segunda-feira, 31 de março de 2025

Sejamos um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus

                                                        

Sejamos um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus


Uma reflexão sobre a passagem da Carta de Paulo aos Romanos (Rm 12,1-2):


“Pela misericórdia de Deus, eu vos exorto, irmãos, a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: Este é o vosso culto espiritual. Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, isto é, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito”.

A vida do apóstolo Paulo é a história de um coração extremamente apaixonado e seduzido por Deus, e exorta-nos a assumir atitudes coerentes com a fé que professamos.

O apóstolo nos exorta, pela misericórdia de Deus, a assumir atitudes coerentes com a fé que professamos, tornando nossa vida um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, não nos conformando ao mundo em que vivemos, mas configurando-nos ao Senhor e Seu Evangelho, oferecendo nossa vida inteiramente a Deus.

Portanto, exige de nós transformação e conversão de nossa maneira de pensar e julgar, não nos deixando moldar pela lógica do mundo, mas pela lógica do Evangelho, procurando sempre o que é agradável a Deus.

Deste modo, viver um culto agradável a Deus, consiste em viver no amor, no serviço, na doação em entrega a Deus e aos irmãos; e urge, pois, rever o grande sinal que nos identifica, o Sinal da Cruz, que tantas vezes fazemos, e, por vezes, sem pensar no que o gesto implica: carregar a cruz com fé, coragem e fidelidade, como ponte necessária para a eternidade. Sem cruz, não há como conceber e alcançar a eternidade.

Urge que integremos o culto e a vida, fortalecendo os pilares de nossas comunidades, como tão bem expressam as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora do Brasil – Conferência Nacional do Brasil – CNBB – 2019-2023): os pilares da Palavra, do Pão, da Caridade e da Ação Missionária.

Quando o culto e a vida andam de mãos dadas, tornam-se agradáveis a Deus, e Jesus Cristo é, verdadeiramente, Senhor de nossa vida e Rei do Universo.

Reflitamos:

 - O que precisamos rever em nossa vida de fé (pensamentos, palavras e ações), para melhor correspondermos aos desígnios de Deus?

- O que fazer para que nossa vida seja um culto agradável ao Senhor?

 

- Como estamos carregando nossa cruz de cada dia?

- Quais as renúncias necessárias?

Finalizando, para que sejamos discípulos do Senhor não há outro caminho, senão o caminho da cruz; viver corajosamente a “A loucura da Cruz”, de tal modo que o sacrifício vivo seja acompanhado da necessária conversão.


Cuidemos melhor do planeta que Deus nos confiou

Cuidemos melhor do planeta que Deus nos confiou

“Sede fecundos, enchei a terra e submetei-a;
dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu
e todos os animais que rastejam sobre a terra.”

À luz de um artigo sobre a preocupante questão do ecossistema, a problemática ecológica, a sobrevivência humana, ou seja, o necessário cuidado do planeta, a nossa casa comum, apresento esta reflexão.

Atentemos à definição de Lionel Robbin (1898-1984) sobre a Economia – “a ciência que estuda o comportamento humano como uma relação entre fins e meios escassos que têm usos alternativos”. Isto me fez lembrar de quando fiz Economia, e o professor insistia numa breve definição de Economia que ficou gravado e minha memória: “Economia é a gestão dos recursos esgotáveis que estão disponíveis para nossa sobrevivência”.

Uma definição aparentemente simples, mas que carrega inúmeras questões implícitas. E, são estas que me levam a apresentar alguns pontos de extrema relevância.

Diante da realidade do meio ambiente, que apresenta evidentes sinais de enfraquecimento devido à agressão patrocinada pela expansão econômica desmedida – “sem freios” – é preciso pensar numa Economia Ecológica (EE).

Entenda-se EE como “a compreensão de que o sistema econômico gira (funciona) em torno do mundo biofísico de onde saem matérias-primas e energia... A EE busca nas Leis da Termodinâmica (calor, potência, energia, movimento) a base para explicar teoricamente a realidade socioeconômica e ambiental”.

Com isto, pode-se afirmar, sem hesitações, que há limites para o crescimento econômico, e põe-se em pauta a necessária discussão entre consumo e meio ambiente; ou ainda, dito de forma mais contundente, a relação entre a velocidade do crescimento econômico e a limitada capacidade de regeneração dos recursos naturais.

Sabendo da limitação própria do meio ambiente, é preciso repensar a Economia, tomando em consideração que as pessoas e a economia dependem do meio ambiente, e este por sua vez não depende de ninguém (uma espécie de soberania), carregando consigo a finitude dos recursos (é óbvio que o planeta Terra não tem como aumentar de tamanho – recursos são, portanto, finitos, alguns renováveis, e outros não).

Esgotado ou destruído o meio ambiente não há horizonte para a pessoa e tão pouco para a economia.

Economia Ecológica coloca a questão inquietante e que pede conversão de todos nós: não é possível crescer economicamente a qualquer preço.

Há uma necessidade de reeducar, repensar as necessidades humanas.
Aqui se coloca a seríssima questão do consumismo com consequências dolorosas para o planeta e, portanto, para a própria humanidade.

Como reduzir o consumo?
O que é preciso ser repensado, reduzido, reciclado? Para quem sonha um mundo melhor, para quem se preocupa com a sua própria sobrevivência e daqueles que hão de vir, é preciso colocar em pauta a questão da EE.

Finalizo reportando à passagem bíblica que nos fala do Paraíso, Deus disse: “Sede fecundos, enchei a terra e submetei-a; dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que rastejam sobre a terra” (Gn 1,18).

Infelizmente a ordem do Criador, “dominai”, tem sido desvirtuada.
Que o dominar não seja sinônimo de exaurir os recursos que o planeta nos oferece sem critérios, irresponsavelmente.

Que o dominar seja a manutenção da beleza do Paraíso, que não nos remete ao passado como saudade de algo perdido e incompreendido, mas algo que nos impulsiona, responsabiliza, amadurece e nos compromete com o mundo novo, onde todos possam viver na paz, alegria, harmonia e sobriedade.

Que aprendamos a cuidar de nossa casa comum, que aprendamos a cuidar de nosso planeta Terra. Ele está clamando, está em alguns casos em situação crítica, gravemente enfermo.

Não se trata de alarmismo inconsequente, os números e os fatos comprovam.

A conversão, no compromisso com a vida humana e a vida do planeta, é para todos nós. Não podemos nos omitir, pois comprometemos a nossa própria vida e o futuro da humanidade.
  

Fonte: http://blogdoprofmarcuseduardo.blogspot.com      

Em poucas palavras...

                                                    


“Amigo é quem ajuda o outro sem falar de prêmio...”

“Amigo é quem ajuda o outro sem falar de prêmio nem de recompensa. Não necessita de leis ou mandamentos; sabe o que agrada ao seu amigo e realiza-o porque crê que vale a pena realizá-lo.

Semelhante deve ser a nossa atividade a respeito de Deus. Descobrirmos a Sua vontade e cumprimo-la.

Em princípio não importa o prêmio ou castigo. Mais ainda, pensamos que Deus não pode jamais ser nosso devedor, por mais que tenhamos procurado cumprir até o fim os Seus Mandamentos.” (1)

 

(1) Comentários à Bíblia Litúrgica – Gráfica de Coimbra 2 – pág. 1171 – Comentário da passagem do Evangelho Lc 17,5-10

 

Redescobrir o rosto de Deus

                                                          

Redescobrir o rosto de Deus

A Liturgia da segunda-feira da quarta semana da Quaresma nos apresenta a passagem do Livro do Profeta Isaías (Is 65,17-21); Salmo 29, 3-6.11-13 e a passagem do Evangelho de João (Jo 4,43-54).

Somos convidados a redescobrir o rosto de Deus, que age em favor da humanidade, curando, restaurando, recriando novas expectativas, não obstante as dificuldades, provações, inquietações por que possamos passar.

Esta face divina, podemos também encontrar no Livro da Sabedoria (Sb 13,1-9), e sobre esta passagem sejamos enriquecidos pelo comentário do Missal  Cotidiano:

“As conquistas da ciência, servindo-se das leis que regulam a criação, determinaram um vertiginoso progresso, que levou o homem a sentir-se autossuficiente, dono do próprio destino, a ponto de proclamar a ‘morte de Deus’.

Os fetiches pagãos de outrora, o ar, a água, o fogo, ‘considerados deuses’ (v.3), foram substituídos pela ciência, técnica e o progresso. Vieram depois as amargas autocríticas dos cientistas, as denúncias de ‘morte do homem’ feitas pelos filósofos e a desorientação do homem contemporâneo.

‘Ao recusar frequentemente reconhecer Deus como seu princípio, o homem rompe a ordem que o orientava para o seu fim último e, ao mesmo tempo, quebra toda a harmonia, quer em relação a si mesmo, quer em relação aos outros homens e a toda a criação’ (GS 13). Para retomar o rumo certo, é preciso redescobrir Deus.”

É preciso construir um futuro sem prescindir de Deus, pois qualquer tentativa de construção, qualquer projeto sem Deus volta-se, inevitavelmente contra o próprio homem. De fato, “é preciso redescobrir Deus”.

Na Encíclica Fé e Razão, do Papa São João Paulo II, vemos a relação inseparável e necessária entre ambas.

Deste modo, as ciências humanas e divinas são degraus para chegarmos até o Absoluto de nossas vidas: Deus.

É preciso avançar no conhecimento, nas conquistas das ciências, mas sem se curvar aos novos fetiches ou ídolos.

Precisamos da ciência, da técnica e do progresso. Não há lugar para discursos retrógrados e negacionistas, mas também não podemos nos curvar aos discursos do indiferentismo religioso.

A procura do saber e a inquietação pelo saber, jamais se contrapõem à busca da sabedoria maior e necessária, a Sabedoria do Espírito, a Sabedoria Divina.

Colocando-nos diante de Deus como criaturas, voltamo-nos para o  Criador e procuramos descobrir, mergulhar nos mistérios mais profundos do próprio homem, onde Deus habita, e assim redescobrir Sua divina face de amor e presença na história.

Oremos:

Ó Deus, ajudai-nos a redescobrir Vossa face Misericordiosa, na fidelidade ao Vosso Filho, na plena comunhão com o Espírito Santo, como membros de Vossa Igreja que somos, a serviço do Vosso Reino de amor, verdade, justiça, liberdade e paz.

Ajudai-nos a redescobrir Vossa ação surpreendente, que realiza maravilhas, suscitando em nós exultação e alegria, porque sois um Deus vivo, criador e cheio de novidades, sempre tomando iniciativas para nos conduzir a uma vida plena e feliz.

Ajudai-nos a construir uma identidade cristã, que nos faça cada vez mais humanos e autênticos, sendo no mundo testemunhas de Vossa luz e salvação, ancorados e sustentados pela Vossa Palavra e pelos Sacramentos, que nos revelam e comunicam Vosso amor e presença.

Ajudai-nos a mergulhar em Vossos planos, que não podem ser contidos em nossos esquemas mentais rígidos, empobrecidos pela mesquinhez de nossos corações, nas angústias de nossos estreitos horizontes, porque movidos por valores e sentimentos que não são os Vossos.

Ajudai-nos no aprendizado do diálogo convosco, para pensarmos e agirmos em sintonia com Vossos desígnios, tendo elevados e purificados nossos desejos, tornando-os semelhantes aos Vossos, e assim trilharmos o caminho de santidade, para sermos santos como Vós sois Santo.

Ajudai-nos a firmar nossos passos nesta caminhada quaresmal, num êxodo em direção à Páscoa, o transbordamento da alegria, mas antes precedido pelo fortalecimento da fé, revigoramento da esperança, e o reavivamento da chama do amor acesa em nosso coração.

Ajudai-nos a viver intensamente este tempo de graça e salvação, para que exultemos pela novidade Pascal, a Ressurreição do Vosso Filho, que tendo nos amado, amou-nos até o fim, esperando Sua vinda gloriosa, com a realização da plenitude da alegria, no fim dos tempos.

Por fim, ó Deus, ajudai-nos a redescobrir que sois um Deus verdadeiramente surpreendente, e infinitamente maior do que o nosso coração, (1 Jo 3,20), rico em misericórdia, assim como nos revelou Vosso Amado Filho, na plena comunhão de Amor, com o Vosso Santo Espírito. Amém. 



PS: GS - Gaudium et Spes - Vaticano II

Jesus Cristo, sumo-sacerdote de nossa propiciação

 


Jesus Cristo, sumo-sacerdote de nossa propiciação

“Meus filhinhos, escrevo isto para que não pequeis. No entanto, se alguém pecar, temos junto do Pai um Defensor: Jesus Cristo, o Justo. Ele é a vítima de expiação pelos nossos pecados” (1Jo 2,1-2).

Sejamos enriquecidos por uma das homilias escritas pelo presbítero Orígenes (Séc. III), sobre o Livro do Levítico:

“Uma vez por ano o sumo sacerdote, afastando-se do povo, entra no lugar onde estão o propiciatório, os querubins, a arca da aliança e o altar do incenso; ninguém pode entrar aí, exceto o sumo sacerdote. Mas consideremos o nosso verdadeiro sumo sacerdote, o Senhor Jesus Cristo.

Tendo assumido a natureza humana, ele estava o ano todo com o povo – aquele ano do qual Ele mesmo disse: O Senhor enviou-me para anunciar a boa-nova aos pobres; proclamar um ano da graça do Senhor e o dia do perdão (cf. Lc 4,18.19) – e uma só vez durante esse ano, no dia da expiação, Ele entrou no santuário, isto é, penetrou nos céus, depois de cumprir Sua missão redentora, e permanece diante do Pai, para torná-Lo propício ao gênero humano e interceder por todos os que n’Ele creem.

Conhecendo esta propiciação que reconcilia os homens com o Pai, diz o apóstolo João: Meus filhinhos, escrevo isto para que não pequeis. No entanto, se alguém pecar, temos junto do Pai um Defensor: Jesus Cristo, o Justo. Ele é a vítima de expiação pelos nossos pecados (1Jo 2,1-2).

Paulo lembra igualmente esta propiciação, ao falar de Cristo: Deus O destinou a ser, por Seu próprio sangue, instrumento de expiação mediante a realidade da fé (Rm 3,25). Por isso, o dia da expiação continua para nós até o fim do mundo.

Diz a palavra divina: Na presença do Senhor porá o incenso sobre o fogo, de modo que a nuvem de incenso cubra o propiciatório que está sobre a arca da aliança; assim não morrerá. Em seguida, pegará um pouco do sangue do bezerro, e com o dedo, aspergirá o lado oriental do propiciatório (cf. Lv 16,13-14).

Ensinou assim aos antigos como havia de ser celebrado o rito de propiciação, oferecido a Deus em favor dos homens. Tu, porém, que te aproximaste de Cristo, o verdadeiro sumo sacerdote que, com o Seu sangue, tornou Deus propício para contigo e te reconciliou com o Pai, não fixes tua atenção no sangue das vítimas antigas.

Procura antes conhecer o sangue do Verbo e ouve o que Ele mesmo te diz: Isto é o meu sangue, que será derramado por vós, para remissão dos pecados (cf. Mt 26,28).

Também a aspersão para o lado do oriente tem o seu significado. Do oriente nos vem a propiciação. É de lá que vem aquele homem cujo nome é Oriente e que foi constituído mediador entre Deus e os homens.

Por esse motivo és convidado a olhar sempre para o oriente, de onde nasce para ti o Sol da justiça, de onde a luz se levanta sobre ti, para que nunca andes nas trevas, nem te surpreenda nas trevas o último dia; a fim de que a noite e a escuridão da ignorância não caiam sorrateiramente sobre ti, mas vivas sempre na luz da sabedoria, no pleno dia da fé e no fulgor da caridade e da paz.” (1)

Cremos que a propiciação é  o sacrifício de Jesus Cristo que, através de Sua morte na cruz, nos alcançou o  perdão e a reconciliação entre a humanidade e Deus.

De fato, por meio de Jesus, fomos reconciliados, restaurados, para uma vida nova, que começa no dia de nosso batismo.

Seja o Tempo da Quaresma, tempo favorável para nos configuramos cada vez mais a Jesus Cristo, no mistério de Sua Paixão e Morte, para com júbilo, celebrarmos a Páscoa do Senhor.

Concluo com as palavras do Apóstolo Paulo:

- “Alegro-me nos sofrimentos que tenho suportado por vós e completo o que na minha carne falta ás tribulações de Cristo, em favor do Seu Corpo que é a Igreja” (Cl 1,24).

- “Tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus” (Fl 2,5).

 

 

(1) Liturgia das Horas – Volume Quaresma/Páscoa – Editora Paulus - pág. 255-256

Em poucas palavras...

                                                             


Preparemos a Celebração da Páscoa do Senhor 

“...E nós, que nos preparamos para a grande Solenidade, que caminho havemos de seguir? Ao aproximarem-se as Festas Pascais, a quem tomaremos por guia? Certamente nenhum outro, amados irmãos, senão Aquele a quem chamamos nosso Senhor Jesus Cristo (...) 

(...) Nós deixamos tudo e Te seguimos (Mt 19,17). Sigamos também nós o Senhor; preparemo-nos para celebrar a Festa do Senhor não apenas com palavras, mas também com nossos atos.” (1)

 

(1) Das Cartas Pascais, do Bispo Santo Atanásio (séc. IV)

"Jardineiros do Criador"

                                                        

"Jardineiros do Criador"

Os primeiros capítulos do Livro do Gênesis nos apresentam o relato da criação do mundo e as suas maravilhas e o descanso sabático após a criação (Gn 1,1-19; 1,20-2,4a; 2, 4b-9.15-17).

Quanto à criação do homem e mulher à imagem e semelhança de Deus, são postos no Paraíso como "jardineiros do Criador" para crescer e multiplicar e dominar toda a obra da criação; tudo foi submetido aos cuidados do ser humano.

Tendo Deus colocado o ser humano no centro da criação, confere a estes a corresponsabilidade no cuidado desta criação ("co-criadores"), assim como a responsabilidade de agir livremente.

Evidentemente que esta liberdade (livre-arbítrio) para agir deve ser feita com sabedoria, discernimento, porque agindo inadequadamente as consequências são inevitáveis, como catástrofes da natureza, que jamais podem ser concebidas como castigos divinos, mas resultado da ação e intervenção humana que se fecha ao que Deus nos diz.

Tem plena razão o Pe. José Carlos Pereira quando, aludindo à advertência feita aos nossos primeiros pais: "Não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que fizeres isso, sem dúvida morrerás", afirma:

"Pelo que vemos, hoje, nas respostas da natureza, o ser humano continua a comer dessa árvore proibida, a árvore das tentações, que aguça a ganância, o lucro desmedido, o desrespeito à vida em todas as suas formas.

Vemos, portanto, a natureza reagindo a estas provocações. Uma destas reações é o aquecimento global que resulta em ciclones, tempestades tropicais, enchentes, deslizamentos de morros e encostas, secas prolongadas e tantas outras situações tidas como 'naturais', mas que são resultados de um longo
processo de descaso com a obra da criação.

Descaso que se revela nos desmatamentos de reservas naturais, de matas ciliares, no uso indevido de agrotóxicos, poluição de todos os tipos, uso indevido dos recursos naturais etc." (1)

Um fato que tem nos inquietado nos últimos dias, mas que remete a um longo processo de décadas, é a questão da crise hídrica, assim como a necessidade de colocar na pauta do dia a questão da sustentabilidade, pois nosso planeta encontra-se em agonia, num processo avassalador de destruição.

Como jardineiros do Criador, precisamos rever nossa relação com a obra da criação. Postos no centro da criação para dominar e não para destruir o mundo que nos foi posto nas mãos.

Dominação seja sinônimo de cuidado de nossa casa comum, a Terra. Dominação seja entendido como a necessária conversão na utilização dos bens da criação e dos espaços e de tudo que esteja ao nosso alcance.

Dominação sobre a obra da criação requer que voltemos aos 4 Rs: repensar, reduzir, reaproveitar, reciclar.

E agora podemos acrescentar um quinto R: Recusar produtos que prejudiquem o meio ambiente e a saúde. É preciso que fiquemos atentos ao prazo de validade dos produtos e nas empresas que têm compromissos com a ecologia.

Também devemos evitar o excesso de sacos plásticos e embalagens, utilizando sempre uma sacola de pano para transportar as compras.

Recomenda-se que se evite a compra de aerossóis e lâmpadas fluorescentes, bem como produtos e embalagens não recicláveis e descartáveis.

Somos jardineiros do criador, e assim não podemos pensar no Paraíso como algo do passado, mas no presente e futuro. O mundo, de modo especial o planeta Terra, a casa comum em que habitamos está em nossas mãos. Cabe a nós cuidar dele, assegurando que possamos viver bem agora, mas também garantir àqueles que virão que tenham a mesma possibilidade.

É sempre necessário pensar no Paraíso não como saudade, mas como compromisso e esperança. E isto nos compete, e é isto que Deus espera de todos nós, desde o princípio da criação, até a redenção desta, que "geme em dores de parto”, como tão bem expressou o Apóstolo Paulo (Rm 8,22).

(1) Liturgia da Palavra – Vol. I – Editora Paulus - p.152.

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