Chamados,
ama
dos e enviados pelo Senhor
dos e enviados pelo Senhor
No
11º Domingo do Tempo Comum (Ano A), ouvimos a passagem do Evangelho de Mateus
(Mt 9,36-10,8), em que Jesus, tomado de compaixão pelo povo, envia os
discípulos em missão.
Para
maior aprofundamento, sejamos enriquecidos pelo Sermão de Eusébio de Emessa.
“Dois
homens entravam na cidade; dois homens sem provisão de pão, sem dinheiro, sem
túnica reserva. Quem tu imaginas que os recebia? Que portas lhe seriam abertas?
Quem era aquele que os reconhecia? Que hospedagem lhes era preparada e onde?
Não te admiras o poder de quem os envia e a fé dos que são enviados? Dois
peregrinos faziam sua entrada na cidade. De que eram portadores? O que é que
pregavam? ‘Foi crucificado’, diziam.
Para
os judeus, eram homens de origem humilde, ignorantes, sem cultura, pobres. Sua
pregação: a Cruz! Daí a fé. Porém o valor abre passo através das dificuldades.
Prega-se a cruz e os templos são destruídos; prega-se a Cruz e são vencidos os
reis. Prega-se a Cruz e os sábios são convencidos de erro, as festas pagãs são
abolidas e seus deuses suprimidos.
Por
que te admiras de que se tenha dado crédito aos apóstolos, ou de que tinham
sido capazes de crer, ou por que tenham se convertido ou sido acolhidos? Que
não nos passem por alto tantas maravilhas.
Alguns
peregrinos, desconhecidos, que a ninguém conheciam, portadores de nada
chamativo, percorreram o mundo pregando ao Crucificado, opondo o jejum à
libertinagem, a molesta castidade à lascívia. Normas estas que necessariamente
resultariam em intoleráveis aos povos menos predispostos a aceitar algumas
exortações de honestidade tão disputadas com seus nefandos costumes.
E,
contudo, apropriavam-se das pessoas e ocupavam cidades. Com que efetivos? Com a
força da Cruz. Aquele que os enviou não lhes deu ouro. O tinham – e em
abundância – os reis. Porém lhes digo algo que os reis são incapazes de
adquirir ou possuir: para alguns homens mortais lhes deu o poder de ressuscitar
mortos; a eles, homens sujeitos à enfermidade, autorizou-lhes a curar as enfermidades.
Um rei não pode ressuscitar a um soldado dentre os mortos, e o próprio rei está
sujeito à enfermidade.
Mas
quem os enviou ressuscita e cura os enfermos. Compara agora as riquezas dos
reis e as riquezas dos apóstolos. Fixa-te na diversa condição social: o rei é
nobre, os apóstolos, humildes; porém, sendo mortais, realizaram coisas divinas
com a ajuda de Deus. E se alguém pretende que os apóstolos não fizeram
milagres, nossa admiração se eleva. De fato, ressuscitaram-se mortos, deram
vista aos cegos, fizeram os coxos caminharem e limparam os leprosos, mediante
estes sinais varreram a irreligiosidade e implantaram a fé; é realmente
admirável não acreditem nestes milagres dos quais existe escrita constante.
Antes
da crucificação os discípulos não fizeram milagre algum; depois da crucificação
realmente os fizeram. E se fizeram alguma coisa antes da crucificação, não teve
nenhuma repercussão: mas quando o sangue divino apagou o registro que nos
condenava com suas cláusulas e era contrário a nós; quando nós, imundos, fomos
lavados no sangue; quando a morte foi vencida pela morte; quando por um Homem,
Deus abateu aquele que devorava os homens; quando pela obediência, deu morte ao
pecado; quando Adão foi reabilitado por um homem; quando por meio da Virgem, foi
cancelado o erro originário, é então que os apóstolos obedecem e as sombras
despertam aos homens que dormem.
É
que a força divina se tinha apoderado daqueles a quem ela lhes foi enviada. Já
não eram como antes, aquilo que nós éramos: tinham sido revestidos. E assim
como o ferro, antes de ser colocado junto ao fogo, é frio e em tudo semelhante
a qualquer outro ferro, porém quando é posto no fogo e se torna incandescente,
perde a sua frieza natural e irradia outra natureza abrasada, idêntica operação
realizam os homens mortais que foram revestidos de Jesus. Assim o ensina Paulo
quando diz: ‘Já não sou eu que vivo – estou morto com uma ótima morte! – é
Cristo que vive em mim’” (1)
Assim
aconteceu nos primeiros momentos das comunidades, professando a fé no Cristo
Crucificado, Morto e Ressuscitado.
Hoje
também continuamos a missão de Jesus, conforme mencionado no Evangelho,
contando com a graça, força e presença do Espírito Santo, enviado do Pai em Seu
nome, conforme prometera.
Evangelizamos
com recursos ainda que limitados, sobretudo hoje através dos meios de comunicação
social, proclamando a Palavra de Deus, oportuna e importunamente, como nos
falou Paulo a Timóteo (2Tm 4,1-5).
Edificamos
uma Igreja com as marcas da misericórdia e compaixão, missionária em sua
essência e natureza, em todos os lugares para que a luz divina resplandeça e o
Reino de Deus se vislumbre, em pequenos sinais.
Renovemos
a alegria de continuar a missão de Jesus, alimentados pela Eucaristia, tendo em mente e no
coração o testemunho daqueles primeiros que o Senhor chamou como bem quis por
amor e com amor.
Seja sempre nossa missão de evangelizadores uma alegre, generosa
e gratuita resposta de amor ao Senhor que nos chama também e nos envia para
proclamar a Sua Palavra. Sejamos sinais e instrumentos da compaixão divina,
sobretudo para com os que mais precisarem.
(1) Lecionário Patrístico Dominical, Editora Vozes, 2013 - pp.
157-158.
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