quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

O Encontro com o Amado Jesus

O Encontro com o Amado Jesus

Com o coração transbordando com a alegria Pascal como rezamos no Prefácio das Missas neste tempo, retomemos a reflexão de São Pedro Crisólogo (séc. V) sobre a força do amor que tudo move, tudo motiva; amor que leva ao desejo maior, a contemplação da face divina:

“Vendo o mundo oprimido pelo temor, Deus procura continuamente chamá-lo com amor, convidá-lo com a sua graça, segurá-lo com a caridade, abraçá-lo com afeto. Por isso, purifica com o castigo do dilúvio a terra que se tinha inveterado no mal; chama Noé para gerar um mundo novo; encoraja-o com palavras afetuosas, concede-lhe sua confiante amizade, o instrui com bondade acerca do presente e anima-o com sua graça a respeito do futuro.

E já não se limita a dar-lhe ordens, mas tomando a parte no seu trabalho, encerra na arca toda aquela descendência que havia de perdurar por todos os tempos, para que esta aliança de amor acabasse com o temor da servidão e se conservasse na comunhão de amor o que fora salvo com a comunhão de esforços.

Por esse motivo chama Abraão dentre os pagãos, engrandece seu nome, torna-o pai dos crentes, acompanha-o em sua viagem, protege-o entre os estrangeiros, cumula-o de bens, exalta-o com vitórias, dá-lhe garantia de suas promessas, livra-o das injúrias, torna-se seu hóspede, maravilha-o com o nascimento de um filho que lê já não podia esperar.

Tudo isso a fim de que, cumulado de tantos benefícios, atraído pela grande doçura da caridade divina, aprendesse a amar a Deus e não mais temê-lo, a honrá-lo com amor e não com medo. Por isso também, consola em sonhos a Jacó quando fugia, desafia-o para um combate em seu regresso e na luta aperta-o nos braços, para que não temesse, porém, amasse o instigador do combate.

Por isso ainda, chama Moisés na própria língua e fala-lhe com afeto paterno, convidando-o a ser o libertador de seu povo. Em todos esses fatos que relembramos, de tal modo a chama da caridade divina inflamou o coração dos homens e o inebriamento do amor de Deus penetrou os seus sentidos que, cheios de afeto, começaram a desejar ver a Deus com os olhos do corpo.

Deus, que o mundo não pode conter, como olhar limitado do homem o abrangeria? Mas o que deve ser, o que é possível, não é a regra do amor. O amor ignora as leis, não tem regra, desconhece medida. O amor não desiste perante o impossível, não desanima diante das dificuldades. O amor, se não alcança o que deseja, chega a matar o que ama; vai para onde é atraído, e não para onde deveria ir. O amor gera o desejo, cresce com ardor e pretende o impossível. E que mais? O amor não pode deixar de ver o que ama.

Por isso todos os santos consideravam pouca coisa toda recompensa, enquanto não vissem a Deus. Por isso Moisés se atreve a dizer: Se encontrei graça na Vossa presença, mostrai-me o vosso rosto (Ex 33,13-18).

Por isso, diz também o salmista: Não me escondais a Vossa face (Sl 26,9). Por isso, enfim, até os próprios pagãos, no meio de seus erros, modelaram ídolos, para poderem ver com seus próprios olhos o objeto de seu culto”. (Lit. Horas V.I p. 199/200)

Quanto maior nosso amor por Cristo, mais indiviso nosso coração será! Somente pela Paixão pelo Reino nos consumiremos, maior amor vivenciaremos e testemunharemos carregando no coração o ardente desejo de ver a Deus.

Isto é possível se percorremos o Itinerário Quaresmal com Oração, Jejum e Esmola, se tivemos a coragem de rever os passos, atitudes, pensamentos e sentimentos, agora podemos contemplar e testemunhar a presença e ação do Ressuscitado, pois Ele ainda ontem nos falou na Missa: “Vós sois testemunhas disso” (Lc 24, 48).

Para que vivamos uma fidelidade a Cristo e a Sua Igreja cada vez mais verdadeira e mais profunda, há uma exigência indispensável e irrenunciável:

Que todos tenhamos o coração seduzido pelo Amor de Deus, em intensa relação de apaixonamento por Cristo, e indiviso, porque enriquecidos e fortalecidos pela presença do Espírito Santo.

Consumir-se pelo Verdadeiro Amor, Jesus, que veio, vem e virá, pois não há desejo mais ardente. Amém. Aleluia!

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