sexta-feira, 2 de junho de 2023

A Salvação: graça, dom e missão de todos (IXTDCC) (02/06)


A Salvação: graça, dom e missão de todos

A Liturgia do 9º domingo do Tempo Comum (ano C) nos convida a refletir sobre a Salvação que Deus oferece a todos os povos por meio de Jesus Cristo.

Na primeira Leitura (1Rs 8,41-43), nos é apresentada a Oração de Salomão na dedicação do Templo de Jerusalém, em que ele pede a Deus que ali também a oração dos estrangeiros sejam ouvidas:

“Note-se, portanto, uma abertura da religião de Israel ao estrangeiro, na medida em que reconhece, por um lado, que este último (estrangeiro) poderá vir ao Templo de Jerusalém por causa do nome do Senhor, ou seja, por reconhecer a presença do Senhor no Templo e, por outro lado, que o nome do Senhor, Deus de Israel, poderá ser temido, adorado na terra do estrangeiro” (1).

Na segunda Leitura (Gl 1,1-2.6-10),  o Apóstolo Paulo nos apresenta a Salvação que nos vem por meio de Cristo, e não pela observância da Lei apenas. Ele é o único e definitivo mediador da Salvação para todos.

Como Servo de Cristo, nos apresenta a Salvação como obra de Deus, como graça, dom imerecido: faz-se necessária a colaboração do homem, mas a iniciativa é de Deus. “Aquele que te criou sem ti não pode salvar-te sem ti!”, disse Santo Agostinho.

O Apóstolo nos exorta a confiar na Salvação que vem de Cristo: o absoluto não é a Lei, mas Cristo:

“A Lei fica sempre exterior ao homem e não pode, de modo algum, mudar o homem; ainda que possa observar todas as leis, o homem não mudará. Se o homem não fosse pecador ‘interiormente’, não teria necessidade de ser mudado.

Mas o homem, todo homem, é pecador, e só Deus pode transformá-lo; a Lei não o pode. É Cristo que opera tudo isso no homem. Paulo convida os gálatas a escolher entre a Lei e Cristo”. (2)

Na passagem do Evangelho (Lc 7,1-10), temos a fé e a súplica de um centurião para que Jesus cure seu servo.

Este oficial coloca toda a sua confiança na misericórdia de Jesus e na Sua Palavra: “Senhor, não Te incomodes, pois não sou digno de que entres em minha casa. Nem mesmo me achei digno de ir pessoalmente ao Teu encontro. Mas ordena com a Tua Palavra, e o meu empregado ficará curado...” (Lc 7, 6-7).

A misericórdia de Deus pode se manifestar mesmo à distância, dependendo apenas da fé do orante, daquele que suplica. Fundamental é confiar na Palavra e Pessoa de Jesus, Aquele que tem poder sobre tudo: enfermidade, pecado, poderes, morte...

 Citando mais uma vez o Bispo Santo Agostinho, que assim diz sobre esta passagem: “Pequena teria sido a felicidade se o Senhor Jesus tivesse entrado dentro de suas quatro paredes, e não estivesse hospedado em seu coração”.

Vemos que o centurião faz como que um caminho progressivo na fé manifestada em sua oração: ele se dá conta de que para que Jesus realize seu pedido, não faz valer seus méritos, nem posses ou subalternos, porque para Ele o que conta de fato, é a misericórdia de Deus, que é totalmente gratuita.

As palavras do centurião, repetimos em todas as Missas, antes de recebermos o Corpo e o Sangue do Senhor. A Eucaristia que celebramos, adoramos e quotidianamente vivemos, é este encontro que se repete inúmeras vezes, e assim devemos nos questionar:

“Às vezes pergunto-me se nós, cristãos de hoje, que andamos enfarinhados nas coisas de Deus, nas liturgias bem aprumadas e em longas orações, assumimos a causa de Deus na liturgia quotidiana da nossa vida.

Pergunto-me se basta a Palavra para a fé, ou ainda procuramos outros sinais que podem parecer importantes, mas não essenciais.

Pergunto-me se andamos no único Evangelho que conta, o de Jesus Cristo, ou navegamos noutros evangelhos; assim nos provoca Paulo na segunda leitura.

Pergunto-me se habitamos e conhecemos o nome de Deus e lhe oramos com plena escuta do nosso ser ou entretemo-nos com outros nomes e repetidas orações que apenas passam pelo ouvido; assim nos interpela a primeira leitura”. (3)

Reflitamos:

- Quando, de fato, Jesus entrou em nosso coração e mudou nossa vida com Sua Palavra e ação?
- Quanto Jesus transformou nossa vida, sobretudo, através de nossa participação na Ceia Eucarística, em que Ele nos comunica a Sua Palavra e nos alimenta com o Seu Corpo e o Seu Sangue?

Finalizando, vemos que a liturgia nos apresenta a centralidade em Jesus que a todos Se dá, sem exceção, sem olhar a quem, ultrapassando os laços da pertença a um grupo específico.

Se quisermos ser discípulos missionários do Senhor, Ele quer de nós adesão de fé, plenamente, na Sua Pessoa e na Sua Palavra.

Esta adesão de fé haverá de ser centrada e enraizada no amor misericordioso de Deus em Jesus Cristo, que experimentamos de modo sublime em cada Ceia Eucarística em que celebramos, quando Ele Se dá no Pão da Palavra e no Pão da Eucaristia, nos oferecendo gratuitamente a Salvação, como dom, graça e missão.

Contemplemos e correspondamos à Misericórdia de Deus que é para todos.

  
(2) Missal Dominical - p.1137 - Editora Paulus.

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