segunda-feira, 17 de junho de 2024

O grito de Nabot continua subindo aos céus

                                                             


O grito de Nabot continua subindo aos céus

Na passagem do Primeiro Livro dos Reis (1Rs 21,1-16), encontramos narrado o trágico acontecimento da morte de Nabot (apedrejado), por uma trama de Jezabel e Acab, o rei da Samaria.

Vemos neste fato até que ponto pode chegar o absolutismo régio e o poder despótico de uma mulher e de um soberano fraco e dominado por sua esposa: ambos se mancham com duplo crime de homicídio e furto contra Nabot.

Acab, mediante um grave delito, se apropria dos bens do justo Nabot, defraudando-o de uma terra (a vinha) e de uma vida que tão somente pertence a Deus, ao matá-lo.

Notável o contraste entre o rico insaciado e o pobre Nabot, contente com seu pedacinho de terra, e a sua reivindicação de seus direitos:

“Nabot morre na sua retidão, para não atraiçoar o dever de conservar a posse da terra de seus pais, acolhida como dom de Deus, ao passo que Acab, consciente do delito, apropria-se dela, aumentando a sua riqueza. Nabot, o justo, é alguém que perde, e Acab um vencedor, segundo a lógica humana; mas a lógica de Deus subverte os esquemas dos homens, e ainda mais os denuncia com o anúncio e o estilo de vida evangélica encarnado por Jesus” (1).

Podemos ficar indignados com o casal mencionado, no entanto, os personagens podem se fazer presentes em cada um de nós, numa atitude de egoísmo permissivo:

“Acab e Jezabel estão também em mim. Saberei dar-lhes um nome? Também Nabot está em mim, naturalmente. Pode-se ler o fato na clave “sociedade indivíduos”. Emerge então o acúmulo de necessidades fictícias, de pseudonecessidades de nossa sociedade de consumo, que alimentam uma insaciável avidez”. (2)

Podemos também, como Jezabel e Acab, ser movidos por falsas necessidades e não nos alegrado com o que temos; apropriando-nos do que não nos pertence, aumentando a distância entre os poucos que têm tudo, e os muitos que nada possuem, o que pode ser chamado de pecado da desigualdade social.

Neste sentido, também podemos ler esta página bíblica, na linha do binômio “ricos-pobres” (nações, regiões, grupos, pessoas), como que numa espécie de parábola econômica de justiça social.

À luz da passagem, temos um longo caminho de conversão em todos os âmbitos, a fim de que os pobres tenham seus direitos garantidos, e assim seja assegurada vida plena e digna para todas as pessoas.

“Jezabel e Acab” estão vivos, bem como “Nabots” estão sendo expropriados e mortos inocentemente; privados do pão de cada dia, do essencial para viver, porque a ganância  de poucos os devoram.

Oremos:

“Ó Deus, sois o amparo dos que em Vós esperam e, sem Vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo; redobrai de amor para conosco, para que, conduzidos por Vós, usemos de tal modo os bens que passam, que possamos abraçar os que não passam. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!”.

(1)Lecionário Comentado – Tempo Comum - Volume I – Ed. Paulus – 2011 – p.530
(2) Missal Cotidiano – Ed. Paulus – pp.901-902

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG