sábado, 8 de março de 2025

Vai nascer a flor...

                                                        

Vai nascer a flor...

Da esperança, na planície árida dos desesperados.
Da confiança, na planície inconstante dos inseguros.
Da alegria, na planície obscurecida dos entristecidos.
Da ação, na planície inibidora de sagrados compromissos.

Vai nascer a flor...

Da pureza, no cume da montanha, no coração dos inocentes.
Da verdade, no cume da montanha dos que não se curvam à mentira.
Da liberdade, no cume da montanha dos que a nada se escravizam.
Da sinceridade, no cume da montanha, dos que são transparentes.

Vai nascer a flor... 

Da acolhida, no vale dos que são rejeitados.
Da ternura, no vale dos que suplicam atenção.
Da valorização, no vale dos que são pisoteados.
Da dignidade sagrada, no vale dos que são violados.

Vai nascer a flor... 

Da fé, no abismo profundo do coração dos que não esmorecem.
Da esperança, no abismo profundo do coração dos que não vacilam.
Da caridade, no abismo profundo do coração dos que cultivam o amor.
Das virtudes divinas, que fazem florir o mais belo jardim.

Vai nascer a flor... 

De mil nomes possíveis, no canteiro imenso do mundo,
Porque assim faz Deus com Suas sementes imensuráveis,
Se acolhidas e regadas com Oração, e por vezes com lágrimas,
Na morte das sementes, vidas novas renascidas – Ressuscitadas.

Vai nascer a flor... 

Que perdemos provisoriamente lá no belo Paraíso,
Mas que pela fidelidade à Palavra vivida,
Com o arado da Cruz, o mundo preparado,
Novo céu, nova terra floridos: esperados, realizados.

Vai nascer a flor... 

No coração dos que não fixaram âncoras no passado,
Mas que se puseram a caminho com o Senhor:
Ora atravessando o deserto com seus desafios,
Ora a turbulenta água do mar da existência.

Vai nascer a flor...

No coração dos poetas e dos Profetas
Que sonham e descrevem um mundo diferente, renovado...
Que olham para o futuro com os olhos de Deus, o mais belo olhar.
Que veem, além do horizonte do sol poente, um novo amanhecer.

Vai nascer a flor...

No coração dos que não perdem a confiança na humanidade,
Que se abrem ao Mistério do Amor revelado pela Santíssima Trindade,
Que nutrem e germinam, no tempo presente, flores de eternidade. Amém.

Vai nascer a flor...



PS: Oportuno para refletirmos a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 4,1-13) - onde-se lê "planície árida", podemos ler o "deserto".

“Nunc Dimittis”

 


“Nunc Dimittis”

A Igreja reza à noite, todos os dias, a Oração das Completas, e nela está contido o “Nunc Dimittis” - "agora deixe partir".) rezado por Simeão, homem justo e piedoso, quando da apresentação do Senhor no Templo (Lc 2,29-32).

Cristo, luz das nações e glória de Seu povo, é um cântico evangélico que pode também ser rezado por quantos puderem nas orações da noite, ao terminar um dia de intensas atividades, preocupações e eventual cansaço, para um bom descanso e um novo dia bem iniciado:

“Antífona: Salvai-nos, Senhor, quando velamos, guardai-nos também quando dormimos! Nossa mente vigie com o Cristo, nosso corpo repouse em Sua paz!

“–29 Deixai, agora, Vosso servo ir em paz,
conforme prometestes, ó Senhor.

30 Pois meus olhos viram Vossa salvação
31 que preparastes ante a face das nações:

32 uma Luz que brilhará para os gentios
e para a glória de Israel, o Vosso povo.”

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. 
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Antífona: Salvai-nos, Senhor, quando velamos, guardai-nos também quando dormimos! Nossa mente vigie com o Cristo, nosso corpo repouse em Sua paz!

 

 

Em poucas palavras... (IDTQC)

                                                  


“...Para alguma coisa serve a tentação...”

“Deus não quer impor o bem, quer seres livres [...]. Para alguma coisa serve a tentação. Ninguém, senão Deus, sabe o que a nossa alma recebeu de Deus, nem nós próprios.

Mas a tentação manifesta-o para nos ensinar a conhecermo-nos e desse modo descobrir a nossa miséria e obrigar-nos a dar graças pelos bens que a tentação nos manifestou”. (1)

 

(1)Orígenes, De oratione, 29, 15 e 17: GCS 3, 390-391 (PG 11, 541-544) - citado no Catecismo da Igreja Católica parágrafo n.2847

“Não nos deixeis cair em tentação" (IDTQC)

                                                           


“Não nos deixeis cair em tentação"

No 1º Domingo da Quaresma (Ano C), repensamos nossas opções de vida, tomando consciência das tentações que nos impedem de viver a vida nova que um dia recebemos em nosso Batismo.

A passagem da primeira Leitura (Dt 26,4-10) retrata a tentação do Povo de Israel de ceder à idolatria, adorando falsos deuses.  É preciso que eliminemos os falsos deuses que nos afastam do verdadeiro Deus, do contrário, as marcas do orgulho, da autossuficiência, do egoísmo, da desumanidade, da desgraça e da morte, deixarão suas marcas.

Essencialmente é um texto anti-idolátrico, em que anuncia a vida e felicidade somente encontrada em Deus. A tentação do abandono do Senhor para adoração das divindades das populações da nova terra, das divindades da Natureza é um constante perigo.

Encontramos neste trecho uma solene profissão de fé, inserida numa Liturgia de Ação de Graças pelos dons da terra e a oferta das primícias dos frutos das colheitas; possibilitando-nos refletir quais são os falsos deuses que podem tomar o lugar do Deus vivo e verdadeiro: o dinheiro, o poder, o êxito social ou profissional, a ciência ou a técnica, os partidos, líderes e suas ideologias ou quaisquer outras coisas que se sobreponham a Deus e até mesmo que levem a d’Ele prescindir.

Reflitamos:

Quando se prescinde de Deus que futuro é reservado para a humanidade?
Quais são os deuses da pós-modernidade que seduzem e afastam a pessoa do encontro e relação com o Verdadeiro Deus da Vida, que a Sagrada Escritura nos  apresenta?

Na passagem da segunda Leitura, (Rm 10, 8-13), o Apóstolo Paulo nos fala da Salvação como dom de Deus e compromisso nosso.

A Salvação não é uma conquista humana, mas dom gratuito de Deus que, na Sua bondade, quer salvar a todos. Também afirma que o Evangelho de Jesus é a força que congrega e salva aquele que crê (judeus e pagãos), pois Deus quer salvar a todos, indistintamente (v. 11-12).

Reflitamos:

- Quais são as divisões existentes em nossas famílias e comunidades? O que as provocam?

- Como tornar nossa comunidade mais fraterna, mais próxima do que Jesus quer para Sua Igreja?

- Como tornar, de fato, a comunidade um lugar da adesão à fé na pessoa de Jesus?

A passagem do Evangelho (Lc 4, 1-13) retrata de forma catequética, e não de forma jornalística, as tentações enfrentadas por Jesus no deserto (deserto como lugar da privação, dos desafios, da tentação): ter, poder e ser, que são as tentações fundamentais de toda pessoa.

A primeira tentação é um não à riqueza/acúmulo, a segunda um não ao poder/dominação, e a terceira um não ao êxito fácil.

Jesus recusou terminantemente o caminho do materialismo (poder, domínio, êxito fácil), do contrário, trairia o Plano de Deus, que se realiza pela serviço, partilha e doação da própria vida com simplicidade e amor.

Os discípulos missionários de Jesus devem fazer o mesmo caminho por Ele vivido e proposto: o egoísmo cede lugar para a partilha; o autoritarismo para o serviço; o espetáculo/sucesso para a vida plena.

O discípulo missionário terá que decidir entre a obediência ao Pai e o serviço ao  próximo ou a sedução às tentações.

Aqui devem ser lembradas as palavras do Bispo Santo Agostinho: –“Como vencer se não combater, como combater se não formos tentados. Se n’Ele somos tentados, com Ele também venceremos”. E ainda: "O Senhor poderia impedir o demônio de aproximar - se dele; mas, se não fosse tentado, não te daria o exemplo de como vencer na tentação".

Com o Pão da Palavra e com o Pão da Eucaristia, podemos vencer quaisquer tentações que venham a nos afastar do Projeto de Vida que Deus tem para nós. Se alimentados por Deus, vencemos; do contrário, sucumbimos e perdemos a alegria e o sentido do próprio existir.

As tentações enfrentadas por Jesus não são uma página virada, mas um desafio a ser vivido e enfrentado por todo aquele que deseja segui-Lo, ontem, hoje e sempre.

Reflitamos:

- De que modo estas tentações se manifestam hoje nos espaços em que vivemos, dentro e fora da Igreja?

- Nesta Quaresma, como nos alimentarmos melhor da Palavra e da Eucaristia?

Dando os primeiros passos no itinerário Quaresmal, entremos com Jesus na travessia do deserto de nossa vida.

Acolhamos, pois, a Salvação como dom de Deus, dando nossa resposta com liberdade, responsabilidade e maturidade, pois nisto consiste a vida cristã: corresponder cada vez mais e melhor aos desígnios de Deus e ao Seu Projeto de Amor, dando a Deus e ao nosso próximo o melhor que pudermos.

É preciso revitalizar a fé, cotidianamente, para não cedermos às tentações que nos afastem do Projeto Divino. É preciso viver uma fidelidade límpida, superando toda infidelidade à Palavra de Deus, rompendo com o pecado, como criaturas novas pela graça batismal.

Jesus venceu as tentações para nos ensinar também a vencê-las. Com Ele, e somente com Ele, faremos a travessia do deserto, alcançando a outra margem, no encontro definitivo.

Vivendo, a cada dia, a configuração ao Senhor, em Sua Vida, Paixão e Morte, com renúncias necessárias, desapego de si mesmo, tomando a cruz de cada dia, com Ele também Ressuscitaremos.                                                                                        
Ao rezar o “Pai Nosso”, façamos com mais ardor esta súplica: “... O Pão nosso de cada dia nos dai hoje...” , e "... e não nos deixeis cair em tentação”.

Somente alimentados pelo Pão da Palavra e da Eucaristia podemos vencer as tentações que impeçam o Reino de Deus acontecer, como também a verdadeira santificação do nome de Deus.

Oremos:

“Ó Deus, dai-nos força para resistir à tentação, 
paciência na tribulação,
e sentimentos de gratidão na prosperidade. Amém.”

Nada podemos sem a Palavra do Senhor (IDTQC)

                                                   


Nada podemos sem a Palavra do Senhor

“A Palavra de Deus é substância vital de nossa alma;
ela a alimenta, a apascenta e a governa e não há outra coisa,
fora da Palavra de Deus, que possa viver a alma do homem” (1)

Senhor, convosco aprendemos que nos momentos de tentação, só há um meio para não cair: agarrar-se firmemente, como fizestes à Palavra de Deus, o Vosso Pai Misericordioso.

Senhor, Vos pedimos que esta Palavra esteja sempre junto de nós, na nossa boca e no nosso coração, em todos os momentos, favoráveis ou adversos, iluminando nossos caminhos.

Senhor, que acreditemos incondicionalmente em Vós, que conosco estais, Ressuscitado dos mortos, e que quando invocamos o Vosso Nome, somos ouvidos e atendidos.

Senhor, somos membros do Vosso Povo, nascido de um grupo de arameus errantes, do qual o Pai Vos  pusestes à frente para conduzir até Ele, na glória da eternidade.

Senhor, cremos que jamais seremos vencidos se permanecermos unidos a Vós, videira divina do Pai, que Se nutre perenemente com a Seiva do Santo Espírito, a Seiva do Amor.

Senhor, convosco queremos viver a Quaresma, como tempo favorável de nossa salvação, crendo que ela não é um presente que nós a Deus fazemos; mas, antes, um presente que por amor uno e trino nos é oferecido. (2)

Portanto, Senhor, conduzi-nos nesta viagem espiritual da Quaresma para a Vossa Páscoa, da qual a Eucaristia é, simultaneamente, memorial e penhor.


Fonte inspiradora: Missal Dominical e Quotidiano – Ed. Paulus – Lisboa p.301.
(1)         Santo Ambrósio, Exp. Os 118, 11,29).
(2)        O Verbo Se faz carne – Raniero Cantalamessa. - Editora  Ave Maria - 2013 - p.532 – 

Dia Internacional da Mulher

                                                       

Dia Internacional da Mulher

Dia de homenagearmos todas as mulheres
Que tecem a rede da história com fios de confiança,
Ternura, ousada profecia e esperança.

É também uma possibilidade de nós, homens, repensarmos
Caminhos a serem trilhados, para que homens e mulheres
Tenham reconhecidos os mesmos valores e dignidade.

Dia Internacional da Mulher: o mundo precisa aprender com
As “mulheres da montanha que enfrentam o desafio da planície”,
Que o Filho Amado contemplam, escutam e seguem.

Que com seu compromisso, dedicação, por amor se consumindo,
As veias da história fazendo circular a linfa mais do que necessária:
A linfa vital do Filho Amado e Glorioso, a linfa do amor.

Dia Internacional da mulher, aprendizado enriquecedor
Com as intrépidas discípulas missionárias do Senhor,
Que, incansáveis, se comprometem com a Divina Fonte do Amor.

Contemplemos neste dia a Mulher de todas as mulheres,
para que ela nos cubra com seu manto de amor e ternura: Maria.
Não há criatura que com ela não tenha algo a aprender e reaprender... 


PS: Postado com vistas ao Dia 8 de março - "Dia Internacional da Mulher"

O Maligno não tem poder sobre nós (IDTQC)

O Maligno não tem poder sobre nós

Inquietos, por vezes, ficamos e nos perguntamos – “Por que Deus não impede que as tentações sejam lançadas sobre nós?”

O Bispo e Doutor da Igreja, São João Crisóstomo (séc. V), assim responde:

1º Para que vejamos que Deus nos fez muito mais fortes;

 Para que não nos estimemos excessivamente, com ensoberbecimento pela grandeza do dom que nos foi conferido, visto que as tentações nos mantêm em humildade;

 Para que o demônio maligno, duvidando se é verdade que renunciamos a ele, pela experiência das tentações se confirme que de tudo nos afastamos;

 Para que sejamos forjados pela dureza e mais forte que o ferro;

 Para que com isto tenhamos a demonstração do grande tesouro que nos foi confiado.

O Bispo também nos diz:

“O demônio não te atacarias se não te visse colocado nas mais altas honras. Tal foi o motivo de alta dignidade. Pela mesma razão se levantou contra Jó, ao vê-lo recompensado e louvado pelo Deus de todos...

O demônio nos ataca especialmente quando nos vê sozinhos e quando andamos afastado dos outros. Assim atacou a mulher nas origens, aproximando-se dela quando estava só, sem seu marido.

Quando ele vê a vários reunidos, não se atreve a atacar. Por isto convém que com frequência nos congreguemos, para que não sejamos presa fácil do diabo...

Não ataca Jesus enquanto está jejuando, mas quando teve fome, para que aprendas que grande bem é o jejum, e que arma tão poderosa contra o demônio; e que depois do Batismo não te entregues aos prazeres, nem à embriaguez, nem às iguarias, mas ao jejum. Por isso Jesus jejuou, não porque Ele o necessitasse, mas para instruir-nos”.

São lições muito preciosas para serem aprendidas, para que vivamos intensamente a Quaresma, vencendo as ciladas do inimigo, crescendo e amadurecendo na comunhão fraterna, e celebrando no Banquete da Comunhão e da Vida, a Santa Eucaristia.

Tão somente assim poderemos vencer o Maligno, como o Senhor o fez, e com Ele celebrar a jubilosa e transbordante alegria pascal.

Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pp. 562-563. 

Fidelidade incondicional ao Senhor (IDTQC)

                                                         

Fidelidade incondicional ao Senhor

No primeiro Domingo da Quaresma (ano C), é proclamada a passagem do Evangelho (Lc 4,1-13), e oportuno é o Comentário escrito por Orígenes (séc. III).

“A vida dos mortais está cheia de laços insidiosos, cheia de uma rede de enganos estendidos ao gênero humano por aquele audacioso caçador, que, segundo o Senhor, é chamado Nemrod.

E quem é o verdadeiro caçador atrevido senão o diabo, que ousou rebelar-se até mesmo contra Deus?

De fato, aos laços das tentações e as armadilhas das emboscadas são chamadas redes do diabo. E como o inimigo tinha estendido estas redes por toda a parte, e tinha caçado nelas a quase todos nós, foi necessário, que se apresentasse alguém forte e poderoso o suficiente para rompê-las, deixando assim o caminho aos Seus seguidores.

Portanto, o próprio Salvador, antes de chegar à união nupcial com a Igreja, é tentado pelo diabo, para, vencidas as redes das tentações, vê-la através delas e através delas chamá-la a si, ensinando-a claramente e manifestando que a Cristo se chega não pelo ócio e os deleites, mas através de muitas tribulações e tentações.

Na realidade, não houve nenhum outro capaz de superar estas redes, pois, como está escrito, ‘todos pecaram’; e novamente a Escritura diz: Não há no mundo alguém tão honrado que faça bem sem nunca pecar’. E de novo: ‘Ninguém está limpo de pecado, nem sequer um só dia’.

Em consequência, nosso Senhor e Salvador, Jesus, é o único que não cometeu pecado, porém o Pai O ‘fez espiar nossos pecados’, para que, ‘numa condição pecadora como a nossa, e fazendo-Se vítima pelo pecado, condenasse o pecado’.

Aproximou-Se, pois, a estas redes, mas Ele foi o único que não caiu enredado nelas; ao contrário, derrotadas e destruídas, deu à Sua Igreja a coragem de pisotear os laços, caminhar sobre as redes e proclamar com entusiasmo: ‘Nossa vida foi salva como um pássaro do laço do caçador; a cilada se rompeu e nós escapamos’.

E quem foi que rompeu a armadilha? O único que não pôde ser retido nela, pois mesmo que morreu, morreu porque quis e não como nós, forçados pelas exigências do pecado.

Ele é o único que esteve livre dentre os mortos. E porque esteve livre entre os mortos, por isso mesmo, vencido o que tinha domínio sobre a morte, libertou aos que eram escravos da morte. E não só ressuscitou a Si mesmo dentre os mortos, mas suscitou a vida aos escravos da morte, e os sentou no céu juntamente com Ele. Pois, ao subir Cristo ao alto levando cativos consigo, levou não somente as almas, mas ressuscitou também os corpos, como testemunha o Evangelho:

‘Muitos corpos de santos que tinham morrido ressuscitaram, e apareceram a muitos e entraram na cidade santa do Deus vivo em Jerusalém’”.

Cremos, de fato, que “... a Cristo se chega não pelo ócio e os deleites, mas através de muitas tribulações e tentações”, e com a certeza de que confiando no Senhor, Aquele que venceu o diabo no deserto, está conosco neste combate, para nos ajudar também a vencê-lo.

Que o Senhor dê à Sua Igreja a coragem de pisotear os laços da rede, como o Senhor o fez, vencendo satanás e suas tentações (ser, ter e poder), que se manifesta de múltiplos modos no dia a dia: ostentação, acúmulo, privilégios, fama, sucesso a qualquer preço, domínio, autossuficiência.

Seja a Quaresma o tempo favorável de conversão e salvação em que nos empenhemos mais numa vida marcada pela doação, entrega, humildade, serviço, amor e partilha, e quanto mais o Senhor tenha vivido e nos ensinado.


(1) Lecionário Patrístico Dominical - Ed. Vozes - 2013- pp. 561-562.

Com Jesus aprendemos a confiar em Deus (IDTQC)

Com Jesus aprendemos a confiar em Deus

Dando os primeiros passos em nosso itinerário Quaresmal rumo à Páscoa do Senhor, sejamos enriquecidos pela reflexão apresentada pelo Missal Dominical.

“Cristo é conduzido pelo Espírito ao deserto para repetir a prova: nele se concentra a fidelidade de Deus a Seu plano e a fidelidade do homem que lhe responde.

Apoiando-se inteiramente na Palavra de Deus (“está escrito”). Cristo sai vitorioso da provação; é uma antecipação da obediência incondicional do Filho bem-amado que Se torna o Primogênito da nova humanidade, fiel a Deus e chamado à Sua intimidade (Evangelho).

Todo homem, como toda geração e toda comunidade, é chamado a reviver a mesma opção fundamental.

'A mais temível tentação não é a que nasce da carne e do mundo, mas a que nasce de uma situação em que a bondade de Deus não entra no nosso campo de percepção.

O cristão pode então dizer: 'Onde então está Deus? Só encontra indiferença e silêncio: Deus se mostra tão distante que ele sente o abandono de Cristo'. 

Vive naquela situação-limite em que viveram Abraão quando Deus lhe ordenou que sacrificasse Isaac, Jó durante a doença, e Cristo na agonia.

'A confiança incondicional é o único meio de salvação, mas ela toca as raias da revolta contra Deus. Tais situações são a tentação suprema para o espírito. Atacam a fé em sua própria raiz, e se compreende por que Cristo pede aos cristãos que fujam em caso de perseguição: a não intervenção de Deus é sentida então de modo tão cruel que poderia destruir a fé.

Não é, pois, de admirar que a Igreja e os cristãos orem todos os dias para que Deus saia de Seu silêncio, que abrevia o tempo em que não manifesta Seu poder'" (C. Duquoc).

A Quaresma é o tempo do teste para nossa fidelidade na resposta ao Plano de Deus; pode acontecer que o tenhamos traído, mutilado ou enterrado, e isso por covardia, interesse, hipocrisia, fraqueza, porque não soubemos vencer as tentações que hoje se nos oferecem.

Toda civilização inclui elementos bons e elementos nocivos, expressão de sua ambiguidade, sua incapacidade para salvar-nos.

Hoje esses elementos nocivos são a apatia diante das realidades espirituais, seu sufocamento 'mórbido"' para que não constituam mais problema e sejam relegados para os recantos da consciência e da vida; a total absorção no terrestre, nos valores e bens que nos são oferecidos em quantidade cada vez mais crescente e alienante: o ‘eficientismo’, gerado pelo ídolo do produzir-consumir e consumir-produzir, esse círculo vicioso implacável e destruidor de todo valor humano; o egoísmo e o espírito de opressão, a luta pela própria carreira, que reduz o próximo unicamente a mais um adversário a eliminar, um concorrente a superar, um degrau pelo qual subir” (1)

Sejamos revigorados, neste tempo intenso de penitência, silêncio orante, para que acompanhado do jejum nos leve à prática da caridade ativa, que nos faz mais configurados a Jesus.

Renovemos a total e incondicional confiança em Deus, como Jesus o fez, contando sempre com a presença, ação e força do Espírito que sobre Ele pairava, e sobre toda a Igreja paira, porque não nos deixou órfãos. Sua promessa se cumpriu!

Sejamos fortalecidos neste santo propósito de vencer as tentações do Maligno, pois a liberdade por Deus nos foi concedida, e é preciso saber usá-la, e assim também viveremos a Campanha da Fraternidade 2025, com o tema: “FRATERNIDADE E ECOLOGIA INTEGRAL", e o lema: “Deus viu que tudo era muito bom" (Gn 1,31).

Oremos:

"Concedei-nos, ó Deus onipotente, que, ao longo desta Quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder a Seu amor, por uma vida santa. Por N. S. J. C. Amém!”


(1) Missal Dominical, Editora Paulus, (pp. 147-148).

Sedentos da misericórdia divina (IDTQC)

Sedentos da misericórdia divina

À luz das passagens do Evangelho (Lc 4,1-13; Mc 1,12-15), perguntamo-nos: há alguma utilidade na tentação?

Orígenes (séc. II) nos responde:

“Deus não quer impor o bem, quer seres livres [...]. Para alguma coisa serve a tentação. Ninguém, senão Deus, sabe o que a nossa alma recebeu de Deus, nem nós próprios. Mas a tentação manifesta-o para nos ensinar a conhecermo-nos e desse modo descobrir a nossa miséria e obrigar-nos a dar graças pelos bens que a tentação nos manifestou”.

O Bispo Santo Agostinho, por sua vez, mais tarde afirmaria:

“... Deus Se fez homem para que o homem se tornasse Deus. Para que o homem comesse o Pão dos Anjos, o Senhor dos Anjos Se fez homem...

O homem pecou e tornou-se culpado; Deus nasceu como homem para libertar o culpado. O homem caiu, mas Deus desceu. O homem caiu miseravelmente, Deus desceu misericordiosamente; o homem caiu por orgulho, Deus desceu com a Sua graça...

Só nasceu sem pecado Aquele que não foi gerado por homem nem pela concupiscência da carne, mas pela obediência do Espírito”.

Deste modo, para nós a Quaresma é:

- tempo favorável para tomarmos consciência de nossa condição pecadora, reconhecendo que, miseravelmente, podemos cair no pecado e na tentação, se não nos revigorarmos com a prática dos exercícios quaresmais;

- tempo de nos abrirmos à misericórdia de Deus, que desceu ao nosso encontro para nos renovar, em total reconciliação, restaurando a amizade maculada no início da criação;

- tempo de, reconhecedores de nossa miséria, curar as feridas de nossa alma com a graça de Deus que é abundantemente derramada sobre todos nós por meio de Jesus Cristo que, por amor incondicional ao Pai, morreu e Ressuscitou, e nos enviou o Seu Espírito para conosco caminhar, nossos passos fortalecer, até que um dia possamos contemplar a glória de Deus na eternidade, inseridos na plena comunhão de amor e luz divinal.

Conscientes de nossa miséria e sedentos da misericórdia divina, revigorados pela graça de Deus vivamos, sobretudo neste itinerário quaresmal que estamos trilhando, rumo à Páscoa do Senhor.

Em poucas palavras...(IDTQC)

 


“Ó Deus que nos alimentastes...”

“Ó Deus, que nos alimentastes com este Pão que nutre a fé, incentiva a esperança e fortalece a caridade, dai-nos desejar o Cristo, Pão Vivo e Verdadeiro, e viver de toda Palavra que sai de Vossa boca. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.”  (1)

 

 

(1)Oração depois da Comunhão – 1º Domingo da Quaresma

Fidelidade incondicional ao Senhor (IDTQC)

                                                            

Fidelidade incondicional ao Senhor

No primeiro Domingo da Quaresma (ano C), é proclamada a passagem do Evangelho (Lc 4,1-13), e oportuno é o Comentário escrito por Orígenes (séc. III).

“A vida dos mortais está cheia de laços insidiosos, cheia de uma rede de enganos estendidos ao gênero humano por aquele audacioso caçador, que, segundo o Senhor, é chamado Nemrod.

E quem é o verdadeiro caçador atrevido senão o diabo, que ousou rebelar-se até mesmo contra Deus?

De fato, aos laços das tentações e as armadilhas das emboscadas são chamadas redes do diabo. E como o inimigo tinha estendido estas redes por toda a parte, e tinha caçado nelas a quase todos nós, foi necessário, que se apresentasse alguém forte e poderoso o suficiente para rompê-las, deixando assim o caminho aos Seus seguidores.

Portanto, o próprio Salvador, antes de chegar à união nupcial com a Igreja, é tentado pelo diabo, para, vencidas as redes das tentações, vê-la através delas e através delas chamá-la a si, ensinando-a claramente e manifestando que a Cristo se chega não pelo ócio e os deleites, mas através de muitas tribulações e tentações.

Na realidade, não houve nenhum outro capaz de superar estas redes, pois, como está escrito, ‘todos pecaram’; e novamente a Escritura diz: Não há no mundo alguém tão honrado que faça bem sem nunca pecar’. E de novo: ‘Ninguém está limpo de pecado, nem sequer um só dia’.

Em consequência, nosso Senhor e Salvador, Jesus, é o único que não cometeu pecado, porém o Pai O ‘fez espiar nossos pecados’, para que, ‘numa condição pecadora como a nossa, e fazendo-Se vítima pelo pecado, condenasse o pecado’.

Aproximou-Se, pois, a estas redes, mas Ele foi o único que não caiu enredado nelas; ao contrário, derrotadas e destruídas, deu à Sua Igreja a coragem de pisotear os laços, caminhar sobre as redes e proclamar com entusiasmo: ‘Nossa vida foi salva como um pássaro do laço do caçador; a cilada se rompeu e nós escapamos’.

E quem foi que rompeu a armadilha? O único que não pôde ser retido nela, pois mesmo que morreu, morreu porque quis e não como nós, forçados pelas exigências do pecado.

Ele é o único que esteve livre dentre os mortos. E porque esteve livre entre os mortos, por isso mesmo, vencido o que tinha domínio sobre a morte, libertou aos que eram escravos da morte. E não só ressuscitou a Si mesmo dentre os mortos, mas suscitou a vida aos escravos da morte, e os sentou no céu juntamente com Ele. Pois, ao subir Cristo ao alto levando cativos consigo, levou não somente as almas, mas ressuscitou também os corpos, como testemunha o Evangelho:

‘Muitos corpos de santos que tinham morrido ressuscitaram, e apareceram a muitos e entraram na cidade santa do Deus vivo em Jerusalém’”.

Cremos, de fato, que “... a Cristo se chega não pelo ócio e os deleites, mas através de muitas tribulações e tentações”, e com a certeza de que confiando no Senhor, Aquele que venceu o diabo no deserto, está conosco neste combate, para nos ajudar também a vencê-lo.

Que o Senhor dê a Sua Igreja a coragem de pisotear os laços da rede, como o Senhor o fez, vencendo satanás e suas tentações (ser, ter e poder), que se manifesta de múltiplos modos no dia a dia: ostentação, acúmulo, privilégios, fama, sucesso a qualquer preço, domínio, autossuficiência.

Seja a Quaresma o tempo favorável de conversão e salvação em que nos empenhemos mais numa vida marcada pela doação, entrega, humildade, serviço, amor e partilha, e quanto mais o Senhor tenha vivido e nos ensinado.


(1) Lecionário Patrístico Domincal - Ed. Vozes - 2013- pp. 561-562.

Peregrinos de esperança e a fidelidade ao Senhor (IDTQC)

 


Peregrinos de esperança e a fidelidade ao Senhor
 
Reflexão à luz da passagem do Livro do Deuteronômio (Dt 26,4-10), que retrata a tentação do Povo de Israel de ceder à idolatria, adorando falsos deuses.  
 
É preciso que eliminemos os falsos deuses que nos afastam do verdadeiro Deus, do contrário, as marcas do orgulho, da autossuficiência, do egoísmo, da desumanidade, da desgraça e da morte, deixarão suas marcas.

Encontramos neste trecho uma solene profissão de fé, inserida numa Liturgia de Ação de Graças pelos dons da terra e a oferta das primícias dos frutos das colheitas; possibilitando-nos refletir quais são os falsos deuses que podem tomar o lugar do Deus vivo e verdadeiro: o dinheiro, o poder, o êxito social ou profissional, a ciência ou a técnica, os partidos, líderes e suas ideologias ou quaisquer outras coisas que se sobreponham a Deus e até mesmo que levem a d’Ele prescindir.

Essencialmente é um texto anti-idolátrico, em que anuncia a vida e felicidade somente encontrada em Deus. A tentação do abandono do Senhor para adoração das divindades das populações da nova terra, das divindades da Natureza é um constante perigo.

Como peregrinos de esperança, precisamos repensar nossas opções de vida, tomando consciência das tentações que nos impedem de viver a vida nova que um dia recebemos em nosso Batismo.
 
Reflitamos:

- Quando se prescinde de Deus que futuro é reservado para a humanidade?
- Quais são os deuses da pós-modernidade que seduzem e afastam a pessoa do encontro e relação com o Verdadeiro Deus da Vida, que a Sagrada Escritura nos  apresenta?
 
Oremos:
 
“Ó Deus, dai-nos força para resistir à tentação, 
paciência na tribulação,
e sentimentos de gratidão na prosperidade. Amém.”

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG