domingo, 16 de junho de 2024

Rezemos o “Pai-Nosso” com humildade e confiança

 


 

Rezemos o “Pai-Nosso” com humildade e confiança

 

Reflitamos sobre a Oração do Senhor, o “Pai-Nosso”, à luz do Tratado de São Cipriano, bispo e mártir. (Séc. III),
 
“Haja ordem na palavra e na súplica dos que oram, tranquilos e respeitosos. Pensemos estar na presença de Deus. Sejam agradáveis aos olhos divinos a posição do corpo e a moderação da voz. Porque se é próprio do irreverente soltar a voz em altos brados, convém ao respeitoso orar com modéstia. Por fim, ensinando-nos, ordenou o Senhor orarmos em segredo, em lugares apartados e escondidos, até nos quartos, no que auxilia a fé por sabermos estar Deus presente em toda a parte, ouvir e ver a todos e na plenitude de sua majestade penetrar até no mais oculto. Assim está escrito: Eu sou Deus próximo e não Deus longínquo. Se se esconder o homem em antros, acaso não o verei Eu? Não encho o céu e a terra? E de novo: Em todo lugar os olhos de Deus veem os bons e os maus.
 
Quando nos reunimos com os irmãos e celebramos com o sacerdote de Deus o sacrifício divino, temos de estar atentos à reverência e à disciplina devidas.
 
Não devemos espalhar a esmo nossas preces com palavras desordenadas, nem lançar a Deus com tumultuoso palavrório os pedidos, que deveriam ser apresentados com submissão, porque Deus não escuta as palavras e sim o coração.
 
Com efeito, não se faz lembrado por clamores Aquele que vê os pensamentos, como o Senhor mesmo provou ao dizer: Que estais pensando de mal em vossos corações? E em outro lugar: E saibam todas as Igrejas que eu sou quem perscruta os rins e o coração.
 
Ana, no Primeiro Livro dos Reis, como figura da Igreja, tem esta atitude, ela que suplicava a Deus não aos gritos, mas silenciosa e modesta, no mais secreto do coração. Falava por prece oculta e fé manifesta, falava não com a voz, mas com o coração, pois sabia ser assim ouvida pelo Senhor. Obteve plenamente o que pediu porque o suplicou com fé. A Escritura divina declara: Falava em seu coração, seus lábios moviam-se, mas não se ouvia som algum e o Senhor a atendeu. Lemos também nos salmos: Rezai em vossos corações e compungi-vos em vossos aposentos. Através de Jeremias ainda o mesmo Espírito Santo inspira e ensina: No coração deves ser adorado, Senhor.
 
O orante, irmãos caríssimos, não ignora por certo como o publicano orou no templo, com o fariseu. Não com olhos orgulhosos levantados para o céu nem de mãos erguidas com jactância, mas batendo no peito, confessando os pecados ocultos em seu íntimo, implorava o auxílio da misericórdia divina. Por que o fariseu se comprazia em si mesmo, mais mereceu ser santificado aquele que rogava sem firmar a esperança da salvação na presunção de sua inocência, já que ninguém é inocente; rezava, porém, reconhecendo seus pecados; e atendeu ao orante aquele que perdoa aos humildes.”
 
Sendo o “Pai-Nosso” a oração que o Senhor nos ensinou, não podemos rezá-la de qualquer modo, pois a oração deve brotar do coração humilde e confiante.
 
Concluímos com uma das motivações para a Oração do “Pai-Nosso”, quando celebramos a Santa Missa: 

- "Guiados pelo Espírito Santo, que ora em nós e por nós, elevemos as mãos ao Pai e rezemos juntos a oração que o próprio Jesus nos ensinou: Pai nosso..."

O Reino de Deus germina silenciosamente (XIDTCB)

                                                   

O Reino de Deus germina silenciosamente

No 11º Domingo do Tempo Comum (Ano B), a Liturgia da Palavra nos convida a renovar a alegria de trabalhar pelo Reino de Deus, fiéis à Aliança que Ele faz conosco, da qual jamais se esquece.

A passagem da primeira Leitura (Ez 17,22-24) retrata o tempo do exílio, e o Profeta procura manter acesa a chama da esperança do povo pela fidelidade de Deus e Sua Aliança. É preciso afastar todo medo e pessimismo.

O Profeta tem a árdua missão de destruir as falsas esperanças, denunciar as infidelidades, levando o povo a confiar plenamente em Javé, pois somente com Ele construirá uma nova história.

Aparentemente nosso trabalho parece ser insignificante, desprezível, mas não o é aos olhos de Deus que tem sempre um Projeto de Vida para a humanidade.

Deus chama quem bem quer para a construção deste Projeto, o que não necessariamente corresponde à lógica dos homens. Tudo pode cair, tudo pode falhar, mas somente Deus não falha. Deus ama Seu povo e quer salvá-lo.

É preciso corresponder à vontade amorosa de Deus com nossa humilde disponibilidade e acolhida dos Seus apelos e desafios.

Na passagem da segunda Leitura (2Cor 5,6-10), o Apóstolo Paulo anuncia que somos  peregrinos no tempo,  vocacionados para a eternidade, à vida definitiva. 

Não podemos nos curvar diante da cultura do provisório, do que é fácil e efêmero, mas caminhar com passos firmes para a eternidade, procurar o que é duradouro e nos assegure a vida definitiva.

Pela vida e palavras dos Apóstolos vemos que não é fácil seguir e servir o Senhor. A grandeza da missão comporta riscos, mas tem compensações sem medida.

Na passagem do Evangelho de São Marcos (Mc 4,26-34) encontramos duas Parábolas de Jesus sobre o Reino de Deus.

A Parábola é uma forma de linguagem que Jesus Se utiliza, acessível, viva, questionadora, concreta, desafiadora, evocadora e pedagógica, para semear a Palavra no coração e na mente dos Seus ouvintes. Fala coisas tão belas e profundas a partir de coisas simples do cotidiano.

Elas criam controvérsias, diálogo, questionamentos, num primeiro momento, depois se tornam provocadoras para novas atitudes e compromissos, mexendo com seus ouvintes.

Finalmente levam o ouvinte a tirar as consequências para a vida, pois ajuda a pensar e rever as atitudes, a própria vida, o compromisso com Jesus e o Reino.

“A primeira Parábola (da semente) afirma que o Reino de Deus é algo que uma vez semeado no coração da pessoa, germina e cresce por si só: tem uma força intrínseca (vv. 26-29). A segunda (do grão de mostarda) diz que o Reino de Deus é pequeno e aparentemente insignificante, mas crescerá até se tornar muito grande (vv. 30-32).” (1)

A grande mensagem destas duas Parábolas é que o Reino de Deus é uma iniciativa divina, e para que ele aconteça a comunidade precisa manter a serenidade, a confiança e a paciência. Importa lançar a Semente da Palavra do Reino no coração da humanidade.

A Parábola da semente tem sua mensagem própria: a nós cabe lançar a semente. Assim acontece o Reino, inaugurado e realizado na atitude da necessária paciência evangélica.

Deus não falha e no Seu tempo dará os frutos esperados, de modo que podemos afirmar categoricamente que o tempo d'Ele não é o nosso.

A Parábola da semente de mostarda, que se torna uma grande árvore, revela quão grande e belo é o Reino, que se inicia com pequenos gestos, daquilo que é aparentemente insignificante e desprezível.

Nos fatos aparentemente irrelevantes, na simplicidade e no transcorrer normal de cada dia, na insignificância e limites dos meios de que dispomos na evangelização, esconde-se o dinamismo divino que atua na história oferecendo e possibilitando à humanidade caminhos novos de vida plena e salvação.

“Jesus não é um homem de sucesso, de ibope. Ele lança uma sementinha, nada mais. E de repente, a sementinha brota. O que parecia nada, torna-se fecundo, árvore frondosa” (2)

Digamos sempre: “Como é bom trabalhar na construção do Reino como Igreja que somos!”

Tenhamos a paciência evangélica para continuarmos com alegria, como Igreja, lançando sementes no coração da humanidade, para que possam florir na alegre presença do Reino que já está em nosso meio com a Pessoa e a Palavra de Jesus, que vemos e acolhemos em cada Eucaristia, quando a Palavra é proclamada, acolhida e vivida, e o Pão é comungado e o cotidiano Eucaristizado!

Urge que Palavra de Deus caia em nosso coração, germine, floresça e frutifique, na confiança, esperança, humildade e paciência, como a mais bela expressão de uma frutuosa relação de amor com Deus. 


Oremos:

Venha, Senhor, o Vosso Reino, rezamos.
Venha, Senhor, o Vosso Reino, anunciamos.
Venha, Senhor, o Vosso Reino, testemunhamos.

(1) Lecionário Comentado - Volume Tempo Comum I - Editora Paulus - pág.518

(2) Liturgia Dominical - Mistério de Cristo formação dos fiéis (anos ABC) - pág.290


É tempo de semear (XIDTCB)

                                                           

É tempo de semear

 “O Reino de Deus é como quando alguém espalha
a semente na terra. Ele vai dormir e acorda,
noite e dia, e a semente vai germinando e
crescendo, mas ele não sabe
como isso acontece.
(Mc 4, 26-27)

Com a Liturgia do 11º Domingo do Tempo Comum (ano B), contemplamos a Proposta que Deus tem para a humanidade: vida plena e felicidade sem fim.

Na passagem da primeira Leitura, com o Profeta Ezequiel (Ez 17,22-24), vemos o Povo de Deus exilado na Babilônia, que jamais ficou esquecido por Deus, porque Ele fiel à Sua Aliança.

O Ministério profético de Ezequiel se dá neste contexto dificílimo vivido pelo Povo de Deus, marcado pela deportação e infidelidade. Cabe ao Profeta provocar a conversão e a esperança de voltar à sua terra e reconstruir sua história.

Apesar das dramáticas circunstâncias vividas pelo povo, o Profeta tem uma palavra de confiança: Deus não abandonou o Seu Povo, e irá construir com ele uma nova história de salvação e de graça.

O Profeta expressa a vontade amorosa de Deus e exorta a todos para uma atitude de humildade, na abertura e acolhida dos apelos e desafios de Deus.

As palavras de Ezequiel revelam a ação infalível de Deus, que não esquece os Seus compromissos, jamais abandona o Povo com quem Se comprometeu, de modo que o medo e o pessimismo devem ceder lugar à confiança e à esperança. Deus não desiste de nós, porque nos ama e quer nos salvar.

“Mesmo afogado na angústia e no sofrimento, mesmo mergulhado num horizonte de desespero, Israel tem de aprender a confiar nesse Deus que é sempre fiel às Suas promessas e aos compromissos que assumiu com o Seu Povo no âmbito da Aliança. Tudo pode cair, tudo pode falhar; só Deus não falha.” (1)

Na passagem da segunda Leitura (2 Cor 5,6-10), refletimos sobre a vida, que é marcada pela finitude e transitoriedade, mas que deve ser vivida na espera do encontro com Deus, para uma vida definitiva e eterna. O Apóstolo Paulo acentua que os cristãos são peregrinos sem morada permanente nesta terra.

Também, hoje, vivemos a cultura do provisório, do efêmero, e sua mensagem ultrapassa os tempos, convidando-nos a buscar o que for duradouro e nos garanta a vida plena e definitiva.

Com a passagem do Evangelho (Mc 4,26-34), temos uma catequese sobre o Reino Deus, através das duas Parábolas que Jesus nos apresenta.

“Para fazer chegar a todos a Sua proposta, Jesus precisará de utilizar uma linguagem acessível, viva, questionadora, concreta, desafiadora, evocadora, pedagógica, que pudesse semear no coração dos ouvintes a consciência dessa nova e revolucionária realidade que Ele queria propor. É neste contexto que nos aparecem as ‘Parábolas’” (2)

As Parábolas, portanto, são excelente arma de controvérsia, diálogo e questionamento. Elas provocam, mexem com os ouvintes, fazem pensar, e levam a tomada de atitudes, com consequências para a vida.

O Reino de Deus acontece apesar do aparente fracasso, e é necessária a paciência e consciência de nossa pequenez crendo na ação divina, que aos poucos vai fazer passar as coisas antigas e fará novas todas as coisas, e teremos o novo céu e a nova terra que Deus oferece a todos nós.

O Reino de Deus é uma iniciativa divina e acontece na serenidade, confiança, paciência, esperança a partir de pequenos gestos, como a menor de todas as sementes.

Através do aparentemente insignificante, Jesus inaugura a realidade do Reino de Deus:

“Nos fatos aparentemente irrelevantes, na simplicidade e normalidade de cada dia, na insignificância dos meios, esconde-se o dinamismo de Deus que atua na história e que oferece aos homens caminhos de salvação e de vida plena”. (3)

As Parábolas nos revelam a ação de Deus através dos pequenos, humildes, pobres e em todos que renunciaram aos esquemas de triunfalismo e ostentação, e é destes que Deus se serve para a transformação do mundo:

“Atitudes de arrogância, de ambição desmedida, de poder a qualquer custo, não são sinais do Reino. Sempre que nos deixamos levar por tentações de grandeza, de orgulho, de prepotência, de vaidade, frustramos o Projeto de Deus, e impedimos que o Reino de Deus Se torne realidade no mundo e nas nossas vidas.” (4)

Celebremos a alegria de trabalhar pelo Reino de Deus, apesar de nosso trabalho parecer insignificante e desprezível, mas não o é aos olhos de Deus, que tem um Projeto de vida plena e feliz para toda humanidade.

A nós cabe lançar a semente com toda humildade, confiança, esperança, e aguardar com paciência os frutos que virão para que outros possam saborear:

“Não duvidemos de que a força do Evangelho se desencadeará em nós, muito mais do que poderíamos esperar ou imaginar. Vivemos no tempo da paciência e não no da colheita nem da paga.” (5)

Deus não falha, e Seu tempo não é o nosso tempo, definitivamente.
Como peregrinos no tempo, somos vocacionados para a eternidade, para a vida definitiva, como nos falou o Apóstolo Paulo em Sua Carta aos Coríntios.

Supliquemos a vinda do Reino de Deus, como o fazemos ao rezar a Oração do Senhor, o Pai Nosso: Venha, Senhor, o Vosso Reino, que anunciamos e testemunhamos.

Como é bom trabalhar na construção do Reino, como Igreja serva e servidora, misericordiosa e missionária, como nos lembra o Objetivo das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2019-2023):

Objetivo Geral:

EVANGELIZAR no Brasil cada vez mais urbano, pelo anúncio da Palavra de Deus, formando discípulos e discípulas de Jesus Cristo, em comunidades eclesiais missionárias, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, cuidando da Casa Comum e testemunhando o Reino de Deus rumo à plenitude”



Fonte inspiradora e citações (1) (2) (3) (4):
(5) Missal quotidiano dominical e ferial  p.1432 

Em poucas palavras... (XIDTCB)

 


As parábolas do Reino

“Jesus chama para entrar no Reino, por meio de parábolas, traço característico do seu ensino (Mc 4,33-34). Por meio delas, convida para o banquete do Reino (Mt 22,1-14), mas exige também uma opção radical: para adquirir o Reino é preciso dar tudo (Mt 13,44-45).

As palavras não bastam, exigem-se atos (Mt 21,28-32). As parábolas são, para o homem, uma espécie de espelho: como é que ele recebe a Palavra? Como chão duro, ou como terra boa? (Mt 13,3-9). Que faz ele dos talentos recebidos? (Mt 25,14-30). Jesus e a presença do Reino neste mundo estão secretamente no coração das parábolas.

É preciso entrar no Reino, quer dizer, tornar-se discípulo de Cristo, para «conhecer os mistérios do Reino dos céus» (Mt 13, 11). Para os que ficam «fora» (Mc 4, 11), tudo permanece enigmático (Mt 13,10-15).”(1)

 

(1) Parágrafo do Catecismo da Igreja Católica – n. 546

Vivamos o tempo da paciência (XIDTCB)

                                                            

Vivamos o tempo da paciência

Sejamos enriquecidos por um trecho do Comentário do Missal Quotidiano Dominical e Ferial (p.1432), em preparação ao 11º Domingo do Tempo Comum (ano B).

“A rejeição e a esterilidade não podem originar nem justificar nenhum tipo de fatalismo preguiçoso.

‘Caminhamos sem O ver’, mas ‘guiados pela fé’, cheios de confiança, devemos ‘esforçar-nos para agradar ao Senhor’.

Não duvidemos de que a força do Evangelho se desencadeará em nós muito mais do que poderíamos esperar ou imaginar.

Vivemos no tempo da paciência e não no da colheita nem da paga”

Oremos:

Concedei-nos, ó Deus, a graça de seguirmos os passos de Vosso Amado Filho, e a linfa vital do Vosso Espírito, a seiva do amor, lançando no chão dos corações de muitos a Semente de Vossa Palavra, para que, a Vosso tempo, venha a dar os frutos por vós esperados. Amém.

Peregrinando para a glória da eternidade (XIDTCB)

Peregrinando para a glória da eternidade

O Sermão do Bispo Santo Agostinho (séc. V), sobre a nova criatura que nos tornamos em Cristo pelo Batismo é indispensável para o enriquecimento espiritual, sobretudo neste Tempo Pascal em que transbordamos de alegria, pela Sua Ressurreição.

“Minha palavra se dirige a vós, filhos recém-nascidos, pequeninos em Cristo, nova prole da Igreja, graça do Pai, fecundidade da Mãe, germe santo, multidão renovada, flor de nossa honra e fruto do nosso trabalho, minha alegria e coroa, todos vós que permaneceis firmes no Senhor.

É com palavras do Apóstolo que vos falo: Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não deis atenção à carne para satisfazer as suas paixões (Rm 13,14), a fim de que, também na vida, vos revistais d’Aquele que revestistes no Sacramento.

Todos vós que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo. O que vale não é mais ser judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um só, em Jesus Cristo (Gl 3,27-28).

Nisto reside a força do Sacramento: é o Sacramento da vida nova que começa no tempo presente pela remissão de todos os pecados passados, e atingirá sua plenitude na Ressurreição dos mortos. Pelo Batismo, na Sua morte, fostes sepultados com Cristo, para que, como Cristo Ressuscitou dos mortos, assim também leveis uma vida nova (cf. Rm 6,4).

Agora caminhais pela fé, vivendo neste corpo mortal como peregrinos longe do Senhor. Mas o vosso caminho seguro é aquele mesmo para quem vos dirigis, Jesus Cristo, que Se fez homem por Amor de nós. Para os Seus fiéis Ele preparou um grande tesouro de felicidade, que há de revelar e dar abundantemente a todos os que n’Ele esperam, quando recebermos na realidade aquilo que recebemos agora só na esperança.

Hoje é o oitavo dia do vosso nascimento. Hoje se completa em vós o sinal da fé que, entre os antigos patriarcas, consistia na circuncisão do corpo no oitavo dia depois do nascimento segundo a carne. Por isso, o próprio Senhor, despojando-Se por Sua Ressurreição da mortalidade da carne e revestindo-Se de um corpo não diferente, mas imortal, ao ressuscitar consagrou o “Dia do Senhor”, que é o terceiro dia depois de Sua Paixão, mas na contagem semanal dos dias, é o oitavo a partir do sábado, e coincide com o primeiro dia da semana.

Por conseguinte, também vós participais do mesmo mistério, não ainda na realidade perfeita, mas na certeza da esperança, porque recebestes a garantia do Espírito.

Com efeito, se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus.

Quando Cristo, vossa vida, aparecer em Seu triunfo, então vós aparecereis também com Ele, revestidos de glória (Cl 3,1-4).”

À luz das palavras do Apóstolo Paulo, o Bispo nos convida a viver a vida nova que se inaugura no Batismo. Cita as Epístolas Paulinas, com suas riquezas inesgotáveis.

Foi no anoitecer do primeiro dia da semana que os discípulos estavam reunidos, com portas fechadas por medo dos Judeus.

Mas não há nada que impeça a manifestação e ação do Ressuscitado, que nos comunica a paz e o sopro do Espírito, para que sejamos Suas testemunhas no mundo, superando todo medo, todo desalento.

Bem afirmou o Bispo – “Agora caminhais pela fé, vivendo neste corpo mortal como peregrinos longe do Senhor. Mas o vosso caminho seguro é aquele mesmo para quem vos dirigis, Jesus Cristo, que Se fez homem por Amor de nós”.

Peregrinos longe do Senhor, caminhando na penumbra da fé até que possamos contemplar a luminosidade plena e eterna: céu.

Que Deus nos conceda a graça de percorrer nosso itinerário Pascal, com a fé reacesa em nosso coração, de modo que aumente a cada dia em nós a graça de Cristo Ressuscitado, glorificando a Deus pelo Batismo que recebemos, que nos purifica de nossos pecados; com a acolhida do Espírito que nos deu uma nova vida e redimidos pelo Seu Sangue derramado no alto da Cruz, do Seu Coração trespassado.

É Páscoa! Consolidemos nossa fé, renovemos nossa esperança e cresçamos na vivência da caridade.

Que a vivência das virtudes divinas nos ajude nesta caminhada de peregrinos longe do Senhor, até que possamos contemplá-Lo, gloriosamente, face a face. Amém. Aleluia!

Quando abrimos a caverna escura de nossa existência (XIDTCB)

Quando abrimos a caverna escura de nossa existência
 
Sejamos enriquecidos pelas Confissões do bispo Santo Agostinho (Séc. V).

“Que eu Te conheça, ó conhecedor meu! Que eu também Te conheça como sou conhecido! Tu, ó força de minha alma, entra dentro dela, ajusta-a a Ti, para a teres e possuíres sem mancha nem ruga. Esta é a minha esperança e por isso falo.

Nesta esperança, alegro-me quando sensatamente me alegro. Tudo o mais nesta vida tanto menos merece ser chorado quanto mais é chorado, e tanto mais seria de chorar quanto menos é chorado. Eis que amas a verdade, pois quem a faz, chega-se à luz. Quero fazê-la no meu coração, diante de Ti, em confissão, com minha pena, diante de muitas testemunhas.
 
A Ti, Senhor, a cujos olhos está a nu o abismo da consciência humana, que haveria de oculto em mim, mesmo que não quisesse confessá-lo a Ti? Eu Te esconderia a mim mesmo, e nunca a mim diante de Ti.

Agora, porém, quando os meus gemidos testemunham que eu me desagrado de mim mesmo, enquanto Tu refulges e agradas, és amado e desejado, que eu me envergonhe de mim mesmo, rejeite-me e Te escolha! Nem a Ti nem a mim seja eu agradável, a não ser por Ti.

Seja eu quem for, sou a Ti manifesto e declarei com que proveito o fiz. Não o faço por palavras e vozes corporais, mas com palavras da alma e clamor do pensamento. A tudo o Teu ouvido escuta. Quando sou mau, confessá-lo a Ti nada mais é do que não O atribuir a mim.
 
Quando sou bom, confessá-lo a Ti nada mais é do que não O atribuir a mim. 
Porque Tu, Senhor, abençoas o justo, antes, porém, o justificas quando ímpio. Na verdade, minha confissão, ó meu Deus, faz-se diante de Ti em silêncio e não em silêncio porque cala-se o ruído, clama o afeto.
 
Tu me julgas, Senhor, porque nenhum dos homens conhece 
o que há no homem a não ser o espírito do homem que nele está. Há, contudo, no homem algo que nem o próprio espírito do homem, que nele está, conhece.
 
Tu, porém, Senhor, conheces tudo dele, pois Tu o fizeste. Eu, na verdade, embora diante de Ti me despreze e me considere pó e cinza, conheço algo de Ti que ignoro de mim.
 
É certo que 
agora vemos como em espelho e obscuramente, ainda não face a face. Por isto enquanto eu peregrino longe de Ti, estou mais presente a mim do que a Ti e, no entanto, sei que és totalmente impenetrável, ao passo que ignoro a que tentações posso ou não resistir.
 
Mas aí está a esperança, porque és fiel e não permites sermos tentados acima de nossas forças e dás, com a tentação, a força para suportá-la.
 
Confessarei aquilo que de mim conheço, confessarei o que desconheço. Porque o que sei de mim, por Tua luz o sei; e o que de mim não sei, continuarei a ignorá-lo até que minhas trevas se mudem em meio-dia diante de Tua face”.
 
Nada há oculto aos olhos de Deus, ainda que queiramos, pois Ele nos conhece com todas as nossas imperfeições e perfeições; limitações e potenciais; sombras e luzes; clamores e silêncios; quedas e levantamentos; passos firmes ou vacilantes; palavras iluminadas ou palavras que ofuscam a luz que no outro habita.
 
É próprio do amor de Deus nos aceitar como somos, para que, por Suas mãos sendo moldados, sejamos aperfeiçoados.
 
É próprio do Amor de Deus conhecer a quem ama, e quer tão apenas que não nos fechemos a Ele, que não O ignoremos, pois à Sua imagem fomos pensados, criados.
 
Diante de Deus, não tenhamos medo de abrir as portas da caverna de nossa existência, para que a Sua Luz nos ilumine, e luminosos sejamos.

De tal modo, seremos discípulos do amado Filho, e nas trevas jamais caminharemos, pois Ele mesmo disse – “Quem me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12).
 
Peregrinos longe do Senhor ainda, mas Ele jamais longe de nós. Procuremos por Ele e seremos encontrados. Procuremos e O encontraremos.

  

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