Pe. Valdocir Aparecido Raphael
25 Anos de Ministério Presbiteral
Deus Seja Louvado!
À luz da Palavra Proclamada (Rm 4,1-8; Sl 31,1-2.5.11; Lc 12,1-7) - (ano ímpar) fiz a Homilia de Jubileu do Ministério Presbiteral deste amigo e irmão.
Na primeira Leitura, o Apóstolo Paulo nos apresenta a emblemática figura de Abraão, “antepassado” segundo a carne (v.1) de todo o povo Hebreu.
Contemplar a história de Abraão é contemplar uma história que revela a atuação de Deus em sua vida, marcada pela gratuidade e confiança inabalável na intervenção divina.
Abrão foi chamado a acreditar na promessa divina de ter uma descendência, mesmo quando a promessa humanamente parecia um absurdo e impossível de se realizar. Abraão creu contra toda a humana esperança. Sua fé consistiu em confiar totalmente em Deus, reconhecendo suas limitações, insuficiência de suas obras diante do Senhor Onipotente e Misericordioso (como nos fala o Salmista). Abraão, ao lado de Sara, aos poucos procurou compreender os desígnios divinos e possibilitou a intervenção e a ação divina, que vêm ao encontro de nossa miséria humana, de nossas limitações.
Numa palavra, a fé é a total e incondicional confiança e entrega nas mãos de Deus, não como passividade, patologia, paralisia, mas acompanhada do temor divino, que segundo o Catecismo da Igreja Católica (1830) consiste na tensão em responder positivamente às exigências do Senhor, que não dispensa nossa participação, colaboração, atuação. Temor do Senhor é amor profundo, relação de amizade também profunda e frutuosa, porque traz consigo a paz e o desejo de estar à altura das necessidades do Outro, que é o próprio Deus, que nos chama e nos quer como amigos.
Temor serenamente e biblicamente vivido nos põe em total realização de amizade e entrega nas mãos de Deus, numa procura incansável de correspondermos à altura d’Aquele que tanto nos amou e nos ama, a ponto de nos ter dado o Seu próprio Filho (João 3,16), para que todo o que nEle crer não morra, mas tenha a vida eterna. O amor de Deus nos eterniza para uma relação que não conhece o ocaso, pois o céu consiste na plenitude de Seu amor.
Em perfeita sintonia, no Evangelho, Jesus nos convida a tomar cuidado com o fermento dos fariseus que é a hipocrisia, que consiste na falta de uma fé autêntica em Deus; numa pureza interior e exterior; ausência da transparência e coerência.
Os discípulos de Jesus não podem ter a mesma atitude. Os discípulos missionários do Senhor são movidos por outro fermento que Nosso Senhor ao mundo comunicou: O amor.
No Evangelho de Mateus o Senhor afirmou que seus discípulos são fermento na massa. O mundo novo só nascerá do fermento do Novo Mandamento do Amor, o mais belo e divino fermento de que tanto precisamos.
Uma vez possuidor deste fermento, deverão comunicá-lo corajosamente ao mundo. Nada e a ninguém temendo. Jesus sabe que esta postura diante do mundo atrairá sobre os discípulos, sobre Sua Igreja, incompreensão, perseguição, até mesmo o martírio.
Por isto diz: “Não tenhais medo dos que matam o corpo e depois disso nada mais podem fazer” (Lc 12,4), e um pouco mais adiante nos assegura que em todos os momentos os discípulos poderão contar com um Advogado, Paráclito, Defensor: “Não vos preocupeis com ou com o que vos defender, nem com o que dizer: pois o Espírito Santo vos ensinará naquele momento o que deveis dizer” (Lc 12, 12).
Tendo acolhido esta reflexão no coração, o que dizer ao meu amigo e irmão Pe. Valdocir neste dia em que celebra seu Jubileu de prata da graça do Sacramento da Ordem?
Respondo prontamente, e tenho certeza de que muitos concordarão comigo (e, porque não, poderão acrescentar outros olhares).
Pe. Valdocir,
- Um homem de fé – Um dia seus pais plantaram a semente da fé, o inserindo na história do Povo de Deus. Assim, tornou-se participante do Povo da Promessa, desde Abraão como há pouco refletíamos.
- Um homem de esperança – quem o conhece sabe quanta esperança carrega no coração de ver dias melhores; o Reino irromper alegremente em cada madrugada, precedida às vezes por noites acordado, em compromissos na luta pela vida, ou mesmo ao lado de um corpo velado.
- Um homem de caridade ativa – carregando as limitações inerentes à condição humana, procura testemunhar um amor enraizado e compromissado, sobretudo com os empobrecidos, com os quais Jesus se identificou.
- Um homem Eucarístico – celebra com piedade e frutuosamente cada Ceia Eucarística, procurando, a seu modo, plantar no coração da Assembleia a Semente do Verbo, e possibilitando o vigor do Pão e Vinho Consagrados, inebriando-nos com a alegria da participação no Banquete Nupcial do Cordeiro.
- Um homem de profunda devoção a Maria e aos Santos: São Judas Tadeu, Nossa Senhora do Bonsucesso, Santo Antônio, Nossa Senhora de Fátima, São Francisco e outros tantos. Como mencionar tais nomes e não fazer uma mínima referência ao Pe. Valdocir? Como não vê-lo e ouvi-lo cantar e comprometer-se com o Magnificat de Maria em confiança na ação divina, no cantar da esperança de um mundo novo (nova ordem política, econômica, social, religiosa, ideológica...)? Como não ouvir o som de seu violão e cantando com Maria e como Maria a esperança dos pobres que serão saciados, porque do jugo que lhes pesava foram libertados?
- Um homem de profundo compromisso social e político, por vezes até extremado e incompreendido. Mas sempre coerente com a mensagem do Evangelho.
- Um homem missionário – assim como se diz no Evangelho de hoje – desejoso e comprometido para que o Evangelho seja anunciado e conhecido pelo mundo todo, por toda criatura.
- Um homem alegre – seu sorriso lembra também o sorriso de seus pais. Raramente o vi com rosto carrancudo, amargurado, ainda que os resultados não fossem tão promissores e desejados. Invejamos e admiramos teu sorriso, padre.
- Um homem que procura a pureza interior, pois no exercício de seu ministério, procura não se contaminar pelo fermento da hipocrisia e da maldade, da violação da vida, sem ceder às tentações fundantes do ter, ser e poder (como devemos todos fazer).
- Um homem da chama profética sempre acesa, porque acompanhada do silêncio, da oração, da contemplação, da fidelidade e da consciência do que é diante do rebanho que O Senhor lhe confiou.
Poderia falar mais sobre o Pe. Valdocir, porém creio que já disse o suficiente para uma descrição sincera de como o vejo, e que espero seja como todos o veem.
Se virmos nele pecados, fraquezas, imperfeições, que apenas uma coisa façamos: o compreendamos e rezemos por ele. Ele precisa, eu preciso, você precisa. Todos precisamos.
Querido irmão no presbitério, um abraço e parabéns. Conte comigo e com minha admiração, e mais ainda, com minha sincera Oração.
PS: Em 2013, tive a graça de fazer esta Homilia no Santuário São Judas Tadeu - Torres Tibagi - Guarulhos – SP – Diocese de Guarulhos na celebração do Jubileu de Prata do Pe. Valdocir.
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