terça-feira, 2 de abril de 2024

“Ele Ressuscitou. Não está aqui.” Aleluia!

“Ele Ressuscitou. Não está aqui.”

No primeiro dia da semana, ao nascer do sol, Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e Salomé, tendo comprado perfumes para a unção do corpo de Jesus, tiveram a grande surpresa da pedra muito grande do túmulo removida e apenas encontraram um jovem que assim falou:

Não vos assusteis! Vós procurais Jesus de Nazaré que foi crucificado? Ele Ressuscitou. Não está aqui. Vede o lugar onde O puseram. Ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que Ele irá à vossa frente, na Galileia. Lá O vereis, como Ele mesmo tinha dito” (Mc 16,6-7).

Tendo vivenciado, com empenho e intensidade, o itinerário Quaresmal, e ressoando a Boa-Nova contemplada na proclamação da Vigília Pascal, demos os primeiros passos para o novo itinerário Pascal, na preparação da grande Festa de Pentecostes, o nascimento da Igreja e a comunicação do dom do Espírito Santo, que a conduz com os sete dons.

Voltemo-nos à Palavra dirigida àquelas mulheres no mais belo e radiante amanhecer: “Ele Ressuscitou. Não está aqui”. Não está morto e inerte no túmulo.

Não ficaria morto e derrotado Aquele que nos amou até o fim. A escuridão experimentada pela morte de Jesus foi transformada na mais plena e perfeita luminosidade: a luz do Ressuscitado, que ilumina os caminhos sombrios da história.

“pedra muito grande” do túmulo foi removida, ou seja, nada pode impedir a ação de Deus vivo e verdadeiro, que não abandonou Seu Filho, mas O ressuscitou, glorificando-O, e fazendo com que Ele se sentasse à Sua direita, para reinar sobre todos os povos, em todos os tempos: Juiz dos vivos e dos mortos.

Tendo ressuscitado, confia-nos a continuidade de Sua missão; tendo passado pela morte, em amor intenso e imenso por nós, agora vive junto do Pai, e está presente em nosso meio com o envio do Seu Espírito, que nos assiste nesta divina missão.

Vivamos o Tempo Pascal como tempo do transbordamento da alegria que se percebeu em nosso coração ao celebrarmos o Sábado Santo e o Domingo da Páscoa: o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim de nossa vida, é o vencedor.

Que a nossa alegria seja percebida do mesmo modo como os discípulos se manifestaram ao sentir a presença do Ressuscitado. Como os apóstolos, Pedro e o discípulo que Jesus amava, corramos ao encontro da Boa Notícia: o Senhor Ressuscitou. 

Quem O ama, corre ao seu encontro, vê os sinais de Sua Ressurreição e acredita. Acreditando, anuncia e testemunha, esforçando-se em buscar as coisas do alto onde Ele habita gloriosamente, sentado à direita de Deus (Cl 3,1-2).

Não houvesse Jesus Ressuscitado, vazia seria nossa pregação, ilusória seria a nossa fé, seríamos falsas testemunhas de Deus, como afirmou o Apóstolo Paulo (1 Cor 15,14-15).

“Ele Ressuscitou. Não está aqui”. Este acontecimento mudou o rumo da história. Agora é o nosso tempo, tempo de missão, de fazer o mesmo caminho que fizeram as primeiras testemunhas do Ressuscitado: comunicar Sua Palavra, para a Páscoa de um mundo marcado pela tristeza, desânimo, medo, violência, e outros tantos sinais de morte, para a alegria transbordante, à esperança, à coragem, à paz e à vida plena.

“Ele Ressuscitou. Não está aqui”. Sejamos, pois, sinais de Sua presença viva, em todos os âmbitos de nossa vida. Feliz Páscoa! Aleluia.

Verdadeiramente, uma incrível História de Amor!

                                                 

Verdadeiramente, uma incrível História de Amor!

O Amor teve a última palavra! 
Morte onde está tua vitória?

Reflitamos a partir de um dos Sermões de Santo Anastácio de Antioquia (Séc. XV),  sobre a incrível História de Amor que não conheceu final, pois Deus nos ama e nos amará sempre.

“Cristo, por Suas palavras e ações, revelou que era verdadeiro Deus e Senhor do universo. Ao subir para Jerusalém com Seus discípulos, dizia-lhes:

Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos  gentios, aos sumos sacerdotes e aos mestres da Lei, para ser escarnecido, flagelado e crucificado (Mt 20,18.19). Fazia, na verdade, estas afirmações em perfeita consonância com as predições dos profetas, que haviam anunciado Sua morte em Jerusalém.

Desde o princípio, a Sagrada Escritura havia predito a morte de Cristo com os sofrimentos que a precederiam, e também tudo quanto aconteceu com Seu corpo depois da morte; predisse igualmente que Aquele a quem tudo isto sucedeu é Deus impassível e imortal.

De outro modo, nunca poderíamos afirmar que era Deus se, ao contemplarmos a verdade da encarnação, não encontrássemos nela razões para proclamar, com clareza e justiça, uma e outra coisa, ou seja, Seu sofrimento e Sua impassibilidade.

O motivo pelo qual o Verbo de Deus, e, portanto, impassível, Se submeteu à morte é que, de outra maneira, o homem não podia salvar-se. Este motivo somente Ele o conhece e aqueles aos quais revelou. De fato, o Verbo conhece tudo o que é do Pai, como o Espírito que esquadrinha tudo, mesmo as profundezas de Deus (1Cor 2,10).

Realmente, era preciso que Cristo sofresse. De modo algum a Paixão podia deixar de acontecer. Foi o próprio Senhor quem declarou, quando chamou de insensatos e lentos de coração os que ignoravam ser necessário que Cristo sofresse, para assim entrar em Sua glória. Por isso, veio ao encontro do Seu povo para salvá-lo, deixando aquela glória que tinha junto do Pai, antes da criação do mundo.

Mas a salvação devia consumar-se por meio da morte do autor da nossa vida, como ensina São Paulo: Consumado pelos sofrimentos, Ele Se tornou o princípio da vida (cf. Hb 2,10).

Deste modo se vê como a glória do Filho unigênito, glória esta que por nossa causa Ele havia deixado por breve tempo, foi-lhe restituída, por meio da Cruz, na carne que tinha assumido. É o que afirma São João, no seu Evangelho, ao indicar qual era aquela água de que falava o Salvador:

Aquele que crê em mim, rios de água viva jorrarão do seu interior. Falava do Espírito, que deviam receber os que tivessem fé n'Ele; pois ainda não tinha sido dado o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado (Jo 7,38-39); e chama glória a Morte na Cruz. Por isso, quando o Senhor orava, antes de ser crucificado, pedia ao Pai que o glorificasse com aquela glória que tinha junto d'Ele, antes da criação do mundo”.


Quantas vezes contemplamos, meditamos sobre a real necessidade do sofrimento de Cristo para entrar em Sua glória!

Oportuno é este Sermão no fortalecimento de nossa espiritualidade para que esta incrível História de Amor perpetue na adoração e fidelidade a Ele que agora vive e reina em nosso meio.

A Ressurreição de Jesus, o Filho amado, pelo Pai foi eternizado o Amor, e a vida; a morte foi destruída pelo Seu aniquilamento, Paixão e Morte!

Concluindo:

Servo amado, passível de todo sofrimento e dor,
Escreveu página inédita e indispensável de amor.
Poderia ter ficado deitado eternamente no leito de morte...
Quem à humanidade veio gestar para nova vida e sorte?

Que amor! Que incrível História de Amor!
Crer em sua Ressurreição é não conhecer o fim da mesma.
É escrever a cada dia uma nova página com Ele Vitorioso.
Ele Vive, Ele reina, à direita do Pai: Senhor e Glorioso!

Aleluia! Aleluia! Aleluia!

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Carta da 5ª Romaria das águas e da Terra da Bacia do Rio Doce


Carta da 5ª Romaria das águas e da Terra da Bacia do Rio Doce

Tema: Bacia do Rio Doce, nossa Casa Comum
Lema: Aos pés do bom Jesus, cuidar da Mãe Terra, das Águas e da Vida

Queridos irmãos e irmãs

Nossa 5ª Romaria das Águas e da Terra da Bacia do Rio Doce está sendo celebrada neste de 15 a 19 de julho de 2020, por meio das mídias sociais.

Refletimos sobre o temaBacia do Rio Doce, nossa Casa Comum” e o lema “Aos pés do Bom Jesus, cuidar da Mãe Terra, das Águas e da Vida”.

Esta Romaria foi programada para ser celebrada no Santuário do Bom Jesus, em Conceição do Mato Dentro, Diocese de Guanhães – MG, mas devido a este tempo de quarentena que nos foi imposto, não por nossa própria vontade, mas pela dolorosa imposição da pandemia do coronavírus, que vem disseminando a covid-19 e ceifando milhares de vida, tivemos que realiza-la de forma não presencial, mas aguardando o tempo oportuno para realizá-la presencialmente no ano de 2021.

Contamos com a participação da comissão do Meio Ambiente da Arquidiocese de Mariana, Comissão da Romaria da Diocese de Guanhães e Caritas Regional Minas Gerais.

Dom Otacílio Ferreira de Lacerda, bispo da Diocese de Guanhães e Bispo Referencial da  Comissão Episcopal para a Ação Social Transformadora do Regional Leste 2 da CNBB, acolheu nossa Romaria e a presidência da Celebração Eucarística na Catedral de São Miguel e Almas, no dia 19 de julho, às 10horas.

Nessa 5ª Romaria celebramos também os 5 anos da Carta Encíclica do Papa Francisco Laudato Si, que é um importante documento na defesa de uma ecologia integral, do meio ambiente e no cuidado com a criação divina, na nossa Casa Comum.

Urge recordar que o meio ambiente é um bem coletivo, patrimônio de toda a humanidade e responsabilidade de todos (LS 95) e que o princípio da maximização do lucro, que tende a isolar-se de todas as outras considerações, é uma distorção conceitual da economia (LS 195).

E ainda, adverte-nos o Papa Francisco de que não podemos ser testemunhas mudas das gravíssimas desigualdades, quando se pretende obter benefícios significativos, fazendo pagar ao resto da humanidade, presente e futura, os altíssimos custos da degradação ambiental (LS 36).

Somos todos desafiados a adotar um comportamento inspirado no princípio de que formamos uma única família humana, que tudo está interligado nesta Casa Comum, e que o genuíno cuidado de nossa própria vida e de nossa relação com a natureza é inseparável da fraternidade, da justiça e da fidelidade aos outros. Portanto, não podemos aceitar o custo dos danos provocados pela negligência egoísta das atividades minerárias, pois este é muitíssimo maior do que o benefício econômico que se possa obter.

Nossa Romaria quer ser o eco de tantos gritos e a expressão solidária e esperançosa de numerosas pessoas, família, comunidades e grupos étnicos que sofrem direta ou indiretamente por causa das consequências, muitas vezes negativas das atividades mineradoras.

É também um grito profético contra a extração de tantos bens minerários em nosso solo que, paradoxalmente, não tem produzido conforto e dignidade para as populações locais que permanecem pobres e o meio ambiente degradado.

Um grito de dor em reação às violências, ameaças e corrupção; um grito de tristeza e impotência pela poluição das águas, do ar e dos solos; um grito de incompreensão pela ausência de processos inclusivos e de apoio por parte das autoridades civis, locais e nacionais, que têm o dever de promover o bem comum.

Um grito de alerta contra esse modelo depredatório e desumano que parece não ter fim e que permitem a existência de mais de 700 barragens de rejeito somente em Minas Gerais, dentre as quais, 43 em alto risco de rompimento, algumas com potencial maior do que as de Mariana e Brumadinho, causadoras de danos humanos e ambientais irreversíveis como a contaminação das águas, da fauna e da flora nas Bacias do Rio Doce e São Francisco.

Queremos ser solidários aos sofrimentos e alegrias de cada pessoa e de toda criação divina (1Cor 12, 25 e Rom 8, 14), reerguendo as mãos enfraquecidas e os joelhos calejados (Hb 12,12), e também edificar uma Igreja samaritana que é capaz de ver, sentir compaixão e cuidar da vida em todas as suas dimensões.

Sejamos fortalecidos nesta Romaria da Vida pelo testemunho de tantos profetas e profetizas, de ontem e de hoje, de perto e de longe, quais discípulos missionários que doaram suas vidas no anúncio do Evangelho da Vida, na defesa dos povos e do meio ambiente.

Que sob a proteção do Senhor Bom Jesus, sejam renovadas e revigoradas nossas esperanças e nossas lutas por uma ecologia integral.

Diocese de Guanhães – MG, 19 de julho de 2010



Dom Otacilio Ferreira Lacerda
Bispo da Diocese de Guanhães - MG               
Bispo Referencial da Comissão para Ação Social Transformadora da CNBB Leste 2

Pe. Nelito Nonato Dornelas
Representante da Comissão do Meio Ambiente da Província Eclesiástica de Mariana
Assessoria de formação da Comissão para Ação Social Transformadora da CNBB Leste 2


Rodrigo Pires Vieira
Secretário Executivo da Comissão para Ação Social Transformadora da CNBB Leste 2


“O amor é um abismo de luz, uma fonte de fogo”


“O amor é um abismo de luz, uma fonte de fogo”

O monge São João Clímaco (séc. VI) nos apresenta, no trigésimo degrau da Escada Santa, “o amor”, como vemos:

“O amor: sua natureza e semelhante a Deus (...) sua ação: embriaguez da alma; sua força própria: fonte da fé, abismo de paciência, oceano de humildade.

O amor, a liberdade interior e a adoção filial não se distinguem senão pelo nome, como a luz, o fogo, a chama.

Se o rosto de um ser amado (...) nos torna felizes, que não fará a força do Senhor quando vier secretamente habitar a alma purificada?

O amor é um abismo de luz, uma fonte de fogo. Quanto mais ele corre, mais queima aquele que tem sede (...) Eis porque o amor é uma progressão eterna”.

Ser discípulo missionário é propor-se a subir esta “escada santa”, degrau por degrau, até chegar ao seu ápice, que consiste no amor.

Asim somos conhecidos como discípulos do Senhor: se nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou, assim como ele próprio afirmou (Jo 13,35).

Roguemos a Deus, para que jamais desistamos desta subida, incansavelmente, até que alcancemos este “abismo de luz” e “fonte de fogo”, como nos falou o monge.

É tempo de formar comunidades que vivam como as primeiras comunidades cristãs, perseverantes na Doutrina dos Apóstolos, na fração do Pão, na comunhão fraterna e na oração.

Tudo isto em perfeita sintonia com as novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil (2019-2023), a fim de construirmos comunidades como uma casa, com seus quatro pilares indispensáveis: o pilar da Palavra, do Pão, da Caridade e da ação missionária.


PS: A Escada Santa, 30º degrau – citado em Fontes: Os Místicos Cristãos dos primeiros séculos – textos e comentários – Edições Subíaco – p.224

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé (parte I)


A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé

Após a Consagração do Pão e do Vinho na Missa, quando o Padre diz –“Eis o Mistério da fé”, a Assembleia aclama com uma destas fórmulas:

- “Anunciamos, Senhor, a Vossa morte e proclamamos a Vossa Ressurreição. Vinde Senhor Jesus!”;

- “Todas as vezes que comemos deste Pão e bebemos deste Cálice, anunciamos, Senhor, a Vossa Morte, enquanto esperamos a Vossa vinda!”;

-  “Salvador do mundo, Salvai-nos, Vós que nos libertastes pela Cruz e Ressurreição”.

- Mas o que é a Ressurreição de Jesus para a fé cristã?
- Qual o conteúdo do que proclamamos piedosamente, em cada Celebração Eucarística?

Apresento algumas passagens do “Verbete Ressurreição”, que muito nos ajudará a aprofundar sobre esta verdade fundante de nossa fé, pois, se Cristo não Ressuscitou, vazia e ilusória é a nossa fé e pregação, como disse o Apóstolo Paulo (1 Cor 15, 1-34), e ainda: “Com efeito, nós cremos que Jesus morreu e Ressuscitou” (1 Ts 4,14).

Para o Apóstolo, a Ressurreição é a pedra angular do Mistério de Cristo, o critério absoluto da verdade do Evangelho que anunciou; é de fato, o Mistério central do anúncio cristão: desde o início é o fundamento da fé e o conteúdo essencial da pregação.

Em várias passagens, ele nos fala da aparição do Ressuscitado: Atos 16,9; 18, 9; 22. 17s): Cefas (Pedro – chefe dos Apóstolos), os Doze, mais de quinhentos irmãos; Tiago, chamado “O Menor” todos os Apóstolos e a ele próprio no caminho de Damasco.

A fé na Ressurreição é “o fio dourado da esperança que reuniu na fé os vinte séculos de cristianismo...

A Ressurreição foi a batalha decisiva de uma guerra já vencida, mas que ainda não terminou. Mesmo se na história as hostilidades ainda continuam e nem todos reconheceram a importância definitiva dessa batalha, ela já significa a vitória” (1)

De fato, a Ressurreição consiste no “coroamento da história e a confirmação de que a salvação do homem não é uma utopia, mas uma realidade.

Como vitória decisiva sobre o mal e sobre todos os limites humanos e como premissa e primícias da nossa Ressurreição, ela dá um impulso decisivo ao compromisso do cristianismo no mundo e à sua esperança no futuro” (2)

A Ressurreição de Jesus é o Mistério central de nossa fé. Desde os primeiros dias da Morte de Jesus, foi a Verdade que fez os discípulos recobrarem as forças, porque sentiram a Sua presença vitoriosa.

Também nós a sentimos, de modo especialíssimo, em cada Ceia Eucarística que celebramos, quando muito mais do que repetir, proclamamos e cremos:

“Anunciamos Senhor a Vossa Morte e proclamamos a Vossa Ressurreição. Vinde Senhor Jesus!”

(1) (2) Dicionário de Homilética – Verbete Ressurreição – p. 1489. 

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé (Parte II)

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé

Ressurreição, evento inesperado e fonte de compreensão do Mistério de Jesus.

Os quatro Evangelhos nos apresentam o acontecimento da Ressurreição, num contexto em que os discípulos se encontravam profundamente desanimados, desiludidos e inquietos (e não por acaso, haja vista o fim inglório de seu Mestre).

- Como manter o entusiasmo despertado na experiência da Transfiguração (Mc 9,2-10; Mt 17,1-9; Lc 9,28-36), e pelos milagres testemunhados com os próprios olhos, as ressurreições realizadas: a filha de Jairo (Mc 5,21-24.35-43), o filho da viúva de Naim (Lc 7,11-17), Lázaro de Betânia (Jo 11,1-45)?

A morte de Jesus provocou um sofrimento tão profundo que anulou toda esperança, de modo que foi necessária uma longa pedagogia de encontros e de provas sobre a realidade do Ressuscitado:

- Deixar-Se tocar por Tomé (Jo 20,27);
- Caminhar com os discípulos de Emaús (Lc 24, 15);
- Comer com eles (Lc 24,42-43; Jo 21,10-12).

Voltemo-nos, de modo especial, para a passagem da caminhada de Jesus com os discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35):

Caminhavam desiludidos, entristecidos, afinal viram ocorrer o naufrágio do sonho de liberdade:

– “Nós esperávamos que Ele seria o que devia libertar Israel. Mas, com tudo isso, já é o terceiro dia que esses fatos se deram” (Lc 24,19-21).
     
De fato, o “evento da Paixão e Morte havia provocado neles desânimo e até a negação. Pedro que confessara Jesus como ‘o Cristo, o Filho do Deus vivo’ (Mt 16,16), diante de Jesus aprisionado e humilhado (Mt 26,67) admite não O reconhecer mais.” (1)

Mas a Ressurreição foi o acontecimento inesperado “... que ofereceu aos discípulos a verdadeira compreensão de Jesus. A luz da Páscoa ilumina em sua autêntica realidade a história terrena de Jesus, pela qual os discípulos passam de um reconhecimento superficial e incompleto à confissão convicta, ao anúncio inabalável, até a entrega da própria vida no martírio.

É a Ressurreição que de fato restitui a Pedro e aos discípulos a fé e o entusiasmo em Jesus, tornando-os difusores tenazes e perseverantes do seu Evangelho de Salvação” (2)

A Ressurreição é, portanto, o não naufrágio dos sonhos, da esperança, da liberdade, da vida.

Com Ela renovam-se as forças, pois está Vivo, com os discípulos, com a Igreja, Aquele que sempre estivera, mas agora Ressuscitado e  Glorioso, como dissera.

A ausência de inteligência de alguns e a lentidão para crer de outros, ou ambas presentes no coração e na mente dos discípulos, foram dissipadas aos poucos, quando o próprio Ressuscitado Se deu a conhecer, e a eles comunicou a Sua presença e Palavra.



(1) (2) Dicionário de Homilética – Verbete Ressurreição – p. 1492.

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé (Parte III)


A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé

Ressurreição de Jesus, um evento transcendente e, ao mesmo tempo, real e histórico.

Qual foi o cenário real, após a Morte de Jesus, na vida dos discípulos?

Eles ficaram tristes, temerosos, céticos, incrédulos, duros de coração e cheios de dúvida, sem inteligência e lentos para crer (Lc 24,18; Mc 16, 4: Mt 28,17: Lc 24,37).

Evidentemente, somente um grande acontecimento conseguiria mudá-los, leva-los a retomar a missão confiada por Jesus, quando ainda Se encontrava no meio deles.

Somente a Ressurreição de Jesus reestabeleceria o primeiro entusiasmo e lhes devolveria a coragem, o ardor, a ousadia para anunciarem, a partir de Jerusalém, para todo o mundo, como alegres e convictas testemunhas da Ressurreição de Jesus e da Vida Nova que Ele tem a oferecer à humanidade.

Enquanto acontecimento transcendente, Jesus foi restituído com a Sua humanidade à vida gloriosa, plena e imortal de Deus, de modo que Seu corpo Ressuscitado “...mesmo mantendo Sua identidade e realidade humana, foi habilitado a viver eternamente na comunhão divina trinitária.

Ocorre a transfiguração gloriosa do corpo, que se torna, como diz São Paulo, um corpo ‘pneumático’ (espiritual: 1 Cor 15,44) no sentido forte de corpo inteiramente penetrado pelo sopro vital do Espírito criador de Deus, que o transformou de corruptível em incorruptível, de desprezível em glorioso, de fraco em forte (1Cor 15,42-43).” (1)

Enquanto acontecimento histórico e real, podemos afirmar fundamentados nos testamentos simultâneos e abundantes pelos diversos escritos do Novo Testamento: “Ela de fato constitui o ponto alto dos quatro Evangelhos e a linha vermelha que une a pregação eclesial desde Pedro até nossos dias” (p 1494).

Segundo o Catecismo da Igreja Católica (n.647), a passagem instantânea da humanidade de Jesus da morte à vida divina trinitária, é um evento essencialmente transcendente e meta-histórico, mas continua mantendo “...sólido e fundamentado vínculo com a história mediante a constatação do sepulcro vazio e a realidade das aparições, que constituem um misterioso encontro entre transcendência de Deus e imanência do homem, entre eternidade e tempo.

Por essa sua intrínseca natureza ‘do alto’, deixar-se reconhecer é um dom de graça do Ressuscitado” (2)

Em todas as manifestações do Ressuscitado, culminando em seu reconhecimento, foi sempre uma iniciativa e prerrogativa divina, não uma iniciativa humana:

É Ele quem Se dá a conhecer, que Se manifesta, que chama pelo nome, que partilha o Pão com os discípulos de Emaús, assim como o reconhecimento por Maria Madalena na madrugada da Ressurreição, quando fez uma refeição com gosto Eucarístico com os discípulos à beira do Lago de Tiberíades ( Jo 21, 1-14).

As aparições de Jesus Ressuscitado é o tocar a história, e com este contato pôde ser documentado pelos autores da Sagrada Escritura.

Evidentemente que não se trata de “uma historicidade imediata, mas mediata.

Os Evangelhos não testemunham a Ressurreição no momento preciso em que ela ocorre no tempo: só o Evangelho apócrifo de Pedro ousa apresentar de modo grosseiro o momento da Ressurreição de Jesus, descrevendo um fantasma enorme que se eleva até o céu. Imediatamente a histórica capta a fé dos discípulos no Cristo Ressuscitado com base nos dois fatos concretos do sepulcro vazio e do ciclo das aparições” (3).

Com isto, podemos afirmar, a partir da fé, que a Ressurreição não se trata de revivescência (CIC 646), nem imortalidade da alma, nem reencarnação e tão pouco uma simples lembrança de Jesus e dos Seus Ensinamentos que teria provocado na mente dos discípulos a convicção de uma presença d’Ele depois de Sua morte.

Afasta-se qualquer possibilidade de afirmar que a Ressurreição é uma criação psicológica dos discípulos, mas trata-se de um evento concreto, referiu-se essencialmente a Jesus e à volta à vida eterna do Seu corpo mortal:  

“...foi o encontro com Jesus Ressuscitado que provocou nos discípulos a fé na Ressurreição e não o contrário. A Ressurreição não foi a consequência, mas a causa da fé dos discípulos.

Não se tratou de uma realidade criada pelos discípulos por fraude (como queriam os sumos sacerdotes e os fariseus (Mt 27, 62-65), por alucinação (segundo interpretações racionalistas ultrapassadas) ou por conversão pós-pascal aos ensinamentos de Jesus, independentemente das aparições e do sepulcro vazio (segundo uma linha de interpretação contemporânea)” (4).

A Ressurreição e quaisquer outros termos indicam a volta à vida d’Aquele que havia morrido, e mais precisamente o retorno do corpo morto de Jesus à vida Trinitária.

Deste modo, a Sagrada Escritura também chama a Ressurreição de exaltação, glorificação, senhorio cósmico, entrada no santuário celeste (Hb 9, 11-12), presença viva (1 Cor 13,4; Rm 14,9).



(1) (4) Dicionário de Homilética – Verbete Ressurreição – p. 1493.
(2) (3) Idem – p. 1494.

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