somos nós que, na Eucaristia, recebemos a Cristo e o assimilamos em nós; na realidade, é Ele que assimila a nós n’Ele: Assim como o Pai que me enviou vive, e Eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim (Jo 6,57). É o princípio vital mais forte que assimila o mais fraco: o vegetal assimila o mineral, o animal assimila o vegetal, o espiritual – divino – assimila o humano. ‘O efeito da Eucaristia é nos tornar aquilo que comemos’ (São Leão Magno); ‘Não é tu que me assimilarás – diz o Senhor – mas Eu que assimilarei a ti’ (Santo Agostinho).” (3)

Reflitamos:

Ser transformado por Jesus Cristo é amar os irmãos e dar a própria vida por eles: o próprio tempo, o afeto, a competência, os bens materiais.

Ser por Ele transformado é deixar-se envolver e seduzir apaixonadamente pelo Reino; de modo que nada coloca acima do Reino.

Ser por Ele transformado é estar disposto a doar tudo sem exigir nenhuma recompensa, a não ser a pura e simples amizade com Ele.

Ser por Ele transformado é não ter atitude de mercenário sempre à espera de um pagamento ou recompensa; porque vive a gratuidade naquilo que faz bem ao próximo.

Para ser por Jesus transformado é preciso conhecê-Lo, imitá-Lo e estar em comunhão com Ele.

Seja a Quaresma este Tempo favorável de graça, reconciliação e conversão, para que vivendo o Mistério da Paixão e Morte do Senhor, a Ele perfeitamente configurados e unidos pela fé, tenhamos a graça e a alegria de celebrar a Sua Gloriosa Ressurreição.


(1); (2); (3) O Verbo Se Faz Carne – Raniero Cantalamessa - Editora Ave Maria – 2013 – p.535-536

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG