domingo, 1 de setembro de 2024

Discípulos missionários e a Vinha do Senhor

                                                         

Discípulos missionários e a Vinha do Senhor

À luz da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 20,1-16a), refletimos sobre os pensamentos de Deus, que não são como os pensamentos dos homens, pois seguem a lógica da gratuidade e do amor, doação, partilha e serviço, graça sobre todos derramada.

A passagem do Evangelho é um convite de Nosso Senhor para trabalharmos em Sua Vinha, na construção do Reino.

A prática de Jesus e a Parábola revelam que todos somos filhos amados do Pai, que por amor assegura-nos o essencial para vivermos.

Através da Parábola, Jesus revela  o Amor de Deus pelos últimos, pelos excluídos; e revela-nos o rosto e o coração de um Deus que ama a todos sem exceção; tão diferente do Deus dos escribas e fariseus, que muitas vezes se assemelha a um “Deus contabilista” que nos recompensa conforme nossas ações, como se tivesse um lápis na mão para fazer as nossas contas e nos dar o pagamento conforme nossos merecimentos.

A nós cabe o imitar a Deus amando na gratuidade! Simplesmente, amar na gratuidade, a mais bela lógica da ação divina que a Parábola nos revela.

No trabalho da Vinha, ou seja, na Comunidade há lugar para todos. Alguns iniciaram mais cedo, até mesmo dentro do ventre materno. Outros um pouco mais tarde sentiram o chamado do Senhor. Outros bem mais tarde, já adultos. Outros ainda não responderam, são os últimos que nos fala a Parábola, aos quais Deus também quer revelar Seu amor e contar como servos de Sua Vinha.

Na Igreja, trabalho é o que não falta. Os desafios clamam por respostas. A messe é grande, mas poucos são os trabalhadores. A Palavra de Jesus tem que ecoar no coração de todos nós: “Ide vós para a minha Vinha!”

Faltam vocações: há lugares a serem ocupados nos bancos de nossas Igrejas e salas de reuniões; há realidades externas que nos desafiam (escolas, universidades, presídios, condomínios, favelas, hospitais, bolsões de miséria e tantos outros lugares...).

As palavras do Papa Bento XVI, no dia de sua eleição (19/4/2005) são oportunas:

“Amados Irmãos e Irmãs, depois do grande Papa João Paulo II, os Senhores Cardeais elegeram-me, simples e humilde trabalhador na Vinha do Senhor. Consola-me saber que o Senhor sabe trabalhar e agir também com instrumentos insuficientes”.

Deus nos paga não pelos nossos méritos, 
nem nos chama não por nossa capacidade,
Mas até mesmo por não termos, para nos capacitar.

Como é bom ser Igreja,
servir como Igreja,
amar na gratuidade!

Em poucas palavras...

                                                   


Insuficientes instrumentos nas mãos de Deus 

“Amados Irmãos e Irmãs, depois do grande Papa João Paulo II, os Senhores Cardeais elegeram-me, simples e humilde trabalhador na Vinha do Senhor. Consola-me saber que o Senhor sabe trabalhar e agir também com instrumentos insuficientes”. (1)

 

(1) Papa Bento XVI, no dia de sua eleição (19/4/2005)

 

“Seja feita a Vossa vontade...”

                                                         

“Seja feita a Vossa vontade...”

Aprofundemos com o Tratado de São Cipriano, bispo e mártir, as palavras de que dizemos na Oração que o Senhor nos ensinou, o "Pai-Nosso", quando dizemos "...Venha a nós o vosso Reino e seja feita a vossa vontade".

"A Oração continuaVenha a nós o Vosso ReinoPedimos que o Reino de Deus se torne presente a nós, da mesma forma que solicitamos seja em nós santificado o Seu nome.

Porque, quando é que Deus não reina? Ou quando para Ele começou o Reino que sempre existiu e nunca deixará de ser?

Pedimos a vinda de nosso Reino, prometido por Deus e adquirido pelo Sangue e Paixão de Cristo, a fim de que nós que fomos, outrora, escravos do mundo, reinemos depois, conforme Ele nos anunciou, pelo Cristo glorioso, ao dizer: Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a origem do mundo.

Pode-se igualmente, irmãos diletíssimos, entender que o próprio Cristo é o Reino de Deus, cuja vinda pedimos todos os dias. Estamos ansiosos por ver esta vinda o mais depressa possível.

Sendo Ele a Ressurreição, pois n’Ele ressurgimos, assim também se pode pensar que Ele é o Reino de Deus, pois n’Ele reinaremos.

Pedimos, é claro, o Reino de Deus, o Reino Celeste, já que há um reino terrestre. Mas quem já renunciou ao mundo está acima desse reino terrestre e de suas honrarias.

Acrescentamos aindaSeja feita a Vossa vontade assim na terra como no céuNão para que Deus faça o que quer, mas para que possamos fazer o que Deus quer.

Pois quem impedirá a Deus de fazer tudo quanto quiser? Mas porque o diabo se opõe a que nossa vontade e ações em tudo obedeçam a Deus, oramos e pedimos que se faça em nós a vontade de Deus.

Que se faça em nós é obra da vontade de Deus, isto é, resultado de Seu auxílio e proteção, porque ninguém é forte por suas próprias forças.

Com efeito, é a Indulgência e a Misericórdia de Deus que o protegem.

Finalmente, manifestando a fraqueza de homem, diz o Senhor: Pai, se possível, afaste-se de mim este cálice e, dando aos discípulos o exemplo de renunciar à própria vontade e de aceitar a de Deus, acrescentou: Contudo não o que Eu quero, mas o que Tu queres.

A vida humilde, a fidelidade inabalável, a modéstia nas palavras, a justiça nas ações, a misericórdia nas obras, a disciplina nos costumes; o não fazer injúrias; o  tolerar as recebidas; o manter a paz com os irmãos; o amar a Deus de todo o coração; o amá-Lo por ser Pai; o temê-Lo por ser Deus; o nada absolutamente antepor a Cristo, pois também Ele não antepôs coisa alguma a nós; o aderir inseparavelmente à Sua caridade; o estar ao pé de Sua Cruz com coragem e confiança, quando se tratar de luta por Seu nome e Sua honra, o mostrar firmeza ao confessá-Lo por palavras, e, no interrogatório, manter a confiança n’Aquele por quem combatemos, e, na morte, conservar a paciência que nos coroará, tudo isto é querer ser coeerdeiro de Cristo, é cumprir o preceito de Deus, é realizar a vontade do Pai”.

Quantas vezes rezamos assim no "Pai-Nosso": Venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade...”?

Tenhamos a coragem de nos perguntar: quando dizemos “seja feita a Vossa vontade...” temos consciência do que dizemos?

Procuramos, verdadeiramente, em tudo e em todo lugar realizar a vontade de Deus?

A Oração do "Pai-Nosso", por tudo que significa para nós, jamais poderá ser rezada de forma evasiva, sem ressonâncias no cotidiano, pois ao rezá-la, deve nos levar à santificação de todos nós, tão  querida por Deus.

Rezemos com a vida, não somente com a voz!



PS: Do Tratado sobre a Oração do Senhor”, de São Cipriano, Bispo e Mártir (Séc. III), conforme Liturgia das Horas – Vol. III – pág. 328-330.

O Senhor Se compadeceu de nós (XXIIDTCB)


O Senhor Se compadeceu de nós

“Felizes de nós, se o que ouvimos e cantamos também executamos.
A audição é nossa semeadura, e nossos atos, frutos da semente”

Santo Agostinho, Bispo e Doutor da Igreja (séc. V), em um de seus Sermões, nos fala do Senhor que se compadeceu de nós, e espera que não apenas ouçamos e cantemos, mas que também coloquemos em prática.

Ouvir, cantar e viver:
 “Felizes de nós, se o que ouvimos e cantamos também executamos. A audição é nossa semeadura, e nossos atos, frutos da semente.”

Não entremos sem frutos na Igreja:
“Disse isto de antemão para exortar vossa caridade a não entrardes sem fruto na Igreja, ouvindo tantas coisas boas sem realizá-las. Porque por Sua graça fomos salvos, assim diz o Apóstolo, não por nossas obras, não aconteça alguém se ensoberbecer (Ef 2,8-9), pois por Sua graça fomos salvos (Ef 2,5). Pois não precedeu nenhuma vida virtuosa que Deus pudesse amar e dizer: ‘Ajudemos, socorramos estes homens porque vivem bem’.”

Deus se compadeceu e nos salvou:
“Desagradava-lhe nossa vida, desagradava-lhe em nós tudo o que fazíamos, mas não lhe desagradava o que Ele mesmo fez em nós. Por isto, o que nós fizemos, Ele o condenará; o que Ele próprio fez, Ele o salvará. Não éramos bons. Mas Ele se compadeceu de nós e enviou Seu Filho para morrer não pelos bons, mas pelos maus, não pelos justos, mas pelos ímpios. Na verdade Cristo morreu pelos ímpios (Rm 5,6). E como continua? Mal se encontra alguém que morra por um justo, pois talvez alguém se atreva a morrer por um bom (Rm 5,7). Quiçá haja alguém que ouse morrer por um bom. Mas pelo injusto, pelo ímpio, pelo iníquo, quem quererá morrer? Só Cristo, para que, justo, justifique até mesmo os injustos”.

Deus jamais nos abandona e jamais desiste de nós:
“Não tínhamos, meus irmãos, nenhuma obra boa, mas todas eram más. E sendo tais os atos dos homens, Sua misericórdia não abandonou os homens.”

Envia Seu Filho para nos remir pelo preço do sangue derramado:
“Deus enviou Seu Filho, para remir-nos, não por ouro, não por prata, mas ao preço de Seu Sangue derramado, Cordeiro imaculado levado como vítima pelas ovelhas maculadas, se é que só maculadas e não totalmente corrompidas! Recebemos então esta graça.”

Vivamos esta graça e correspondamos ao amor de Deus:
“Vivamos de modo digno dessa graça e não façamos injúria à grandeza do dom que recebemos. Tão grande Médico veio a nós e perdoou todos os nossos pecados."

Não recaiamos na “doença” ingratos ao próprio médico, Jesus:
“Se quisermos recair na doença, não só nos prejudicaremos a nós mesmos, mas seremos ingratos ao próprio Médico.”

Sigamos Jesus, o Caminho, a vida da humildade:
“Sigamos os caminhos que Ele próprio indicou, muito em especial a via da humildade, via que Ele mesmo Se fez por nós. Mostrou-nos pelos preceitos o caminho da humildade e criou-o padecendo por nós. Com o intuito de morrer por nós – e sem poder morrer – o Verbo Se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14), para poder morrer por nós, Aquele que não podia morrer. E com Sua morte matar nossa morte.”

Ele que tinha condição divina, não Se apegou a mesma, e despojando-Se foi morto na Cruz:
“Fez isto o Senhor, isto nos concedeu. O excelso humilhou-Se, humilhado foi morto e, ressurgindo, foi exaltado, a fim de não nos deixar mortos nas profundezas, mas de exaltar em Si na Ressurreição dos mortos aqueles que já agora exaltou pela fé e o testemunho dos justos.”

O Senhor nos deu a humildade como caminho para confessar e invocar Seu nome:
“Deu-nos então a humildade como caminho. Se nos agarrarmos a ela, confessaremos o Senhor e com toda razão cantaremos: Nós Te confessaremos, Senhor, confessaremos e invocaremos Teu nome (Sl 74,2).”

Oremos:

Ó Deus, concedei-nos a graça de compreender e corresponder ao Vosso amor, manifestado a nós, por meio do Seu Filho. Assistidos pelo Vosso Espírito, jamais nos apresentemos com as mãos e coração vazios de frutos por vós esperados.

Ó Deus, ajudai-nos a seguir os passos do Vosso Filho, trilhando a via da humildade, fazendo progressos no caminho de santidade, adorando-Vos em espírito e verdade e Vos amando concretamente na pessoa de nosso próximo.

Ó Deus, que não sejamos apenas ouvintes de Vossa Palavra, mas dela praticantes, não nos enganando a nós mesmos, mas empenhados em colocá-la em prática, na defesa da vida e da dignidade humana. Amém.

Nossa prática religiosa é agradável a Deus? (XXIIDTCB)

                                                            

Nossa prática religiosa é agradável a Deus?

Com a Liturgia do 22º Domingo do Tempo Comum (ano B), aprofundamos como deve ser uma verdadeira religião que agrade a Deus, que pressupõe o contínuo esforço de conversão para que tenhamos pureza de coração, pois como o próprio Senhor disse “somente os puros de coração verão a Deus” (Mt 5,8).

Na passagem da primeira Leitura (Dt 4,1-2.6-8), Moisés acentua o compromisso do Povo com a Palavra de Deus e Sua Aliança, numa sincera acolhida e vivência de Sua Lei.

A Lei Divina deve ser vivida como expressão de gratidão a Deus; ainda mais porque ela é garantia de felicidade e liberdade, para concretizar os sonhos e esperanças do Povo Eleito e amado por Deus. Não se pode adulterar a Palavra de Deus ao sabor dos interesses pessoais.

Não se pode adaptar, amenizar, suprimir e nada acrescentar à Palavra de Deus.

Alguns perigos que nos acompanham:

- o esvaziamento da radicalidade da Palavra;
- cortar (omitir) seus aspectos mais questionadores;
- fazermos ou dizermos coisas que não procedem de Deus;
- de cair num ativismo em que sacrificamos o tempo do silêncio orante diante de Deus, na acolhida de Sua Palavra;
- esvaziamento de seu conteúdo por causa do cansaço, da perda do sentido e consequente falta de espiritualidade e intimidade com a Palavra de Deus.

Na passagem da segunda Leitura, Carta de São Tiago, (Tg 1,17-18.21-22.27), refletimos sobre a inseparável relação  entre fé e obras. 

A fidelidade aos ensinamentos de Cristo nos compromete com o próximo (representado na figura do órfão e da viúva). E nisto consiste a verdadeira religião, pura e sem mancha: solidariedade vivida e vigilância, para não se contaminar com os contravalores que o mundo apresenta.

É necessária a superação da frieza, do legalismo e do ritualismo religioso, procurando viver uma Religião comprometida com o Reino por Jesus inaugurado.

O autor da Carta nos exorta a não sermos meros ouvintes da Palavra, mas praticantes, não nos enganando a nós mesmos.

A Palavra de Deus quer encontrar no coração humano a frutuosa acolhida, portanto, há um itinerário da Palavra: acolher, acreditar, anunciar e testemunhar a Palavra de Deus, que nos garante vida e felicidade plena.

A passagem do Evangelho (Mc 7,1-8.14–15.21-23) nos convida à pureza de coração. 

O discípulo de Jesus não pode tão apenas “parecer” é preciso “ser” sinal vivo da presença de Deus. 

Não basta parecer justo, tem que ser justo; não basta parecer piedoso, tem que ser piedoso; não basta parecer verdadeiro, tem que ser verdadeiro...

Mais que uma “carapaça exterior” é preciso de uma “coluna vertebral interior”. 

A verdadeira religião não vive de aparências, e exige de cada crente uma sólida e forte estrutura para suportar o peso da cruz, a coragem do testemunho, a coerência de vida, o esforço contínuo de conversão, a solidariedade constante, caminho que não tem volta e tem apenas um destino: o céu.

Os mestres da Lei e os fariseus tinham aproximadamente 613 preceitos a cumprir (365 proibições e 248 prescrições). O povo simples, por não os conhecer, nem os praticar, era considerado impuro, e este será um tema de grande polêmica entre Jesus e os fariseus em vários momentos.

Para Jesus importa a pureza interior, a pureza do coração que é a sede de todos os sentimentos, desejos, pensamentos, projetos e decisões.

Jesus afirma: o que torna o homem impuro é o que sai de seu coração (apresenta uma longa lista) e não o que entra pela sua boca.

É do coração humano puro que nasce uma autêntica religião, a religião do coração, da intimidade profunda com Deus.

As Leis da Igreja não têm fins em si mesmas, mas garantem a nossa comunhão com Deus e com o próximo, na concretização do Reino.

É preciso dar mais tempo à Palavra de Deus, em frutuosa Oração e reflexão, que fará brotar novas atitudes e compromissos com Deus e o Seu Projeto para a Humanidade.

É tempo de cultivar maior intimidade e compromisso com a Palavra de Deus para que produzamos os frutos por Deus esperados.

PS: Fonte de pesquisa - www.Dehonianos.org/portal

Fidelidade e prática dos Mandamentos divinos (XXIIDTCB)

 


Fidelidade e prática dos Mandamentos divinos

Sejamos enriquecidos pelo Tratado contra as heresias escrito por Santo Irineu de Lião (séc. II).

“A tradição dos seus maiores que eles fingiam observar como derivada da Lei era contrária à Lei dada por Moisés. Por isso disse Isaías: Teus taverneiros colocam água no vinho, indicando que ao austero preceito de Deus os maiores tinham misturado uma tradição aguada, isto é, uma lei adulterada e contrária à Lei, como o manifestou o Senhor, dizendo-lhes: Por que vós anulais o mandamento de Deus por causa da vossa tradição?

E não só anularam a Lei de Deus por suas transgressões, colocando água no vinho, mas erguendo contra ela sua própria lei, lei que ainda hoje se chama ‘farisaica’. Nesta lei tiram algumas coisas, acrescentam outras e interpretam não poucas ao seu bem-querer. De tudo isto se servem particularmente os seus próprios mestres.

Querendo reivindicar tais tradições, não quiseram submeter-se à Lei de Deus que os orientava para a vinda de Cristo; antes, recriminavam ao Senhor porque curava em sábado, coisa que certamente - como já vimos - a Lei não proibia, já que, de certo modo, ela também curava, prescrevendo a circuncisão naquele dia; porém, cuidavam-se muito bem de acusarem a si mesmos por transgredir o preceito em nome de sua tradição e da mencionada ‘lei farisaica’, não levando em conta o principal mandamento da Lei, que é o amor a Deus.

Sendo este o primeiro e principal preceito e o segundo o amor ao próximo, o Senhor ensinou que toda a Lei e os profetas dependem destes dois mandamentos. E Ele mesmo não nos deu nenhum mandamento maior do que este, mas o renovou, ordenando aos seus discípulos amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmos.

E Paulo diz que o amor é o cumprimento perfeito da Lei, e quando desaparecem os demais carismas, permanecerão a fé, a esperança e o amor, porém o maior dos três é o amor; e que o conhecimento sem o amor de Deus não tem valor nenhum, nem  conhecer todos os segredos, nem a fé, nem a profecia, visto que tudo é tolice e vaidade sem o amor; que o amor torna o homem perfeito, e quem ama a Deus é um homem perfeito neste mundo e no futuro: porque jamais deixaremos de amar a Deus, mas quanto mais o contemplemos, mais o amaremos.

Sendo, portanto, na Lei e no Evangelho o primeiro e maior mandamento é o mesmo, isto é, amar o Senhor Deus de todo o coração, e o segundo, semelhante a ele, amar o próximo como a si mesmo, é evidente que um só e o mesmo é o Autor tanto da Lei como do Evangelho. Assim, sendo os mesmos, em ambos os Testamentos, os mandamentos fundamentais da vida, apontam para um mesmo Senhor, o qual deu, é verdade, preceitos particulares adaptados a cada Testamento, porém propôs em ambos alguns mandamentos comuns, os mais importantes e sublimes, sem os quais não é possível salvar-se.” (1)

Tanto na Lei como no Evangelho, o primeiro e principal mandamento é amar a Deus, que não se separa do segundo mandamento que se expressa no amor ao próximo como Jesus Cristo nos falou na passagem do Evangelho de Mateus (Mt 22,34-40).

Trata-se, portanto. de um duplo preceito inseparável que devemos viver na relação com Deus e com nosso próximo, que nos credencia, se vividos, caminhar para a eternidade. Amém.

  

(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pág. 458-459

A sagrada missão de Proclamar a Palavra

A sagrada missão de Proclamar a Palavra

No mês de setembro, a Igreja dedica de modo especial à Sagrada Escritura, e renovemos a partir do Livro do Deuteronômio, a alegria, o zelo e o ardor na proclamação da Palavra Sagrada, acompanhado do testemunho de nossa fé; por mais difíceis que sejam os momentos por que passamos, considerando o cenário nacional, marcado pela crise ética, moral, política, econômica e social, à luz da Sagrada Escrituras, somos desafiados a decifrar o mundo, e a dar razão de nossa esperança contra toda falta de esperança, sobretudo porque cremos no Cristo Ressuscitado, e por Ele fomos enviados.

Neste sentido, as palavras do Bispo Santo Agostinho muito podem nos ajudar: A Sagrada Escritura é para nos ajudar a decifrar o mundo; para nos devolver o olhar da fé e da contemplação, e transformar a realidade numa grande revelação de Deus”.

A Sagrada Escritura é uma luz que nos ajuda a percorrer os caminhos sombrios e obscuros, em meio aos sinais de pecado e morte em que nos encontramos; acompanhada do olhar da fé, em salutar espiritualidade; contemplando a ação e a intervenção de Deus, que conosco caminha.

A Palavra proclamada exige, de quem a proclama e de quem a acolhe, renovados compromissos na transformação da realidade, participando da construção de um mundo mais justo, fraterno e solidário, assistidos pela presença do Espírito Santo que nos foi enviado.

A Palavra irradia luz, fermenta um novo céu e uma nova terra, e devolve o gosto e o sentido da vida, com sua sacralidade e dignidade, desde a concepção ao declínio natural; e não permite que vacilemos na fé, esmoreçamos na esperança e esfriemos na caridade.

Também nos alimenta e nos fortalece, para que sejamos pacientes na tribulação, resistentes na tentação de desanimar e em nada mais acreditar, e assim, tomarmos e carregarmos com fidelidade nossa cruz com uma fé verdadeiramente Pascal.

No exercício do Ministério Episcopal, tenho experimentado a graça de, como Apóstolo do Senhor, proclamar Sua Palavra, que devolve de fato o olhar da esperança de nossas comunidades, que também sentem, no dia a dia, dificuldades e provações, mas acolhendo a Palavra com fé, vejo nelas inflamada a chama da fé, da esperança e da caridade.

Multipliquemos espaços de leitura, meditação, oração e contemplação da Palavra divina, para que ela seja sempre o pão, que sacia a nossa fome de justiça e nos alimenta, para que nunca nos refugiemos ou recuemos em sagrados compromissos com a Boa-Nova do Reino de Deus.

PS: ano de 2020

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