segunda-feira, 1 de abril de 2024

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé (Parte IV)

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé

Sendo a Ressurreição um evento transcendente, mas também histórico e real, é importante dizer que:

a) a Ressurreição confirma a divindade de Jesus que, como Filho de Deus encarnado, retorna à comunhão de Amor do Pai com Sua humanidade ressuscitada, como dissera para Marta, na ressurreição de Lázaro: “Eu sou a Ressurreição e a vida, quem crer em mim, não morrerá para sempre” (Jo 11,25). 

Oportuna a afirmação do Catecismo da Igreja Católica: “A Ressurreição do Crucificado demonstrará que Ele era verdadeiramente ‘Eu sou’, o filho de Deus e Deus mesmo’ (CIC 653).

b) Completa a revelação do Deus Trinitário: “do Pai, que glorifica o Filho Ressuscitando-O e elevando-O à Sua direita; do Filho, que com Seu Sacrifício redentor merece a exaltação à direita do Pai; do Espírito Santo, que Se confirma Espírito de vida e de Ressurreição (cf. 1 Pd 3,18; Rm 1,4)” (1)

c) A humanidade do Filho chega gloriosa à comunhão de Deus Trindade – na comunhão Trinitária de Deus está presente também a humanidade gloriosa do Filho.

d) Início dos eventos salvíficos últimos e definitivos, ou seja, em Jesus Ressuscitado o “eschaton” já se faz presente percebido por uma nova qualidade de vida divina, apontando para o destino e fim da História.

e) A Ressurreição tem um significado soteriológico fundamental – ela nos alcança a salvação – “Se, com a tua boca, confessas que Jesus é Senhor e se, em teu coração, crês que Deus o Ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Rm 10,9).

f) A Ressurreição se torna o evento da retomada da amizade entre Deus e a humanidade – Como Ressuscitado Jesus tem o poder espiritual de transformar homens e mulheres à Sua imagem para torna-los filhos do Pai.

g) A Ressurreição é a realização da nova humanidade liberta de toda escravidão do pecado e suas consequências (morte, sofrimento físico, moral e psicológico).

Jesus Ressuscitado é o homem novo que arrasta toda a humanidade nesse destino de novidades que os apóstolos, contando com sua presença e o sopro do Espírito, e na força de sua Palavra, os muitos sinais continuarão realizando: curas, libertação, expulsão de demônios, o bom combate da fé.

h) A Ressurreição é o cumprimento da esperança humana de imortalidade e de transcendência – todos carregamos a esperança do “transcendente”, o que o Teólogo K. Rahner chamou de “Esperança transcendental” – a procura de um sim à própria existência eterna e ao caráter definitivo da pessoa realizada (2).

i) A experiência da presença do Ressuscitado se dá de maneira especial na Ceia Eucarística, na escuta da Palavra proclamada e na Fração do Pão, que é o Corpo do Senhor, na grande Comunhão Eucarística.

Na Mesa Eucaristia não apenas celebramos o Memoria da Morte e Ressurreição de Jesus, mas participamos de Sua vida divina, da vida do Cristo Ressuscitado na História, com a realização de nosso encontro salvífico com Ele próprio.

Reconhecemos a presença de Jesus no corpo místico (Igreja) e no corpo eucarístico, confirmando assim Sua promessa e Palavra: “Eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos tempos” (Mt 28,20).

j) A Ressurreição de Jesus: vocação e missão – com ela se dá a revitalização da vocação e confirmação da missão.   

Há a “reconvocação por parte de Jesus após a dispersão no momento da Paixão e da Morte. Durante quarenta dias, da Páscoa à Ascensão, Jesus, mediante as aparições, chamou os discípulos para O seguirem, dando a Pedro e a outros Apóstolos a Sua missão definitiva  (Jo 21,15-19), e, ainda, a missão confiada (Mt 28,18-20)".

k) A Ressurreição é uma experiência de perdão – os Apóstolos são enviados para estabelecer, através do perdão conferido, vínculos de amizade.

Aos Apóstolos é confiado o poder de perdoar os pecados da humanidade (Jo 20,22-23). Esta experiência da Ressurreição é “para os cristãos, experiência de misericórdia, de perdão, de renovação espiritual, de participação na vitória de Jesus sobre o pecado e sobre a morte” (3).

l) A Ressurreição é uma experiência de conversão total a Jesus – confiar totalmente no poder da presença nova do Ressuscitado. Os Apóstolos, após a experiência da presença do Ressuscitado, se entregam convertidos à causa primeira, à causa de Jesus e do Seu Evangelho:

“A conversão, portanto, não pertence apenas ao período pré-pascal, mas é parte integrante da Páscoa, como contínua passagem da incredulidade à fé, da tristeza à alegria, da imobilidade do medo ao entusiasmo da missão” (4).

m) A Ressurreição é um evento de libertação porque leva à transformação radical em todos os níveis:

“...da humanidade e da natureza dos círculos negativos do pecado, da morte, do sofrimento físico, moral e psicológico. Com a Ressurreição de Jesus, o homem é restituído à sua liberdade integral e se inaugura uma nova prática de vida, que se explicita no anúncio do Ressuscitado e do Seu Reino de justiça, de paz, de solidariedade humana” (5).

Isto nos faz lembrar a afirmação de Paulo:“É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1).

n) A Ressurreição é um evento de real promoção da mulher, como discípula, ouvinte e mensageira da Palavra de Deus – as mulheres foram as primeiras a testemunhar a Ressurreição de Jesus anunciando aos discípulos a experiência vivida (Mt 28,1-10; Lc 24. 8-11): 

Trata-se de uma revalorização radical das mulheres, que não são as últimas, mas as primeiras no testemunho de fé de Cristo Ressuscitado. É emblemática a esse respeito a figura de Maria Madalena, que encontra Jesus ainda antes dos Apóstolos, tornando-se assim a primeira mensageira de Sua Ressurreição e Ascensão e merecendo assim o título de ‘Apóstola dos Apóstolos’ (Mulieris dignitatem 16)”.

Esta última experiência é tão importante que na Liturgia da Páscoa temos esta imortalização de extraordinário testemunho com a Sequência Pascal que vale a pena ser conferida e rezada mais uma vez.

E não poderia finalizar sem esta última citação: “O comportamento de Jesus de confiar também às mulheres as verdades divinas, como fizera, por exemplo, com a Samaritana (Jo 4,1-42), encontra nesse episódio seu nobre coroamento.

Contra todo legalismo da cultura da época, altamente discriminatória, as mulheres tornam-se de fato as primeiras testemunhas de Cristo Ressuscitado. Isso sublinha ainda uma vez a radical dignidade da mulher, sua inegável paridade com o homem e sua vocação de ser discípula, testemunha, profeta e mensageira, como os Apóstolos de Cristo Ressuscitado” (6).

De fato a Ressurreição é um evento transcendente, mas histórico e real, algo novo se inaugura em nossa inteligência.

Mais que conhecimento, discursos sobre a Ressurreição. Mais que palavras sobre ela, é preciso fazer a viva e real experiência em nosso meio, lembrando que não é fruto de busca humana, mas é antes de tudo uma graça que Deus concede àqueles que creem.

A Ressurreição é a experiência que fazemos d’Aquele que por Amor à humanidade Se fez Carne e, pelo mesmo Amor, na Cruz morreu. E um Amor assim vivido, não poderia para sempre ficar morto, vencido. O Pai O Ressuscitou, e por meio d’Ele nos enviou o Seu Espírito.


(1) Dicionário de Homilética – Verbete Ressurreição – pp. 1494/1495.
(2) Idem p. 1495
(3) (4) (5) Idem p. 1496

(6) Idem p. 1497

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