quarta-feira, 21 de junho de 2023

"Morte, ó morte! Onde está tua vitória?"

"Morte, ó morte! Onde está tua vitória?"

É possível não nos atemorizarmos diante da morte?
Como ver a morte a partir da fé?

São Luiz Gonzaga, cuja memória é celebrada no dia 21 de junho,  é um luminar da Igreja.

Durante seus estudos de teologia, ocupando-se com o serviço dos doentes nos hospitais, contraiu uma doença que o levou à morte. A morte ceifou muito cedo sua vida. Morreu aos 23 anos, apenas.

Este jovem religioso, que viveu no século XVI, na Itália, quando enfermo, acometido da gravíssima enfermidade que o levou à morte, cuidando dos doentes, escreveu uma carta à sua mãe.

A carta, escrita por um filho, certamente, com próprio punho e dores, levou alívio e consolo para sua mãe.
  
A fé explícita e implícita na carta refaz, amplia e eterniza horizontes transcendentes, aparentemente limitados pela morte! A morte, para quem crê, não possui a última palavra, tampouco é o limite, e atos últimos.

Densa de conteúdo e expressando uma fé verdadeiramente pascal, é uma luz que se acende no mais profundo de nosso coração, iluminando as noites escuras que acompanham a morte de um ente querido.
                                    
Ilustríssima senhora, peço que recebas a graça do Espírito Santo e a Sua perpétua consolação. Quando recebi tua carta, ainda me encontrava nesta região dos mortos.

Mas agora, espero ir em breve louvar a Deus para sempre na terra dos vivos. Pensava mesmo que a esta hora já teria dado esse passo.

Se é caridade, como diz São Paulo, chorar com os que choram e alegrar-se com os que se alegram (Rm 12,15), é preciso, mãe ilustríssima, que te alegres profundamente porque, por teus méritos, Deus me chama à verdadeira felicidade e me dá a certeza de jamais me afastar do Seu temor. 

Na verdade, ilustríssima senhora, confesso-te que me perco e arrebato quando considero, na Sua profundeza a bondade divina.

Ela é semelhante a um mar sem fundo nem limites, que me chama ao descanso eterno por um tão breve e pequeno trabalho; que me convida e chama ao céu para aí me dar àquele bem supremo que tão negligentemente procurei, e me promete o fruto daquelas lágrimas que tão parcamente derramei.

Por conseguinte, ilustríssima senhora, considera bem e toma cuidado em não ofender a infinita bondade de Deus. Isto aconteceria se chorasses como morto aquele que vai viver perante a face de Deus e que, com Sua intercessão, poderá auxiliar-te incomparavelmente mais do que nesta vida.

Esta separação não será longa; no céu nos tornaremos a ver. Lá, unidos ao autor da nossa salvação seremos repletos das alegrias imortais, louvando-O com todas as forças da nossa alma e cantando eternamente as Suas misericórdias.

Se Deus toma de nós aquilo que havia emprestado, assim procede com a única intenção de colocá-lo em lugar mais seguro e fora de perigo, e nos dar aqueles bens que desejamos Dele receber.

Disse tudo isto, ilustríssima senhora, para ceder ao desejo que tenho de que tu e toda a minha família considereis minha partida como um feliz benefício.

Que tua bênção materna me acompanhe na travessia deste mar, até alcançar a margem onde estão todas as minhas esperanças.

Escrevo com alegria para dar-te a conhecer que nada me é bastante para manifestar com mais evidência o amor e a reverência que te devo, como um filho à sua mãe”. (1)

Qual mãe não estremeceria ao ler esta Carta?

Ela pode ser lida por qualquer pessoa que tenha de recuperar o olhar Pascal, para refazer-se das feridas que uma morte provoca, das lacunas a serem preenchidas com fé na Ressurreição.

São Luiz, ao invés de ser consolado por sua mãe, ele, é que, moribundo, encontra forças divinas para consolá-la, porque possui uma fé verdadeiramente Pascal.

Reflitamos:

- O que mais chama a atenção nesta Carta?
- Como enfrento a morte de uma pessoa querida?
- Quais os textos bíblicos que me inspiram e que me dão seguras respostas para a realidade da morte?

Dedico esta Carta a tantas mães com quem converso dia a dia, e que não tiveram a graça de receber uma Carta com tamanha beleza, com expressivo teor e tão cheia de fé e amor.

Dedico, também, às que choram seus filhos em túmulos frios de pedra, e mais ainda, choram seus filhos no vácuo que possam ter deixado em seu coração.

Que a morte não nos atemorizemas reacenda em nós a fé na Ressurreição. Aleluia. Amém!

(1) Lit. Horas – vol. III - pp. 1361-1362

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