terça-feira, 1 de outubro de 2024

A Pastoral da Criança e a Seiva do Amor


A Pastoral da Criança e a Seiva do Amor

Glorifiquemos a Deus pelos 30 anos da presença da Pastoral da Criança na Diocese de Guarulhos, uma história bonita para ser lembrada, contada e celebrada no altar do Senhor, exultantes de alegria.

Bem nos disse o Senhor, na passagem do Evangelho sobre a Videira, que é Ele próprio, e nós Seus ramos, que se não ficarmos a Ele unidos nada poderemos fazer (Jo 15, 1-17).

Unidos ao Senhor, d’Ele nos alimentando, pela Seiva do Amor, passando pelas podas necessárias, quantos frutos teremos para no altar colocar, e orações de gratidão aos céus elevar?

Na Diocese, a Pastoral da Criança conta, hoje, com 600 voluntários, 310 líderes, 290 apoios, 2868 famílias, presente em 86 comunidades, com 191 gestantes e 3356 crianças acompanhadas, num município com 43% de crianças na condição de pobreza, conseguimos atender 7%.

Glorificamos a Deus por todos os que fizeram parte desta história: bispos, padres, religiosos e religiosas, cristãos leigos e leigas. Uns já na glória, outros conosco caminhando, com apoio e incentivo.

Glorificamos a Deus pela Seiva do Amor que jamais nos faltou, porque sempre nos foi abundantemente oferecida em cada Eucaristia celebrada, no Pão e no Vinho, pelas mãos ungidas de um Bispo ou Sacerdote.

É preciso que perseveremos, e o trabalho da Pastoral da Criança fortaleçamos. Cada tempo tem suas marcas, desafios, e como em todas as Pastorais, precisamos ficar atentos ao que nos diz o Espírito.

Enamorados por Jesus Cristo, Videira Divina do Pai, quem por Ele sentiu-se amado, seduzido, crescerá cada dia neste amor, porque no Coração a Semente do Verbo foi plantada.

Saciados pela Seiva do amor divino, que nos vem do Santo Espírito, na fidelidade ao Pai de amor, como discípulos missionários do Senhor, roguemos a Deus para que a Pastoral da Criança continue escrevendo sua história.

Permaneçamos na Videira, e que esta permanência se torne visível na coragem das podas, no nutrir-se permanentemente do amor divino, para frutos saborosos e eternos produzir. Muito já fizemos, muito ainda há por fazer... Acomodar e desistir? Jamais!

Parabéns, Pastoral da Criança! Parabéns pelos 30 anos a serviço da vida plena, na fidelidade ao Senhor, na prática concreta da misericórdia, para que misericordiosos como o Pai sejamos, pelo Espírito Santo sempre conduzidos. Amém.


PS: Escrevi esta homenagem no Encontro Diocesano da Pastoral da Criança, (outubro de 2016)

Memórias Missionárias...

Enfrentar os desafios e plantar a esperança

Retomando e atualizando mais uma página do meu tempo de Missão, em Rondônia, volto-me às cartas que escrevia, habitualmente, para amigos/as da Diocese de Guarulhos.

“Enfrentar desafios, plantar a esperança, brotar a vida, florescer a alegria e comer os frutos que saciam!”

Hoje, repito estas palavras, para que continuemos plantando a esperança para ver brotar a vida, florescendo a alegria e comer os frutos que saciam, porque como ontem, embora vivamos outra realidade, os desafios nos acompanham e desafiam nossa fé e a missão de fazer florescer o melhor de Deus no mundo e no coração de cada pessoa e de nós próprios.

Semear a Boa-Nova do Jesus, pois somente Ele tem a melhor semente e é o Semeador do Pai, por excelência.

Que se multipliquem corações fecundos, e que não caiam à beira do caminho, ou terrenos pedregosos ou espinhos, não dando assim, os frutos que Deus espera não para Ele, mas para nós mesmos, como nos fala a Parábola do Semeador (Mt 13, 3-8; Mc 4,1-20).

Também devemos pedir a Deus a cura de nosso olhar, suplicar o “colírio da fé”, para vermos além das grades as estrelas que brilham e iluminam nosso céu para tornar mais firmes e seguros nossos passos na terra; ainda que a “lama” de mil nomes (corrupção, crise política, ética, econômica, moral; degradação ambiental, violação da sacralidade da vida, etc.) queira nos atolar, e nos fazer perder a esperança.

Voltar a sorrir um sorriso com matiz Pascal, crendo que a morte, a dor, o luto serão superados e nossas lágrimas serão enxugadas, pois cremos, anunciamos e testemunhamos Aquele que por nós morreu e Ressuscitou, mas o Pai O Ressuscitou, e por meio d’Ele nos enviou o Santo Espírito, para trilharmos o caminho da reconstrução do Paraíso, compromisso que se impõe a todo batizado, sem fugas, esmorecimentos com as necessárias renúncias, para a missão realizar.

Ser uma Igreja decididamente missionária, “em saída”, em estado permanente de missão, e tão somente assim ela se torna fiel à missão que o Senhor nos confiou. Amém.

Memórias Missionárias...

Não realizamos a missão sozinhos

Estava concluindo o primeiro semestre do primeiro ano da missão na Diocese de Ji-Paraná-RO (2000), e escrevi uma carta ao Bispo da Diocese de Guarulhos e a todo o Presbitério.

Quase não tinha tempo para descansar, de modo que também estava um pouco atrasado nas muitas correspondências dos amigos e amigas da Paróquia em que trabalhara como Pároco na Diocese de Guarulhos.

Cada carta recebida comunica uma alegria muito grande, pois expressa grande carinho, saudade, confiança e amizade...

Partilhei as atividades das últimas intensas semanas, como sempre, cheia de novidades, experiências novas...

Em meados de maio, fizemos, durante todo o dia, encontros de formação, nos nove setores, para os catequistas, com o tema: “Jesus Cristo”.

Pela manhã, reflexão em grupos, dinâmicas com os catequistas (não muitos mas com qualidade).

Partilhávamos o almoço comunitário; logo após, à tarde, fazíamos uma reflexão a partir de um texto:  “A vida cristã deve ser um reflexo permanente da Vida de Jesus Cristo”, e que batizamos de “Dinâmica do Espelho” – onde devemos nos olhar todos os dias –, e em seguida um momento de “deserto”.

Finalizávamos com uma Oração e a dinâmica das sete velas: sete catequistas eram convidados a fazer uma oração/avaliação do encontro, acendendo-as no Círio Pascal, colocado no centro, sobre um tapete muito bonito, com uma estampa de Jesus, flores. A cada vela acesa, ouvíamos belas partilhas que saiam do coração e dos lábios dos catequistas...

Também ao final de maio, começamos a segunda visita do ano: duas Comunidades por dia.

Fazíamos o Conselho com a Comunidade, onde refletimos que cada Agente da Comunidade é sujeito da Evangelização, protagonista, e para tanto precisam cultivar a Espiritualidade, alimentando-se da Palavra de Deus, do Pão da Eucaristia e do compromisso com os pobres.

Em seguida, as Irmãs, com quem  formava a Equipe Paroquial, faziam a reflexão com os temas:  “A Nova Sociedade”, o “Plebiscito sobre a Dívida Externa e Eleições Municipais”, precedida por uma dramatização feita pela Comunidade sobre estes temas à luz do Evangelho de São Lucas (Lc 1,46-56) Magnificat – (algumas bastante críticas/politizadas)

Finalizávamos com a Santa Missa, sempre muito bem participada, calorosa em dois sentidos (calor humano e da temperatura), e como sempre entre uma visita e outra, um almoço delicioso no sítio.

Fizemos, em junho, o Tríduo do Sagrado Coração de Jesus. Celebramos a Missa em três locais diferentes, reunindo os grupos de reflexão.

A cada noite  um  tema diferente. Na primeira, foi o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria e o nosso coração; na segunda, o Sagrado Coração de Jesus e o Migrante. Na Homilia, disse: “...todos somos migrantes para o Sagrado Coração de Jesus: chão fértil de amor, carinho, misericórdia, perdão, sinceridade, querer ver o bem do outro...” Convidei a todos para migrarem sempre para o Sagrado Coração de Jesus.

A cada noite, uma festa: partilha final, salgadinhos, doces, pipocas e criançada bonita e alegre.

Na terceira noite, foi o Sagrado Coração de Jesus e os doentes. Falei durante a Missa que doente não é só aquele que está na cama, mas todo aquele que se fecha ao Sagrado Coração de Jesus e ao Seu Projeto de Vida, de Amor, de Solidariedade e de Paz – ungimos os enfermos com óleo perfumado com a essência de camomila.

Finalizamos com uma belíssima Missa, no Sábado à noite, reunindo todos os grupos, toda a Comunidade, exultantes de alegria.

Levávamos a Imagem do Sagrado Coração de Jesus, que o Apostolado da Oração da Paróquia de Santo Alberto Magno havia enviado.

No dia 11/6 – Festa de Pentecostes, participamos da Segunda Romaria das Comunidades da Diocese - Ji-Paraná, com o Tema: “Celebrar nossa história, partilhar nossos sonhos, assumir os compromissos”, da qual foi o motivador (animador) em sua realização, percorrendo pelas ruas da cidade.

Nossa Paróquia participou levando sete ônibus, e voltamos fortalecidos para a caminhada de fé e compromisso com a vida dos pobres, no seguimento de Jesus.     

Manifestei o desejo de partilhar, um pouco mais, cada momento vivido intensamente no tempo da missão, porque sabia que todos da Diocese estavam comigo na comunhão e na oração, pois não há Missionário solitário.

A cada dia que passava, aumentava a saudade de todos da Diocese, mas era preciso continuar a missão, com seus desafios: poeira, atoleiros, cansaços e a novidade que nos desinstala.

Memórias Missionárias...

A Eucaristia é o nosso Alimento indispensável

“O Senhor, que encaminha os nossos corações para o 
amor de Deus e a constância de Cristo, 
esteja convosco” (2 Ts 3,5)

Era o mês de julho de 2001 (exatos um ano e meio de missão de três que foram completados).

Partilhei, através de carta a amigos da Diocese de Guarulhos, as atividades da caminhada missionária na Diocese de Ji-Paraná – RO.

As atividades eram muitas, sobretudo na medida em que ia me inserindo na realidade daquele povo. 

Nos meses de maio e junho, realizei a segunda visita às Comunidades da Paróquia Sagrado Coração de Jesus – Ministro Andreazza-RO, com as religiosas e um seminarista.

Celebramos a Eucaristia, com o tema do Congresso Eucarístico – “Eucaristia, fonte da missão e da vida solidária”. 

Em junho, também ajudei nas visitas às Comunidades de Presidente Médici, com o tema da Romaria da Terra. Foi uma semana muito rica, em que pude conhecer novas Comunidades, um povo muito simples, carinhoso e acolhedor. Como eram mais de sessenta comunidades, algumas delas somente conheci depois de ano e meio em missão.

Realizei dois encontros de formação com os sete seminaristas do Propedêutico de nossa Diocese de Ji-Paraná, a partir da Encíclica do Papa São João Paulo II – “Pastores Dabo Vobis” - Sobre a Formação de Sacerdotes. Acredito que foi bom para eles, muito mais gratificante para mim, pois nos convida a renovar nosso entusiasmo e ardor vocacional, na realização de nosso ministério.

Participei de três reuniões na Diocese, a fim de prepararmos a VI Romaria da Terra, que aconteceria no dia 29 de julho, com a participação de três Dioceses de Rondônia (Ji-Paraná, Porto Velho e Guajará-Mirim). 

A Romaria era sempre um acontecimento muito significativo para nossas Comunidades, sobretudo porque vivíamos momentos de grandes dificuldades econômicas.

Tratava-se de um ato ecumênico (Igreja Luterana), com a participação de diversas entidades, entre elas CIMI e CPT... O tema da Romaria: “Agricultura Familiar: criar raízes para uma vida longa e feliz”. Como tema: “ Plantar e colher, comer e viver”. Prevíamos uma participação de 15.000 pessoas.

Na Paróquia, encaminhávamos um Evento muito importante: A “Missão Jovem”, com o tema da Campanha da Fraternidade – “Vida sim, drogas não!”, e o Lema: “Jovem na família, resgatando a dignidade e a cidadania”. 

Pretendíamos visitar, de 8 a 16 de setembro, todas as famílias católicas de nossas 31 Comunidades. 

Em agosto teríamos a visita dos Redentoristas, por três dias, celebrando Missas e animando nossas Comunidades para o bom êxito da Missão Jovem...

Por fim, tive a alegria de receber a visita de parentes de São Paulo, que puderam ver com os próprios olhos o que procurava, com limites, partilhar através de cartas e artigos. Na oportunidade, foi produzida uma fita de vídeo, como um documentário com as diversas lideranças de nossas Comunidades, com um pouco da realidade da Paróquia em que realizava a missão.

Como falei, as Comunidades passavam momentos muito difíceis (a saca do café despencara para R$ 28,00), quando havia chegado chegou a R$ 120,00.  Muitos vendiam seus sítios (terras) e partiam para novos lugares. 

Com isto, perdíamos muito:  lideranças e amizades; e algumas Comunidades ficavam cada vez mais reduzidas, com possibilidade até de deixar de existir. Daí a emergência da Romaria da Terra, anteriormente mencionada. 

Apesar disto, do muito calor, e outras dificuldades, muitos resistiam e se organizavam: Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Associações dos Trabalhadores Rurais, um ou outro Partido Político com propósitos de promoção do bem.

Roguei a Deus que derramasse copiosas bênçãos sobre todos da Diocese de Guarulhos, alimentados do Cristo Eucarístico, fortalecendo a missão recebida pelo Batismo, escrevendo páginas de solidariedade, na expressão madura e recriadora  do Mandamento Maior que Nosso Senhor Jesus Cristo nos deixou: amor a Deus e ao próximo (cf. Lc 10,25-37).

Memórias Missionárias...

 
O Sepulcro vazio é o ponto de partida para nossa missão!

Hoje, finalmente parei para retomar minhas correspondências: respondê-las com mesmo carinho de sempre.

Por tanto a fazer, acabamos deixando as cartas para um momento oportuno, e quando vemos, o tempo passou, mas não o carinho por quem nos escrevemos... Aceite meu pedido de desculpas, por favor...

Este ano está passando mais rápido do que eu previa: Coordenação Diocesana de Pastoral, Coordenação do Conselho de Presbíteros da Diocese,;  10.º Encontro Nacional dos Presbíteros, em fevereiro, artigos para o Jornal da Diocese, visita de amigos e amigas em férias, Quaresma, confissões quaresmais, Semana Santa, as necessárias leituras de alguns bons livros, sem o que acabamos desatualizados,e finalmente, um pouco de descanso necessário.

Confesso que, apesar da correria, sinto que estou num momento maravilhoso do meu ministério. Acabei de celebrar o 16º aniversário de Ordenação Presbiteral.

Quanto à Paróquia, vai muito bem, para além de todos os desafios. Todos Agentes estão muito empenhados e animados.

Foi ótima a Semana Santa. Grandes são os desafios: dois terrenos para comprar; cinco Igrejas para construir; ampliações e reformas que se fazem necessárias. Muito para fazer e pouco para gastar. Mas já me acostumei com isto, e aos poucos, vamos fazendo o que está ao nosso alcance.

A realidade econômica nacional em que vivemos é desafiadora; sentimos na pele junto ao povo de nossa periferia, com quem trabalhamos...

Minha saúde, bem como minha família e amigos estão bem, e em tempo, desejo a você, e à sua família, votos de feliz Páscoa, dedicando as palavras que dirigi ao povo na homilia do Domingo de Páscoa: Saudações em Cristo Ressuscitado, princípio e fim de nossas vidas; Ele que faz novas todas as coisas. Continuemos buscando as coisas do alto onde está Cristo, à direita de Deus todo Poderoso!


PS: Carta escrita aos amigos/as da Diocese de Ji-Paraná - RO, na Páscoa de 2004, quando Pároco da Paróquia Nossa Senhora do Bom Sucesso – Diocese de Guarulhos - SP.

Memórias Missionárias...

Água: ouro azul do milênio

Retomo parte de um artigo que escrevi, quando em missão na Diocese de Ji-Paraná (RO) para o Jornal da Diocese de Guarulhos, que tinha como título “Água: ouro azul do novo Milênio”, que acenava para a necessária reflexão do tema ecológico de fundamental importância para a nossa sobrevivência: a questão da água.

Na ocasião, aconteceu a 1ª Caravana das águas na Amazônia (19 a 22 de maio de 2002), um Evento promovido por vários organismos que lutam em defesa da vida dos menos favorecidos e do meio ambiente.

O objetivo era chamar a atenção de toda a sociedade para os projetos de desenvolvimento que o Governo brasileiro, atendendo ao pedido dos americanos e seu grupo, vinha implantando naquela região.

Estes projetos condenavam à morte a vida da região, não somente das espécies, fauna e flora, como também a vida dos povos que sobrevivem na Amazônia.

Também tinha como objetivo denunciar a depredação das florestas, da sua biodiversidade, a poluição dos rios feita pelas grandes empresas, em sua maioria, multinacionais instaladas naquela região, que visavam apenas o lucro fácil, sem se importarem com a vida dos que nela estão.

Estava na pauta do dia a configuração da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), que tem como objetivo principal a internacionalização da Amazônia, com a perda da soberania brasileira sobre a região amazônica, colocando-a a mercê de um pequeno grupo, que visa tão apenas o lucro obtido com as riquezas naturais.

Vários são os motivos do interesse internacional pela Amazônia. Segundo a ONU, até 2025 cerca de um terço da humanidade terá difícil acesso à água potável.

Em alguns países a água já e mais cara que o petróleo. Dois terços do planeta é agua; desses dois terços 97% é água salgada (mar/oceano) e apenas 35% de toda água do planeta é doce, servindo para consumo, e destes, 3%, grande parte é gelo (2,4%).

O Brasil tem 8% de toda a água potável do planeta, sendo que 80% está localizada na Amazônia. Pode-se afirmar que a água será em breve o bem mais precioso da terra, por isto é chamada de “Gold Blue”, ouro azul.

Só que não é a água apenas que desperta a cobiça dos americanos. A Amazônia tem a maior e mais rica biodiversidade da terra. Segundo alguns especialistas, a riqueza da Amazônia ultrapassa a casa dos 4 trilhões de dólares.

A causa da romaria era e continua sendo a mesma: que a Amazônia seja patrimônio da humanidade sim, mas que acima disto, seja um patrimônio público, sob a soberania e gerenciamento do Estado.

Sendo um bem garantido a todos, principalmente para os povos que nela vivem, não expondo a Amazônia a lei do mercado e dos interesses de grupos capitalistas que pensam somente no lucro, exploração e destruição da mesma.

O desenvolvimento da Amazônia deve ser pensado a partir dos povos que nela vivem, fora disto é impossível desenvolvê-la sem destruí-la.

Conhecer, amar e defender a Amazônia, para que, no futuro, quando for perguntado “Onde estão os arvoredos? Responderemos: Desapareceram. Nos perguntarão: Onde estão os pássaros? Responderemos: Desapareceram também. Será o final da vida ou o início de nossa sobrevivência”.

A reflexão sobre a questão da água é um tema mais do que urgente, ao lado de outras questões não menos importantes como a biodiversidade, a preservação da Amazônia, bem como de seus povos, sobretudo dos povos ribeirinhos (que vivem nos rios e suas margens) e os povos indígenas, legítimos donos destas terras e suas riquezas.

Amar e cuidar da natureza é amar, cuidar e preservar o futuro da humanidade, o futuro de nós mesmos.

Como vemos, a questão da água é gravíssima, e por isto também a Igreja do Brasil, pouco mais tarde (2004) fez a inesquecível Campanha da Fraternidade sobre a água, com o tema: Fraternidade e Água; e o lema: “Água, fonte de Vida”.

Vemos quão grave é a questão da crise hídrica, que vem nos desafiando há décadas e séculos, e não podemos ficar à margem desta questão, indiferentes e omissos. Grande é o desafio para que todos tenhamos direito a este bem indispensável e vital: água, o ouro azul do milênio.


PS: Publicado no jornal Folha Diocesana – Guarulhos – Ed. nº75. (2002)

Tudo no tempo de Deus

Tudo no tempo de Deus

“Há um momento para tudo e um tempo
 para todo propósito debaixo do céu.”

Finalizando o segundo ano de missão (de três que se completaram), aos amigos da Diocese de Guarulhos, escrevi mais uma carta falando das atividades junto ao povo da Diocese de Ji-Paraná.

Inicialmente, pedi perdão pelo atraso na resposta das correspondências, e convidei-os a meditar esta passagem do Livro do Eclesiastes - “Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu. Tempo de nascer...” (Ecl 3,1-22)

Há tempo para escrever, tempo para partilhar a correria que foi o mês de setembro. Há tempo em que o tempo brinca conosco, feito criança esperta e nós correndo atrás, às vezes cansados e sem fôlego; tempo de fazer tempo para falar com o outro, ainda que por carta (parece estranho falar em carta hoje, mas naquela época era comum esta comunicação, e estamos falando de apenas quinze anos passados)

Há e haverá sempre tempo, para que possamos partilhar nossa missão e amizade!

Na carta, falei da Missão Jovem, realizada de 8 a 16 de setembro, da alegria vivida, a animação missionária,  as visitas às famílias; o entusiasmo dos mais de 70 missionários (as); a presença do Bispo no encerramento; o resgate do sonho, muitos jovens e famílias afastadas das comunidades.

E ainda um momento inesquecível: o Passeio Ecológico dos Presbíteros, realizado todos os anos por alguns padres diocesanos e religiosos.

Passávamos uma semana no meio da floresta: pescar e descansar e favorecer a amizade e a comunhão entre nós. Naquele ano, fomos para Aripuanã – Mato Grosso.

Ficamos bem próximo à reserva indígena dos zorós, acampados à beira do Rio Branco, sem contato com o mundo, sem telefone, computador, notícias...

Alguns padres bem que tentaram pescar, mas, naquela semana, “o rio não estava para peixe”. Pescou-se o suficiente para as refeições. O calor era intenso, amenizado com um gostoso banho no rio, devidamente vestido por causa do candiru (um peixe que, se penetrar no corpo, cresce e só sai com cirurgia – Ninguém queria correr este risco).

Durante o dia, dentro da barraca não dava para ficar por causa do calor, e de alguns mosquitos pequeninos.

Na rede, não dava para ficar por causa dos piuns, muriçocas, pernilongos. Repelente? Mais parecia “atraente”.

Voltei um dia antes, com a perna marcada pelas picadas. Mas, apesar de tudo, foi muito bom. De vez em quando é bom sair da rotina. No ano seguinte, pretendíamos retornar ao local do primeiro passeio, com mais peixe e menos desconforto.

Na Paróquia, em setembro, realizamos a formação Setorial para Catequistas e Animadores (as) de Grupo de Reflexão/Família: Nossa Paróquia contava com 10 setores. Com nossa Equipe Paroquial de Catequese, de 24 a 27 de setembro, passamos em todos os setores.

O encontro era realizado durante um dia inteiro, durante a semana. Fazíamos um aprofundamento sobre a realidade social, econômica e política que estamos vivendo, pela manhã. À tarde, todos faziam seu deserto, com reflexão e oração, à luz de alguns trechos bíblicos vocacionais.  Revíamos e renovávamos o chamado de Deus para a missão de evangelizador (a).

No mesmo mês, tivemos a Assembleia Diocesana. Comigo, foram mais quatro Agentes de Pastoral de nossa Paróquia. Éramos quase 130 participantes. Avaliamos nossa caminhada à luz das Diretrizes da Evangelização de nossa Diocese.

Fizemos uma revisão de nossa caminhada, a fim de renovar nossa identidade para sermos uma Igreja mais profética, servidora neste Novo Milênio.

Também, fizemos a revisão e aprovação do Novo Diretório para as  Comunidades para orientar a Organização, Sacramentos, Conselhos, Estruturas Pastorais da Diocese.

Toda a Comunidade, para caminhar em comunhão com a Diocese, deveria se orientar pelo Diretório. Foi uma das riquezas que encontrei e reaprendi com a aquela Diocese, que tinha aproximadamente 1400 Comunidades.

O que aconteceria se cada comunidade tivesse suas normas? Ou se cada Comunidade se organizasse e vivesse ao seu modo? E se cada Padre ou Religiosa fizesse de sua Paróquia o seu Mundo?

Na noite da sexta-feira, tivemos um momento de análise de conjuntura, proporcionado pelo Bispo da Diocese (Dom Antonio Possamai), à luz da Carta da CNBB, enviada a todas as comunidades: “Brasil – “Apreensões e esperanças”.

Inspirados nela, fizemos uma Carta aberta a todas as Comunidades, com linguagem simplificada e forte, denunciando a situação de miséria que o país estava vivendo (eram 50 milhões condenados à pobreza...).

Nesta Assembleia, criamos o Conselho Diocesano de Leigos, há muito necessário e desejado...

Partilhei também a visita às comunidades de Presidente Médici, em sua terceira visita do ano. As comunidades do interior tinham Missa apenas 4 vezes por ano, e em dias de semana. Apesar disto, caminhavam, assumindo os diversos ministérios, levando à frente a Evangelização.

Finalizando, escrevi sobre o Encontro de Formação para  30 Ministros do Batismo, Eucaristia e Matrimônio, no mês de outubro;  com avaliação da caminhada, aprofundamento bíblico, celebração do perdão e estudo do novo ritual diocesano para os sacramentos mencionados. Foi um excelente momento de fortalecimento espiritual para todos nós.

Como se pode ver, eram dias intensos, marcados por muitas atividades. Por isto, afirmo que o tempo de missão foi fecundo e marcante para o meu Ministério Presbiteral. Agradeço a Deus sempre pela graça destes três anos memoráveis em minha vida, com marcas de saudades e gratidão.

PS: Escrito em 2000 quando em missão na Diocesede Ji-Paraná - Rondônia

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG