“'Tirai isto daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!' Seus discípulos lembraram-se, mais tarde, que a Escritura diz: 'O zelo por Tua casa me consumirá'”
Celebramos no dia 09 de novembro a Festa da Dedicação da Basílica de Latrão, cuja dedicação ou consagração aconteceu no ano de 320.
Esta é a Catedral do Papa, enquanto Bispo de Roma, e por isto é a “Mãe de todas as Igrejas” espalhadas pelo mundo todo.
A Liturgia da Palavra nos apresenta, na primeira Leitura, a passagem da segunda fase do ministério do Profeta Ezequiel, que se dá a partir de 586 a.C. até cerca de 570 a.C., quando se encontravam em terra estrangeira (Ez 47,1-2.8-9.12).
A mensagem de Ezequiel é de esperança, por isto é chamado de “o Profeta da esperança”, anunciando aos exilados a chegada de uma nova era de felicidade e de paz sem fim. Deus mesmo assumirá a condução do Povo, como um “Bom pastor”, e o “coração de pedra” do povo será transformado em “coração de carne”, acolhendo e vivendo os Preceitos da Aliança com Deus.
Um sinal será a reconstrução do Templo de Jerusalém comunicando que Deus voltará a residir no meio de Seu Povo (Ez 40,1-47,12).
As imagens do Templo, água que jorra, deserto, fertilidade retomam a imagem paradisíaca do jardim do Éden, que expressa a vida em comunhão com Deus, na vivência e obediência às Suas Propostas, numa vida plena e feliz (Gn 2,9-14).
Esta imagem do Templo será retomada pelo Evangelista João (2,21) e também no Livro do Apocalipse (22,1-12): Jesus é o Novo Templo, e do trono sairá um rio de água viva.
A mensagem explícita de Ezequiel é de que Deus não desiste da humanidade, é sempre uma presença amiga e reconfortante na caminhada da humanidade, comunicando vida em abundância.
Para quem crê em Deus, os incontáveis sinais de morte que vemos não revelam a orfandade divina, ao contrário, despertam no coração uma renovada esperança, firme confiança e desejável serenidade.
O mundo não é um beco sem saídas, uma vez que Deus Se faz presente no meio de nós e isto nos anima no bom combate, cotidianamente.
É preciso, portanto, que a humanidade abandone os caminhos de orgulho e autossuficiência, aprendendo a escutar com humildade e simplicidade as Propostas que Deus tem sempre a nos oferecer.
Na passagem da segunda Leitura (1 Cor 3,9c11.16-17), o Apóstolo Paulo, escrevendo a comunidade de Corinto, afirma que os cristãos são o templo de Deus onde reside o Espírito, e assim precisam viver uma nova dinâmica.
Em Corinto, cidade nova e muito próspera, servida por dois portos de mar, com característica de cidades marítimas, com população de todas as raças e religiões, também tinha comportamentos inapropriados.
É neste contexto que temos a comunidade de Corinto, uma comunidade viva e fervorosa, mas não livre destas influências.
Ela precisa aprofundar sua vivência na lógica de Deus, sem partidos, divisões, competições, e incoerências, dando melhor testemunho de Deus, vivendo a sabedoria de Deus que consiste na “loucura da Cruz”.
Como Edifício de Deus, precisa fortalecer os vínculos de fraternidade e unidade. Animadas pelo Espírito, são chamadas a esta dinâmica nova, seguindo Jesus no caminho do amor, da partilha, do serviço, da obediência a Deus e da entrega aos irmãos.
É preciso que a comunidade dê testemunho de que é templo de Deus, e nela reside o Espírito Santo que a conduz.
Nossas comunidades, portanto, precisam crescer em fraternidade, solidariedade, para o testemunho da “loucura da Cruz” com gestos concretos de amor, de partilha, de doação, de serviço.
É preciso evitar todo tipo de fragmentação, divisão, contradições, e que jamais se sobreponham os interesses e vaidades pessoais.
Que nelas, se vivendo a “sabedoria de Deus”, não haja luta sem regras pelo poder, pela influência, pelo reconhecimento social, pelo bem-estar econômico, pelos bens perecíveis e secundários. Tão somente assim poderá ser sinal e luz diante da “sabedoria do mundo”.
Na passagem do Evangelho (Jo 2, 13-22), Jesus, ao realizar a purificação do templo, anuncia que Ele mesmo é lugar do verdadeiro encontro com Deus.
Jesus é a verdadeira presença de Deus no meio da humanidade, o Verbo que Se fez Carne.
E, ao afirmar que pode destruir o templo e o edificar em três dias, preanuncia a Sua morte e Ressurreição, que será esta, por sua vez a garantia de que Jesus veio de Deus, e que Sua atuação tem o selo de garantia de Deus.
O evangelista João situa o fato de a purificação acontecer nos dias que antecedem à Festa da Páscoa, momento em que grande multidão afluía para Jerusalém. Note-se que Jerusalém teria aproximadamente 55.000 habitantes, e nestes dias chegava a receber 125.000 peregrinos, com o sacrifício de 18.000 cordeiros na celebração pascal.
Evidentemente, o templo era lugar de grande comércio e muitos viviam dele; e aqui o sinal profético da sua purificação feita por Jesus.
O gesto de Jesus deve ser entendido neste contexto, como a comunicação de novos tempos messiânicos.
Jesus não propõe a reforma do templo, mas a abolição do culto porque era algo nefasto, ou seja, em nome de Deus o culto criava exploração, miséria, injustiça, em vez de favorecer uma sincera e frutuosa relação com Deus.
Jesus é, de fato, o novo Templo, isto é fundamental como mensagem. Ele Se faz companheiro de caminhada e aponta os caminhos de salvação.
A salvação não fica restrita às mãos dos sacerdotes do templo. Ele é Aquele que vem ao mundo comunicar a Salvação à humanidade, em sinal de total e incondicional Amor a Deus, dando Sua vida em sacrifício para a nossa redenção.
Não há mais necessidade daquele templo e seus sacrifícios. Com Ele, Jesus, a humanidade pode alcançar vida, alegria, paz, salvação sem submeter à lógica sacrificial do templo, que havia se tornado casa de comércio, covil de ladrões.
Os cristãos, tendo aderido ao Senhor e a Sua Mensagem, tendo comido a Sua Carne, bebido do Seu Sangue, precisam se identificar com Ele.
Os cristãos são, portanto, pedras vivas desse novo Templo no qual Deus Se manifesta ao mundo e vem ao encontro da humanidade oferecendo vida e Salvação.
Cabe aos cristãos revelar ao mundo o rosto bondoso, misericordioso e terno de Deus, pelo que creem e pelo que vivem, sem dissociação, sem distanciamentos e incoerência, pois todo aquele que vive e crê no Senhor, terá a vida eterna, e já experimenta no tempo presente felicidade plena.
Reflitamos:
- Estarão nossos cultos agradando a Deus?
- Quais são as implicações em nossa vida a Eucaristia que celebramos?
- Como temos vivido a Palavra que proclamamos e ouvimos?
- Nossos cultos são solenes e ricos de conteúdos vivenciais, ou apenas belos sem maiores compromissos com a vida, com o Reino de Deus?
- Quando acorremos ao Templo para celebrar, o fazemos de forma ativa, consciente e piedosa de modo que molda o nosso viver?
- Sentimos a presença de Deus em nossas comunidades, verdadeiros templos de Deus?
- Há o Templo e os templos, nos quais Deus também fez Sua morada. Como cuidamos do Templo do Senhor, e também como cuidamos dos templos do Senhor?
- O que fazemos para que nossas Igrejas sejam belas e lugar da presença de Deus?
- E o que fazemos para que cada pessoa, lugar da presença de Deus, também tenha vida plena e feliz?
Celebrando esta Festa, renovemos a alegria de ser Igreja, amando e nos colocando a serviço dela, no compromisso com a vida e com o Reino, não esgotando nossa fé na prática de cultos e ritos, mas em sinceros e multiplicados gestos de amor, comunhão, fraternidade e solidariedade, e tão somente assim, nossos cultos serão agradáveis a Deus.
Fonte: www.Dehonianos.org/portal
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