terça-feira, 28 de novembro de 2023

Fé e Esperança no Senhor (26/11)

                                                       

Fé e Esperança no Senhor

Jesus respondeu: “Cuidado para não serdes enganados,
porque muitos virão em meu nome, dizendo:
 ‘Sou eu!’ E ainda: ‘O tempo está próximo’.
 Não sigais essa gente!"
                        
Com a Liturgia da terça-feira da 34ª Semana do Tempo Comum, refletimos sobre o sentido da História da Salvação e para onde Deus nos conduz: um mundo marcado pela felicidade plena e vida definitiva.

É preciso que renasça em nós a esperança, para que dela brote a coragem para o enfrentamento das dificuldades, provações próprias na construção do Reino de Deus.

A passagem do Evangelho proclamada (Lc 21, 5-11) retrata a aproximação do final da caminhada de Jesus para Jerusalém. E no Templo de Jerusalém que realiza o Seu último discurso público acerca do cumprimento da Sua vida e da História inteira.

Na fidelidade ao Senhor, a Igreja, na realização de sua missão, também poderá sofrer dificuldades e perseguições, mas precisa manter-se confiante e perseverante.

Podemos falar em três tempos:

 O tempo da presença de Jesus e Sua missão, seguido da destruição do Templo alguns anos mais tarde;

 O tempo da missão da Igreja; 

 O tempo da vinda do Filho do Homem.

Enquanto aguardamos a segunda vinda do Senhor, Ele nos alerta para que não nos deixemos enganar por falsos pregadores (21,8); haverá catástrofes, terremotos, fome, epidemias (21,10-11), mas ainda não será o fim do mundo; assim como as perseguições serão inevitáveis para os que n’Ele crerem (21,12).

Por causa do Nome do Senhor Jesus, Seus discípulos serão levados aos tribunais e às “sinagogas”, na presença de reis e lançados nas prisões. Mas contarão sempre com a força de Deus para enfrentar os adversários e as dificuldades.

“Quem segue a Cristo poderá encontrar dificuldades, mesmo no seio da própria família; aderir a Jesus, de fato, muitas vezes comporta uma ruptura com as próprias tradições, e conflitos com o ambiente de onde se provém, a ponto de incorrer na denúncia dos próprios familiares (21,16-17). (1)

Nesta vigilância ativa e no testemunho dado é que a comunidade vivificará a fé, reencontrará a intimidade com Jesus, superará todo medo e alcançará a vida eterna plena e feliz: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (21,19).

“A coragem de resistir sob a pressão do mundo (mesmo para nós hoje) é condição importante para sermos verdadeiros discípulos de Jesus, dispostos a segui-Lo até a Cruz. É aí que Cristo reina! Assim nos preparamos para a Solenidade de Cristo Rei” .(2)

Considerando que “Toda a Igreja é missionária, em virtude da mesma caridade com que Deus enviou Seu Filho para a Salvação de todos os homens. E única é sua missão, a de se fazer próxima de todos os homens e todos os povos, para se tornar sinal universal e instrumento eficaz da paz de Cristo (RdC 8)” (3), ao término de mais um Ano Litúrgico, é tempo de avaliarmos e projetarmos uma nova caminhada.

Reflitamos: 

 Qual foi o testemunho de fé que demos ao longo desta caminhada litúrgica?

 Tenho permanecido firme na fé, ou tenho vacilado em alguns momentos?

 Diante das dificuldades que marcam a vida de cada um e da história, confio em Deus para enfrentá-las?

 Qual esperança cultivo no coração?

 Como estou preparando a segunda vinda do Senhor?

 Quais os reais compromissos com o Reino que multiplico, como expressão de uma vigilância ativa?

 Como tenho consumido o tempo na espera do Senhor que vem?

Renovemos nossos compromissos com Deus e permaneçamos firmes na fé, com sede de eternidade.

Oremos: 

“Ó Deus, princípio e fim de todas as coisas,
Que reunis a Humanidade no Templo vivo do Vosso Filho,
Fazei que através dos acontecimentos,
Alegres e tristes deste mundo,
Mantenhamos firme a esperança do Vosso Reino,
Com a certeza de que, na paciência,
possuiremos a vida. Amém.”  (4)

    
(1) (2) – Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa - p. 807. 
(3) – Missal Dominical - p. 1296.
(4) – Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa - p. 809.

Alegres discípulos missionários do Senhor (26/11)

                                                         

Alegres discípulos missionários do Senhor

Na terça-feira a sexta-feira da 34ª Semana do Tempo Comum, ouvimos passagens do Evangelho (Lc 21,5-11), em que Jesus nos fala das provações e perseguições que os discípulos haveriam de enfrentar, quando de Sua partida, até à Sua gloriosa volta. 

Apresentamos algumas atitudes que devem marcar a vida do discípulo missionário do Senhor:

1 - Lutar quotidianamente pelos valores que a fé nos ensina, que se contrapõem aos valores que o mundo nos apresenta, por isto pode ser perseguido, odiado e muitas vezes acompanhado da morte.

2 - Acreditar e desejar ardentemente a vida eterna que traz o imperativo do assumir o Projeto de Deus e os valores do Reino dos céus e lutar constantemente por eles.

3 - Não temer a perseguição, desafiando até mesmo a morte, porque sabe que nada o separará da vida, e, tão somente na fidelidade ao Senhor, tem vida plena e abundante e a eternidade como assegurada recompensa.

4 - Experimentar a verdadeira libertação, que é fruto de dois elementos importantes: o compromisso pessoal e comunitário com o Reino de Deus e com a comunidade à qual pertence; e a confiança inabalável da presença atuante de Deus na sua vida e na história da humanidade.

5 - Lutar constantemente pela transformação da realidade na qual está inserido, tendo como critério e luminares os valores do Evangelho.

6 - Construir um processo histórico verdadeiramente libertador, assumindo compromisso social e comunitário com o Reino de Deus.

7 - Não colocar na realidade material (bens que passam) o sentido final da vida e a causa da felicidade, pois o mundo material é transitório e só encontra o seu verdadeiro sentido enquanto é relacionado com o definitivo (bens que não passam).

8 - Discernir quais são os valores eternos que garantem a verdadeira alegria e a plena realização dos valores transitórios (mutáveis) que dão felicidade, mas não para sempre.

9 - Reconhecer os sinais dos tempos na ótica da fé, atentos aos apelos do Reino de Deus, assim como descobrem a presença de Jesus na própria história e de todos.

10 - Ter a Palavra de Jesus como critério fundamental e indispensável não somente para a interpretação dos acontecimentos, mas para uma intervenção nestes, a fim de que a realidade corresponda aos desígnios divinos.

11 - Embora viva numa realidade marcada por preocupações constantes, não deixar que estas sejam o centro da própria vida, ao contrário, a centralidade de Jesus na vida, nas escolhas, na orientação dos pensamentos é força salutar para a superação de quaisquer dificuldades e não se deixar sucumbir diante das preocupações e angústias do quotidiano.

12 - Criar momentos de encontro com Deus e o fortalecimento da comunhão e amizade com Ele, dedicando tempo à oração, de modo especial através da Leitura Orante, deixando-se interpelar pela Palavra Divina, dela se alimentando e a vida iluminando.

13 - Jamais se fechar no próprio mundo e tão pouco deixar-se escravizar por absolutamente nada que lhe roube a sobriedade, a felicidade verdadeira e a paz.

14 - Aberto ao sopro do Espírito, permanecer firme para ter vida plena agora e na passagem pela morte inevitável, um dia a eternidade.

15 - Peregrino longe do Senhor com Ele tão perto, sentir Sua divina presença na Ceia do Senhor, ativa, consciente e piedosamente celebrada para uma vida fecunda de amor, partilha, doação, entrega de si mesmo em favor da Boa Notícia do Reino.

16 - Não viver à margem da vida, com suas alegrias e tristezas, angústias e esperanças. Sendo assim, sua inserção e a participação na vida das pessoas e das famílias, é fundamental, pois assim fez Jesus, assim também tem que fazer os Seus discípulos, como insistiu o Concílio Vaticano II, sobretudo no parágrafo n.1 da “Gaudium et Spes”.

17 - Discernir sempre para pautar a sua vida na “sabedoria de Deus” e não na “sabedoria do mundo.

18 - Ser sinal e instrumento de um Amor exigente, porque se funda e se nutre no Amor Trinitário, que se expressa na misericórdia, com feições de amor, testemunhado em gestos incontáveis de caridade.

19 - Embarcar numa aventura de amor que dá sentido à vida, o que nos torna cúmplices e instrumentos nas mãos de Deus, para que construamos um mundo novo, de homens e mulheres livres e felizes.

20 - Revelar, com gestos e palavras, a misericórdia divina, sobretudo na prática das obras de misericórdia corporais e espirituais, porque encontrou Jesus e O encontrando, viu n’Ele o rosto radiante da misericórdia.

Concluindo: o discípulo missionário do Senhor comendo do Pão da Eucaristia, bebendo do Cálice do Senhor, refaz suas forças, levanta e caminha até que possa alcançar a graça da participação do Banquete Eterno.

Por ora é preciso perseverar na fé, nutrir a esperança e multiplicar os sinais do Amor de Deus no mundo.

Permaneçamos confiantes e firmes na fé (26/11)

                                                                 


Permaneçamos confiantes e firmes na fé

Jesus respondeu: Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’ E ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente!” 

Na terça-feira da 34ª Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de São Lucas (Lc 21, 5-11), em que refletimos sobre a necessária fé, para que nos mantenhamos firmes na espera do Senhor que virá gloriosamente, embora não saibamos quando.

O discípulo missionário do Senhor, na espera do Senhor que vem, deve manter-se em permanente vigilância, sem jamais dar ouvidos às vozes que dizem “sou eu” e “o tempo está próximo”.

Não obstante a insegurança cósmica que vivemos, inquietações de ordem política, econômica, saúde e outras tantas, é preciso manter-se sempre firmes na fé, e esta firmeza consiste na certeza de que não estamos sós, pois Ele, Jesus Cristo, caminha conosco e nos comunicou o Seu Espírito, para continuarmos a Sua missão na construção do Reino de Deus.

Não podemos nos iludir na espera de um final feliz, como num romance:

“Na perspectiva da terra, o fim será um fracasso; pressupõe provavelmente solidão a respeito dos antigos amigos e dos membros do grupo familiar que busca o êxito ou o progresso nesta vida; pressupõe dificuldades a respeito dos poderes deste mundo, que sempre desconfiam de quem anuncia outras verdades e exigências; parece que as leis da natureza e da história se riem da ilusão e da utopia do cristão”. (1)

Vivendo o tempo presente, continuemos peregrinando na fé convictos de que:

“Nada de Jesus está perdido com a Páscoa; nada do cristão pode perder-se no caminho da sua cruz e do seu fracasso, pois a vida da Páscoa devolve-lhe tudo, vitorioso e transformado”. (2)

Finalizando o ano Litúrgico, renovemos a graça de sermos discípulos missionários do Senhor, empenhando-nos decididamente no testemunho cristão, a fim de que sejamos merecedores de contemplar a face gloriosa de Deus, quando de nossa Páscoa.

 

(1)         Comentários à Bíblia Litúrgica – Gráfica Coimbra 2 – Palheira – p.1193

(2)         Idem

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Produzamos os frutos que a conversão pede (26/11)

                                                      

Produzamos os frutos que a conversão pede

Retomo um trecho do Sermão sobre o Evangelho de Lucas (Lc 22,7-10) escrito por Orígenes (séc. III):

Quem vos ensinou a escapar da cólera vindoura? Produzi frutos que a conversão pede.

Também a vós que vos aproximais para receber o batismo, vos é dito: produzi frutos que a conversão pede.

Quereis saber quais são os frutos que a conversão pede? Os frutos do Espírito são: amor, alegria, paz, compreensão, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança e outras qualidades do mesmo tipo.

Se possuíssemos todas estas virtudes, teríamos produzidos os frutos que a conversão pede”. (1)

Orígenes fala de nove frutos do Espírito, que produziremos se nos colocarmos numa sincera atitude de conversão permanente, abertos à ação do Espírito.

A proximidade do final do Ano Litúrgico é propícia para fazermos uma avaliação de quanto amadurecemos na fé, do quanto nos abrimos à ação do Espírito, e quais frutos do Espírito se tornaram visíveis em nossa vida, palavras e ações.

Como coroar Jesus Rei e Senhor do Universo sem a necessária conversão e abertura ao Seu Espírito?

Que os frutos do Espírito sejam cada vez mais abundantes em nós, na família, na comunidade e no mundo. Assim, a coroação do Senhor será, de fato, sincera, piedosa e agradável, renovando sagrados compromissos de reinar com Ele, no tempo presente, amando e servindo, em permanente apelo de conversão.


(1) Lecionário Patrístico  – Dominical - Editora Vozes – 2013 – Pág. 758

domingo, 19 de novembro de 2023

Em poucas palavras... (26/11)

 


A serenidade e o ardor...”

“A serenidade e o ardor devem caracterizar os cristãos no cumprimento das suas tarefas diárias. Cada liturgia, especialmente a da Eucaristia, é uma nova visita de Deus. Cada domingo é um ‘Dia do Senhor’ e o Ano Litúrgico uma série ininterrupta de domingos.” (1)

 

 

(1)             Missal Quotidiano, Dominical e Ferial – Editora Paulus – Lisboa – 2012 – pág.2250 – Passagem do Evangelho – Lc 21,5-19

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

“Misericordia et misera” (síntese n. 1)




“Misericordia et misera”

Seis anos passados, por ocasião do encerramento do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, o Papa Francisco nos agraciou com a Carta Apostólica “Misericordia et misera”, com vistas a continuar os propósitos e iniciativas surgidas ao longo de sua realização, e ora destaco alguns trechos.

“Misericordia et misera”, as duas palavras que Santo Agostinho utilizou para descrever o encontro de Jesus com a adúltera (cf. Jo 8, 1-11), em alusão ao amor de Deus que vem ao encontro do pecador: “Ficaram apenas eles dois: «a mísera e a misericórdia» Johannis 33,5), um ícone de tudo que celebramos no Ano Santo.

Ressalta que a misericórdia não pode ser reduzida a um parêntese na vida da Igreja, mas deve se constituir na sua própria existência, tornando visível e palpável a verdade profunda do Evangelho, pois tudo se revela na misericórdia; tudo se compendia no amor misericordioso do Pai.

No encontro de Jesus com a pecadora, não se encontram o pecado e o juízo em abstrato, mas uma pecadora e o Salvador. Jesus ao fixar nos olhos daquela mulher, leu o seu coração, com desejo de ser compreendida, perdoada e libertada:

– “A miséria do pecado foi revestida pela misericórdia do amor... ajuda-a a olhar para o futuro com esperança, pronta a recomeçar a sua vida; a partir de agora, se quiser, poderá «proceder no amor» (Ef 5, 2)”. (n.1)

O Papa também menciona a passagem do Evangelho em que uma pecadora, num banquete na casa de um fariseu (cf. Lc 7, 36-50), ungiu com perfume os pés de Jesus, banhando-os com as suas lágrimas e os enxugando com os seus cabelos, e muito foi perdoada, porque muito amou.

Fala-nos do perdão dado por Jesus no alto da Cruz: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34), de modo que, nada que um pecador arrependido coloque diante da misericórdia de Deus pode ficar sem o abraço do Seu perdão.

Sendo assim, a misericórdia é a ação concreta do amor, que transforma e muda a vida de cada um de nós através do perdão.

O perdão experimentado pelas duas mulheres (a adúltera e a pecadora) faz brotar alegria no coração: “As lágrimas da vergonha e do sofrimento transformaram-se no sorriso de quem sabe que é amado. A misericórdia suscita alegria, porque o coração se abre à esperança duma vida nova. A alegria do perdão é indescritível, mas transparece em nós sempre que a experimentamos. Na sua origem, está o amor com que Deus vem ao nosso encontro, rompendo o círculo de egoísmo que nos envolve, para fazer também de nós instrumentos de misericórdia (n.3)

Não podemos permitir que a misericórdia experimentada, a alegria que ela nos dá, seja roubada devido às várias aflições e preocupações, por isto precisa estar bem enraizada no coração, para olharmos o dia-a-dia com serenidade.

Numa cultura marcada pela tecnologia, acompanhada da tristeza e solidão, urge que sejamos testemunhas da esperança e da alegria verdadeira, não nos enganando com felicidade fácil com “paraísos artificiais”, uma vez que a alegria verdadeira é sempre no Senhor (Fl 4, 4; cf. 1 Ts 5, 16) (cf n.3).

O vento impetuoso e salutar do Ano Santo nos desafia a não ficarmos na indiferença e, uma vez acolhido o sopro vital do Espírito, continuarmos o que foi iniciado.

Ele acena para as novas sendas a serem percorridas, levando a todos o Evangelho da Salvação, com a necessária “conversão pastoral”, a fim de não entristecermos o Espírito, com a força renovadora da Misericórdia. (n.5)

Continuaremos celebrando a misericórdia, porque ela está presente na oração da Igreja: no Ato Penitencial; no tempo quaresmal; na Oração Eucarística; depois do Pai Nosso; na oração antes do abraço da paz. De fato, cada momento da Celebração Eucarística faz referência à misericórdia de Deus (n.5).

Destaca de modo especial os Sacramentos de Cura: Penitência e Unção dos Enfermos, que favorecem a experiência da misericórdia de Deus, pois o amor de Deus nos precede, acompanha e permanece conosco, não obstante nossos pecados (n.5, n.8).

O Sacramento da Reconciliação precisa de voltar a ter o seu lugar central na vida cristã; para isso requerem-se sacerdotes que ponham a sua vida ao serviço do «ministério da reconciliação» (2 Cor 5, 18), de tal modo que a ninguém sinceramente arrependido seja impedido de aceder ao amor do Pai que espera o seu regresso e, ao mesmo tempo, a todos seja oferecida a possibilidade de experimentar a força libertadora do perdão (n.11).

Renovou a iniciativa das 24 horas para o Senhor, nas proximidades do IV Domingo da Quaresma, que goza já de amplo consenso nas dioceses e continua a ser um forte apelo pastoral para vivermos intensamente o Sacramento da Confissão (n.11).

Expressou gratidão aos Missionários da Misericórdia pelo valioso serviço oferecido para tornar eficaz a graça do perdão (n.9), de modo que todos os Sacerdotes devem se empenhar para oferecer oportunidade de confissão a quantos precisarem, vivendo a misericórdia de Deus de modo especialíssimo no Sacramento da Confissão.

É preciso que o sacerdote seja magnânimo de coração, ciente de que cada penitente lhe recorda a sua própria condição pessoal: pecador, mas ministro da Misericórdia (n.10).

Acena para a importância da Catequese, da Palavra de Deus proclamada, da homilia, que deve ser a expressão da verdade que anda de mãos dadas com a beleza e o bem, fazendo vibrar o coração dos crentes. Daqui decorre a necessária preparação pelo Sacerdote, como nos falou na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium n.142.

Cada vez mais deve ser acentuada a importância da Bíblia, que narra as maravilhas da misericórdia de Deus: «Toda a Escritura é inspirada por Deus e adequada para ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça» (2 Tm 3, 16)

Enfatiza a importância da Leitura Orante como fonte de espiritualidade, assim como a valorização do Dia da Bíblia, num domingo do Ano Litúrgico.

Favorecer a “Lectio divina” sobre as Obras de Misericórdia à luz da Palavra de Deus e da Tradição espiritual da Igreja, levando a gestos e obras concretas de caridade (n.7).

Uma questão que merece toda a atenção está no parágrafo número 12, sobre o pedido de perdão para o pecado do aborto:

“Em virtude desta exigência, para que nenhum obstáculo exista entre o pedido de reconciliação e o perdão de Deus, concedo a partir de agora a todos os sacerdotes, em virtude do seu ministério, a faculdade de absolver a todas as pessoas que incorreram no pecado do aborto. Aquilo que eu concedera de forma limitada ao período jubilar fica agora alargado no tempo, não obstante qualquer disposição em contrário.

Quero reiterar com todas as minhas forças que o aborto é um grave pecado, porque põe fim a uma vida inocente; mas, com igual força, posso e devo afirmar que não existe algum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir, quando encontra um coração arrependido que pede para se reconciliar com o Pai. Portanto, cada sacerdote faça-se guia, apoio e conforto no acompanhamento dos penitentes neste caminho de especial reconciliação”

Também concede a recepção válida e lícita da absolvição sacramental dos pecados dos que frequentam as Igrejas oficiadas pelos sacerdotes da Fraternidade de São Pio X (n.12).

No parágrafo seguinte, acena para o rosto da consolação que a misericórdia também possui «Consolai, consolai o meu povo» (Is 40, 1: “Enxugar as lágrimas é uma ação concreta que rompe o círculo de solidão onde muitas vezes se fica encerrado.

Todos precisamos de consolação, porque ninguém está imune do sofrimento, da tribulação e da incompreensão. Quanta dor pode causar uma palavra maldosa, fruto da inveja, do ciúme e da ira! Quanto sofrimento provoca a experiência da traição, da violência e do abandono! Quanta amargura perante a morte das pessoas queridas! E, todavia, Deus nunca está longe quando se vivem estes dramas. Uma palavra que anima, um abraço que te faz sentir compreendido, uma carícia que deixa perceber o amor, uma oração que permite ser mais forte... são todas expressões da proximidade de Deus através da consolação oferecida pelos irmãos” (n.13).

Grande ajuda também pode ser o silêncio; porque em certas ocasiões não há palavras para responder às perguntas de quem sofre: “O próprio silêncio pertence à nossa linguagem de consolação, porque se transforma num gesto concreto de partilha e participação no sofrimento do irmão” (n.13).

Também nos fala da família, da alegria do amor que se vive nas famílias, que é também o júbilo da Igreja, como mencionada em sua Exortação (Amoris Laetitiae n.17), em meio às dificuldades, provações, pelas quais passa, mas a família constitui num lugar privilegiado para se viver a misericórdia (Amoris Laetitiae n.291-300). A necessidade de acompanhá-las, solidifica-las na experiência viva da misericórdia.

Acena para a importância da presença do sacerdote no momento difícil que passa a família, a hora da morte de um de seus membros, sobretudo numa cultura em que se banaliza a morte, até mesmo a reduzindo a ficção ou a ocultando:

“Nós vivemos a experiência das exéquias como uma oração cheia de esperança para a alma da pessoa falecida e para dar consolação àqueles que sofrem a separação da pessoa amada”(n. 15).

O término do Jubileu e o fechar da Porta Santa exigem que a porta da misericórdia do nosso coração permaneça sempre aberta.

A misericórdia renova e redime, porque é o encontro de dois corações: o de Deus que vem ao encontro do coração do homem. Experimentada a misericórdia, não há como recuar.

Daqui decorre a necessidade de dar espaço à imaginação a propósito da misericórdia para dar vida a muitas obras novas, fruto da graça (n.17).

Volta à prática das obras de misericórdia (corporais e espirituais), que continuam a tornar visível a bondade de Deus, num mundo marcado por sinais de pecado, morte, sofrimento, pobreza e muito mais (n.18):

“...as obras de misericórdia corporal e espiritual constituem até aos nossos dias a verificação da grande e positiva incidência da misericórdia como valor social. Com efeito, esta impele a arregaçar as mangas para restituir dignidade a milhões de pessoas que são nossos irmãos e irmãs, chamados conosco a construir uma «cidade fiável»” (n.18).

...O mundo continua a gerar novas formas de pobreza espiritual e material, que comprometem a dignidade das pessoas. É por isso que a Igreja deve permanecer vigilante e pronta para individuar novas obras de misericórdia e implementá-las com generosidade e entusiasmo” (n.19).

“.... ponhamos todo o esforço em dar formas concretas à caridade e, ao mesmo tempo, entender melhor as obras de misericórdia. Com efeito, esta possui um efeito inclusivo pelo que tende a difundir-se como uma nódoa de azeite e não conhece limites. E, neste sentido, somos chamados a dar um novo rosto às obras de misericórdia que conhecemos desde sempre. De fato a misericórdia extravasa; vai sempre mais além, é fecunda. É como o fermento que faz levedar a massa (cf. Mt 13, 33), e como o grão de mostarda que se transforma numa árvore (cf. Lc 13, 19) (n.19).

“...O caráter social da misericórdia exige que não permaneçamos inertes mas afugentemos a indiferença e a hipocrisia para que os planos e os projetos não fiquem letra morta. Que o Espírito Santo nos ajude a estar sempre prontos a prestar de forma efetiva e desinteressada a nossa contribuição, para que a justiça e uma vida digna não permaneçam meras palavras de circunstância, mas sejam o compromisso concreto de quem pretende testemunhar a presença do Reino de Deus” (n.19).

O Papa nos interpela na construção da cultura de misericórdia, com base na redescoberta do encontro com os outros: uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença, nem vire a cara quando vê o sofrimento dos irmãos. (n.20):

Esta cultura da misericórdia forma-se na oração assídua, na abertura dócil à ação do Espírito, na familiaridade com a vida dos Santos e na solidariedade concreta para com os pobres (n.20).

Concluindo, o Papa exorta que a continuidade da experiência do Jubileu faça chegar a todos a carícia de Deus através do testemunho dos crentes (n.21).

Vivemos o tempo da misericórdia, sentindo a presença de Deus, experimentando a sua ternura, de modo especial na solidariedade para com os pobres e buscando o perdão de Deus, como pecadores que somos, a fim de sentirmos a mão de Deus Pai que nos acolhe e nos abraça (n.21).

Como sinal concreto, o Papa exorta para que seja celebrado no 33º Domingo do Tempo Comum, o Dia Mundial dos Pobres, fazendo deste momento um modo mais digno para a preparação e vivência da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, que Se identificou com os mais pequenos e os pobres e nos há de julgar sobre as obras de misericórdia (cf. Mt 25, 31-46):

“Será um Dia que vai ajudar as comunidades e cada batizado a refletir como a pobreza está no âmago do Evangelho e tomar consciência de que não poderá haver justiça nem paz social enquanto Lázaro jazer à porta da nossa casa (cf. Lc 16, 19-21).

Além disso este Dia constituirá uma forma genuína de nova evangelização (cf. Mt 11, 5), procurando renovar o rosto da Igreja na sua perene ação de conversão pastoral para ser testemunha da misericórdia” (n.21).

Finaliza nos confiando à ajuda materna de Maria, a Mãe da Misericórdia que nos acompanha no testemunho do amor, pois ela nos indica o perene olhar para Jesus, “o rosto radiante da misericórdia de Deus” (n. 22).




Leia a Carta na íntegra acessando: 

“Misericordia et misera” (síntese n.2)

 
“Misericordia et misera” (síntese n.2)

Em novembro de 2016, ao encerrar o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, o Papa Francisco nos agraciou com a Carta Apostólica “Misericordia et misera”, com vistas a continuar os propósitos e iniciativas surgidas ao longo de sua realização: “Termina o Jubileu e fecha-se a Porta Santa. Mas a porta da misericórdia do nosso coração permanece sempre aberta de par em par” (n.16)

Inicia a referida Carta “Misericordia et misera”, referindo-se às duas palavras que Santo Agostinho utilizou para descrever o encontro de Jesus com a adúltera (cf. Jo 8, 1-11), em alusão ao amor de Deus que vem ao encontro do pecador.

Ressalta que a misericórdia não pode ser reduzida a um parêntese na vida da Igreja, mas deve se constituir na sua própria existência, por se tratar da verdade profunda e visível do próprio Evangelho.

Fundamenta-se na passagem do Evangelho, em que uma pecadora, num banquete na casa de um fariseu (cf. Lc 7, 36-50), ungiu com perfume os pés de Jesus, banhando-os com as suas lágrimas e os enxugando com os seus cabelos, e muito foi perdoada, porque muito amou.

Outra referência do Evangelho é o perdão dado por Jesus no alto da Cruz: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34), de modo que, nada que um pecador arrependido coloque diante da misericórdia de Deus pode ficar sem o abraço do Seu perdão.

Sendo assim, a misericórdia é a ação concreta do amor, que transforma e muda a vida de cada um de nós através do perdão, e não é um parêntese na vida da Igreja.

O perdão experimentado pelas duas mulheres (a adúltera e a pecadora) faz brotar alegria no coração.

O vento impetuoso e salutar do Ano Santo nos desafia a não ficarmos na indiferença e, uma vez acolhido o sopro vital do Espírito, continuarmos o que foi iniciado, e apresento de forma esquemática algumas ações concretas na Carta mencionadas.

1 - Viver a necessária “conversão pastoral”, a fim de não entristecermos o Espírito, com a força renovadora da Misericórdia levando a todos a Boa- Nova da Salvação. (n.5)

2 - Celebrar a misericórdia, que se encontra presente na oração da Igreja: no Ato Penitencial; no tempo quaresmal; na Oração Eucarística; depois do Pai Nosso; na oração antes do abraço da paz. De fato, cada momento da Celebração Eucarística faz referência à misericórdia de Deus (n.5).

3 - Valorizar, de modo especial, os Sacramentos de Cura: Penitência e Unção dos Enfermos, favorecendo a experiência da misericórdia de Deus.

4 - Continuar a iniciativa das 24 horas para o Senhor, nas proximidades do IV Domingo da Quaresma, como forte apelo pastoral para vivermos intensamente o Sacramento da Confissão (n.11).

5 - Todos os Sacerdotes se empenhem para oferecer oportunidade de confissão a quantos precisarem, acolhendo assim os pecadores na misericórdia de Deus.

6 - Valorizar a Palavra de Deus na Catequese e Homilias, sendo esta última a expressão da verdade que anda de mãos dadas com a beleza e o bem, fazendo vibrar o coração dos crentes. Por isto a necessária preparação pelo Sacerdote (Evangelii Gaudium n.142).

7 - Acentuar cada vez mais a importância da Bíblia, que narra as maravilhas da misericórdia de Deus: «Toda a Escritura é inspirada por Deus e adequada para ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça» (2 Tm 3, 16)

8 - Valorizar o Dia da Bíblia, num domingo do Ano Litúrgico, ressaltando a importância da Palavra de Deus, pois ela é a revelação da misericórdia de Deus.

9 - Incentivar a Leitura Orante como fonte de espiritualidade, e de modo especial sobre as Obras de Misericórdia à luz da Palavra de Deus e da Tradição espiritual da Igreja, levando a gestos e obras concretas de caridade (n.7).

10 - Todos os sacerdotes podem dar o perdão de Deus para quem pedir perdão para o pecado do aborto (um grave pecado, reitera o Papa), até que se diga algo em contrário:“Em virtude desta exigência, para que nenhum obstáculo exista entre o pedido de reconciliação e o perdão de Deus, concedo a partir de agora a todos os sacerdotes, em virtude do seu ministério, a faculdade de absolver a todas as pessoas que incorreram no pecado do aborto. Aquilo que eu concedera de forma limitada ao período jubilar fica agora alargado no tempo, não obstante qualquer disposição em contrário...” pois todo pecado, pressupondo o arrependimento pode ser destruído pela misericórdia divina.

11 - Conceder a recepção válida e lícita da absolvição sacramental dos pecados dos que frequentam as Igrejas oficiadas pelos sacerdotes da Fraternidade de São Pio X (n.12).

12 - Favorecer para que a alegria do amor que se vive nas famílias se intensifique, pois esta alegria é também o júbilo da Igreja, como mencionada em sua Exortação (Amoris Laetitiae n.17), em meio às dificuldades, provações, pelas quais passa, mas a família constitui num lugar privilegiado para se viver a misericórdia (Amoris Laetitiae n.291-300). A necessidade de acompanhá-las, solidificá-las na experiência viva da misericórdia.

13 - A importância da presença do sacerdote no momento difícil que passa a família, a hora da morte de um de seus membros, sobretudo numa cultura em que se banaliza a morte, até mesmo a reduzindo a ficção ou a ocultando, de modo que a oração das exéquias seja um momento forte de esperança para a alma da pessoa falecida e para dar consolação à família que sofre a separação da pessoa amada.

14 - Construir da cultura de misericórdia, com base na redescoberta do encontro com os outros: uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença, nem vire a cara quando vê o sofrimento dos irmãos (n.20). Deste modo é preciso intensificar a oração assídua, na abertura dócil à ação do Espírito, na familiaridade com a vida dos Santos e na solidariedade concreta para com os pobres (n.20) na construção da cultura da misericórdia

15 - Exorta para que seja celebrado no 33º Domingo do Tempo Comum, o Dia Mundial dos Pobres, fazendo deste momento um modo mais digno para a preparação e vivência da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, que Se identificou com os pequeninos e os pobres e nos há de julgar sobre as obras de misericórdia (cf. Mt 25, 31-46):

Concluindo, o Papa exorta que, a continuidade da experiência do Jubileu, faça chegar a todos a carícia de Deus, através do testemunho dos crentes (n.21), confiando-nos à ajuda materna de Maria, a Mãe da Misericórdia, que nos acompanha no testemunho do amor, pois ela nos indica o perene olhar para Jesus, “o rosto radiante da misericórdia de Deus” (n. 22).




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