Uma fé
consciente e robusta é preciso
Vejamos o que nos diz o comentário do Missal Dominical sobre a Liturgia
do 30º Domingo do Tempo Comum (ano B), sobre a passagem do Evangelho de Marcos
(Mc 10, 46-52):
“... Se, no passado, a fé podia constituir uma
explicação ou uma interpretação do universo, um lugar de segurança diante dos
absurdos da história e do mistério do mundo, hoje não é mais assim.
Os movimentos de ideias, o processo tecnológico, a
expansão do consumo, os movimentos migratórios e turísticos, a urbanização
crescente e caótica com as consequentes dificuldades de integração comunitária,
a agressão da publicidade, a instabilidade política, econômica e social, com
todos os problemas daí derivados, concorrem para aguçar a dilaceração interior,
ainda mais sensível nos homens de cultura.
Neste quadro, a carência de uma fé consciente e
robusta favorece a dissolução da religiosidade, até a ruptura total com a
prática religiosa”. (1)
Assim lemos na conclusão do comentário no Missal Dominical:
“Num mundo como o nosso, não há mais lugar para
uma fé anônima, formalista, hereditária. É necessária uma fé fundada no
aprofundamento da palavra de Deus, na opção e nas convicções pessoais. Uma
fé conscientemente abraçada e não passivamente recebida em herança.
Tudo isto comporta um novo modo de enfrentar o
problema da iniciação cristã, um novo modo de considerar a evangelização e a
sacramentalização. Abre-se um imenso campo de ação à pastoral em geral e à
catequética particularmente.
O cristão deverá percorrer (ou repercorrer, se se
trata de adulto) não tanto um caminho feito de etapas e gestos sacramentais,
mas um itinerário de fé, um catecumenato renovado, sem o qual não têm sentido
nem eficácia os gestos sacramentais feitos em prazos fixos.” (2)
Não há mais lugar para uma fé anônima e sem compromissos, e há sempre
um itinerário a ser percorrido para que nossa fé tenha os “predicativos
desejáveis” e “aditivos indispensáveis”.
Nisto consiste a caminhada de fé: um processo permanente, no qual é
preciso que se avance para não recuar.
Vivemos num mundo secularizado, com fortes marcas de ateísmo, em que o
espaço do sagrado muitas vezes é sinônimo de alienação, atraso,
anti-história.
O Papa São João Paulo II,
abordou estas questões na Encíclica Fé e Razão.
Não são inconciliáveis a fé e a razão, pois uma não pode prescindir da
outra, pois do contrário não corroboram para o processo de fraternidade e promoção
da vida, da dignidade humana.
Evidentemente que podemos cultivar uma fé ingênua, marcada pelo
infantilismo, renunciando aos compromissos inerentes a mesma. Delegando a Deus
o que é tarefa humana, descomprometendo-se, lamentavelmente, com aquilo que é
próprio e inadiável nosso.
A fé, mais que uma resposta aos problemas e não uma fuga: uma proposta transformadora, fundada e nutrida pelo Pão da
Palavra e pelo Pão da Eucaristia.
Na fé deve consistir a resposta sedenta de
sentido de vida. A fé deve ultrapassar todo pragmatismo evasivo; todas as explicações
que se encerram em si mesmo.
Há sempre muito mais do que se possa verbalizar, e mais ainda do que se
possa racionalizar, a fim de que cultivemos uma fé consciente e robusta,
procurando respostas aos incontáveis problemas mencionados, de modo que a fé, a
esperança e caridade, como virtudes teologais, amadureçam inseparavelmente em
nosso interior, afastando toda a estimulação e excitação de dilaceramentos
interiores... Tão somente assim, veremos a fé expressa em gestos concretos,
afetivos e efetivos de caridade.
Não há nunca qualquer possibilidade de desistência do carregar da cruz,
ainda que adversos e difíceis sejam os momentos que possamos passar.
Urge uma Fé viva
e uma Esperança com
âncoras nos céus, onde se encontra o Ressuscitado! E, assim a Caridade dará respostas
libertadoras para o mundo que precisa ser transformado.
Oremos:
“Deus
eterno e todo-poderoso, aumentai
em nós a fé, a esperança e a caridade e dai-nos
amar o que prometeis. Por
N.S.J.C. Amém!”
(1) Missal Dominical - Editora Paulus - 1995
- pág. 1057.
(2) Idem.
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