segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Pássaro solitário

                               

Pássaro solitário

“Espere no Senhor. Seja forte! Coragem!
Espere no Senhor.”
(Sl 27,14)

Como que sem vontade de voar,
Olhar fixo no horizonte do nada,
Por algum tempo, um pássaro ali parado.
E meu olhar fixo nele, à distância

Não queria que ele voasse.
Não por mais um instante.
Aquela solidão, um céu cinza de fundo,
Reportam à solidão de muitos
Que também fixam o olhar
No horizonte do nada,
Sem mais esperança alguma:
Por que resistir? Melhor se entregar...

A solidão e o pássaro imóvel,
Um breve instante que soou como uma eternidade.
Assim, por vezes, alguém pode se sentir.
Mas é preciso bater asas,
Crer que o céu para sempre cinza, não ficará.
Mais cedo ou mais tarde, voltará o azul,
E também os voos em busca do melhor.
Forças revigoradas, asas bater, voar...

O pássaro e o cinza do céu,
Cenário do cotidiano que me fez pensar:
Se preciso, pousar e silenciar,
Ainda que por um instante.

Se dos olhos tristes lágrimas verterem,
Que não seja expressão de esforços em vão;
De ações multiplicadas inúteis e desgastantes.

O cinza do céu, apenas uma passagem,
Que na vida de todos presente pode estar,
Mas não para sempre, assim cremos.

Viver sem perder a fé e a esperança,
virtudes que se cultivam no coração,
de mãos dadas com a virtude maior:
O amor necessariamente renovado,
Novos céus há que se esperar e buscar...

A solidão e a aparente tristeza do pássaro,
O cinza do céu, o silêncio
O recolhimento, a oração...

Voemos nas asas do Espírito,
Que renova nossas forças,
Comunica graça e paz,
Derrama, copiosamente, o amor divino;
Voos mais altos e para o eterno,
Haveremos de incansavelmente buscar.

Natal: o melhor de Deus renasceu em nossos corações

 


                Natal: o melhor de Deus renasceu em nossos corações

Celebrar o Natal do Menino Jesus é celebrar o renascimento do melhor de Deus em nossos corações:

Da alegria daquela Noite Santa comunicada pelos anjos, e multidão celestial, com as humildes testemunhas dos pastores. Renasça sempre a alegria de sermos também testemunhas do Mistério da Encarnação do Verbo; d’Aquele que desceu ao nosso encontro, misericordiosamente, quando caímos miseravelmente pelo pecado e pela desobediência (cf. Santo Agostinho).

Da esperança de ver sinais de morte transformados em sinais de vida, porque a Vida veio ao nosso Encontro; contemplar os sinais de escuridão iluminados pelo Esplendor da Luz Divina que veio nos iluminar.

Da esperança que nos move e nos faz comprometidos na construção de novos céus e nova terra, jamais nos curvando diante da banalização e mediocrização da vida, com a consciência de que temos que passar pelo mundo deixando melhor para os que haverão de vir depois de nós. Celebrar o Natal é se tornar sagrado instrumento de esperança, sobretudo para os que mais precisarem.

Da esperança de ver o amor triunfando sobre o ódio, afinal o amor de Deus haverá de falar mais alto no coração de toda a humanidade, e em sua expressão máxima, quando Aquela Criança Se doar, no consumar de Sua Divina Missão,  no Mistério da Paixão, Morte na Cruz, Vida Nova, Páscoa, Ressurreição.

Da necessária consciência da ética do cuidado da vida, seja ela pessoal, familiar, eclesial, social, planetária. É próprio do amor de Deus cuidar de todos nós, criados à Sua imagem e semelhança. Cuidados pela Trindade Santa de amor, para também sermos zelosos cuidadores da vida em sua totalidade. Cuidado expresso na acolhida, comunhão, solidariedade, respeito à sacralidade do outro.

Da consciência de que somos mensageiros da paz, na superação de toda discórdia, destruindo muros que fragilizam e distanciam pessoas, famílias, comunidades. Somos Mensageiros da paz, do Príncipe da Paz que veio nos comunicar o Shalom, a plenitude de todos os bens. Mensageiros de paz edificam pontes que criam proximidade, comunhão, fraternidade, amizade, solidariedade; jamais muros da inimizade.

Da confiança e a certeza de que a graça que foi derramada em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm 5,5), comunicada por Aquele que Se Encarnou, por nós viveu e morreu, e do alto no-la comunicou, a fim de que vivamos com equilíbrio, justiça e piedade (Tt 2,12).

Renascido o melhor de Deus em nosso coração, é tempo de irradiar no mundo tudo que faça a vida melhor, e de modo especialíssimo, o amor, a alegria e a luz do Menino Deus. Do Deus que Se fez carne igual a nós, exceto no pecado, e que armou sua tenda entre nós.

Um Deus Menino, que chora, sorri, tem sede e fome, e que cresceu em tamanho, Sabedoria e Graça diante de Deus.

Um Deus que veio enxugar nossas lágrimas, acalentar nossos prantos.

Uma luz brilhou para nós na escuridão da noite.

Feliz Natal do Senhor! Amém. Aleluia!

No Senhor crendo, eternos seremos

                                                

No Senhor crendo, eternos seremos

Da janela do quarto, uma imagem do cotidiano:
A videira, o pássaro e a nuvem me dizem algo.

A videira deu folhas, e no tempo, seus frutos.
E em um pouco mais de tempo, a outra videira, lugar dará.

O pássaro fará seus voos, filhotes certamente terão.
E em um pouco mais de tempo, estes também voarão...

A nuvem em movimento a outras se juntando
E em um pouco de tempo, em pingos de chuva, se converterá.

Também, quem a janela contempla tem sua finitude,
E em um pouco ou mais de tempo, também passará.

Ó inevitabilidade da morte que nos acompanha.
Que a fé nos dê um olhar que a transcenda.

Que passamos, não há como contestar:
Passam videiras, pássaros e nuvens.

Passam as videiras, pássaros, nuvens.
Passamos também. Mas de que modo?

O segredo do viver consiste no modo como passamos:
Passemos pela vida com olhar de fé na eternidade: céu.

Escrevamos as melhores páginas que pudermos,
Para que um dia por alguém lida, uma luz se acenda.

Silencio diante das Palavras d’Aquele que venceu a morte.
Sejam para nós as palavras dirigidas a Marta:

“Eu sou a Ressurreição e a vida.
Quem crê em mim, ainda que tenha morrido viverá.
E todo aquele que vive e crê em mim jamais morrerá” (cf. Jo 11,25-26).

Em poucas palavras...

                                                   


Princípios fundamentais em todo o tempo

De acordo com a  Carta Encíclica “Fratelli Tutti” - Papa Francisco - (2020), são princípios fundamentais:

O serviço ao Bem Comum; respeito pela Dignidade Humana; promoção da Justiça Social; combate à corrupção; cuidado com a Criação; diálogo e inclusão; e paz e reconciliação.

 

Com o Senhor, peregrinar na esperança

 


Com o Senhor, peregrinar na esperança

Sejamos enriquecidos pelo Tratado “Refutação de todas as heresias”, escrito pelo presbítero Santo Hipólito (Séc. III), em que nos apresenta o Verbo feito carne que diviniza o homem e a mulher.

“Não fundamentamos nossa fé em palavras sem sentido, nem nos deixamos arrastar pelos impulsos do coração ou persuadir pelo encanto de discursos eloquentes. Nossa fé se fundamenta nas palavras pronunciadas pelo poder divino.

Estas palavras, Deus as confiou a seu Verbo que as pronunciou para afastar o homem da desobediência; não quis obrigá-lo à força, como a um escravo, mas chamou-o para uma decisão livre e responsável.

Esse Verbo, o Pai enviou à terra no fim dos tempos; não o queria mais pronunciado por meio dos profetas nem anunciado por meio de prefigurações obscuras, mas ordenou que se manifestasse de forma visível, a fim de que o mundo, ao vê-lo, pudesse salvar-se.

Sabemos que o Verbo assumiu um corpo no seio da Virgem e transformou o homem velho em uma nova criatura.

Sabemos que Ele Se fez homem da nossa mesma substância. Se não fosse assim, em vão nos teria mandado imitá-Lo como Mestre.

De fato, se esse homem tivesse sido formado de outra substância, como poderia ordenar-me que fizesse as mesmas coisas que ele fez, a mim, frágil que sou por natureza? Como poderíamos então dizer que ele é bom e justo?

Para que não o julgássemos diferente de nós, suportou fadigas, quis ter fome e não recusou ter sede, dormiu para descansar, não rejeitou o sofrimento, submeteu-se à morte e manifestou a sua ressurreição.

Em tudo isto, ofereceu sua própria humanidade como primícias, para que tu não desanimes no meio do sofrimento, mas, reconhecendo tua condição de homem, esperes também receber o que Deus lhe deu.

Quando contemplares Deus tal qual é, terás um corpo imortal e incorruptível, como a alma, e possuirás o reino dos céus, tu que, peregrinando na terra, conheceste o Rei celeste; viverás então na intimidade de Deus e serás herdeiro com Cristo.

Todos os males que suportaste sendo homem, Deus os permitiu precisamente porque és homem; mas tudo o que pertence a Deus, ele promete conceder-te quando fores divinizado e te tornares imortal. Conhece-te a ti mesmo, reconhecendo a Deus que te criou; pois conhecer a Deus e ser por ele conhecido é a sorte daquele que foi chamado por Deus.

Por conseguinte, não vos envolvais em contendas como inimigos, nem penseis em voltar atrás. Cristo é Deus acima de todas as coisas, ele que decidiu libertar os homens do pecado, renovando o velho homem que tinha criado à sua imagem desde o princípio, e manifestando nesta imagem renovada o amor que tem por ti.

Se obedeceres aos seus mandamentos e por tua bondade te tornares imitador daquele que é o Bem supremo, serás semelhante a Ele e Ele te glorificará. Deus que tudo pode e tudo possui te divinizará para sua glória.”

Celebramos há poucos dias o Natal do Menino Jesus, e a Igreja nos propõe parte do mencionado Tratado para aprofundarmos o Mistério da Encarnação do Verbo que se fez Carne e habitou entre nós (cf. Jo 1,14).

Retomemos dois trechos para meditação oportuna e necessária:

- “Para que não o julgássemos diferente de nós, suportou fadigas, quis ter fome e não recusou ter sede, dormiu para descansar, não rejeitou o sofrimento, submeteu-se à morte e manifestou a sua ressurreição. Em tudo isto, ofereceu sua própria humanidade como primícias, para que tu não desanimes no meio do sofrimento, mas, reconhecendo tua condição de homem, esperes também receber o que Deus lhe deu.”

- “Se obedeceres aos seus mandamentos e por tua bondade te tornares imitador daquele que é o Bem supremo, serás semelhante a Ele e Ele te glorificará. Deus que tudo pode e tudo possui te divinizará para sua glória.”

Firmemos nossos passos peregrinando na esperança, pois podemos contar com o Senhor que caminha conosco e conhece nossas fragilidades, debilidades e nos garante êxito na travessia, com sagrados compromissos com a vida em todos os seus âmbitos, para que da glória um dia merecedores sejamos, e contemplemos a face de Deus, na plena comunhão com o Filho e o Espírito Santo. Amém.

Luzes do Espírito para o Ano Novo

                                                         


Luzes do Espírito para o Ano Novo

"Quem diz que permanece n'Ele, 
deve também proceder como Ele procedeu" (1 Jo 2,6)

Vinde, Espírito Santo, para nos conceder o verdadeiro conhecimento de Deus, que consiste na prática de Seus Mandamentos, no esforço generoso em proceder como Jesus, perfeito modelo de todo cristão.

Vinde, Espírito Santo, e ajudai-nos a viver o Mandamento por excelência, a síntese de todos os demais: o amor a Deus e ao próximo,  como nos ensinou Jesus.

Vinde, Espírito Santo, para nos ajudar a redescobrir este preceito antigo e sempre novo, que devemos viver todos os dias, para caminhar na luz.

Vinde, Espírito Santo, e ajudai-nos a conhecer a Deus, na observância de Sua Lei, para que não sejamos mentirosos e tenhamos um conhecimento errado de quem sois com o Pai e o Filho.

Vinde, Espírito Santo, e ajudai-nos a não fazer da Palavra de Deus uma mensagem cultural que pode passar, mas um proposta de vida plena e eterna.

Vinde, Espírito Santo, e concedei-nos o dom do conhecimento da vontade de Deus a ser realizada, acompanhada de todo o esforço coerente de vida.

Vinde, Espírito Santo, e fortalecei-nos para lutar contra as trevas do desamor, que nos impede de ver no irmão um filho de Deus, o próprio rosto de Cristo, luz do mundo (Jo 8,12).

Vinde, Espírito Santo, e ensinai-nos a amar de verdade, que significa dar-se, esquecer-se de si, buscar o bem dos outros, com o sacrifício do nosso tempo, de nossos interesses, gostos, da própria vida, como Jesus, que morreu pela salvação de todos nós.

Vinde, Espírito Santo, e ajudai-nos a viver o que o Apóstolo e Evangelista João nos disse: “Quem diz permanecer em Cristo, deve comportar-se como Ele Se comportou” (1 Jo 2,6).

Vinde, Espírito Santo, como amor entranhado de Deus, quando fomos visitados pela Luz que veio do alto: Jesus Cristo, Nosso Senhor. 

Vinde, Espírito Santo, e inflamai nosso coração de amor, para que alegres na esperança, façamos a travessia pelo mar da vida, vivendo a graça do Santo Jubileu, confiantes de que "A esperança não nos decepciona. Amém.


Fonte de inspiração: Comentário Missal Cotidiano – Editora Paulus – p.107 - e tema do Jubileu 2025 - "A esperança não decepciona" (Rm 5,5)

Paz, utopia e conquista, feliz quem a promove!

                                                         

Paz, utopia e conquista, feliz quem a promove! 

Em todo tempo somos interpelados a construir a cultura da paz. É preciso nutrir uma esperança que não nos coloque em atitude de resignação, delegando a Deus a promoção da paz; tampouco uma atitude demasiadamente otimista, como se ela pudesse vir por um decreto de poderosos.

Urge passarmos da cultura de morte e violência para uma cultura de vida e paz!

A paz deve ser para nós sempre uma utopia e uma conquista. Utopia porque é impossível realizá-la plenamente; conquista porque ela só é alcançada quando não se medem esforços necessários, das pequenas às grandes ações:

- Atitudes de reconciliação e perdão entre as pessoas;
- Tomada de consciência e colocação em prática da Declaração Universal dos Direitos Humanos;

- Política de desarmamento;
- Solidariedade para com os povos em conflito;

- Convivência e tolerância para com o diferente;
- Vivência de um ecumenismo com propostas concretas para defesa e promoção da vida;

- Consciência e sensibilidade ecológica na preservação do planeta etc.

A Paz como utopia e conquista nos será sempre um caminho para a felicidade: “Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9).

E você, o que está fazendo pela Paz?

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG