sábado, 22 de junho de 2024

Plena confiança na providência divina

 


Plena confiança na providência divina

 

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 6,24-34), que nos convida a continuidade da reflexão sobre as Bem-Aventuranças (Mt 5, 12), anunciadas pelo Senhor na montanha para serem vividas na planície.

 

É sempre necessário rever quais são nossas prioridades, para que melhor correspondamos ao Amor de Deus, que cuida de nós com amor gratuito e incondicional, de modo que precisamos libertar nosso coração das tiranias materiais que possam nos escravizar em autossuficiência, individualismos e egoísmos que nos empobrecem.

 

Jesus nos exorta a confiar totalmente em Deus, no Pai de Amor, em quem confiou e colocou toda Sua vida em entrega de amor, confiança, doação e serviço.

 

Nisto consiste a mensagem do Senhor: a incompatibilidade entre o amor a Deus e o amor aos bens materiais, e a razão desta deve-se ao fato de que Deus deve ser o centro de nossa vida, e sobre Ele construirmos nossa existência, e o amor ao dinheiro como valor absoluto fecha o nosso coração, num empobrecedor egoísmo estéril que não abre espaço para a comunhão e a solidariedade para com o próximo.

 

Confiar num Deus de amor, providente e atento às nossas necessidades, para que sejamos felizes, tenhamos sal em nós, e façamos resplandecer a luz divina na planície sombria do cotidiano.

 

Somente assim buscaremos o Reino de Deus e a Sua justiça: crer em Deus e viver serenamente tranquilo, pois Deus não falha, e nada nos deixa faltar, mas não nos dispensa de sagrados compromissos na busca e promoção do bem comum, para uma vida digna que corresponda assim aos Seus desígnios.

 

Afirmar que Deus é providente não significa que possamos cruzar os braços, esperando que Deus faça chover do céu aquilo que necessitamos, mas é viver comprometidos e trabalhando todos os dias a fim de que o Seu sonho se realize: um mundo novo marcado por relações de justiça, verdade e paz. Afinal, Jesus falou na Montanha Sagrada: Bem-Aventurados os que têm fome e sede de justiça e Bem-Aventurados os que promovem a paz.

 

O amor de Deus não nos torna passivos, mas nos impulsiona a uma prática de caridade viva e operosa, esforçada e contínua.

 

Assim Jesus nos revela um Deus que nos conhece, sabe de nossas necessidades, carrega-nos colo, mas não nos infantiliza. Carrega-nos no colo para nos garantir o amor e a ternura, para que nossos passos sejam mais firmes e corajosos.

 

A segunda mensagem que aparece explicitamente é que nossas preocupações não são indiferentes a Deus, sempre solícito para conosco.

 

Jesus nos convida a olhar os lírios do campo e os pássaros, que não ficam sem a atenção de Deus, e assim muito mais nós, que fomos feito à Sua imagem e semelhança.

 

Reflitamos:

 

- O que significa para nós – “é preciso confiar totalmente em Deus”?

- Adoramos a Deus ou ao dinheiro?

 

- Quais são as consequências que vemos e sentimos quando não adoramos a Deus acima de tudo e de todos, com toda força, alma, entendimento e de coração?

 

- Adorar a Deus ou ao dinheiro. Quais são as marcas presentes no cotidiano que revelam que o amor a Deus foi colocado em segundo plano, e o amor ao dinheiro falou mais alto, determinando interesses, leis, atitudes?

 

Oremos:

 

“Fazei ó Deus, que os acontecimentos deste mundo decorram na paz que desejais, e Vossa Igreja Vos possa servir, alegre e tranquila. Por N.S.J.C. na unidade do Espírito Santo. Amém.”

Busquemos em primeiro lugar o Reino de Deus...

 


                    

Busquemos em primeiro lugar o Reino de Deus...

 

devemos confiar como se tudo dependesse de Deus

e nos empenhar como se tudo dependesse de nós.

 

Muitas vezes, podemos nos preocupar com as exigências do dia a dia, sem colocar em primeiro lugar a busca pelo Reino de Deus, sem a necessária confiança no Senhor.

 

Na passagem do Evangelho de Mateus (Mt 6, 24-34), Jesus nos ensina a darmos o devido valor às coisas, colocando Deus em primeiro lugar: “Não podeis servir a Deus e a riqueza”.

 

E, também, convida a nos abandonarmos completamente à Providência de Deus: “Não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis.”

 

Não entendamos confiança como sinônimo de passividade ou de comodismo: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a Sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo.”

 

De fato, a ação divina não dispensa a ação humana, ao contrário, eleva-a como graça da possibilidade de participação na construção do Reino

 

Quanto maior for nossa confiança em Deus, tanto mais cresce nossa responsabilidade. Também poderemos dizer que a responsabilidade é diretamente proporcional à confiança que temos em Deus.

 

Santo Inácio de Loyola diz de forma límpida e contundente: “devemos confiar como se tudo dependesse de Deus e nos empenhar como se tudo dependesse de nós.”.

 

“Buscar o Reino de Deus” com absoluta confiança em Deus, como meros instrumentos, veículos de Sua Mensagem. Lembremo-nos que continuamos a refletir o desdobramento das Bem-Aventuranças, a missão de ser Sal e Luz (Capítulos 5 e 6 de Mateus).

 

Concluindo, podemos afirmar que ser Discípulo do Senhor é ter encontrado uma Pessoa que mudou nossa vida, e que ela só tem sentido e conteúdo quando em relacionamento contínuo e íntimo, renovado no Banquete da Eucaristia.

 

É preciso trilhar o caminho da santidade, empenhados na construção do Reino, com total confiança em Deus e em Sua força, com disponibilidade, fidelidade, alegria e com muito amor a fim de que correspondamos ao Amor Divino que jamais nos falta.

 

Somente assim, comunicaremos luz da Fonte de Luz nas mais diversas situações obscuras, nas "cavernas sombrias e escuras" da existência.

 

A vida no Espírito e a prática da justiça

A vida no Espírito e a prática da justiça

Em que consiste a justiça, tantas vezes mencionada na Sagrada Escritura?

O Apóstolo Paulo assim falou aos Romanos:

“Com efeito, o Reino de Deus não é comida e bebida, mas é justiça e paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14,17).

Somos remetidos a uma precisa conceituação do que vem a ser a justiça do cristão:

“Assim, a justiça do cristão é seu estado de justificação e libertação alcançado através da morte de Cristo. Isso é precisamente libertação do pecado e a restituição a um estado de inocência, mas possui também um caráter positivo.

A ‘justiça’ do cristão é um princípio de conduta reta que consiste em sua comunhão na morte e Ressurreição de Jesus Cristo, pela qual Ele começa uma nova vida no Espírito – uma vida que Ele vive em Cristo e Cristo vive n’Ele.

Essa é a justiça que não pode ser alcançada pelas obras da lei; é um dom gratuito, que só Deus pode dar e que alcança a sua plenitude na Sua vida escatológica que virá”. (1)

Como vemos, a justiça do cristão deve ter uma perspectiva Pascal, porque alcançada pela Paixão e Morte de Jesus Cristo, e exige daquele que a fé n’Ele professa, viver uma nova vida no Espírito, ou seja, “uma vida que Ele vive em Cristo e Cristo vive n’Ele”.

Neste sentido, compreendemos as Palavras de Jesus, no Evangelho de Mateus – “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será acrescentado” (Mt 6,33).

O discípulo missionário do Senhor, jamais poderá compactuar com a injustiça, e tão pouco ser dela promotor, pois, deste modo, incorreria em pecado, deixando de resplandecer a luz divina, e perderia o sabor, tornando-se sal insípido, que para nada mais serve.

Em todo o momento, somos chamados ao discernimento e à súplica da sabedoria, para que sejamos justos e fraternos, promovendo a cultura da vida e da pazPortanto, é preciso que fiquemos vigilantes e orantes sempre!


Fonte: Dicionário Bíblico – John L. Mackenzie - Edições Paulinas – 1984 – p.529

A confiança em Deus não nos faz passivos

                                                   

A confiança em Deus não nos faz passivos

A Liturgia do 8º Domingo do Tempo Comum (ano A) nos convida à total confiança em Deus, que não é sinônimo de passividade.

Sejamos enriquecidos pela reflexão do Missal Dominical:

É preciso ter total confiança em Deus; não se pode adorar a Deus e ao dinheiro, simultaneamente:

“O ensinamento do Evangelho tem dois aspectos: por um lado, acentua a impossibilidade de se Servir a dois senhores (os dois caminhos), e por outro, realça a atitude do cristão diante das preocupações e trabalhos da vida; por um lado, o Reino de Deus não admite divisões; por outro, a opção de tudo o mais.

É um convite a arrancar-nos ao culto do dinheiro, que é uma idolatria, e a ter confiança em Deus, cuja ativa solicitude para com Seus filhos nos é descrita. Esta mesma solicitude é expressa pelo Profeta Isaías, na 1ª Leitura, com uma linguagem de ternura comovente e ilimitada”.

Contra nossa infidelidade, Deus se mantém sempre fiel ao Seu Plano para nossa salvação, num amor irremovível e irrevogável:

“À base da confiança do homem está a certeza da fidelidade de Deus. Deus é a “rocha” de Israel (Dt 32,4); este nome simboliza a Sua imutável fidelidade, a verdade de Suas palavras, a firmeza de Suas promessas, apesar das infidelidades do homem e de suas contínuas voltas à idolatria.

As Suas Palavras não passam (Is 40,8), Suas promessas serão mantidas (Tb 14,4). Deus não mente nem volta atrás (Nm 23, 19). Seu desígnio divino, desígnio de Amor, se realizará infalivelmente (Sl 32,11; Is 25,1).

O homem pode, portanto, confiar. Deus vela sobre o mundo (Gn 8,22), dando o sol e a chuva a todos, bons e maus (MT 5, 45).

A fisionomia de Deus, na Bíblia, é a de Pai que vela sobre Suas criaturas e provê as suas necessidades: “Dais a todos o alimento a seu tempo” (Sl 144, 15; 103,27), tanto aos animais como aos homens.

Mas a providência de Deus se manifesta principalmente na história; não como um destino rígido que sujeita o homem à sorte, anulando a liberdade, nem com uma intervenção mágica que impede a iniciativa do homem, mas como desígnio ou Plano de salvação no qual se encontram e colaboram Deus e o homem.”

Deus nos criou e não quer nos salvar sem nossa participação. Não admite que os braços cruzemos. Sua ação e presença não nos anulam nem nos dispensam de compromissos com a vida, a dignidade e a construção de um mundo novo:

“Há os que esperam tudo de Deus, chuva ou bom tempo, bom resultado nos exames ou sucesso nos negócios. Rezam para obter d’Ele alguma coisa, e O esperam tranquilamente. É um conceito errado de confiança. Não serve a Deus, mas Se servem d’Ele.

Há também os que nada esperam de Deus. Creem que a confiança em Deus é impedimento ao progresso do homem.

Apresentamos aqui uma página que se pode definir de “antiEvangelho”, que leva a penetrar mais profundamente na riqueza de perspectivas da página evangélica:

Crer! Para que crer? Vós, cristãos, esperais de Deus coisas que nós já conhecemos e de que vivemos sem Ele. Outrora, quando tudo ia mal: e se lançavam contra Deus. Mas, mesmo blasfemando, reconheciam Sua divindade... Hoje, Deus não pode mais enganar-nos, não se espera mais nada d’Ele... Deus não é mais que uma ideia inútil...

Durante 2.000 anos os homens rezaram, e, no entanto, tiveram que ganhar um pão insuficiente, com o suor de seu rosto. Rezaram, e encontraram muitas vezes a carestia e até a miséria. Agora, eles desviam o curso dos rios, irrigando, assim, imensas terras incultas; amanhã o trigo surgirá com tanta abundância que os homens não terão mais fome. A ideia de Deus é uma muralha que oculta o homem”.

A confiança em Deus não nos permite imobilismos, apatias, esperando que Ele tudo faça. Não há espaço para quietismo e atitudes passivas e alienantes:

“O cristão, apoiado nas Palavras de Jesus, evita a concepção ingênua e mágica dos que confiam em Deus passivamente e no quietismo, e também a pretensão orgulhosa de ateu que risca o nome de Deus do seu horizonte.

A confiança do cristão em Deus é total e sem reservas, mas não passiva e alienante. Pelo contrário, desta confiança precisamente nasce sua atividade, porque sabe que seu trabalho é continuação da obra criadora de Deus.

É colaborador de Deus e, como Ele, ‘construtor para a eternidade’. Por isso, trabalha como se tudo dependesse de seu trabalho, e confia em Deus como se tudo dependesse de Sua intervenção...

‘O cosmo, animado por Deus com dinamismo inteiro e voltado para aperfeiçoamento crescente, cujo termo só Deus conhece, foi por Ele dado ao homem para que o domine e extraia dele tudo o que seu gênio e sua criatividade o inspiram.

O homem se descobre colaborador de Deus, artífice do próprio destino sobre a terra, porque tudo foi posto à sua disposição’ (RdC 12)”.

É sempre tempo favorável para refletirmos o quanto confiamos em Deus e o quanto estamos disponíveis na realização de sua plena vontade.

  
PS: Missal Dominical - pp. 699-700.
VIII Domingo do Tempo Comum - ano A: Is 49, 14-15; Sl 61; 1 Cor 4,1-5; Mt 6,24-34
25º Domingo do Tempo Comum ano C - Lc 16,1-13
Sexta-feira da 31ª Semana do Tempo Comum - Lc 16,1-8
Apropriado para o sábado da 11ª Semana do Tempo Comum.

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Envolvidos pelo amor divino

                                                        

Envolvidos pelo amor divino

O cristão é, fundamentalmente, alguém que descobriu que Deus o ama. Por isso, enfrenta a cada dia o bom combate da fé com serenidade e alegria. 

Possui uma esperança que brota da certeza fundamental: o Amor de Deus, que deve ser para nós o grande tesouro de que nos fala o Evangelho (Mt 6,19-23):

“… ajuntai tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, nem os ladrões assaltam e roubam… Pois onde estiver teu tesouro, aí estará também o teu coração”. 

O cristão condiciona e fundamenta toda sua vida nesta certeza, de modo que, a alegria de quem encontrou e experimentou o Amor de Deus o faz discípulo missionário, sal da terra e luz do mundo, numa espiritualidade Eucarística.

A missionariedade consistirá em corresponder ao Amor de Deus. Somente no verdadeiro encontro e apaixonamento por Cristo e Seu Evangelho estaremos, como os profetas, dentre eles, João Batista, vivendo nossa vocação profética, ontem, hoje e sempre.

Com a Palavra, Jesus Cristo revelou o Deus Bíblico: Deus de Amor, pois o Espírito do Senhor repousava sobre Ele na mais perfeita relação de comunhão e Amor.

Vivamos a Aliança de Amor de Deus por nós, um amor no exato sentido da Palavra, pois Deus é Amor e ama Seu Povo e o tem como Seu tesouro, Sua propriedade e o constitui povo de sacerdotes e nação santa (Ex 19,2-6a).

Ama apesar de toda infidelidade, traição, idolatria, abandono, morticínios, sacrifícios inúteis, abominações, reclamações sem fundamento, provocação, lamentações infundadas, ingratidão, atrocidades cometidas, amor não correspondido…

Deus ama na contra mão da história, pois ama um povo pequeno, aos olhos humanos, absolutamente desprezível, frágil e insignificante. 

Encarna-Se para redimi-lo e não somente este povo, mas toda a humanidade, em Cristo Jesus, e perpetua Seu Amor na presença do Espírito Santo, não nos deixando órfãos!  

Ainda mais, Deus habita em cada um de nós como templo Seu, sendo para nós o mais belo Hóspede!

Deste modo, como definir o Amor de Deus? Verdadeiramente o amor de Deus é: 
Idealizador,
Idílico, Ilimitado,
Ilógico, Iluminador, Ilustre, Imaculado,
Imortal, Impecável, Imperante, Imperdível, Imperturbável, 
Implacável, Impressionante, Imutável, Imprescindível, Inalienável, 

Inalterável, 
Incandescente, Incansável, 
Incendiário, Incessante, Incomensurável, 
Incomparável,  Incondicional, Inconfundível, Incontestável, Incorruptível,  Indelével,  Indiscutível,Indispensável, Indissociável, Incrível, 
Indubitável, Indulgente, Inédito, Inerente, Inesgotável, Inesquecível, Inestimável, 
Inexplicável, Infalível, 
Infinito, Inflamável, Inigualável, 

Iniludível, Inimitável, Inovador, Inqualificável, 
Inquebrável, Insaciável, Insigne, Insondável, Inspirador, Insubstituível, 
Inteligente, Interminável, Íntimo, Inusitado, Inviolável,
Irradiante, Irrecusável, 
Irrenunciável, Irresistível, 
Irrestrito, Irretocável, Irreversível, 
Irrevogável, Irrigador...

Contemplemos na Cruz o Mistério do Encontro/presença de um Deus que é eterno Amante (Pai), eterno Amor (Espírito Santo), eterno Amado (Filho). 

“Intrigas palacianas”

                                                   

“Intrigas palacianas”

A passagem bíblica proclamada na primeira Leitura da sexta-feira da 11ª Semana do Tempo comum (Ano par), (2Rs 11,1-4.9-18.20), retrata um período muito conturbado da história do Povo de Deus, no Antigo Testamento (ano 841 A.C.).

A história do povo de Israel corre o risco do desaparecimento devido às contínuas intrigas e morticínios.

Sejamos enriquecidos por este comentário do Lecionário Comentado:

 “A descrição das comuns intrigas palacianas, pretende fazer-nos compreender como o desígnio de Deus e a fidelidade divina caminham dentro das tortuosidades da História humana: as tristes figuras históricas, que nós somos, tão longe de poder satisfazer a necessidade de salvação do homem, fazem lembrar o Rei ideal que encarnará na Sua Pessoa a salvação e a paz.

Portanto, não é a bens materiais ou a salvadores de todos os gêneros (quantos se apresentam hoje!) que podemos apegar o nosso coração, mas sim ao Bem eterno, ‘todo o Bem, o sumo Bem’ (São Francisco de Assis), porque, como lemos no Evangelho, ‘onde está o teu tesouro, aí estará o seu coração’ (Mt 6,21)...

Com efeito, este tesouro, no texto evangélico é o Reino, mas o Reino é afinal uma Pessoa, o Senhor, o Rei que pede para tomar posse do nosso coração de forma a enchê-lo de luz e de vida”  (1)

Esta reflexão nos remete às tentações que Jesus venceu nos quarenta dias e quarenta noites no deserto: ser, ter, poder.

São estas tentações que geram outras tantas e que, seduzindo o coração humano, levam à multiplicação de páginas de sofrimento, intrigas, injustiças, fraudes, roubos e mortes, que mancham a história da humanidade com o pecado, e muitas vezes com o sangue dos inocentes.

Assim como na história do Povo de Deus, hoje também estas “intrigas palacianas” se repetem, nos diversos espaços em que circulamos: família, escola, trabalho, política e também dentro de nossas comunidades.

A cada um de nós cabe a vigilância para que estas tentações não nos seduzam, e não nos ceguem diante das necessidades do próximo, e tão pouco nos ensurdeçam diante dos clamores dos empobrecidos, que carregam as marcas da injustiça sofrida.

Urge por fim às “intrigas palacianas”, vivendo a Boa Nova do Evangelho de Jesus, buscando em primeiro lugar o Reino e a sua justiça, e tudo mais nos será acrescentado, como nos alertou e prometeu o Senhor.

Deste modo o desígnio de Deus e a fidelidade divina encontrarão em nós correspondência maior de amor e fidelidade ao Seu Projeto de amor, vida, alegria e paz.

Supliquemos ao Senhor que não sejamos envolvidos pelas “intrigas palacianas de cada dia”, para que assim nossa vida seja marcada pela doação, serviço, partilha e simplicidade de coração, confiando em Deus, e tão somente a Ele amar e adorar, pois assim, nosso amor ao próximo ganhará conteúdo e expressão autênticos.


(1) Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa - p. 551.

"Morte, ó morte! Onde está tua vitória?" (Parte I)

                                            

"Morte, ó morte! Onde está tua vitória?"
 
É possível não nos atemorizarmos diante da morte?
Como ver a morte a partir da fé?
 
Sejamos enriquecidos pela Carta que São Luiz Gonzaga, escreveu à sua mãe, antes de sua morte.
                                    
Ilustríssima senhora, peço que recebas a graça do Espírito Santo e a Sua perpétua consolação. Quando recebi tua carta, ainda me encontrava nesta região dos mortos.
 
Mas agora, espero ir em breve louvar a Deus para sempre na terra dos vivos. Pensava mesmo que a esta hora já teria dado esse passo.
 
Se é caridade, como diz São Paulo, chorar com os que choram e alegrar-se com os que se alegram (Rm 12,15), é preciso, mãe ilustríssima, que te alegres profundamente porque, por teus méritos, Deus me chama à verdadeira felicidade e me dá a certeza de jamais me afastar do Seu temor. 
 
Na verdade, ilustríssima senhora, confesso-te que me perco e arrebato quando considero, na Sua profundeza a bondade divina.
 
Ela é semelhante a um mar sem fundo nem limites, que me chama ao descanso eterno por um tão breve e pequeno trabalho; que me convida e chama ao céu para aí me dar àquele bem supremo que tão negligentemente procurei, e me promete o fruto daquelas lágrimas que tão parcamente derramei.
 
Por conseguinte, ilustríssima senhora, considera bem e toma cuidado em não ofender a infinita bondade de Deus. Isto aconteceria se chorasses como morto aquele que vai viver perante a face de Deus e que, com Sua intercessão, poderá auxiliar-te incomparavelmente mais do que nesta vida.
 
Esta separação não será longa; no céu nos tornaremos a ver. Lá, unidos ao autor da nossa salvação seremos repletos das alegrias imortais, louvando-O com todas as forças da nossa alma e cantando eternamente as Suas misericórdias.
 
Se Deus toma de nós aquilo que havia emprestado, assim procede com a única intenção de colocá-lo em lugar mais seguro e fora de perigo, e nos dar aqueles bens que desejamos Dele receber.
 
Disse tudo isto, ilustríssima senhora, para ceder ao desejo que tenho de que tu e toda a minha família considereis minha partida como um feliz benefício.
 
Que tua bênção materna me acompanhe na travessia deste mar, até alcançar a margem onde estão todas as minhas esperanças.
 
Escrevo com alegria para dar-te a conhecer que nada me é bastante para manifestar com mais evidência o amor e a reverência que te devo, como um filho à sua mãe”. (1)
 
Celebramos sua Memória no dia 21 de junho, e este jovem santo é um luminar da Igreja.
 
Durante seus estudos de teologia, ocupando-se com o serviço dos doentes nos hospitais, contraiu uma doença que o levou à morte, que muito cedo ceifou a sua vida: aos 23 anos, apenas.
 
Este jovem religioso, que viveu no século XVI, na Itália, quando enfermo, acometido da gravíssima enfermidade que o levou à morte, cuidando dos doentes, escreveu uma carta à sua mãe.
 
A carta, escrita por um filho, certamente, com próprio punho e dores, levou alívio e consolo para sua mãe.
  
A fé explícita e implícita na carta refaz, amplia e eterniza horizontes transcendentes, aparentemente limitados pela morte! A morte, para quem crê, não possui a última palavra, tampouco é o limite, e atos últimos.
 
Densa de conteúdo e expressando uma fé verdadeiramente pascal, é uma luz que se acende no mais profundo de nosso coração, iluminando as noites escuras que acompanham a morte de um ente querido.
 
Qual mãe não estremeceria ao ler esta Carta?
 
Ela pode ser lida por qualquer pessoa que tenha de recuperar o olhar Pascal, para refazer-se das feridas que uma morte provoca, das lacunas a serem preenchidas com fé na Ressurreição.
 
São Luiz, ao invés de ser consolado por sua mãe, ele, é que, moribundo, encontra forças divinas para consolá-la, porque possui uma fé verdadeiramente Pascal.
 
Dedico esta Carta a tantas mães com quem converso dia a dia, e que não tiveram a graça de receber uma Carta com tamanha beleza, com expressivo teor e tão cheia de fé e amor.
 
Dedico, também, às que choram seus filhos em túmulos frios de pedra, e mais ainda, choram seus filhos no vácuo que possam ter deixado em seu coração.
 
Reflitamos:
 
- O que mais chama a atenção nesta Carta?
- Como enfrento a morte de uma pessoa querida?
- Quais os textos bíblicos que me inspiram e que me dão seguras respostas para a realidade da morte?
 
Que a morte não nos atemorizemas reacenda em nós a fé na Ressurreição. Aleluia. Amém!
 
(1) Liturgia das Horas – vol. III - pp. 1361-1362
 

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