Pois bem: existe algo ainda mais perfeito, porque Ele não diz: Não odeies, mas ama. Não disse: não prejudique, mas sim favoreça. Se alguém examina cuidadosamente, encontrará um acréscimo muito maior que este. Porque agora não só manda amá-los, mas a também rogar por eles.
segunda-feira, 17 de junho de 2024
Subamos ao cume da virtude
Pois bem: existe algo ainda mais perfeito, porque Ele não diz: Não odeies, mas ama. Não disse: não prejudique, mas sim favoreça. Se alguém examina cuidadosamente, encontrará um acréscimo muito maior que este. Porque agora não só manda amá-los, mas a também rogar por eles.
O grito de Nabot continua subindo aos céus
A mais bela Oração o Senhor nos ensinou
A escada que nos leva aos céus
A escada que nos leva aos céus
Acolhamos o Sermão de São Cromácio de Aquileia (séc. V), em que nos apresenta os oito degraus do Evangelho (Mt 5,38-48) para chegarmos à glória dos céus.
"'Bem-aventurados sereis, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem de vós todo tipo de mal por causa da justiça.
Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus. Assim perseguiram aos Profetas que vieram antes de vós’. É virtude perfeita, irmãos, após as obras da grande justiça, serem ultrajados pela verdade, serem afligidos com tormentos e, ao fim, feridos de morte sem deixar-vos aterrorizar, seguindo o exemplo dos Profetas que, atormentados de muitas formas por causa da justiça, mereceram ser assimilados aos sofrimentos e galardão de Cristo.
Este é o mais alto degrau, no qual Paulo, contemplando a Cristo, dizia: minha única meta é, esquecendo as coisas passadas, e fixando-me somente nas que virão, correr até a meta, para ganhar o prêmio ao qual Deus chama desde o alto por Jesus Cristo.
E a Timóteo diz ainda mais claramente: ‘combati o bom combate, terminei minha carreira’. E como quem subiu todos os degraus, acrescenta: ‘guardei a fé. Já me está preparada a coroa da justiça’.
Terminada a carreira, a Paulo não lhe restava mais que alcançar glorioso, através de tribulações e dos sofrimentos, o mais alto degrau do martírio.
A Palavra do Senhor nos exorta, pois, oportunamente: ‘alegrai-vos e exultai, porque grande é a vossa recompensa nos céus’; e Ele demonstra com clareza que esta recompensa aumenta na medida das perseguições.
Irmãos, diante de vossos olhos estão estes oito degraus do Evangelho, construídos, como dizia, com pedras preciosas. Eis aqui essa escada de Jacó que começava na terra e cujo cume atingia o céu.
Aquele que a sobe encontra a porta do céu e, tendo entrado por ela, estará com alegria sem fim na presença do Senhor, louvando-lhe eternamente com os santos Anjos. Este é o nosso comércio, este é o nosso mercado espiritual.
Demos, benditos de Deus, o que temos; ofereçamos a pobreza de espírito para receber a riqueza do Reino dos Céus que nos foi prometida; ofereçamos nossa mansidão, para possuir a terra e o paraíso; choremos os nossos pecados e os alheios, para merecer o consolo da bondade do Senhor; tenhamos fome e sede de justiça, para sermos saciados mais abundantemente; ofereçamos misericórdia, para receber verdadeira misericórdia; vivamos como benfeitores da paz, para sermos chamados filhos de Deus; ofertemos um coração puro e um corpo casto, para ver a Deus com consciência límpida; não temamos as perseguições por causa da justiça, para sermos herdeiros do Reino dos Céus, acolhamos com alegria e gozo os insultos, os tormentos, a própria morte – se chegasse a sobrevir – pela verdade de Deus, a fim de receber no céu uma grande recompensa com os Apóstolos e os Profetas.
E para que o final de meu discurso concorde com o princípio: se os comerciantes se alegram pelas frágeis ambições do momento, quanto mais temos de alegrar-nos e felicitar-nos todos juntos por ter encontrado hoje estas pérolas do Senhor, com as quais não se pode comparar nenhum bem deste mundo.
Para merecer comprá-las, obtê-las e possuí-las, temos de pedir o auxílio, a graça e a fortaleza ao próprio Senhor. A Ele seja a glória pelos séculos dos séculos. Amém.” (1)
Retomemos os oito degraus da escada que nos conduz ao céu:
1 - Ofereçamos a pobreza de espírito para receber a riqueza do Reino dos Céus que nos foi prometida;
2 - Ofereçamos nossa mansidão, para possuir a terra e o paraíso;
3 - Choremos os nossos pecados e os alheios, para merecer o consolo da bondade do Senhor;
4 - Tenhamos fome e sede de justiça, para sermos saciados mais abundantemente;
5 - Ofereçamos misericórdia, para receber a verdadeira misericórdia;
6 - Vivamos como benfeitores da paz, para sermos chamados filhos de Deus;
7 - Ofertemos um coração puro e um corpo casto, para ver a Deus com consciência límpida;
8 - Não temamos as perseguições por causa da justiça, para sermos herdeiros do Reino dos Céus, acolhamos com alegria e gozo os insultos, os tormentos, a própria morte – se chegasse a sobrevir – pela verdade de Deus, a fim de receber no céu uma grande recompensa com os Apóstolos e os Profetas.
Evidentemente, uma escada que somente poderemos subir degrau por degrau, com a cruz carregada, precedida de necessárias renúncias, quotidianamente, fazendo todo o esforço para entrarmos pela porta estreita que nos conduz aos céus.
Roguemos a Deus para que enriquecidos por sua graça, força e bondade, vivamos na mansidão, e tendo a pureza de coração, sejamos promotores da paz, tendo plena confiança de que tão somente Deus pode saciar plenamente nossa sede de justiça, amor, vida e paz.
Verdadeiramente, estes oito degraus são imprescindíveis no nosso itinerário de fé, para que vivamos a santidade como sinônimo de felicidade, que não dispensa sacrifícios, empenhos e renovados compromissos com a Boa-Nova do Reino. Tão somente assim estaremos com os pés nos chãos duro e sofrido da realidade, e buscando as coisas do alto onde habita Deus (Cl 3,1)
Sejamos, portanto, promotores da cultura da vida e da paz, em todo o tempo e em todas as situações.
(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pp.126-127
Por uma cultura de vida e paz
Em poucas palavras...
Alcancemos
o cume da virtude
“Observas
a que degraus subiu e como nos elevou até o próprio cume da virtude? Quero que
o medites, enumerando-os desde o princípio: o primeiro grau é não injuriar; o
segundo, quando injuriados, não nos vingarmos; o terceiro, não aplicar sobre o
autor o mesmo castigo com o qual nos fere, mas sim ter mansidão; o quarto,
oferecer-se voluntariamente a sofrer injúrias; o quinto, oferecer ao injuriador
muito mais do que ele nos exige; o sexto, não odiar a quem nos faz semelhante
injustiça; o sétimo, inclusive amá-lo; o oitavo, ainda favorecê-lo. Finalmente,
o nono: rogar a Deus por ele” (1)
domingo, 16 de junho de 2024
Rezemos o “Pai-Nosso” com humildade e confiança
Rezemos o
“Pai-Nosso” com humildade e confiança
Reflitamos
sobre a Oração do Senhor, o “Pai-Nosso”, à luz do Tratado de São Cipriano,
bispo e mártir. (Séc. III),
“Haja
ordem na palavra e na súplica dos que oram, tranquilos e respeitosos. Pensemos
estar na presença de Deus. Sejam agradáveis aos olhos divinos a posição do
corpo e a moderação da voz. Porque se é próprio do irreverente soltar a voz em
altos brados, convém ao respeitoso orar com modéstia. Por fim, ensinando-nos,
ordenou o Senhor orarmos em segredo, em lugares apartados e escondidos, até nos
quartos, no que auxilia a fé por sabermos estar Deus presente em toda a parte,
ouvir e ver a todos e na plenitude de sua majestade penetrar até no mais
oculto. Assim está escrito: Eu sou Deus
próximo e não Deus longínquo. Se se esconder o homem em antros, acaso não o
verei Eu? Não encho o céu e a terra? E de novo: Em todo lugar os olhos de Deus
veem os bons e os maus.
Quando
nos reunimos com os irmãos e celebramos com o sacerdote de Deus o sacrifício
divino, temos de estar atentos à reverência e à disciplina devidas.
Não
devemos espalhar a esmo nossas preces com palavras desordenadas, nem lançar a
Deus com tumultuoso palavrório os pedidos, que deveriam ser apresentados com
submissão, porque Deus não escuta as palavras e sim o coração.
Com
efeito, não se faz lembrado por clamores Aquele que vê os pensamentos, como o
Senhor mesmo provou ao dizer: Que estais
pensando de mal em vossos corações? E em outro lugar: E saibam todas as Igrejas
que eu sou quem perscruta os rins e o coração.
Ana,
no Primeiro Livro dos Reis, como figura da Igreja, tem esta atitude, ela que
suplicava a Deus não aos gritos, mas silenciosa e modesta, no mais secreto do
coração. Falava por prece oculta e fé manifesta, falava não com a voz, mas com
o coração, pois sabia ser assim ouvida pelo Senhor. Obteve plenamente o que
pediu porque o suplicou com fé. A Escritura divina declara: Falava em seu coração, seus lábios moviam-se, mas não se ouvia som
algum e o Senhor a atendeu. Lemos também nos salmos: Rezai em vossos corações e compungi-vos em vossos aposentos.
Através de Jeremias ainda o mesmo Espírito Santo inspira e ensina: No coração deves ser adorado, Senhor.
O
orante, irmãos caríssimos, não ignora por certo como o publicano orou no
templo, com o fariseu. Não com olhos orgulhosos levantados para o céu nem de
mãos erguidas com jactância, mas batendo no peito, confessando os pecados
ocultos em seu íntimo, implorava o auxílio da misericórdia divina. Por que o
fariseu se comprazia em si mesmo, mais mereceu ser santificado aquele que
rogava sem firmar a esperança da salvação na presunção de sua inocência, já que
ninguém é inocente; rezava, porém, reconhecendo seus pecados; e atendeu ao
orante aquele que perdoa aos humildes.”
Sendo
o “Pai-Nosso” a oração que o Senhor nos ensinou, não podemos rezá-la de
qualquer modo, pois a oração deve brotar do coração humilde e confiante.
Concluímos
com uma das motivações para a Oração do “Pai-Nosso”, quando celebramos a Santa
Missa:
- "Guiados pelo Espírito Santo, que ora em nós e por nós, elevemos as mãos ao Pai e rezemos juntos a oração que o próprio Jesus nos ensinou: Pai nosso..."