quinta-feira, 20 de junho de 2024

Crer, esperar e amar

                                                         

Crer, esperar e amar

Eucaristia é o Mistério maior de nossa fé, pois dela vivemos, nos alimentamos e nos refazemos de nossos cansaços, renovamos nossas forças para avançar adiante nos sagrados compromissos que dela emanam:

'A Eucaristia é ‘fonte e ápice de toda a vida cristã'. 'Os demais Sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e tarefas apostólicas, se ligam à sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Pois a santíssima Eucaristia contém todo o bem espiritual da Igreja, a saber, o próprio Cristo, nossa Páscoa’’’ (1)

A Eucaristia bem celebrada redimensiona as virtudes divinas que nos movem:

“Antes de agirmos, a Eucaristia convida-nos a viver as três dimensões mais pessoais e íntimas da experiência cristã, ou seja, crer, esperar e amar. É uma questão de sangue, de corpo, de vida e de morte.

A Eucaristia abrange o homem todo, não é apenas um rito ou uma aspiração, mas sim um sinal que recorda e exige a realidade: Um Sacramento” (2)

Crer, esperar e amar:

Crer num novo mundo possível, sem jamais perder a esperança. Manter viva a fé, dando razão de nossa esperança vivendo a essência do ser cristão, amar;

Amar a Deus e ao próximo, inseparavelmente, como nos ensinou e o Mandamento o Senhor nos deu;

Crer como mais bela expressão de fé em Deus e em Sua onipotência;

Esperar no Senhor, mas não nos omitirmos do que a nós for próprio.

Amar sempre; amor intenso e profundo, amor de Cruz, como o Senhor viveu.

Crer, esperar e amar, somente possível, quando da Eucaristia partícipes e nutridos, e sagrados compromissos com o Reino, mais do que renovados, assumidos e fortalecidos.



(1)        Catecismo da Igreja Católica §1324
(2)        Lecionário Comentado – Editora Paulus – 2011 – p.881
Passagem do Evangelho de Marcos (Mc 14,12-16.22-26)

Rezar o "Pai-Nosso" e deixar-se envolver pela ternura divina (09/10)

                                                        

Rezar o "Pai-Nosso" e deixar-se envolver pela ternura divina

O "Pai-Nosso" deve ser rezado com toda a confiança e sinceridade, uma oração sincera, pura, dialogal, confiante e frutuosa, que nos coloca numa relação filial para com Deus e de irmãos entre nós.

Jesus, na passagem do Evangelho (Lc 11,1-4; Mt 6,7-15), ensina-nos a rezar, de modo que a Oração daquele que crê, deve ser um diálogo confiante, como uma criança em relação ao pai.

Para Jesus, a Oração é o espaço do encontro pessoal e íntimo com o Pai e o momento fundamental para o discernimento de Sua Vontade, de Seu Projeto a ser realizado.

A caminho de Jerusalém, nos ensina a força e a importância da Oração na vida dos Seus seguidores, assim como foi fundamental em todos os grandes momentos decisivos do próprio Jesus, como tão bem nos apresenta o Evangelista Lucas na Eleição dos Doze (Lc 6,12); antes do primeiro anúncio da Paixão (Lc 9,18); na Transfiguração (Lc 9,28-29); após o regresso dos discípulos da missão (Lc 10,21); na última Ceia (Lc 22,32); no Getsemani (Lc 22,40-46); na Cruz (Lc  23, 34-46).

Jesus nos ensina a Oração do Pai Nosso e nos coloca em atitude de diálogo com o Pai, como filhos, e ao mesmo tempo nos põe no caminho da realização do Seu Plano, na construção de um mundo novo, numa comunhão fraterna a ser construída quotidianamente.
Quanto ao conteúdo:

“Santificado seja o Vosso nome” – que Deus Se manifeste como Salvador aos olhos de todos, através de nossa conduta, marcada pela justiça, bondade e santidade;

“Venha o Vosso Reino” – que o mundo novo proposto por Jesus se torne uma realidade na vida da humanidade – Reino de amor, verdade, justiça e liberdade...

“O pão de cada dia” – Deus nos concede o essencial para vivermos. Oferece o pão material, mas acima de tudo o Pão espiritual. Com Deus nada nos falta. Ele nos dá o próprio Filho, o Pão da Vida que sacia a fome e a sede da humanidade: amor, alegria, perdão, comunhão, fraternidade...

“Perdão dos pecados” – sem a experiência da misericórdia divina, somos incapazes de perdoar e pedir perdão. Acolhidos pela misericórdia e por ela perdoados, para também acolher e perdoar o irmão que pecou contra nós.

“Não nos deixeis cair em tentação” – que nosso coração não seja seduzido por felicidades ilusórias e transitórias, mas que pautemos a nossa vida na busca da felicidade duradoura, eterna, a fim de que tenhamos vida plena e feliz.

A Oração do Pai Nosso, em síntese, pode ser assim apresentada:

Que Deus seja reconhecido como Deus: um Pai misericordioso e nos trata como filhos. 

É um Projeto de Amor que Deus tem para a humanidade com três pedidos fundamentais: pão para viver; perdão para amar e liberdade para ficar de pé e pôr-se sempre a caminho. 

Na Escola de Jesus aprendemos a rezar verdadeiramente, em forma e conteúdo. A Oração que Jesus ensina, transforma a vida de quem a reza e põe em prática; portanto, não podemos repetir a Sua Oração, sem saborearmos Palavra por Palavra de seu conteúdo vital e irradiador de alegria e luz, que plenifica com a Sua vida e a Sua graça, porque feita sob a ação e presença do Espírito, dirigida confiantemente ao Pai.

Uma Oração verdadeira precisa ser essencialmente Trinitária, nos inserindo nesta comunhão intensa e profunda de Amor.

Com isto, a Oração é, em sua exata medida, um diálogo intenso, profundo com a Trindade Santa, que nos envolve pela presença e ternura divinas.

“Pai-Nosso”: uma Oração íntima e confiante em Deus

                                                     


“Pai-Nosso”: uma Oração íntima e confiante em Deus

Nas passagens do Evangelho (Lc 11,1-13; Mt 6,7-15), vemos que é preciso que revisitemos a Escola de Jesus para aprendermos a verdadeira Oração, que consiste num diálogo confiante com o Pai: insistência e confiança são evidências da madura e frutuosa Oração.

O homem novo que somos tem necessidade da Oração em todos os momentos, como expressão da intimidade e encontro com o Pai, em estreita relação de amor e comunhão.

Somente o homem velho fossiliza-se na autossuficiência e indiferença no relacionamento com o Seu Criador.

Na Oração do "Pai-Nosso", que o Senhor nos ensinou, tem conteúdo indizível quando dizemos: 

-  Santificado seja o Vosso nome” - afirmamos que Ele é Salvador de todos os povos;

- “Venha o Vosso Reino” -  suplicamos a vinda de um mundo novo marcado por relações de amor, verdade, justiça, liberdade e paz;

"O Pão nosso de cada dia nos dai hoje" -  suplicamos o pão (pão material e do Pão espiritual);

- "Perdoai-nos as nossas ofensas..." - é a súplica do perdão e da liberdade nos relacionamentos.

A Oração do Pai Nosso carrega no mínimo três grandes desejos humanos:

- Que Deus seja reconhecido como Deus;
- Que o Projeto de Amor de Deus venha ao mundo;
- Que os 03 pedidos sejam respondidos: pão para viver; perdão para amar; liberdade para permanecer de pé.

Finalizando, a Oração exige de nós paciência e renúncia.
Se o Espírito pedirmos, Ele nos será dado! O que mais nos faltará?

Na Escola de Jesus, e somente nela, aprendemos a rezar,
no Senhor de coração confiar e infinitas graças alcançar!
Amém.

“Pai Nosso que estais nos céus...”

                                                   


“Pai Nosso que estais nos céus...”
 
Disse o Senhor na passagem do Evangelho de João (Jo 16,23b-28): “Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes ao Pai alguma coisa em meu nome, Ele vo-la dará” (Jo 16,23b).
 
Oportuno um aprofundamento sobre a autêntica oração, que deve acompanhar a vida do  discípulo missionário do Senhor, pois esta, feita em Seu nome, deve nascer da profunda intimidade com Ele, de tal modo que, a Ele configurados, haveremos de ter mesmos sentimentos (Fl 2,1-11).
 
Tudo isto nós vemos e encontramos na mais bela oração que Ele mesmo no-la ensinou: o “Pai-Nosso” (Mt 6,7-15; Lc 11,1-4), que ora refletimos:
 
A manifestação da glória do Pai – “Pai Nosso que estais nos céus, santificado seja o Vosso nome”  amar a Deus sobre todas as coisas; santificar Seu nome por uma vida que expresse nossa filiação, como imagem e semelhança D’Ele criados; profunda e perfeita sintonia com Deus em todos os momentos;
 
A vinda do Reino de Deus – “Venha a nós o Vosso Reino” – o Reino de Deus, como assim rezamos no Prefácio da Missa da Solenidade de Cristo Rei: “Com óleo de exultação, consagrastes Sacerdote Eterno e Rei do universo Vosso Filho único, Jesus Cristo, Senhor nosso. Ele, oferecendo-Se na Cruz, vítima pura e pacífica, realizou a redenção da humanidade. Submetendo ao Seu poder, toda criatura entregará à Vossa infinita majestade um Reino eterno e universal: Reino da verdade e da vida, Reino da santidade e da graça, Reino da justiça, do amor e da paz...” 
 
 amorosa  vontad divina  –  ―”Sej feita   voss vontad assi na  terr com nos céus” -  Nada pode sobrepor à vontade divina, de modo que não podemos nos submeter à busca de fins mesquinhos e egoísticos. Ser capaz de sacrificar caprichos e vontades de tal modo que estas sejam cada vez mais em conformidade à vontade divina, que nem sempre poderá corresponder à nossa, na mais perfeita sintonia;
 
A súplica pelo pão cotidiano – “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”  é preciso pedir o pão cotidiano, porque a salvação atua neste mundo e na história. Peçamos O Pão de Eternidade, O Pão da Eucaristia e com ele o amor, a vida, a alegria, a paz, a solidariedade, a salvação. Podemos e devemos, como cristãos, também, pedir as coisas temporais, mas desde que sejam fundamentais para o nosso viver com sobriedade, numa vida fugaz, sem ficarmos presos às armadilhas do consumo supérfluo, sem critérios ou sem medidas, numa insaciabilidade prejudicial a si mesmo, sem a solidariedade com os mais empobrecidos do essencial para uma vida digna;
 
O perdão dos pecados – “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” – Suplicar o perdão divino é necessário, mas não nos dispensa de viver o mesmo em relação ao nosso próximo. Se experimentarmos o amor e o perdão divinos, verdadeiramente, poderemos viver a graça do perdão também concedido  “Pois, se perdoardes aos homens os seus pecados, também Vosso Pai celeste vos perdoará: mas se não perdoardes aos homens, vosso Pai também não perdoará vossos delitos” (Mt 6,14);
 
Preservação e libertação da tentação  “Não nos deixeis cair em tentação”  as tentações do Maligno, que Nosso Senhor venceu no deserto (ter, poder e ser  acúmulo, domínio e prestígio respectivamente) – (Mt 4,1-11; Mc 1,12-13; Lc 4,1-13), e nos ensinou o mesmo a fazer, para que vivamos na liberdade, pois é para ela que Ele nos libertou, para que sejamos verdadeiramente livres (Gl 5,1); e ainda nos falou o Senhor – “Se permanecerdes na minha Palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8, 31-32);
 
A libertação do mal – “Mas livrai-nos do mal” – para isto precisa da ação e presença dos dons do Espírito Santo para o discernimento, orientação dos passos e perseverança no testemunho das virtudes divinas (fé, esperança e caridade). Aqui lembramos as palavras que rezamos na conclusão do Pai Nosso ao celebrar a Santa Missa: “Livrai-nos de todos os males, ó Pai, e dai-nos hoje a vossa paz. Ajudados por vossa misericórdia, sejamos sempre livres do pecado e protegidos de todos os perigos, enquanto aguardamos a feliz esperança, e a  vinda do nosso Salvador, Jesus Cristo. Vosso é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém!”.
 
Concluímos com a leitura orante da passagem da Carta de São Paulo aos Gálatas (Gl 5,1-26), na qual ele nos exorta a viver a verdadeira liberdade e caridade, que devem ser marcas fundamentais dos discípulos missionários do Senhor, não satisfazendo os desejos da carne, mas conduzidos pelo Espírito.
 
Fonte: Missal Cotidiano  Editora Paulus  1998  pp. 468-469.
 

“Pai-Nosso”: “Nossa voz entrelaça-se com a Igreja” (09/10)

                                                      

“Pai-Nosso”: “Nossa voz entrelaça-se com a Igreja”

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 11,1-4; Mt 6,7-15), em que Jesus ensina Seus discípulos a rezar, atendendo ao pedido por eles feito.

Oportuna esta citação do Papa Bento XVI:

“Todas as vezes que recitamos o Pai-Nosso, a nossa voz entrelaça-se com a Igreja, porque quem reza nunca está sozinho. Cada fiel deverá procurar e poderá encontrar na verdade e na riqueza da oração cristã, ensinada pela Igreja, o próprio caminho, o seu modo de oração... portanto deixar-se-á conduzir... pelo Espírito Santo, O qual o guia, através de Cristo, para o Pai” (1)

Jamais poderemos empobrecer a Oração que o Senhor nos ensinou, reduzindo-a a um intimismo e individualismo que nos distanciaria de Deus, que é “Pai-Nosso”, e consequentemente, de nosso próximo.

“Nossa voz entrelaça-se com a Igreja” quando rezamos o "Pai- Nosso": com quantos nos unimos, quando elevamos a Deus a Oração que o Senhor nos ensinou?

Com quantos nos unimos: alegres ou tristes, angustiados ou cheios de esperança, saudáveis ou enfermos, entre nós ou na glória?

Consideremos, portanto, que esta Oração que o Senhor nos ensinou, o “Pai- Nosso”, é o Evangelho abreviado, o Evangelho em Oração, um manancial vivo do Evangelho que brota da boca d’Aquele que é o Evangelho em pessoa; é um espelho do Evangelho; é um modelo de oração, um arquétipo, um gerador e inspirador de oração, e não se pode rebaixá-lo ao nível de uma oração que rebaixe todas as outras; como afirma Raniero Cantalamessa (2).

Deste modo, não podemos recitá-lo de qualquer modo. É preciso ser rezado com todo o amor e confiança, para que as Palavras não apenas saiam de nossos lábios, mas sejam emanadas de nosso coração, e cheguem até Deus, acompanhadas de sagrados compromissos, em viver o conteúdo divino que nela se encontra.

“Pai Nosso que estais nos céus...”


(1)  Citado pelo Papa em “Um Caminho de fé antigo e sempre novo” – Pregações para o Ano Litúrgico – Ano C – p.530
(2) O Verbo Se faz Carne – Raniero Cantalamessa - Editora Ave Maria – 2013 - pp.684-693

“As três ou quatro Palavras” que o Senhor nos ensinou..."

                                                     

“As três ou quatro Palavras” que o Senhor nos ensinou..."

Nas passagens bíblicas do Evangelho (Mt 6,7-15; Lc 11,1-4), Jesus ensina os discípulos a rezar.

Para o aprofundamento da referida passagem, ofereço esta reflexão do poeta e cristão Charles Péguy (1873-1914):

"Eu sou o Pai deles, diz Deus.
Pai nosso que estais nos céus (...)
Sabia bem o que fazia aquele dia meu Filho que os ama muito.
Quando colocou esta barreira entre eles e mim.

Pai nosso que estais nos céus, estas três ou quatro Palavras.
Esta barreira que minha cólera e talvez a minha justiça não transpõem nunca.
Bem-aventurado aquele que adormece sob a proteção destas 
três ou quatro Palavras.
Essas Palavras que caminham na frente de qualquer oração,
como as mãos de quem suplica caminham diante de Sua face...

Estas três ou quatro Palavras que avançam como uma ponta aguda
na frente de um pobre navio.
E que fendem a onda da minha cólera
E quando essa ponta aguda passou, o navio passa, e atrás dele toda a frota.

Agora, diz Deus, é assim que os vejo...
Como a esteira de um belo barco vai se alargando até desaparecer e perder-se.
Mas começa com uma ponta que é a ponta mesma do barquinho.
Assim a esteira imensa dos pecadores se alarga até 
desaparecer e perder-se.
Mas começa com uma ponta, e é esta ponta que vem na minha direção...
E o barquinho é o meu mesmo Filho, 
carregado de todos os pecados do mundo.
E a ponta do barquinho são as duas mãos juntas de meu Filho.

E diante do olhar da minha cólera e diante do olhar da minha justiça, esconderam-se todos atrás dele.
E todo este imenso cortejo de orações, toda esta esteira imensa se alarga até desaparecer e se perder.
Mas começa com uma ponta e é esta ponta que está voltada para mim.
Que avança em minha direção.

E esta ponta são estas três ou quatro Palavras:
Pai nosso que estais nos céus;
Meu Filho na verdade sabia o que fazia...
Pai nosso que estais nos céus.
Evidentemente quando um homem assim começou...
Depois pode continuar, pode me dizer o que quiser.
Vós compreendeis, estou desarmado.
E meu Filho o sabia bem.
Ele que tanto amou estes homens”. (1)

A Oração do "Pai-Nosso", quando rezada com o coração sincero, alcança imediatamente o coração de Deus, pois são as Palavras ditas pelo próprio Filho, e nós suplicamos em comunhão com o Espírito Santo e por meio d’Ele, pois “O Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis” (Rm 8, 26).

Bem afirmou Santo Agostinho, grita em vão “Abbá” qualquer pessoa sem o Espírito Santo.

Agora, rezemos juntos as “três ou quatro Palavras” que o Filho nos ensinou:

“Pai nosso que estais nos céus...”

(1) O Verbo Se faz Carne - Raniero Cantalamessa - Editora Ave Maria - 2013 - pp. 692-693 - 

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Não sejamos palco para nós mesmos!

                                                      

Não sejamos palco para nós mesmos!

Tudo deve ser feito para que
nos coloquemos em perfeita comunhão com o Pai...

A Liturgia da quarta-feira da 11ª semana do Tempo Comum nos apresenta a passagem do Evangelho de São Mateus (Mt 6,1-6;16-18), que nos fala da prática da esmola, da Oração e do jejum.

Muito mais que uma exortação feita por Jesus, para que os discípulos vivam estas práticas, é uma indicação da autêntica maneira de realizá-las, numa verdadeira e frutuosa religiosidade, fundada na sinceridade daquilo que se faz.

Tudo deve ser feito para que nos coloquemos em perfeita comunhão com o Pai, sob Seu olhar, em profunda intimidade com Ele, jamais acompanhadas de atitudes que revelem um coração duplo e hipócrita.

Jamais praticar obras de modo à obtenção da aprovação dos outros, ou até de si mesmos. Se o coração do discípulo estiver em íntima comunhão com o Pai, tudo fará para que seja visto tão apenas por Ele que dará a Sua recompensa, que é o próprio Jesus, que nunca Se separa de quem O procura com sinceridade e abertura total.

Atuar em segredo exige muito mais, pois podemos nos tornar palco de nós mesmos, requerendo reconhecimento e gratidão, acompanhados de autoelogios, autoaplausos acompanhados do vácuo de humildade.

É preciso tão apenas nos tornamos o que, de fato, somos, fazendo brotar, no mais profundo de nosso eu, uma autenticidade sem interesses duvidosos. 

Cada palavra, pensamento ou obra deve ser a pura expressão do amor, experimentado na relação com Deus em favor do outro, da mais frutuosa, piedosa e ativa atitude de quem crê no que celebra em cada Eucaristia, e do que vive e prolonga em cada gesto do cotidiano.

Que a Oração nos coloque em mais intensa comunhão, intimidade e amizade com Deus, para que saibamos viver o autêntico jejum, a morte de toda e qualquer expressão de egoísmo, que consiste na ausência de liberdade, acompanhado de gestos múltiplos, pequenos ou grandes de caridade.

Assim vividas, a Oração e a caridade, a esmola edifica e promove o outro, sem vínculos de dependência de uma das partes, ou  sobressair-se sobre a miséria do outro, da parte de quem a oferece.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG