A confiança em Deus não nos faz passivos
A Liturgia do 8º Domingo do Tempo Comum (ano A) nos convida à total confiança em Deus, que não é sinônimo de passividade.
Sejamos enriquecidos pela reflexão do Missal Dominical:
É preciso ter total confiança em Deus; não se pode adorar a Deus e ao dinheiro, simultaneamente:
“O ensinamento do Evangelho tem dois aspectos: por um lado, acentua a impossibilidade de se Servir a dois senhores (os dois caminhos), e por outro, realça a atitude do cristão diante das preocupações e trabalhos da vida; por um lado, o Reino de Deus não admite divisões; por outro, a opção de tudo o mais.
É um convite a arrancar-nos ao culto do dinheiro, que é uma idolatria, e a ter confiança em Deus, cuja ativa solicitude para com Seus filhos nos é descrita. Esta mesma solicitude é expressa pelo Profeta Isaías, na 1ª Leitura, com uma linguagem de ternura comovente e ilimitada”.
Contra nossa infidelidade, Deus se mantém sempre fiel ao Seu Plano para nossa salvação, num amor irremovível e irrevogável:
“À base da confiança do homem está a certeza da fidelidade de Deus. Deus é a “rocha” de Israel (Dt 32,4); este nome simboliza a Sua imutável fidelidade, a verdade de Suas palavras, a firmeza de Suas promessas, apesar das infidelidades do homem e de suas contínuas voltas à idolatria.
As Suas Palavras não passam (Is 40,8), Suas promessas serão mantidas (Tb 14,4). Deus não mente nem volta atrás (Nm 23, 19). Seu desígnio divino, desígnio de Amor, se realizará infalivelmente (Sl 32,11; Is 25,1).
O homem pode, portanto, confiar. Deus vela sobre o mundo (Gn 8,22), dando o sol e a chuva a todos, bons e maus (MT 5, 45).
A fisionomia de Deus, na Bíblia, é a de Pai que vela sobre Suas criaturas e provê as suas necessidades: “Dais a todos o alimento a seu tempo” (Sl 144, 15; 103,27), tanto aos animais como aos homens.
Mas a providência de Deus se manifesta principalmente na história; não como um destino rígido que sujeita o homem à sorte, anulando a liberdade, nem com uma intervenção mágica que impede a iniciativa do homem, mas como desígnio ou Plano de salvação no qual se encontram e colaboram Deus e o homem.”
Deus nos criou e não quer nos salvar sem nossa participação. Não admite que os braços cruzemos. Sua ação e presença não nos anulam nem nos dispensam de compromissos com a vida, a dignidade e a construção de um mundo novo:
“Há os que esperam tudo de Deus, chuva ou bom tempo, bom resultado nos exames ou sucesso nos negócios. Rezam para obter d’Ele alguma coisa, e O esperam tranquilamente. É um conceito errado de confiança. Não serve a Deus, mas Se servem d’Ele.
Há também os que nada esperam de Deus. Creem que a confiança em Deus é impedimento ao progresso do homem.
Apresentamos aqui uma página que se pode definir de “antiEvangelho”, que leva a penetrar mais profundamente na riqueza de perspectivas da página evangélica:
Crer! Para que crer? Vós, cristãos, esperais de Deus coisas que nós já conhecemos e de que vivemos sem Ele. Outrora, quando tudo ia mal: e se lançavam contra Deus. Mas, mesmo blasfemando, reconheciam Sua divindade... Hoje, Deus não pode mais enganar-nos, não se espera mais nada d’Ele... Deus não é mais que uma ideia inútil...
Durante 2.000 anos os homens rezaram, e, no entanto, tiveram que ganhar um pão insuficiente, com o suor de seu rosto. Rezaram, e encontraram muitas vezes a carestia e até a miséria. Agora, eles desviam o curso dos rios, irrigando, assim, imensas terras incultas; amanhã o trigo surgirá com tanta abundância que os homens não terão mais fome. A ideia de Deus é uma muralha que oculta o homem”.
A confiança em Deus não nos permite imobilismos, apatias, esperando que Ele tudo faça. Não há espaço para quietismo e atitudes passivas e alienantes:
“O cristão, apoiado nas Palavras de Jesus, evita a concepção ingênua e mágica dos que confiam em Deus passivamente e no quietismo, e também a pretensão orgulhosa de ateu que risca o nome de Deus do seu horizonte.
A confiança do cristão em Deus é total e sem reservas, mas não passiva e alienante. Pelo contrário, desta confiança precisamente nasce sua atividade, porque sabe que seu trabalho é continuação da obra criadora de Deus.
É colaborador de Deus e, como Ele, ‘construtor para a eternidade’. Por isso, trabalha como se tudo dependesse de seu trabalho, e confia em Deus como se tudo dependesse de Sua intervenção...
‘O cosmo, animado por Deus com dinamismo inteiro e voltado para aperfeiçoamento crescente, cujo termo só Deus conhece, foi por Ele dado ao homem para que o domine e extraia dele tudo o que seu gênio e sua criatividade o inspiram.
O homem se descobre colaborador de Deus, artífice do próprio destino sobre a terra, porque tudo foi posto à sua disposição’ (RdC 12)”.
É sempre tempo favorável para refletirmos o quanto confiamos em Deus e o quanto estamos disponíveis na realização de sua plena vontade.
PS: Missal Dominical - pp. 699-700.
VIII Domingo do Tempo Comum - ano A: Is 49, 14-15; Sl 61; 1 Cor 4,1-5; Mt 6,24-34
25º Domingo do Tempo Comum ano C - Lc 16,1-13
Sexta-feira da 31ª Semana do Tempo Comum - Lc 16,1-8
Apropriado para o sábado da 11ª Semana do Tempo Comum.