segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Mensagem para o 46º Dia Mundial da Paz (Papa Bento XVI) (segunda parte) (2013)

Mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz

“Bem aventurados os que promovem a paz ,
porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9)

Em vários parágrafos acentua a beleza e a dignidade da vida na sua integridade, exortando o respeito pela vida humana em todas as suas dimensões.

Transcrevo literalmente suas palavras:
Caminho para a consecução do bem comum e da paz é, antes de mais nada, o respeito pela vida humana, considerada na multiplicidade dos seus aspectos, a começar da concepção, passando pelo seu desenvolvimento até ao fim natural.

Assim, os verdadeiros obreiros da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida humana em todas as suas dimensões: pessoal, comunitária e transcendente. A vida em plenitude é o ápice da paz. Quem deseja a paz não pode tolerar atentados e crimes contra a vida.

Aqueles que não apreciam suficientemente o valor da vida humana, chegando a defender, por exemplo, a liberalização do aborto, talvez não se deem conta de que assim estão a propor a prossecução duma paz ilusória.

A fuga das responsabilidades, que deprecia a pessoa humana, e mais ainda o assassinato de um ser humano indefeso e inocente nunca poderão gerar felicidade nem a paz...

Tão pouco é justo codificar ardilosamente falsos direitos ou opções que, baseados numa visão redutiva e relativista do ser humano e com o hábil recurso a expressões ambíguas tendentes a favorecer um suposto direito ao aborto e à eutanásia, ameaçam o direito fundamental à vida”.

Faz uma longa defesa para que se promova e estrutura natural do matrimônio, como união entre um homem e uma mulher, contra “... as tentativas de a tornar, juridicamente, equivalente a formas radicalmente diversas de união que, na realidade, a prejudicam e contribuem para a sua desestabilização, obscurecendo o seu carácter peculiar e a sua insubstituível função social.”

Não passa indiferente para o Papa a defesa da liberdade de expressão religiosa, o perigo das ideologias do liberalismo radical e da tecnocracia, fomentando uma mentalidade de que o crescimento econômico se deve conseguir mesmo à custa da erosão da função social do Estado e das redes de solidariedade da sociedade civil, bem como dos direitos e deveres sociais.

Aborda com propriedade sobre um dos direitos e deveres mais ameaçados, o trabalho; e tem plena convicção de que construir o bem da paz se dá através de um novo modelo de desenvolvimento e de uma nova visão da economia.

São animadoras e comprometedoras suas palavras, de modo que ninguém pode ser omisso:

“Para sair da crise financeira e econômica atual, que provoca um aumento das desigualdades, são necessárias pessoas, grupos, instituições que promovam a vida, favorecendo a criatividade humana para fazer da própria crise uma ocasião de discernimento e de um novo modelo econômico.

O modelo que prevaleceu nas últimas décadas apostava na busca da maximização do lucro e do consumo, numa óptica individualista e egoísta que pretendia avaliar as pessoas apenas pela sua capacidade de dar resposta às exigências da competitividade.

É preciso relações de lealdade e reciprocidade com os colaboradores e os colegas, com os clientes e os usuários, de modo que a pessoa que “... exerce a atividade econômica para o bem comum, vive o seu compromisso como algo que ultrapassa o interesse próprio, beneficiando as gerações presentes e futuras.

Deste modo sente-se a trabalhar não só para si mesmo, mas também para dar aos outros um futuro e um trabalho dignos.”

Mensagem para o 46º Dia Mundial da Paz (Papa Bento XVI) (parte final) (2013)


Mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz

“Bem aventurados os que promovem a paz ,
porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9)

Em relação à Educação para uma cultura da paz ressalta o papel imprescindível da família e das instituições, de modo que os obreiros da paz “... são chamados a cultivar a paixão pelo bem comum da família e pela justiça social, bem como o empenho por uma válida educação social.”

A família cristã, de modo muito especial, guarda em si o primordial projeto da educação das pessoas segundo a medida do amor divino.

Afirma: “A família é um dos sujeitos sociais indispensáveis para a realização duma cultura da paz. É preciso tutelar o direito dos pais e o seu papel primário na educação dos filhos, nomeadamente nos âmbitos moral e religioso. Na família, nascem e crescem os obreiros da paz, os futuros promotores duma cultura da vida e do amor”.

A Igreja tem papel fundamental nesta grande responsabilidade “... através da nova evangelização, que tem como pontos de apoio a conversão à verdade e ao amor de Cristo e, consequentemente, o renascimento espiritual e moral das pessoas e das sociedades.

O encontro com Jesus Cristo plasma os obreiros da paz, comprometendo-os na comunhão e na superação da injustiça.”

Papel também especial em favor da paz possuem as instituições culturais, escolásticas e universitárias – “Delas se requer uma notável contribuição não só para a formação de novas gerações de líderes, mas também para a renovação das instituições públicas, nacionais e internacionais...”

Acena para uma necessária pedagogia do obreiro da paz que “... requer uma vida interior rica, referências morais claras e válidas, atitudes e estilos de vida adequados... é necessário ensinar os homens a amarem-se e educarem-se para a paz, a viverem mais de benevolência que de mera tolerância... dizer não à vingança, reconhecer os próprios erros, aceitar as desculpas sem as buscar e, finalmente, perdoar, de modo que os erros e as ofensas possam ser verdadeiramente reconhecidos a fim de caminhar juntos para a reconciliação.

Isto requer a difusão duma pedagogia do perdão. Na realidade, o mal se vence com o bem, e a justiça deve ser procurada imitando a Deus Pai que ama todos os Seus filhos (cf. Mt 5, 21-48).

Em resumo, a pedagogia da paz implica serviço, compaixão, solidariedade, coragem e perseverança, tendo Jesus como a encarnação do conjunto destas atitudes na Sua vida até ao dom total de Si mesmo, até «perder a vida» (cf. Mt 10, 39; Lc 17, 33; Jo 12, 25).

Finaliza convidando a todos que se tornem autênticos obreiros e construtores da paz, para que a cidade do homem cresça em concórdia fraterna, na prosperidade e na paz.



Um novo ano com gestos de compaixão e solidariedade

 


Um novo ano com gestos de compaixão e solidariedade


Iniciar um novo ano, urge que seja vivido “com menos eu e mais nós”, e isto é mais do que necessário, para que vençamos estes momentos tão difíceis marcados por isolamento social, enfermidades, dores da páscoa de amigos e parentes, na espera de dias mais promissores.

Entretanto, somente será possível se o amor verdadeiro for vivido por todos, em todos os lugares, como nos falou o Papa Francisco: “amor que rompe as cadeias que nos isolam e separam, lançando pontes; amor que nos permite construir uma grande família onde todos nos podemos sentir em casa (...) Amor que sabe de compaixão e dignidade” (Fratelli Tutti n.62).

Neste sentido, uma página do Evangelho a iluminar nossos passos, é a parábola do bom samaritano (Lc 10,25-37). Precisamos nos cuidar mutuamente, como o bom samaritano, com gestos de compaixão e solidariedade, curando as feridas de tantos que se encontram “à beira do caminho”, sem vontade de viver e caminhar.

Abramos nosso coração ao outro, e que nossas mãos toquem suas feridas com o bálsamo da atenção, e o enfaixemos com as faixas da ternura e da coragem. 

Feliz ano Novo! 


PS: Escrito em dezembro de 2020

“Sejamos contemplativos na ação”

“Sejamos contemplativos na ação”

Em todo tempo somos convidados a construir a vida sobre o alicerce firme da Palavra de Deus (Mt 7, 21-27).

Precisamos colocá-la no centro de nossa vida de modo que ela ilumine nossos pensamentos, reoriente nossos sentimentos e revitalize nossas ações.

Não basta que sejamos meros ouvintes da Palavra, mas ardorosos praticantes para que possamos entrar no Reino dos Céus.

Não bastam práticas externas de culto, rezas, procissões, terços... Mas a vivência de tudo aquilo que se reza e se celebra.

Não basta ter o nome inscrito no livro de batizados de uma paróquia, fazer parte de um movimento ou apenas dizer que está numa pastoral.

Não basta aparecer na Igreja nos casamentos e funerais, ou momentos especiais ou até mesmo buscar os Sacramentos, sem também procurar todo seu conteúdo vital e existencial que transforma nossa vida…

Não basta o conhecimento mais profundo, exegético, teológico da Palavra Divina, mas sua encarnação quotidiana nas relações com o outro (próximo) e com o Outro (Deus).

Tomando consciência de nossa realidade limitada, passível de pecado, deixando-nos conduzir pela Palavra Divina para acertadas escolhas, para que a Bênção Divina seja, em nós, abundantemente derramada.

Trilhar o caminho da santidade com total confiança, fidelidade, disponibilidade, coerência, amor e serviço na construção do Reino de Deus é preciso.

Assim viveremos as Bem-Aventuranças, realizando o Projeto da felicidade que Jesus nos apresentou, tendo sal em nós mesmos, e sendo luminosos para o mundo, tendo a caverna escura de nossa existência iluminada com a mais bela e resplandecente luz: a Luz Divina!

Que não construamos sobre a areia da superficialidade, do abandono de Deus, dos ritos exteriores que não são a expressão do que se passa no mais profundo de nós... Construir sobre a areia é certeza de construção com trágico desmoronamento...

Que a Palavra seja o sólido firmamento de nossa história. Que cada dia, cada ação seja um tijolo sobre a Rocha da Palavra que é o próprio Cristo Jesus. Nenhum vento ou tempestade desmoronará nossa casa, nossos sonhos, nossos projetos...

Que a Palavra de Deus e a Eucaristia nos alimentem nesta graça concedida por Deus: viver em absoluta fidelidade a Ele, somente assim nossa vida terá sentido. Todo projeto e construção terão êxito.

Concluindo, tudo isto nos leva a pensar na “Espiritualidade Inaciana” que se resume em ser “contemplativos na ação”.

Contemplativos na medida em que olhamos o mundo e sua realidade com os olhos de Deus. Na ação enquanto este olhar nos tira da acomodação e nos leva a agir no mundo, para transformar toda a realidade em que não brilham a Glória de Deus e a felicidade da pessoa humana.

Sejamos contemplativos na ação!
Façamos da Palavra nosso alicerce,
Que ela seja o “centro” de todo nosso existir...
Que o amor à Palavra Divina seja expressão de nosso anseio de encontro e relacionamento mais profundo com Deus, como assim expressou São Francisco de Assis:

“Senhor, quem és Tu? Quem sou eu?
Tu és o meu Tudo; eu sou o Teu nada!” 

Ela está gritando

                                                  

Ela está gritando

“Com efeito, sabemos que toda a criação, até o presente,
está gemendo como que em dores de parto...”
(Rm 8,22)

Posso ouvir seus gritos, porque sugada, pisoteada.
Impossível secar suas lágrimas, porque são como um mar.
Há que se ter um limite para ambição desmedida,
Sobretudo quando movida pelo interesse insano
Da produção, consumo, venda e lucro sem fim.

Posso ouvir seus gemidos, clamores subindo aos céus;
Ela não suporta nossa arrogância e falta de escrúpulos,
Com exploração abismal, graves consequências,
Muitas vezes, pagas por vidas de pobres e indefesos,
Que se sobrevivendo, sem direitos sagrados garantidos.

Posso ouvir seus suspiros profundos de esperança,
Como que dizendo: “convertam-se, enquanto é tempo!”
Retomemos o projeto do Criador no Paraíso:
“Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra” (Gn 1,18),
Desde que “dominar” não seja sinônimo de “destruição”!

Ela, nossa “casa comum”, Planeta Terra, apesar do que façamos,
Por desígnio divino, nos sacia, como um milagre, todos os dias,
Como rezamos ontem, hoje e sempre com o Salmista:
“Eu o sustentaria com a fina flor do trigo e
saciaria com o mel que escorre da rocha” (Sl 81,16).

Ela está gritando, agonizando...
Urge rever com ela nossa postura.
Amar e cuidar de nossa casa comum,
Recriar o Paraíso, sem adiamento,
Missão que Deus a nós confia. Amém.

O que se pode esperar?

 


O que se pode esperar?

Tudo o que eu quero é uma página em branco, para expressar o que sinto ao começar este ano, considerando tudo o que aconteceu no ano que passou, e que marcou para sempre a história da humanidade.

Como tudo de repente caiu, desmoronou e a um pesadelo prolongado, fomos submetidos, e por uma nuvem sombria, fomos todos envolvidos, independentemente de qualquer condição.

Olhando para o novo ano, o que dele se pode esperar, para que possamos sóbrios e sadios viver, escrevendo novas linhas de nossa história?

Esperar e contribuir, para que logo tenhamos a vacina tão esperada, e não apenas para poucos, mas para todos, sem resquícios de desigualdade de acesso devido à condição social.

Jamais compactuar com discursos negacionistas em relação à ciência, ou quaisquer posturas que roubem a dignidade e a beleza da vida, para que lágrimas sejam enxugadas, dor, pranto e luto evitados.

Coragem de rever necessárias atitudes, para superação de posturas individualistas, consumistas, e jamais compactuar ou promover a insana globalização da indiferença.

Cultivar a cultura do cuidado de si, do outro e da Casa Comum, como caminho para a verdadeira paz, como tão bem expressou o Papa Francisco em sua mensagem recente para o Dia Mundial da Paz.

Oferecer nossa quota de sacrifício e renúncia, para que não coloquemos a vida de ninguém em risco, na paciência e espera de que possamos logo celebrar a alegria do encontro e do abraço.

Perseveremos no alegre discipulado missionário, em tempos sombrios ou de luz, de lágrimas pela derrota ou vitória, com a confiança inabalável n’Aquele que nos fortalece (Fl 4,13)

Esperamos um ano de aprendizados e sua prática, com o vislumbrar do novo horizonte do inédito que, mais do que desejado, por todos assumido.

Aprendizado do silêncio orante, a fim de que sejamos meditativos e contemplativos diante do Mistério da Vida e da Morte, configurados ao Cristo Bom Pastor, que nos conduz e nos concede vida plena e feliz (Jo 10,10).

Abrir-se à ação do Deus Uno e Trino, a fim de que nos conceda o colírio da fé, para que jamais percamos a divina esperança, e nada impeça a ação dos que acreditam na virtude da caridade, pois ela jamais passará (1Cor 13,1-13). Amém.



PS: Reflexão escrita em 2021, com o intuito de incentivar a adesão de todos à campanha de imunização contra a Covid-19, que em breve deverá ser iniciada em nosso País.   

Não deixemos que falsas informações nos levem a prescindir à cura do nosso corpo, lembrando que é nosso dever, como cristãos, cuidarmos uns dos outros, e a vacina nos propicia como uma das possiblidades.


domingo, 31 de dezembro de 2023

Das sombras à luz

                                                             


Das sombras à luz

Em tempo de recolhimento, subi à montanha para rever o que aconteceu neste ano que vai findando com páginas memoráveis agradáveis e outras nem tanto, mas que não podem ser negadas ou olvidadas. De fato um ano extremamente difícil, mas também tivemos bons momentos.

Vi os primeiros dois meses em sua “aparente normalidade”, com viagens, encontros, abraços, consumos, aglomerações, engavetamentos, cansaços, encontros e desencontros, olhos que não se cruzavam, recolhimento e silêncio exilados do quotidiano e muito mais...

No terceiro mês, uma “tempestade”, e demo-nos conta que estávamos no mesmo barco em travessia com seus ventos e tempestades, e mal sabíamos, ou não queríamos tomar conhecimento, do que haveria de vir.

Recolhimento, isolamento social, os fechamentos de igrejas, lojas, shoppings, escolas, universidades, cinemas, teatros, estádios e tantos outros espaços por onde a vida fluía num frenético movimento, mas  de repente, tudo vazio, ruas e praças nuas, e como uma névoa, o silêncio foi nos cobrindo trazendo o medo, o cuidado, e a oração se fez mais do que necessária, para a presença d’Ele sentirmos – “Tende confiança, sou Eu. Não tenhais medo!” (Mt 14,27).

Às nossas vestes incorporamos as máscaras, quando a pandemia nos desnudou, também depondo nossas máscaras, revelando nossa arrogância e posturas de onipotência, e o álcool gel para nos purificar e nos proteger do invisível que nos roubou tantas vidas que já não mais visíveis entre nós.

Um grito de alerta foi dado em todos os cantos:  precisamos de nos purificar de tantos vírus que ceifam vidas de tantos e tantas, e como que não dávamos ouvidos e atenção.

A cada dia uma batalha, e a cada dia uma vitória, e assim se foram os meses deste ano.

Redescobrimos o valor da família, sobretudo como espaço do encontro, do relacionamento, formação bem como do semear e cultivar de sementes de humanidade e fraternidade.

Família, uma pequena Igreja Doméstica, espaço para o encontro com o Divino, em Missas, Encontros e formações virtuais que nos foram e ainda nos são indispensáveis para o revigoramento e não naufragarmos nesta prolongada quarentena, em mar revoltoso,   sem a perda da esperança, pois esperançar é mais do que preciso.

Últimos dias do ano inesquecível temos pela frente, para avaliações e revisão dos rumos, pois ainda persiste o que há muito deveria ser página de um pretérito consumado: fome, feminicídios, xenofobias, preconceitos raciais ou de qualquer outra forma, violência e delírios de onipotência que somente a nós criaturas humanas somos acometidos.

Que o Ano Novo brilhe para todos nós. Sem pandemias, sem pesadelos, mortes somadas e acumuladas em terríveis dados estatísticos, com a vacina para nos livrar de um vírus específico e  as vacinas para outros tantos vírus de tantos outros nomes.

Isto é possível, pois O Verbo se fez Carne e entre nós veio habitar e conosco caminhar (cf. Jo 1,14), por amor incansável, e sem jamais desistir de nós, porque por meio d’Ele tudo foi criado, e por sua Morte e Ressurreição tudo reconciliado.

Supliquemos as luzes do Espírito em todos os instantes de nossa vida, na hora das pequenas ou grandes decisões, e assim algo novo há de surgir no horizonte da humanidade, afinal são as virtudes divinas que nos conduzem e nos movem: fé, esperança e caridade.

“Vinde Espírito Santo, e enchei o coração dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso amor...”


PS: Escrito em  dezembro de 2020


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