quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

A misericórdia do Senhor é para sempre

                                                               

                        A misericórdia do Senhor é para sempre

“E se as misericórdias de Deus
são de sempre e para sempre, também eu
cantarei eternamente as misericórdias do Senhor”

Sejamos enriquecidos pelo Sermão do Abade São Bernardo (Séc. XII) sobre o Livro do Cântico dos Cântidos, em que ele nos leva à contemplação do Amor redentor do Senhor por nós pecadores, com uma mensagem que nos faz perceber que onde abunda o delito, o pecado, superabunda a graça divina.

“Onde encontrar repouso tranquilo e firme segurança para os fracos, a não ser nas Chagas do Salvador? Ali permaneço tanto mais seguro, quanto mais poderoso é Ele para salvar.

O mundo agita, o corpo dificulta, o demônio arma ciladas; não caio, porque estou fundado sobre rocha firme. Pequei e pequei muito; a consciência abala-se, mas não se perturba, pois me lembro das Chagas do Senhor.

Ele foi ferido por causa de nossas iniquidades. Que pecado tão mortal que a morte de Cristo não apague?

Se vier à mente tão poderoso e eficaz remédio, não haverá mal que possa aterrorizar.

Por isso, muito errou quem disse: Tão grande é o meu pecado que não merece perdão.

Mostra com isso não ser membro de Cristo nem lhe interessar o mérito de Cristo, por apoiar-se no próprio merecimento, declarar coisa sua o que pertence a outro, como acontece com um membro em relação à cabeça.

Quanto a mim, vou buscar o que me falta confiadamente nas entranhas do Senhor, tão cheias de misericórdia, que não lhe faltam fendas por onde se derrame.

Cravaram Suas mãos e Seus pés, traspassaram Seu lado; por estas fendas é-me permitido sugar o mel da pedra, o óleo do rochedo duríssimo, quero dizer, provar e ver quão suave é o Senhor.

Ele alimentava pensamentos de paz e eu não sabia. Pois quem conheceu o pensamento do Senhor? ou quem foi seu conselheiro?

Mas o cravo que penetra tornou-se-me a chave que abre a fim de ver a vontade do Senhor.

Que verei através das fendas? Clama o cravo, clama a chaga que Deus está em Cristo reconciliando o mundo consigo. A espada atravessou sua alma e tocou seu coração; é-lhe agora impossível deixar de compadecer-se de minhas misérias.

Abre-se o íntimo do Coração pelas Chagas do corpo, abre-se o magno Sacramento da piedade, abrem-se as entranhas de misericórdia de nosso Deus que induziram o Oriente, vindo do alto a visitar-nos.

Qual o íntimo que se revela pelas Chagas? Como poderia brilhar de modo mais claro do que em Vossas Chagas, que Vós, Senhor, sois suave e manso e de imensa misericórdia?

Maior compaixão não há do que entregar Sua vida por réus de morte e condenados. Em vista disso, meu mérito é a misericórdia do Senhor. Nunca me faltam méritos enquanto não lhe faltar a comiseração.

Se forem numerosas as misericórdias do Senhor, eu muitos méritos terei. Que acontecerá se me torno bem consciente dos meus muitos pecados? Onde abundou o delito, superabundou a graça.

E se as misericórdias de Deus são de sempre e para sempre, também eu cantarei eternamente as misericórdias do Senhor. Acaso é minha a justiça?

Senhor, lembrar-me-ei unicamente de Vossa justiça. Vossa, sim, e minha; porque Vós Vos fizestes para mim justiça de Deus.”

Contemplemos as Santas Chagas dolorosas do Senhor, que são também as Suas Santas chagas gloriosas, da qual nascemos e nos alimentamos. 

A água cristalina jorrada do Coração transpassado do Senhor, remete-nos ao Batismo, e o Sangue, por usa vez, remete-nos ao Sangue que nos lavou e nos redimiu, e que no Banquete Eucarístico, quando o Pão e o Vinho recebemos, não comemos pão nem bebemos vinho, mas comemos e bebemos do Cálice do Senhor, verdadeira Comida, verdadeira Bebida. 

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Em poucas palavras...

 


Jesus: dom total de Si na liberdade e no amor

"A vontade do Pai jamais foi a morte do Seu Filho. Tal atitude seria própria de um Deus sanguinário, que só se aplacaria com o sangue de um ente querido...

Em Jesus não há dissociação entre rito e vida; sua morte é sacrifício espiritual, porque é dom total de si na liberdade e no amor.” (1)

 

 

(1)               Missal Cotidiano – Editora Paulus – passagem da Carta aos Hebreus (Hb10,-10) – pág, 680

Em poucas palavras...

                                                


Os sete Sacramentos

“Os sacramentos da nova Lei foram instituídos por Cristo e são em número de sete, a saber: o Baptismo, a Confirmação, a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos Enfermos, a Ordem e o Matrimônio.

Os sete sacramentos tocam todas as etapas e momentos importantes da vida do cristão: outorgam nascimento e crescimento, cura e missão à vida de fé dos cristãos. 

Há aqui uma certa semelhança entre as etapas da vida natural e as da vida espiritual (São Tomás de Aquino).” (1)

 

 

(1) Catecismo da Igreja Católica - parágrafo n. 1210

Em poucas palavras...

 


Jesus fala com autoridade

“No meio de tantas palavras que tendem para iludir e seduzir, que prometem paraísos fáceis e imediatos, surge uma Palavra que promete e que exige ao mesmo tempo paciência e fadiga, sem fáceis alterações. A Palavra de Deus tem de parecer revestida de uma outra ‘exousia’!”  (1)

 

 

(1) Lecionário Comentado - Volume I - Tempo Comum - Paulus - Lisboa - pag.166

Passagem do Evangelho de Marcos (Mc 1,21-28).

 

“Eu vim, ó Deus, para fazer a Tua vontade”

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“Eu vim, ó Deus, para fazer a Tua vontade”

Os Profetas anunciaram a vinda da nossa Paz,
Esta é o próprio Jesus, nosso Salvador,
Que nasceria em Belém de Éfrata.

promessa d’Aquele que dominaria Israel
E o povo jamais se sentiria abandonado,
Pois apascentaria com a força do amor.

Seu Reino de amor, verdade, justiça,
Fraternidade, liberdade, eterno e universal,
Por toda a Terra se estenderia.

Promessa feita, que assim se cumpriu,
Como nos diz o autor da Epístola aos Hebreus:
Eis que Ele veio para fazer a vontade de Deus.

Com a oferenda e sacrifício de Sua Vida,
Nos resgatou, reconciliou e redimiu;
Por Sua vontade livremente, santificados fomos.

Sacrifício realizado uma vez por todas,
Cuja Memória, em cada Eucaristia celebramos,
E deste Banquete Eterna de Vida participamos.

Mas para que a promessa se tornasse realidade,
Deus quis contar com a nossa participação,
De modo notável, Maria,  sem comparação.

Com Seu sim, o Espírito nela agiu silenciosamente,
E o Verbo em seu ventre concebeu divinamente:
A Luz do mundo, a Divina fonte da vida da humanidade.

Promessarealização e necessária participação
Contemplemos Maria em sua visitação,
Levando à sua prima, a alegria do Santo Espírito.

Trocam palavras de exultação que ressoam nos tempos.
Com as crianças em seus ventres presentes:
Um o precursor, o outro o esperado Salvador.

Promessa, realização e participação
Cada tempo estas palavras ganham conteúdo e forma
Hoje é a nossa resposta que Deus espera.

Promessa, realização e participação
Em todo tempo, o tempo da vigilância,
Da conversão, da alegria, e de nossa prontidão.

Como Maria, aprendamos, sem demora,
Prontamente nos pormos a caminho
Em santa viagem de amor, serviço e doação.

Somos discípulos missionários do Senhor,
E em todo o tempo digamos:

“Eis que venho fazer, com prazer, a vossa vontade, Senhor”


Liturgia da terça-feira da 3ª Semana do Tempo Comum:  Hb 10,1-10 (ano ímpar); Mc 3,31-35

Exigências para que pertençamos à família do Senhor

                                                            Resultado de imagem para ouvir e por em prática a palavra de deus

Exigências para que pertençamos à família do Senhor

Na terça-feira da 3ª Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 3,31-35), na qual Jesus nos ensina que Sua família é constituída por todos aqueles que fazem a vontade de Deus, e não tão apenas pelos laços de sangue.

É condição indispensável, portanto, um compromisso com o Evangelho e com o Reino de Deus, sem jamais fazer a separação entre que o se crê e o que se vive, o que se celebra e o que se traduz no cotidiano, nos mais diversos âmbitos da vida.

Deste modo, para Jesus, há algumas exigências indispensáveis para que alguém se torne importante para Ele, e de Sua família faça parte:


- ouvir a Palavra de Deus, colocando em prática;

- pautar toda existência pelo Mandamento maior do Amor a Deus e ao próximo; amando como Ele nos ama – “amai-vos uns aos outros, assim como Eu vos amei” (Jo 13,34);


- saber perdoar, e procurar o perdão, quando necessário, como expressão de que todos somos passíveis de erros e necessitados do perdão do outro, para viver a autêntica misericórdia que Ele nos ensinou;

- ter a alegria de partilhar o melhor que se possui, para que o milagre da multiplicação continue a ser realizado, de modo que não haja necessitados entre nós;


- aprender que, na acolhida do outro, se acolhe o próprio Jesus, sobretudo se for um pequenino, pobre, doente, marginalizado;

- saber se esforçar, quando preciso, em ser sinal de consolo, compreensão e solidariedade, como a mais bela expressão da compaixão divina com expressões concretas;


- ser comprometido com a Boa-Nova do Reino, com coragem e profecia, sem deixar-se submergir no medo, na omissão e na indiferença;

- viver a doação pura e simples, sem nada esperar em troca, na mais perfeita alegria;


- saber ser feliz com os que são felizes, mas também saber chorar com os que choram,

- não somente se encontrar e se reunir para celebrar, orar, mas fazer o necessário prolongamento no dia a dia, jamais separando a Mesa da Palavra e do Altar das incontáveis mesas do cotidiano.


Há outras exigências, mas estas já são o bastante para avaliarmos o quanto somos, de fato, membros da família de Jesus.


Neste sentido, contemplamos Maria, Sua Mãe, como a mais perfeita e integrada em Sua família, porque não somente foi Mãe da Salvador, pela ação do Espírito Santo, mas em todo o seu viver sempre colocou a vontade Deus acima da própria vontade.


Maria é por excelência modelo de escuta à prática da Palavra, e nos ensina o mesmo fazer, e mais: com ela também podemos contar, para que o mesmo façamos, ressoando em nosso coração suas palavras que não emanaram de seus lábios apenas, mas de um coração pleno do amor e graça divina:

“Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5).

Correspondemos ao Amor de Deus?

                                                                

Correspondemos ao Amor de Deus?

“Ele é tão bom que não cobra remuneração,
mas Se satisfaz com ser amado em vista de Seus dons..."

No tesouro espiritual da Igreja, temos na Liturgia das Horas parte “Da Regra mais longa”, do Bispo São Basílio Magno, século IV que nos fala sobre o imenso amor de Deus por nós.

“Que palavra poderá verdadeiramente descrever os dons de Deus? São tantos que não se podem enumerar. São de tal grandeza que um só deles bastaria para merecer toda a nossa gratidão para com o Doador. 

Há um que a nós, seres racionais e inteligentes, seria forçosamente impossível esquecê-lo, e pelo qual jamais o louvaríamos condignamente: Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança. Honrou-o, assim, com a reflexão. 

Só a ele, dentre todas as criaturas, deu a razão. Concedeu-lhe o gozo da indizível beleza do paraíso e o constituiu rei de toda a terra. 

Enganado o homem pela serpente, caído no pecado e pelo pecado na morte e nos sofrimentos que a acompanham, nem por isto Deus o abandonou; mas pela Lei, que lhe serviria de auxílio no princípio, colocou Anjos para guardá-lo e dele cuidar. 

Enviou Profetas para denunciarem os vícios e ensinarem a virtude. Susteve por ameaças o ímpeto do mal, e estimulou por promessas a prontidão para o bem. Não poucas vezes, declarou antecipadamente, em relação a várias pessoas, qual o fim dos bons e o dos maus a fim de advertir os outros. 

A tantos benefícios, porém, respondemos com a nossa rebeldia. Ele, contudo, não se afastou de nós. A bondade do Senhor não nos abandonou. 

Nem mesmo pela estupidez com que desprezamos Seus dons conseguimos destruir Seu Amor em nós, embora desdenhássemos nosso benfeitor. 

Ao contrário, fomos libertos da morte e chamados de novo à vida por nosso Senhor Jesus Cristo. Maior motivo ainda de admiração por tanta bondade vem de que: Sendo Ele de condição divina não Se prevaleceu de Sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo assumindo a forma de escravo.

E não só, mas tomou sobre Si nossas misérias, carregou nossas fraquezas, por nós foi ferido para curar-nos por Suas chagas; e ainda, redimiu-nos da maldição, fazendo-se por nós maldição, sofrendo morte infamíssima para nos reconduzir à vida gloriosa.

Não se contentou em chamar os mortos à vida, quis ainda conceder-nos a glória de Sua divindade e preparar-nos um descanso eterno cuja imensa alegria supera qualquer imaginação.

O que, então, retribuiremos ao Senhor por tudo quanto nos deu? Ele é tão bom que não cobra remuneração, mas Se satisfaz com ser amado em vista de Seus dons. 

Quando penso em tudo isto, para dizer o que sinto, fico horrorizado e cheio de espanto, pois, por minha leviandade e preocupação com coisas vãs, posso perder o Amor de Deus e ser uma vergonha e um opróbrio para Cristo.”

Reflitamos sobre o indizível amor de Deus por nós e a necessária correspondência de nossa parte que deve crescer a cada dia.

Urge que sejamos vigilantes para que não caiamos na leviandade e também nos consumirmos com preocupações vãs que nos desviam do Amor de Deus, tornando-nos uma vergonha e uma infâmia para Cristo.

Acompanhe-nos atitudes sinceras e corajosas para dar concretude a cada resposta no emaranhado da existência, para que, então, correspondamos ao Amor de Deus tanto quanto possamos, sem jamais desistir em darmos o melhor a Deus, na solicitude e busca do caminho da perfeição, no subir silenciosa e dedicadamente cada degrau da escada que nos levarão até Ele. 

Reflitamos: 

  Ø   De que modo retribuímos ao Senhor por tudo quanto nos deu até o presente?

  Ø   O que podemos fazer para retribuirmos ainda mais?

  Ø   Quais os eventuais perigos de leviandades que nos levariam a perda do Amor de Deus?

  Ø   Quais são as preocupações autênticas que devem nos consumir para que não nos afastemos dos desígnios divinos?

  Ø   “Não vos inquieteis com coisa alguma, mas apresentai as vossas necessidades a Deus...” (Fl 4,6).  Confio na força e presença divina para superação das dificuldades, procurando soluções para eventuais preocupações, problemas que são inerentes à existência humana?

Ressoe sempre em nosso coração a inquietação do Bispo, para que jamais nos descuidemos no corresponder à altura ao imensurável Amor de Deus: 
Quando penso em tudo isto, para dizer o que sinto,
fico horrorizado e cheio de espanto, pois,
por minha leviandade e preocupação com coisas vãs,
posso perder o Amor de Deus
e ser uma vergonha e um opróbrio para Cristo.”

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG