quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Graça, gratidão e gratuidade

                                                        


Graça, gratidão e gratuidade  

“...Um deles, ao perceber que estava curado,
voltou glorificando a Deus em alta voz;
atirou-se aos pés de Jesus, com o
 rosto por terra, e lhe agradeceu.”

A Liturgia da Palavra do 28º Domingo do Tempo Comum (ano C) - (2 Reis 5,14-17; 2 Tm 2,8-13; Lc 17,11-19) -  retrata de modo especial a cura que Deus propicia a todos, além das fronteiras de um determinado povo. Não há limites geográficos para a ação curativa de Deus.

Não há dúvida que o Amor, a bondade e o Projeto de Salvação de Deus destinam-se a todos os povos.

O que Deus espera de nós é a acolhida, com alegria, abertura, confiança, amor e gratidão.

E este é o grande questionamento que a Liturgia nos propicia: rever nossa abertura à Graça Divina, acompanhada pela gratidão por tudo que Ele realiza em nosso favor.

Se de um lado a gratidão é uma virtude que enobrece, por outro nada é mais desagradável do que conviver com pessoas ingratas, nada é mais empobrecedor do que o cultivo da autossuficiência, sobretudo da relativização da presença divina.

Viver como se de Deus não precisássemos é mergulhar no vazio de si mesmo, com perda de sentido, e horizontes restritos; é condenar-se a não realização; é o sequestrar-se de si mesmo quase que sem preço de resgate...

Somente em Deus o resgate, logo, sem voltar-se para Ele, não há alternativa, não há caminho, somente dor, desolação, vazio, sofrimento – caos jamais superável!

Como configurados a Cristo que devemos ser (segunda Leitura), jamais nos faltará Sua graça, portanto a gratidão e a gratuidade serão maneiras de fazermos com que O vejam em nós.

A passagem da primeira Leitura nos apresenta o rosto e o ser de Deus: Ele é único, dá a vida, salva a todos, pois a salvação carrega em si a marca da universalidade, espera a gratidão e não se deixa manipular por ninguém...

A Espiritualidade genuinamente Eucarística leva-nos a dizer “obrigado a Deus” e ao nosso próximo por tantos bens e graças recebidas.

Pode ocorrer que a cegueira, o desejo desmedido do dinheiro, do poder, da fama, dos privilégios, nos levem a uma secura diante do Mistério do Amor Divino, que nos inebria com o mais Sublime dos Vinhos, com o mais precioso dos pães, o Pão da Imortalidade.

Pessoas eucarísticas sabem dar graças a Deus em todas as circunstâncias, como nos disse o Apóstolo Paulo:
“Em todas as circunstâncias dai graças…” (1Ts 5, 18).

E como o escritor romano Sêneca:
 “Só os espíritos bem formados são capazes de cultivar a gratidão!”

Palavras de William Shakespeare:
“A gratidão é o único tesouro dos humildes.”

O grande Bispo Santo Agostinho, sobre a gratidão, já nos dizia:
“Que coisa melhor podemos trazer no coração,
pronunciar com a boca, escrever com a pena,
do que estas palavras: ‘graças a Deus’?  

Não há nada que se possa dizer com maior brevidade,
nem ouvir com maior alegria, nem sentir com maior
elevação, nem realizar com maior utilidade.”

Agradecer sempre pelo que somos e pelo que temos sem nos tornarmos reféns de nossa ingratidão. Temos uma fertilidade de memória, para as nossas necessidades e carências, maior do que para os nossos bens de Deus recebidos.

Assim completa Santo Agostinho:

“Nada é nosso, a não ser o pecado que possuímos.
Pois que tens tu que não tenhas recebido? (1Cor 4, 7).”

Finalizando, agradeçamos a alguém pelo que significa em nossa vida. E, diante de Deus, também elevar nosso infinito “muito obrigado, Senhor!”.

A acolhida da graça, acompanhada da gratidão,
leva-nos a viver cada vez mais
intensamente na gratuidade:
De graça recebemos, de graça
devemos dar, disse-nos o Senhor!

PS: Apropriado para a quarta-feira da 32ª Semana do Tempo Comum.

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