domingo, 23 de junho de 2024

Coragem na travessia (XIIDTCB) (01/02)

Coragem na travessia

“Quem é este homem,
que até o vento e o mar lhe obedecem” 
(Mc 4,41)

No 12º Domingo do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 4,35-41), que nos apresenta a ação de Jesus que, com Sua Palavra, acalma o vento e o mar – “Silêncio! Cala-te!” (Mc 4,39).

Para aprofundamento e enriquecimento, ofereço dois comentários para reflexão:

- “O Mistério da Encarnação renova-se na História da Igreja: nesta permanece a força invisível (instituída na fé e na esperança) de um povo de pobres, chamado a atravessar as vagas e as tempestades da História numa barca exposta às forças da intempérie.

A fraqueza, a precariedade dos instrumentos e dos meios escolhidos para testemunhar o Reino torna-se o lugar privilegiado, no qual se manifesta o poder de um Outro” (1);

- “O ser da Igreja é, em seu aspecto humano, um ser ameaçado. E não pode ser de outra maneira, porque Deus ainda não é tudo em todos. Em relação à cabeça a Igreja é de natureza claramente divina; como Corpo desta Cabeça, é incontestavelmente de natureza humana.

A Igreja, na medida em que faz depender seu ser de Deus, do evento de Sua Palavra e de Seu Espírito é subtraída às ameaças, justificada, santificada, purificada, preservada do Maligno.

Em seu Senhor Jesus Cristo encontra sua garantia única; somente d’Ele recebe a promessa, somente olhando para Ele adquire a  segurança de sua existência. A fidelidade de Deus lhe promete e lhe garante essa existência. Por parte dos homens que a constituem não existe, de fato, nenhuma garantia no gênero para a Igreja.

Permanece sempre, ao lado da fé, a possibilidade da incredulidade, da heresia, da superstição, como também da ignorância, indiferença, ódio, desespero, até à impotência de sua oração; e isso enquanto durar o tempo, enquanto a manifestação final da vitória de Jesus não tiver dissipado também esta sombra”.

Os ventos fortes e mares agitados continuam a nos atemorizar na ação evangelizadora. Incontáveis desafios, inumeráveis clamores sobem aos céus e pedem nossa resposta solidária, como expressão da compaixão e ternura que devem nos impulsionar constantemente.

Conscientes de nossas fraquezas, limites, imperfeições, empenhemo-nos sempre a fazer o melhor, a serviço da vida e da esperança de novos tempos, novas realidades.

E avancemos nesta travessia, com a certeza de que o Senhor Se encontra em nossa barca, em Sua Igreja, e com Sua Palavra e presença, com a ação do Espírito, experimentemos a bondade e onipotência de Deus, que jamais nos desampara e nos abandona.

A Palavra do Senhor nos acompanha e nos dá segurança nesta necessária travessia: “Silêncio! Cala-te!”.



(1)         Lecionário Comentado – Tempo Comum – Vol. I – Editora Paulus – p.153
(2)        Missal Cotidiano – Editora Paulus – p.704

Testemunhar a fé em todo o tempo (XIIDTCB)

 


Testemunhar a fé em todo o tempo

 

Sejamos enriquecidos pelo Sermão Escrito por Orígenes (séc. III):

 

Senhor, salva-nos, que estamos perecendo. Era tanto o temor que tinham, estavam tão perturbados e tão fora de si, que chegaram ao Senhor com grande alteração, sem descanso nem sossego, mas muito apressados, e lhe disseram assim: Senhor, salva-nos, que estamos perecendo.

 

Ó bem-aventurados e verdadeiros discípulos de Deus! Tendes convosco ao verdadeiro Senhor e Salvador do mundo, e temeis algum perigo? Tendes convosco a vida, e temeis a morte? Tendes presente ao Criador do mar, e lhe despertais com medo da tempestade? Como? Pois não basta seu poder, mesmo que com o corpo durma, para amansar as ondas e aplacar a tempestade?

 

Mas a isto responderão estes santos e tão amados discípulos: ‘Agora nós somos pequenos, somos fracos, não estamos fortificados na fé, e por isso tememos, ainda não vimos a cruz do Senhor; ainda não fomos confirmados na gloriosa Paixão e triunfante Ressurreição; na sua maravilhosa Ascensão aos céus; não nos visitou com a vinda do Espírito Santo sobre nós, e desta forma não vos maravilheis de que sejamos fracos e temamos, e por isso mesmo ouvimos muitas vezes que, repreendendo-nos, o Senhor nos chama homens de pouca fé, e tudo o sofremos com amor e humildade para segui-Lo’.

 

Por que estais tão medrosos, homens de pouca fé? Por que não tendes fortaleza? Por que não tendes perfeita confiança e segurança? Como?

 

E se a morte vos viesse, não seria motivo que com muita constância a sofrêsseis? Não sabeis que a fortaleza é virtude necessária para sofrer tudo o que nos sobrevém?

 

Qualquer perigo e tribulação, até a própria morte se sofre com a fortaleza: a fortaleza também é útil contra os prazeres, riquezas e honras do mundo, porque com ela nos defendemos para não nos ensoberbecermos, para não desvanecermos.

 

Porque a fortaleza nos ensina a não menosprezar aos nossos inimigos, nem ter em pouca consideração aos pobres humildes; ensina-nos como não devemos esquecer-nos de Deus, nem desamparar ao nosso Criador, nem ser-lhe ingratos; e de uma coisa vos aviso: que se é necessária a virtude da fortaleza para combater as adversidades e as dificuldades, para armar-se da fé e sofrer tudo por Deus, não é menos necessária para saber usar das honras, riquezas e prosperidades que o mundo nos dá, para que não nos sirvam de ciladas em que o diabo nos amarre.

 

Portanto, por que estais perturbados, ó homens de pouca fé? Se crestes que Eu sou verdadeiramente Deus, Criador de todas as coisas, e por isso me seguistes e me tomastes por Mestre, como duvidais que o que Eu criei esteja em meu poder e ao meu comando? Por que duvidastes, ó homens de pouca fé? Não sabeis que está escrito que aquele que pouco crê será repreendido; e o que nada crê, será menosprezado? Os fracos na fé serão repreendidos, os que forem completamente alheios à fé serão castigados.

 

Então, levantando-se, ordenou aos ventos e ao mar, e houve grande calmaria. O grande profeta disse: E levantando-se o Senhor como quem dormia, ou como um poderoso embriagado por vinho, feriu a todos os seus inimigos nas costas; agora, levantando-se, ordenou aos ventos e ao mar, e houve grande calmaria. Ordenou aos ventos e ao mar como seu Criador que era: ordenou aos seus como poderoso, ordenou aos ventos como seu Senhor, e ordenou-lhes antes por seus discípulos, para que eles, vendo-o, fossem confirmados na fé.” (1)

 

Também nós, podemos passar por momentos difíceis, em que devemos testemunhar nossa fé em Deus, e n’Ele colocar toda a nossa confiança.

 

Urge que não vacilemos na fé, nem esmoreçamos na esperança e não esfriemos na caridade, a fim de que sejamos resistentes na tentação, pacientes na tribulação e agradecidos a Deus nos mais preciosos sinais de prosperidade.

 

 

 

(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - pp. 412-414

Por Vossa Morte e Ressurreição (XIIDTC)


Por Vossa Morte e Ressurreição

No 12º Domingo do Tempo Comum (ano C), ao ouvirmos a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 9,18-24), sejamos iluminados por esta reflexão escrito por São Basílio Magno, Doutor da Igreja (séc. IV).

“Na realidade, a total destruição da morte, a supressão da corrupção, o espólio do inferno, a subversão da tirania do diabo, o cancelamento do pecado do mundo, a abertura aos habitantes da terra das portas do céu e a união do céu e da terra: todas estas coisas são, repito, a prova digna de fé e de que o Emanuel é o Deus verdadeiro.

Por isso lhes ordena cobrir temporalmente o Mistério com o respeitoso véu do silêncio até que todo o processo da economia divina tenha chegado a sua natural culminação. Então, a saber: uma vez ressuscitado dentre os mortos, deu ordem de revelar o Mistério ao mundo inteiro, propondo a justificação pela fé e a purificação mediante o Batismo.

Ele disse verdadeiramente: Foi-me concedido todo poder no céu e na terra. Ide e fazei discípulos de todos os povos, batizando-os no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eu estarei convosco todos os dias até o fim do mundo”. (1)

Oremos:
Senhor, por Vossa Morte e Ressurreição,
contemplamos e cremos na total destruição da morte.

Senhor, por Vossa Morte e Ressurreição,
contemplamos e cremos na supressão da corrupção da carne.

Senhor, por Vossa Morte e Ressurreição,
contemplamos e cremos no despojamento e aniquilamento do inferno.

Senhor, por Vossa Morte e Ressurreição,
contemplamos e cremos na derrubada da tirania do diabo.

Senhor, por Vossa Morte e Ressurreição,
contemplamos e cremos no cancelamento de nossa dívida pelo pecado.

Senhor, por Vossa Morte e Ressurreição,
contemplamos e cremos na abertura das portas dos céus: nossa eternidade.

Senhor, por Vossa Morte e Ressurreição,
contemplamos e cremos que agora é o tempo de nossa missão de evangelizar.

Senhor, por Vossa Morte e Ressurreição,
Caminhas conosco, na comunhão com Vosso Pai e Vosso Espírito.
           
Senhor, por Vossa Morte e Ressurreição,
Sejam fortalecidos os pilares da evangelização: Pão, Palavra, Caridade e Missão. Amém.



(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – p.665.

“Fogo abrasador” (XIIDTCA)

“Fogo abrasador”

Na Liturgia do 12º Domingo do Tempo Comum (ano A), meditamos o Salmo 68.

Retomemos este versículo (v.10): “Pois meu zelo e meu amor por Vossa casa me devoram como fogo abrasador”, e sejamos enriquecidos à luz de uma das Cartas escrita pelo Presbítero São Paulo da Cruz (séc. XVIII), para que também este fogo nos aqueça o coração, e nos faça zelosos pela casa do Senhor e pelos Seus templos, nosso próximo, onde Deus habita, para que nossa fé seja verdadeiramente Pascal.

"Coisa excelente e muito santa é pensar e meditar sobre a Paixão do Senhor, pois por este caminho chegamos à união com Deus.

Nesta escola tão santa, aprende-se a verdadeira sabedoria. Foi aí, que todos os Santos a estudaram. Quando, pois, a Cruz de Nosso Bom Jesus lançar raízes mais profundas em vosso coração, então cantareis: seja 'Sofrer e não morrer'; seja 'Ou sofrer ou morrer', seja, ainda melhor, 'Nem sofrer nem morrer', apenas a perfeita conversão à vontade de Deus.

O amor é força de união e faz seus os tormentos do Bem, muito amado. Este fogo vai até à medula, converte o que ama no amado. De modo mais profundo, o amor se mistura à dor e a dor ao amor. Há, então, uma mistura de amor e de dor tão estreita que não se pode separar o amor da dor, nem a dor, do amor. Por isto, quem ama, se alegra com sua dor e exulta em seu amor sofredor.

Sede, portanto, constantes na prática de todas as virtudes, imitando, de modo particular, o suave Jesus padecente, porque é isto o cume do puro amor.

Procedei de modo que todos reconheçam que trazeis não só interior, mas ainda exteriormente, a imagem de Cristo crucificado, modelo de toda doçura e mansidão.

Quem está interiormente unido ao Filho de Deus vivo, revela no exterior Sua Imagem pelo contínuo exercício da virtude heroica, principalmente pela paciência cheia de força que nem em segredo nem em público se queixa. Portanto, escondei-vos em Jesus crucificado, sem desejar coisa alguma a não ser que todos em tudo aceitem Sua vontade.

Verdadeiros amigos do Crucificado celebrareis sempre no templo interior a festa da Cruz, suportando em silêncio, sem vos apoiar em criatura alguma. Uma festa deve ser celebrada na alegria; por isso os que amam o Crucificado irão à festa da Cruz com rosto jovial e sereno, suportando calados, de forma que permaneça oculta aos homens, só conhecida pelo sumo Bem.

Numa festa há sempre banquete; as iguarias são a vontade divina, a exemplo de nosso Amor crucificado”

Para a solidificação de nossa fé, retomo, também, esta parte da Carta:

“O amor é força de união e faz seus os tormentos do Bem, muito amado. Este fogo vai até à medula, converte o que ama no amado. De modo mais profundo, o amor se mistura à dor e a dor ao amor. Há, então, uma mistura de amor e de dor tão estreita que não se pode separar o amor da dor, nem a dor, do amor. Por isto, quem ama, se alegra com sua dor e exulta em seu amor sofredor”.

Configuremo-nos à Paixão do Senhor, abrindo-nos à verdadeira sabedoria que nos vem da “loucura da Cruz”, para vivermos com ousadia e profecia o amor e a dor que são inseparáveis.

Imitemos o suave Jesus padecente, o cume do mais puro amor, e d’Ele tenhamos mesma doçura, mansidão e paciência.

Celebrar com alegria, com um rosto jovial e sereno, suportando calado o sofrimento, mas com a confiança de que ele não terá a última palavra, e assim fortalecidos na fidelidade ao Senhor, vivendo intensamente o Mistério de Sua Paixão, sejamos devorados pelo fogo abrasador do amor de Deus que jamais nos abandona.

“Não tenhais medo” (XIIDTCA)

“Não tenhais medo”

“Não tenhais medo daqueles que matam o corpo,
mas não podem matar a alma!”

A Liturgia do 12º Domingo do Tempo Comum (ano A) nos convida a refletir sobre a solicitude e o Amor de Deus para com aqueles que Ele chama e envia em missão, uma vez que a perseguição está sempre presente no horizonte dos discípulos de Jesus.

A passagem da primeira Leitura (Jr 20, 10-13) nos mostra que Jeremias, como tantos outros Profetas, sofreu o abandono dos amigos, o sofrimento, a solidão e a perseguição, por isto é um paradigma do Profeta sofredor, que merece ser lembrado para nos inspirar e fortalecer na caminhada de fé e no testemunho da vocação profética.

O Profeta Jeremias faz forte apelo à conversão e a fidelidade a Javé e à Aliança, num período, da história do Povo de Deus, marcado por desgraças, infidelidade e injustiça social.

Por sua veemência e fidelidade, Jeremias é chamado de o “amargo Profeta da desgraça” e é acusado de traidor. Sua missão tem um alto preço pago: o abandono e a solidão. Ele é tratado como objeto de desprezo e de irrisão e tido como um maldito, porque não é aceita e compreendida sua mensagem em nome de Javé.

Encontramos no Livro desabafos seus, expressando desilusão, amargura, queixas, confissões e frustração, mas mantém-se fiel, porque estava verdadeiramente apaixonado pela Palavra de Deus.

Apesar do abandono experimentado, até dos amigos mais íntimos, eleva hino de louvor, que expressa confiança em Deus, para além de todo sofrimento e perseguição.

Bem sabemos que o caminho do Profeta é marcado pelo risco da incompreensão e da solidão, e precisamos de coragem para trilhar este caminho, com a certeza e confiança de que Deus jamais nos abandona.

Na passagem da segunda Leitura (Rm 5,12-15), o Apóstolo fala da vida, que se coloca sempre diante de uma decisão: ou viver no egoísmo e autossuficiência que gera a morte; ou pôr-se decidida e corajosamente numa caminhada de fidelidade ao Projeto de Deus que gera vida nova. É preciso centralizar nossa fé em Cristo, e em Sua Palavra, enraizando a nossa vida.

Como discípulos missionários, cremos que a Salvação vem pela fé em Jesus Cristo e se destina a todos, indistintamente. Somente a fidelidade a Jesus é garantia de vida nova e vida plena, fazendo da nossa vida um dom, uma doação feita por amor à causa do Reino de Deus.

Na passagem do Evangelho (Mt 10,26-33), o tema da inevitabilidade da perseguição na vida dos discípulos é explícito, assim como vimos na primeira Leitura.

O Evangelista exorta à superação do desânimo e frustração decorrentes das perseguições.

Apresenta como que um “manual do missionário cristão”, que consiste no “discurso da missão” – “Para mostrar que a atividade missionária é um imperativo da vida cristã. Mateus apresenta a missão dos discípulos como a continuação da obra libertadora de Jesus.

Define também os conteúdos do anúncio e as atitudes fundamentais que os missionários devem assumir, enquanto testemunhas do Reino” (1)

Três vezes aparece a expressão “Não temais”, assegurando a presença, ajuda e proteção divina para superação do medo que impeça a proclamação da Boa Nova; o medo da morte física; e neste medo se pode experimentar a solicitude de Deus, um cuidado que desconhece limites.

A mensagem é que a vida em plenitude é para quem enfrentar o medo, na fidelidade, até o fim. O medo não pode nos deixar acomodados.

A ternura, a bondade e a solicitude divina são imprescindíveis, pois fortalecem na missão. É preciso se entregar confiadamente nas mãos de Deus:

“Jesus encoraja os Seus discípulos a alargar o horizonte da vida e a avaliar os riscos vividos por Sua causa, no contexto mais amplo da vida com Deus, da vida eterna.

O cristão é chamado a viver na confiança de que o Pai não o abandona nas mãos dos perseguidores (v.28), que a sua vida, a sua salvação custou o Sangue do Filho e tem por isso, aos Seus olhos, um valor imenso (vv. 29-31).

A fidelidade e a confiança no Senhor serão recompensadas por aquele ‘reconhecimento’ que já se manifestou na Ressurreição de Cristo” (2).

No testemunho da fé, é possível a perseguição, portanto é necessária a confiança. 

Anunciar e testemunhar a Boa Nova é não deixar que o medo nos paralise, pois o medo nos impede de ser autênticos discípulos missionários:

“O cristão não é chamado a procurar o martírio como prova da sua fé, mas a viver constantemente a vida com os olhos fixos no Alto, isto é, a alargar aquele horizonte que hoje, mais do que nunca, tende a fechar-se no círculo dos benefícios desfrutáveis, aqui e agora.” (3)

Também nós precisamos ouvir a todo instante – “Não tenhais medo”. É preciso que a Palavra de Jesus ressoe em nossos ouvidos e fique entranhada no mais profundo de nosso coração:

“Impressiona a história de tantos mártires cristãos, antigos e atuais, que escolheram o caminho da coerência e da fidelidade ao Senhor a custo da própria vida.

É com eles que nos encontramos na Comunhão dos Santos, vivida, sobretudo, na Celebração Eucarística; uma companhia que a comunidade dos crentes gosta de ter ao seu redor, mesmo com as pinturas, os afrescos, os mosaicos que adornam as nossas Igrejas (hoje reduzidas muitas vezes a belas obras que se admiram em igrejas-museu) expressões artísticas surgidas para tornar humanamente visível o que vivemos na fé.” (4)

Antes de concluirmos com a expressiva Oração do Dia, da Missa, que muito bem expressa a realidade humana, marcada pela fragilidade, portanto, necessitada da força e intervenção divina, é preciso que como cristãos levantemos o olhar para a vida a que Cristo nos chama, ou seja, “viver a força de contestação profética que viveu Jeremias, que Jesus levou perante as autoridades judaicas e romanos e conduziu os Apóstolos ao martírio.

É na relação íntima e comunitária que vivemos com  Deus, no desejo de sermos reconhecidos por Ele que se reforça a adesão a Cristo e ao seu Evangelho, com a esperança libertadora de vivermos confiando no Pai.” (5)

Oremos:

“Senhor, nosso Deus, dai-nos por toda a vida a graça de Vos amar e temer, pois nunca cessais de conduzir os que firmais no Vosso amor. Por N. S. J. C. Amém.”



(2) (3) (4) Lecionário Comentado p. 560.
(5) Idem p. 561.

Assumir a Cruz quotidiana com a força da Oração (XIIDTCC)

Assumir a Cruz quotidiana com a força da Oração

A Liturgia do 12º Domingo do Tempo Comum (Ano C) nos interroga a respeito de Jesus:  

Quem é Ele para nós?
Quais são as consequências de Sua proposta para nossa vida?
Qual é o impacto de Sua Vida em nós? 

Para segui-Lo, é preciso fazer da própria vida um dom generoso, conhecer sua Pessoa, aderir à Sua proposta, segui-Lo com coragem, doar-se totalmente, viver com intensidade o amor, amando como Ele nos amou. Inevitavelmente, o seguimento de Jesus é um caminho que passa pelo amor vivido na radicalidade da Cruz.

A passagem da primeira leitura (Zc 12,10-11; 13,1) nos fala da figura de um Profeta trespassado, que a Igreja mais tarde identificou como o próprio Jesus Cristo, como vemos no Evangelho (Jo 19,34). 

O Profeta manifesta total confiança e abertura à vontade de Deus, e o sacrifício deste mártir inocente é fonte de transformação dos corações, de modo que a sua contemplação levará o Povo de Deus a um processo de arrependimento e purificação. 

A mensagem nos revela que o sofrimento profético não é em vão, e ainda, que Deus está do lado dos inocentes, perseguidos e massacrados. 

Não podemos nos instalar por causa dos medos, cumprindo, com coragem e ousadia, nossos compromissos proféticos, vivendo assim o nosso Batismo, e também, que não se pode ter para com os Profetas atitudes de desprezo, arrogância, frieza e indiferença.

O Apóstolo Paulo na passagem da segunda Leitura (Gl 3,26-29) exorta para que sejamos revestidos de Jesus Cristo, colocando-nos neste caminho de amor e doação da própria vida, tornando-nos herdeiros de vida em plenitude.

A comunidade que adere ao Senhor, e d’Ele se reveste, é marcada pela liberdade e igualdade. Deste modo, é preciso que se destruam quaisquer muros que possam existir ou quaisquer atitudes que fragilizem ou restrinjam a verdadeira liberdade que o Espírito nos concede, não uma liberdade qualquer, que diminua ou escravize o outro; que lhe roube espaço e identidade. 

Na passagem do Evangelho (Lc 9,18-24), Jesus começa a etapa decisiva rumo a Jerusalém. O caminho é árduo, marcado pela entrega da vida pelo Reino de Deus. A morte de Cruz está no horizonte bem próximo de Sua existência.

Os discípulos se quiserem segui-Lo, poderão ter o mesmo fim, e  por isto Jesus quer saber o que pensam a Seu respeito. Ele não é um Messias que vai reinar sem passar pela Cruz, pois ela precede à glória a ser alcançada. A Cruz será o Seu Trono, como Rei e Senhor.

Tomar a cruz para segui-Lo, implica não pautar a vida pelo prestígio, poder, domínio, acúmulo. É preciso renunciar ao egoísmo e orgulho, e em total confiança em Deus, nutrido pela força da Oração, pôr-se decididamente a caminho, assumindo a cruz quotidiana com a força da Oração. 

A interrogação de Jesus chega até nós: “... E vós, quem dizeis que Eu sou?” 

É preciso dar resposta à Sua pergunta:  

Quem é Jesus para a comunidade que participo?
Quem é Jesus para mim? 

Dependendo da resposta, a intensidade do nosso compromisso, engajamento, entrega e doação pela causa do Reino; dependendo dela, a coragem para assumirmos a cruz quotidiana, e sempre a caminho, edificarmos a Igreja e confessarmos o Seu nome.

Sejamos também questionados por estas palavras:

“Se fosse mais viva em nós a consciência de estarmos ‘revestidos de Cristo, de sermos filhos como o Filho ‘ (Gl 3,26-27), compreender-nos-íamos melhor a nós mesmos.  

Compreenderíamos a nossa vida como liberdade: liberdade de colocar sobre os nossos ombros a nossa cruz e a cruz dos nossos irmãos, de perdermos também a nossa vida como resposta de amor Àquele que nos ama e dá a vida por nós” .(1)

E, tão somente assim, solidificamos nossa fé, renovamos nossa esperança e crescemos na caridade, que amplia e dá sentido à liberdade e à igualdade, para seguirmos, com confiança e serenidade, no carregar da cruz, até que possamos merecer a glória eterna. 

Sejamos interpelados pelo Amor d’Aquele que foi trespassado em nosso favor, pela nossa redenção, para que vivamos na liberdade do Espírito, comprometidos com o Reino de Deus.


(1) Leccionário Comentado - Tempo Comum - pág. 773.

sábado, 22 de junho de 2024

Liberta-me, Senhor, de todo o medo!

                                           

Liberta-me, Senhor, de todo o medo!

Senhor, ofereço-Te meus medos, ânsias, angústias, temores, complexos, traumas psicológicos....

Quero arrancá-los do coração, como braceletes e correntes de ouro, e dizer-Te:
Toma, Senhor. Não quero mais que meu coração fique cheio de medo, mas  pleno de Ti, de Tua graça, ternura e amor.

Arranca, Senhor, todo o medo, ou me ajude a enfrentá-lo e assim poder vencê-lo; livra-me de todo o mal, de modo especial do mal que me corrói a alma e me fragiliza na conquista de meus sonhos.

Obrigado, Senhor, porque me libertas da necessidade de ter medo, e me dirige a Tua Santa Palavra:“ Não temais, pequeno rebanho, porque foi do agrado de vosso Pai dar-vos o Reino” (Lc 12,32); e ainda: “Coragem, Eu venci o mundo” (Jo 16,33).

Gratidão a Ti, Senhor, pelo Teu Espírito concedido, que é princípio de liberdade interior, luz que dissipa todos os medos; bálsamo indispensável e indizível que dá paz ao coração.

Por fim, Senhor, com Teu Apóstolo, agradeço porque não nos deste um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de sabedoria (2 Tm 1,7).


PS: Livre adaptação – O Verbo Se faz Carne – Raniero Cantalamessa – Editora Ave Maria - 2013 - p.793.

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