Contemplemos o Quarto Mistério Luminoso: a Transfiguração do Senhor
“Este é o meu Filho amado. Escutai o que Ele diz! (Mc 9,7)
A Liturgia Quaresmal nos propõe no segundo Domingo da Quaresma (ano B), a reflexão sobre a Transfiguração do Senhor no alto da montanha, no Monte Tabor – o quarto Mistério da Luz que o então Papa São João Paulo II nos presenteou.
Sejamos iluminados pelo Sermão, do Papa Leão Magno (séc. V), neste dia, em que somos convidados a subir a montanha para escutar o que o Filho amado tem a dizer:
“O Senhor manifesta a Sua glória na presença de testemunhas escolhidas, e de tal modo fez resplandecer o Seu corpo, semelhante ao de todos os homens, que Seu rosto se tornou brilhante como o sol e Suas vestes brancas como a neve.
A principal finalidade dessa transfiguração era afastar dos discípulos o escândalo da Cruz, para que a humilhação da Paixão, voluntariamente suportada, não abalasse a fé daqueles a quem tinha sido revelada a excelência da dignidade oculta de Cristo.
(...) aos Apóstolos que deviam ser confirmados na fé e introduzidos no conhecimento de todos os Mistérios do Reino, esse prodígio ofereceu ainda outro ensinamento.
Moisés e Elias, isto é, a Lei e os Profetas, apareceram conversando com o Senhor, a fim de cumprir-se plenamente na presença daqueles cinco homens (incluindo Pedro, João e Tiago), o que fora dito:
Será digna de fé toda palavra proferida na presença de duas ou três testemunhas (cf. Mt 18,16). Que pode haver de mais estável e mais firme que esta Palavra?
Para proclamá-la, ressoa em uníssono a dupla trombeta do Antigo e do Novo testamento, e os testemunhos dos tempos passados concordam com o ensinamento do Evangelho.
(...) Porque, como diz João, por meio de Moisés foi dada a Lei, mas a graça e a verdade nos chegaram através de Jesus Cristo (Jo l, 17). N’Ele cumpriram-se integralmente não só a promessa das figuras proféticas, mas também o sentido dos preceitos da Lei; pois pela Sua presença mostra a verdade das profecias e pela Sua graça, torna-se possível cumprir os Mandamentos.
Sirva, portanto, a proclamação do Santo Evangelho para confirmar a fé de todos, e ninguém se envergonhe da Cruz de Cristo, pela qual o mundo foi redimido.
Ninguém tenha medo de sofrer por causa da justiça ou duvide da recompensa prometida, porque é pelo trabalho que se chega ao repouso, e pela morte, à vida.
O Senhor assumiu toda a fraqueza de nossa pobre condição e, se permanecermos no amor e na proclamação do Seu nome, venceremos o que Ele venceu e receberemos o que Ele prometeu.
Assim, quer cumprindo os Mandamentos ou suportando a adversidade, deve sempre ressoar aos nossos ouvidos a voz do Pai, que se fez ouvir, dizendo: Este é o meu Filho amado, no qual pus todo meu agrado. Escutai-O (Mt 17,5)”.(1)
Contemplar a glória de Jesus e descer à planície para testemunhar o que ouvimos. Na planície, no compromisso com a paz, transfigurar a realidade de tantos rostos marcados e desfigurados pela fome, abandono, droga, desamor, desemprego, falta de sentido para a vida, ilhados pela falta da esperança, enfraquecidos pela fraqueza da fé, sem o ardor que queima da chama da caridade...
Subamos ao alto da montanha com o Senhor, e escutemos atentamente o que Ele tem a nos dizer, encorajando-nos para descer à planície, de cada dia, para testemunhar nosso amor e fidelidade à Sua Palavra, ao Seu Evangelho, esperançosos da glória futura, mas corajosamente carregando a cruz do tempo presente.
A subida na montanha, por mais esplêndida que seja a experiência, é apenas um momento provisório daquilo que será nos céus, antes é preciso enfrentar os desafios na planície.
A Transfiguração, enfim, é o pleno cumprimento de toda Profecia e da Lei. É convite para que vivamos nossa vocação profética na prática incondicional da Lei do Amor: a Caridade, que é a Plenitude da Lei, seu pleno cumprimento (Rm 13,10).
Não nos custa contemplar o Transfigurado, pelo contrário, difícil é reconhecê-Lo desfigurado na Cruz e reconhecê-Lo nos desfigurados na planície.
“Transfiguração: Na Montanha escutar o filho amado,
na Planície compromisso com o Reino, vida plena e feliz...”.
(1) cf. Liturgia das Horas, Vol II, pp.130-132
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