segunda-feira, 24 de junho de 2024

“João Batista, a voz no tempo; Cristo, a Palavra Eterna”

                                                                     

 “João Batista, a voz no tempo; Cristo, a Palavra Eterna”

Tenhamos, em todo tempo, a palavra certa na hora certa,
iluminados pela Palavra Eterna.

Para bem celebramos a natividade de São João Batista, acolhamos o Sermão do Bispo Santo Agostinho (séc. V).

“A Igreja celebra o nascimento de João como um acontecimento sagrado. Dentre os nossos antepassados, não há nenhum cujo nascimento seja celebrado solenemente.

Celebramos o de João, celebramos também o de Cristo: tal fato tem, sem dúvida, uma explicação. E se não a soubermos dar tão bem, como exige a importância desta solenidade, pelo menos meditemos nela mais frutuosa e profundamente.

João nasce de uma anciã estéril; Cristo nasce de uma jovem virgem. O pai de João não acredita que ele possa nascer e fica mudo; Maria acredita, e Cristo é concebido pela fé.

Eis o assunto que quisemos meditar e prometemos tratar. E se não formos capazes de perscrutar toda a profundeza de tão grande Mistério, por falta de aptidão ou de tempo, Aquele que fala dentro de vós, mesmo em nossa ausência, vos ensinará melhor.

N’Ele pensais com amor filial, a Ele recebestes no coração, d’Ele vos tornastes templos. João apareceu, pois, como ponto de encontro entre os dois Testamentos, o antigo e o novo.

O próprio Senhor o chama de limite quando diz: A Lei e os Profetas até João Batista (Lc 16,16). Ele representa o antigo e anuncia o novo. Porque representa o Antigo Testamento, nasce de pais idosos; porque anuncia o Novo Testamento, é declarado Profeta ainda estando nas entranhas da mãe.

Na verdade, antes mesmo de nascer, exultou de alegria no ventre materno, à chegada de Maria. Antes de nascer, já é designado; revela-se de quem seria o precursor, antes de ser visto por Ele.

Tudo isto são coisas divinas, que ultrapassam a limitação humana. Por fim, nasce. Recebe o nome e solta-se a língua do pai.

Relacionemos o acontecido com o simbolismo de todos estes fatos. Zacarias emudece e perde a voz até o nascimento de João, o precursor do Senhor; só então recupera a voz.

Que significa o silêncio de Zacarias? Não seria o sentido da profecia que, antes da pregação de Cristo, estava, de certo modo, velado, oculto, fechado? Mas com a vinda d’Aquele a quem elas se referiam, tudo se abre e torna-se claro.

O fato de Zacarias recuperar a voz no nascimento de João tem o mesmo significado que o rasgar-se o véu do templo, quando Cristo morreu na Cruz.

Se João se anunciasse a si mesmo, Zacarias não abriria a boca. Solta-se a língua, porque nasce aquele que é a voz. Com efeito, quando João já anunciava o Senhor, perguntaram-lhe:
Quem és tu? (Jo 1,19).

E ele respondeu: Eu sou a voz do que clama no deserto (Jo 1,23). João é a voz; o Senhor, porém, no princípio era a Palavra (Jo 1,1). João é a voz no tempo; Cristo é, desde o princípio, a Palavra eterna.”

João Batista tem o mérito de ser celebrado, tanto seu nascimento como seu martírio.

Fixemos nossa mente no paralelo que o Bispo faz do seu nascimento com o nascimento do Verbo, entre outras preciosidades certamente encontraremos.

João foi uma voz no tempo. O tempo continua, e a missão de João, é agora a nossa missão: ser uma voz profética, acompanhada de ações, com postura ética cristã, num mundo que, muitas vezes, veladamente ou não, coloca-se com toda resistência à Palavra de Deus, ou mesmo a ignora, relativizando verdades que são irrenunciáveis.

Precisamos de pessoas como João Batista, que comuniquem ao mundo a Misericórdia de Deus, o apelo de conversão, a coerência, a prática da justiça, para que construamos um mundo novo, fortalecendo a relações fraternas.

Precisamos continuar a missão de João Batista, preparando a vinda d’Aquele que veio, vem e virá, e conosco quer contar.

Ontem, João Batista precursor o foi. Hoje, somos continuadores de sua missão: anunciar o Sol Nascente, que é Jesus Cristo.

Bem cantou Zacarias em "Benedictus" - Cântico Evangélico:

"Bendito seja o Senhor Deus de Israel, que a Seu povo visitou e libertou e fez surgir um poderoso Salvador na casa de Davi, Seu servidor, como falara pela boca de Seus Santos, os Profetas desde os tempos mais antigos...

Serás Profeta do Altíssimo, ó menino, pois irás andando à frente do Senhor para aplainar e preparar os Seus caminhos, anunciando ao Seu povo a salvação, que está na remissão de seus pecados, pelo amor do coração de nosso Deus, Sol

nascente que nos veio visitar, lá do alto como luz resplandecente, a iluminar a quantos jazem entre as trevas e na sombra da morte estão sentados e no caminho da paz guiar nossos passos"

Comuniquemos a Palavra, a única em todo o tempo: a Palavra que Se fez Carne. Ele, João, e nós, vozes que comunicam a força da Palavra que existiu desde sempre. Amém.

Nenhum comentário:

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG