“Creio
na Ressurreição da carne, na vida eterna...”
Reflexão da
passagem do Evangelho de São João (Jo 12,20-33), proclamado no quinto Domingo
da Quaresma, à luz do Sermão escrito por São João Crisóstomo (séc. IV).
“O que significa:
Se o grão de trigo não cai na terra e não
morre? Ele fala da crucificação.
Para que não se perturbassem ao ver que Ele condenava a morte, justamente
quando os gentios se aproximavam d’Ele, lhes diz: ‘É precisamente isto que os fará vir a mim; isto é o que estenderá o
anúncio’.
Em seguida, como
não conseguia persuadi-los totalmente com as Suas palavras, os estimula
colocando-lhes diante da experiência e lhes diz: ‘O mesmo acontece com o trigo, que quando morre aí é que frutifica; Se
nas sementes acontece isso, muito mais acontecerá em mim’.
Porém, os
discípulos não entenderam Suas palavras. E o evangelista repete com frequência
este dado, para escusá-los, visto que se dispersarão. Também Paulo fez alusão
ao grão de trigo quando falou da ressurreição.
Que desculpa
terão os que não creem na ressurreição? Porque cada dia podemos vê-la nas
sementes, nas plantas e nas gerações humanas. Primeiro é necessário que a
semente se corrompa, para que a partir disso ocorra a brotação.
Falando de forma
geral, quando é Deus quem realiza algo, não se necessitam explicações. Como Ele
nos criou do nada? Isto eu digo aos cristãos que professam crer nas Escrituras.
Porém, acrescentarei algo mais do raciocínio humano.
Alguns homens são
maus; outros são bons. Dos que são maus, muitos chegaram à idade avançada com
prosperidade, enquanto que aos bons lhes aconteceu tudo ao contrário. Então
quando, em que momento cada um receberá o que merece? Tu insistes dizendo: ‘Sim!, porém os corpos não ressuscitam’.
Estes não ouvem a
Paulo que diz: ‘E necessário que o
corruptível se revista de imortalidade. Ele não fala da alma, pois a alma
não é corruptível; e a ressurreição é própria de quem morreu; e é o corpo que
morreu.
Mas por que não
admites a ressurreição da carne? Será, por acaso, impossível pra Deus?
Afirmá-lo seria recorrer o extremo da necessidade. Mas não convém? Por que não
convém que este elemento corruptível, que padeceu os sofrimentos e a morte,
participe das coroas?
Se não conviesse,
nos princípios nem sequer teria sido criado o corpo. Nem Cristo teria assumido
nossa carne. Porém, Ele de fato a assumiu e ressuscitou, ouve como ele mesmo o
afirma: Coloca aqui teus dedos e vede que
os espíritos não têm carne nem ossos.
Por que
ressuscitou a Lázaro desta forma, se era melhor ressuscitar sem corpo? Por que
colocou a ressurreição no número dos milagres e dos benefícios? Por que para a
ressuscitada lhe proporcionou alimentos?
Em consequência,
caríssimos, que os hereges não vos enganem. Existe a ressurreição, existe o
juízo. Os negam todos os que não querem dar conta de suas obras. É necessário
que a ressurreição seja como foi a de Cristo. Ele é primícia e o primogênito
dentre os mortos.” (1)
A fé na
Ressurreição é o mistério central da nossa fé, que nos move em todos os
momentos, sobretudo nos momentos adversos, e o cume deles, a morte.
Crer no Mistério
da Fé, na Ressurreição de Jesus, dá um novo sentido para a existência humana e
seu fim último, a vida eterna, passando necessariamente pela morte.
Crer na Ressurreição
do Senhor, como rezamos ao professar a fé, abre sempre novas perspectivas para
quem crê n’Ele, em premente atitude de resistência a dor e a morte, num
encantamento pela vida, com sagrados compromissos com a Boa-Nova do Reino, para
que tenhamos vida plena desde já, e, um dia, eternamente na glória dos céus.
Crendo na
Ressurreição, empenhemo-nos para que um dia também possamos nos céus, com
aqueles que nos antecederam, nos encontrarmos, na plenitude do Amor Trinitário
com todos os anjos e santos. Amém.
Renovemos em
nós a graça batismal, e, assim, vivamos o tempo presente com inadiáveis e
santos compromissos com a vida e sua sacralidade, e professemos nossa fé, à luz
do Símbolo Niceno-Constantinopolitano:
“Creio
em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas
visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo...”
(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pp.321-322
PS: Oportuno para reflexão da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 20,27-40)
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