O Senhor
nos dirige Seu olhar de amor
Na terça-feira da
33ª Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Lucas, sobre a
conversão de Zaqueu, o chefe dos cobradores de impostos (Lc 19,10).
Refletimos sobre
o amor de Deus, sempre pronto a nos acolher e oferecer uma nova vida, desde que
nos proponhamos à conversão, com salutares compromissos, com gestos de amor e
partilha.
A acolhida de
Jesus por Zaqueu, em sua casa, é marcante para a nossa espiritualidade e muito
nos ajuda na caminhada de fé, como discípulos missionários do Senhor.
Os autores da
Sagrada Escritura, de modo geral, não economizam tinta para descrever a face do
Amor de Deus que nos transforma.
Zaqueu vendo a
Misericórdia, e sendo por Ela visto, na sua expressão maior, que é o próprio Jesus,
é transformado e faz sagrados propósitos: “… Senhor, eu dou metade dos meus bens aos pobres, e se defraudei
alguém, vou devolver quatro vezes mais” (Lc 19,8).
Zaqueu não
somente acolhe, mas se converte a partir da presença de Jesus. Ele é a representação
de nossa miséria, nossa condição pecadora, que corre para ver a
misericórdia.
Sua baixa
estatura revela nossa pequenez, insignificância, nossa condição de criaturas
diante do Criador, que apesar de nossas infidelidades, nossos pecados, jamais
nos abandona, pois é próprio do amor não abandonar o amado.
Quando o homem
corre para encontrar Deus (e não corre de Deus), por Ele é encontrado, e sente
o desejo profundo de levar outros ao mesmo encontro. Verdadeiramente, o
encontro com Deus nos transforma para sermos instrumentos de transformação na
vida do outro.
Contemplemos,
silenciosamente, a cena maior da história: Jesus é Deus, que veio ao encontro
dos homens, no entanto, ainda há quem não queira encontrá-Lo, e deixar-se por
Ele encontrar, porque não ama e não se sente amado, distanciando-se, assim, da
vida e da felicidade.
Somente a
experiência de amar e ser amado nos possibilita subir degraus na escada do
conhecimento de Deus. Se assim não acontece, é porque ainda não O encontramos.
Quando abrimos as
portas para a Salvação, a novidade se instaura em nosso coração e desejamos
ardentemente comunicá-la, e escrevemos belas páginas de nossa história.
A experiência de
Zaqueu pode ser a nossa experiência quotidiana, dependendo de cada um de nós.
A transformação
acontece porque somos acolhidos pelo amor de Deus; e uma vez acolhidos e
amados, transformados, somos revivificados e na comunidade reintegrados, para
que nos tornemos partícipes da História da Salvação que, insistentemente, quer
conosco escrever.
A História da
Salvação é única e acolhe nossa realidade de pecado: em Deus o pecado cede
lugar para a graça, a morte para a vida, a escuridão para a luz, o ódio para o
amor, o rancor para o perdão, a carência do essencial para a abundância daquilo
que é de fato vital.
Afinal, Ele veio
para que tenhamos vida plena, consumando no seu ápice, o céu, a eternidade, a
plenitude de seu Amor.
É próprio do amor
de Deus não exterminar, não excluir, a fim de que todos sejam salvos.
Infinita é a
superioridade da lógica de Deus em comparação com a lógica dos homens. A lógica
do amor de Deus, passando pelo AT e NT, é sempre aquela que nos garante a
verdadeira sabedoria e felicidade, e ninguém e nem nada nos poderá tirar desta
lógica.
Nada poderá nos
desviar do Caminho, porque n’Ele encontra-se a plena Verdade que nos garante a
Vida abundante.
O rosto de Deus
onipotente manifesta-se na grandiosidade de Sua tolerância e misericórdia, na
Sua prontidão em conceder o perdão, no amor para com todas as criaturas, porque
todas receberam o sopro da vida.
Falar de Seu
rosto misericordioso não é romantismo inútil, estéril, discurso evasivo, ao
contrário, crendo neste Deus bíblico, somos questionados na nossa capacidade de
acolher o diferente, o pecador e a ele dirigir nosso perdão…
Esperando a Sua segunda vinda, é tempo
favorável para o relacionamento e aprofundamento da nossa amizade com este Deus
Amor que nos é revelado na Sagrada Escritura.
Acomodação,
desistência, abandono do Mandamento do amor que nos dá vida nova, jamais!
O Senhor,
aguardamos vigilantes, amando, e somente assim sentiremos Sua
presença, plenamente mergulhado no Seu coração, no Seu Amor…
Finalmente, o
encontro de Jesus com Zaqueu nos possibilita a reflexão sobre três olhares:
- O próprio olhar
de Zaqueu, o olhar do pecador;
- O olhar dos
olhares, o olhar de Jesus, o olhar d’Aquele que acolhe e ama, porque ama
transforma;
- O olhar da
multidão que recrimina e não compreende a intensidade e profundidade do amor de
Deus pela humanidade, sobretudo a humanidade pecadora, que por Seu amor, amor
extremado na Cruz a redimiu. Sim, por amor e por um amor filial, incondicional,
fomos redimidos. Este é o nosso caminho: mais que o Deus de amor contemplar,
Seu amor viver.
Que nossos
olhares sejam como o olhar de Zaqueu, reconhecendo nossa condição pecadora, e
fazendo a experiência da acolhida, amor e perdão divinos, por Deus enxergados,
corações transformados. Somente assim os outros olhares também poderão se
renovar…
É próprio do amor
de Deus curar nossa cegueira. E curados, podemos ajudar a curar a cegueira do
próximo. Curados de toda cegueira pelo Amor divino, podemos nos ver e nos
relacionar como irmãos e irmãs.
“O amor do Senhor é uma chama devoradora,
que se te pega te envolve todo, ainda antes que tu te percebas”, diz o teólogo Hans Urs Von Baltazar.
Reflitamos:
- Como
amamos o pecador e o possibilitamos a se libertar de seu pecado?
- Qual a intensidade de perdão
que somos capazes de viver?
- Como vivemos a lógica do amor
que tem sua alta expressão na vivência do perdão?
- Como
amar o pecador e odiar o pecado?
Somente o Amor de Deus transforma o mundo e o coração dos homens! É próprio do amor transformar o coração do amado!
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