sábado, 1 de fevereiro de 2025

O enigma da dor e da morte e a fé que professamos

 


O enigma da dor e da morte e a fé que professamos
 
“Creio na Ressurreição da carne, na vida eterna”
 
Cremos que a morte, o enigma da condição humana, chega ao seu ponto extremo e que nada pode garantir a perenidade da vida de uma pessoa, nem mesmo a mais desenvolvida técnica.
 
Cremos que os cristãos, e todos de boa vontade, têm que lutar contra o mal, tribulações e aceitar a morte no Mistério Pascal, pois ela não tem última palavra.
 
Cremos e a fé nos ensina que, com a morte, se abre a possibilidade da contemplação da vida futura, à qual podemos alcançar, e poderemos viver a eterna Comunhão dos Santos e Santas no Amor da Trindade.
 
Cremos que fomos criados para um fim feliz; no entanto, o pecado e a morte irromperam por nossa culpa, mas pela Morte e Ressurreição de Jesus, fomos libertos da morte e introduzidos na plena comunhão divina
 
Cremos em Jesus Cristo, que morreu, e por Deus foi Ressuscitado e está sentado à direita de Deus. Juiz e Senhor da História, Rei do Universo, e, por Seu Espírito, podemos clamar a Deus como Pai.
 
Cremos em Jesus Cristo Ressuscitado, e isto dá um novo sentido à existência humana e seu fim último: a vida eterna, que necessariamente passa pela morte.
 
Cremos na ação do Espírito Santo, que nos une ao Mistério Pascal de Jesus, na realização de nossa vocação divina, e que, em Cristo, se ilumina o enigma da dor e da morte.
 
Cremos na Ressurreição do Senhor e, com ela, novas perspectivas para quem crê n’Ele, em atitude de resistência à dor e a morte, num encantamento pela vida, com sagrados compromissos com a Boa-Nova do Reino, para que tenhamos vida plena desde já e, um dia, eternamente na glória dos céus. Amém.
 
PS: Profissão de fé à luz da Constituição Pastoral “Gaudium et spes”- Vaticano II,  sobre a Igreja no mundo de hoje (n.18-22) (séc. XX), que reflete sobre o Mistério da Morte.
 
 

Reconheçamos e confessemos nossos pecados

                                                      

Reconheçamos e confessemos nossos pecados

Na primeira Leitura do 3º Sábado do Tempo Comum (ano par), ouvimos a passagem do Segundo Livro de Samuel (2 Sm 12,1-7a.10-17), em que Davi reconhece e confessa seu pecado, após a interpelação feita por Natã.

Davi reconhece seus gravíssimos pecados, suplica o perdão de Deus e o alcança.

Deste modo, a passagem nos revela um Deus de bondade e de misericórdia, que detesta o pecado, mas ama sem medida o pecador; bem como nos revela que Deus não é indiferente diante dos que abusam e exploram a vida do próximo.

Deus jamais abandona o pecador que reconhece a sua falta, comunicando o perdão e a Salvação como dom divino e não como conquista humana; o Seu perdão oferecido à humanidade é sempre a comunicação do Amor que possibilita uma vida nova.

O Apóstolo Paulo, também experimentou a graça e misericórdia divina, como vemos em sua Carta aos Gálatas (Gl 2, 16.19-21).

Este passou da Lei para a acolhida da graça que vem de Jesus, pois somente n’Ele encontramos a Salvação. Acolhendo a graça, Paulo chegou à identificação tão intensa com Jesus que afirmou:

Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim. E esta vida que agora vivo, eu vivo-a pela fé no Filho de Deus, que me amou e Se entregou por mim.” (Gl 2, 20).

A misericórdia de Deus oferece a possibilidade do recomeço, de novos passos, novos rumos, novas posturas, que nascem do encontro pessoal com a Divina Fonte de Amor e perdão: Jesus.

É o que vemos na passagem do Evangelho (Lc 7,36-8,3), na presença daquela mulher pecadora no banquete, lavando e beijando Seus pés.

Ela também experimentou a misericórdia divina, pois teve seus pecados perdoados e, assim, pôde espalhar pelo mundo o verdadeiro amor, como nunca o fizera.

Temos também o fariseu Simão, que tão apenas acolheu Jesus em sua casa, mas não O recebeu como Aquele que tem o poder de perdoar os pecados, e que deseja estabelecer conosco comunhão de vida, Amor e perdão.

Simão é a personificação daqueles que não reconhecem as próprias imperfeições, e se tornam medida para o outro, crendo que têm o poder de julgar, rotular, condenar e excluir do convívio.

São totalmente opostas as atitudes da pecadora, que entra no banquete, sem mesmo ter sido convidada, e com toda humildade se prostra aos pés do Senhor, lava-os com suas lágrimas, lágrimas de dor por seus pecados; enxuga-os com seus cabelos, com sua vida, acolhida e ternura, ungindo-os e cobrindo-os de beijos.

Jesus a perdoa não porque tenha pecado muito, mas porque muito O amou, e demonstrou o seu amor para com Ele. Esta mulher fez a experiência do amor “louco”, incompreendido, de Deus que perdoa.

Simão sequer cumpriu o ritual prescrito, muito menos se abriu ao perdão e ao Amor de Jesus, como o Messias, o enviado do Pai, a própria presença de Deus, o único que tem poder para perdoar os pecados.

Simão, como os convidados, é levado tão apenas pela aparência, encerra a mulher no seu passado, sem a perspectiva de mudança.

De outro lado, Jesus tem olhar que vai além das aparências, possibilitando a ela um futuro diferente, permitindo-lhe partir perdoada, amada e em paz.

Sendo assim, podemos nos identificar ora com Simão, ora com a pecadora que é perdoada por Jesus, assim como Davi que também peca e reconhece seus pecados.

Reflitamos:

- O que aprendemos com a atitude de Davi na passagem acima?
- Estamos tão identificados com o Senhor, a ponto de, como Paulo, podermos dizer “não sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim”?

- Por nossos pensamentos, palavras, atitudes, reconhecerão Cristo em nós?
- Reconhecemos nossos pecados e nos abrimos à misericórdia de Deus, alcançando e comunicando o perdão a quem nos ofende, como rezamos no Pai Nosso?

Somente experimentando o Amor e o perdão que vêm de Deus é que poderemos amar, perdoar e sermos perdoados.

O mundo precisa de Profetas da civilização do Amor, que se proponham a colaborar na construção do Reino do Amor de Deus no coração da humanidade.

Reconhecer e confessar nossos pecados e nos empenharmos na construção de um Reino de justiça, paz, amor, misericórdia, perdão, compaixão, verdade, liberdade e, sobretudo, de respeito aos direitos sagrados da vida, desde a concepção ao seu declínio natural. 

Reconhecer, confessar, mas procurar ter novos pensamentos, palavras, com novas posturas e compromissos, sem omissão com a promoção da beleza e esplendor da vida em todos os âmbitos. 

A Palavra do Senhor nos dá segurança

                                                          

A Palavra do Senhor nos dá segurança

No 3º sábado do Tempo Comum é proclamada a passagem do Evangelho em que Jesus está presente na barca e, com sua Palavra, o vento e o mar O obedecem (Mc 4, 35-41).

Aprofundando a Palavra, o Missal Cotidiano nos apresenta esta reflexão do Teólogo Karl Barth:

“O ser da Igreja é, em seu aspecto humano, um ser ameaçado. E não pode ser de outra maneira, porque Deus ainda não é tudo em todos. 

Em relação à cabeça a Igreja é de natureza claramente divina; como corpo desta cabeça, é incontestavelmente de natureza humana.

A Igreja, na medida em que faz depender seu ser de Deus, do evento de Sua Palavra e de Seu Espírito é subtraída às ameaças, justificada, santificada, purificada, preservada do Maligno.

Em seu Senhor Jesus Cristo encontra sua garantia única; somente d’Ele recebe a promessa, somente olhando para Ele adquire a segurança de sua existência.

A fidelidade de Deus lhe promete e lhe garante essa existência. Por parte dos homens que a constituem não existe, de fato, nenhuma garantia no gênero para a Igreja.

Permanece sempre, ao lado da fé, a possibilidade da incredulidade, da heresia, da superstição, como também da ignorância, indiferença, ódio, desespero, até à impotência de sua oração; e isso enquanto durar o tempo, enquanto a manifestação final da vitória de Jesus não tiver dissipado também esta sombra”. (1)

Somos membros desta Igreja, e estamos nesta longa travessia, confiantes na presença e na Palavra do Senhor, com nossas limitações, medos e fragilidades.

Renovemos hoje e sempre a alegria de continuar a missão de Jesus, como Igreja que somos, com a força e presença do Espírito, que a conduz, anima, ilumina, assiste, fortalece.

Os ventos que sopram contra a Igreja e a agitação do mar da vida são notáveis e incontestáveis, assim como também é notável é incontestável a presença do Senhor nesta barca, que simboliza a Igreja.

Não tenhamos medo, afastando quaisquer sinais que não manifestem a onipotência, onipresença e onisciência divinas, que jamais se afasta de nós.

A Palavra do Senhor não foi somente naquele dia memorável, como também as palavras dos discípulos, mas continua a ser proclamada em todos os tempos.

Ontem e hoje gritamos: “Mestre, estamos perecendo e não Te importas?”, e o Senhor continua a dizer ao vento e ao mar: “Silêncio! Cala-te!”

O vento cessou e houve uma grande calmaria, nos diz o Evangelista.
Ansiamos pela calmaria, mas não podemos ter medo e fugir dos ventos e da travessia do mar, ainda que turbulento.

Se forte é o vento e assustadora é a turbulência do mar, mais forte ainda é a Palavra do Senhor, que acalma os ventos e o próprio mar.
Sintamos Sua Presença, confiemos em Sua Palavra.


PS: Karl Barth (1886-1968), um grande teólogo cristão-protestante, pastor da Igreja Reformada e um dos líderes da teologia dialética e da neo-ortodoxia protestante.


(1) Missal Cotidiano - Paulus - p.704.

Nada a temer, o Senhor está conosco!

                                                  

Nada a temer, o Senhor está conosco!

“Quem é este, a quem até
o vento e o mar obedecem?”  (Mc 4, 41)

Este será mais um ano marcado por intensas atividades e desafios, e será um tempo oportuno para confirmamos a nossa fé, em corajoso testemunho e compromisso com a Boa-Nova do Reino.

Como Igreja que somos, simbolizada biblicamente pela barca, que faz a travessia até a outra margem, enfrentando os ventos, as tempestades. Dentro dela está o Senhor, e Sua Palavra ressoa no mais profundo de nós, quando ordenou ao vento e ao mar: “Silêncio! Cala-te!” (Mc 4, 39).

A presença serena e segura do Senhor na travessia, ainda que em águas turbulentas, até a outra margem, nos acompanha na missão de todos nós: a edificação de uma Igreja ministerial e missionária, comunicando a Alegria do Evangelho, que enche a vida da comunidade dos discípulos, como bem disse o Papa Francisco em sua primeira Exortação Apostólica “Alegria do Evangelho”.

As dificuldades que encontramos no desenvolver das atividades pastorais, como é próprio em todo lugar, serão superadas com a força da Palavra do Senhor e a presença de Seu Espírito.

A violência que gera tanta insegurança, medo de circular pelas ruas, praças e shoppings, não poderá ter a última palavra. Haveremos de encontrar caminhos para uma vivência mais humana e fraterna.

Como Igreja, as marcas da desigualdade social, o compromisso social e político não serão ignorados por ninguém.

Urge que as lideranças intensifiquem o engajamento político, como cristãos, a fim de que sejam uma presença iluminadora e promotora de relações mais justas e solidárias, com vistas ao bem comum, sendo sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5,13-16)

A travessia do mar é sempre uma ação ininterrupta da Igreja, como também a assistência e o sopro do Espírito em sua condução.

Renovemos o ardente desejo de permanecer na barca do Senhor, enfrentando adversidades e ventos contrários, se preciso, mas sempre dentro da barca, pois fora dela seríamos submersos nas águas do mar da vida e suas propostas de facilidades, ausência de esperança, consumismo, indiferentismo e outras tantas seduções que o mundo nos oferece.

Finalmente, como Igreja, elevamos a Deus nossas Orações para todos que sejam responsáveis pelo rebanho, sejam os primeiros a dar total testemunho de confiança e perseverança dentro desta barca na qual se encontra o Senhor.

A travessia é longa! Não sejamos tímidos, medrosos e desertores. Permaneçamos na barca do Senhor, pois Deus, em Sua infinita bondade que tudo providencia, jamais nos abandonará.


PS: Passagem do Evangelho (Mc 4,35-41) - Escrito em 30/01/2021

Coragem na travessia

                                                    

Coragem na travessia

“Quem é este homem,
que até o vento e o mar lhe obedecem” 
(Mc 4,41)

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Marcos (Mc 4,35-41), que nos apresenta a ação de Jesus que, com Sua Palavra, acalma o vento e o mar – “Silêncio! Cala-te!” (Mc 4,39).

Para aprofundamento e enriquecimento, ofereço dois comentários para reflexão:

- “O Mistério da Encarnação renova-se na História da Igreja: nesta permanece a força invisível (instituída na fé e na esperança) de um povo de pobres, chamado a atravessar as vagas e as tempestades da História numa barca exposta às forças da intempérie.

A fraqueza, a precariedade dos instrumentos e dos meios escolhidos para testemunhar o Reino torna-se o lugar privilegiado, no qual se manifesta o poder de um Outro” (1);

- “O ser da Igreja é, em seu aspecto humano, um ser ameaçado. E não pode ser de outra maneira, porque Deus ainda não é tudo em todos. Em relação à cabeça a Igreja é de natureza claramente divina; como Corpo desta Cabeça, é incontestavelmente de natureza humana.

A Igreja, na medida em que faz depender seu ser de Deus, do evento de Sua Palavra e de Seu Espírito é subtraída às ameaças, justificada, santificada, purificada, preservada do Maligno.

Em seu Senhor Jesus Cristo encontra sua garantia única; somente d’Ele recebe a promessa, somente olhando para Ele adquire a  segurança de sua existência. A fidelidade de Deus lhe promete e lhe garante essa existência. Por parte dos homens que a constituem não existe, de fato, nenhuma garantia no gênero para a Igreja.

Permanece sempre, ao lado da fé, a possibilidade da incredulidade, da heresia, da superstição, como também da ignorância, indiferença, ódio, desespero, até à impotência de sua oração; e isso enquanto durar o tempo, enquanto a manifestação final da vitória de Jesus não tiver dissipado também esta sombra”.

Os ventos fortes e mares agitados continuam a nos atemorizar na ação evangelizadora. Incontáveis desafios, inumeráveis clamores sobem aos céus e pedem nossa resposta solidária, como expressão da compaixão e ternura que devem nos impulsionar constantemente.

Conscientes de nossas fraquezas, limites, imperfeições, empenhemo-nos sempre a fazer o melhor, a serviço da vida e da esperança de novos tempos, novas realidades.

E avancemos nesta travessia, com a certeza de que o Senhor Se encontra em nossa barca, em Sua Igreja, e com Sua Palavra e presença, com a ação do Espírito, experimentemos a bondade e onipotência de Deus, que jamais nos desampara e nos abandona.

A Palavra do Senhor nos acompanha e nos dá segurança nesta necessária travessia: “Silêncio! Cala-te!”.



(1)         Lecionário Comentado – Tempo Comum – Vol. I – Editora Paulus – p.153
(2)        Missal Cotidiano – Editora Paulus – p.704

Fé na presença e Palavra do Senhor na longa travessia

                                                      

Fé na presença e Palavra do Senhor na longa travessia

“‘Silêncio! Cala-te!’ O vento cessou
e houve uma grande calmaria. Então
Jesus perguntou aos discípulos:
“Por que sois tão medrosos?
Ainda não tendes fé?”
(Mc 4, 39-40)

Com a Liturgia do 3º Sábado do Tempo Comum, refletimos sobre a necessária confiança na presença e ação de Deus, que jamais nos abandona na realização de Seu Projeto de vida plena e salvação para a humanidade.

Refletimos também sobre a realidade do sofrimento, das dificuldades e das adversidades presentes em nossa vida, e a manifestação amorosa de Deus, que quer de nós confiança e entrega total em Suas mãos, com toda humildade.

Na passagem do Evangelho (Mc 4,35-41), apresenta a caminhada dos discípulos e as dificuldades encontradas: os discípulos nunca estão sozinhos no enfrentar das tempestades, que se levantam na travessia do mar da vida.

Não há nada a temer, porque Cristo está presente com Sua Pessoa e Palavra, e com Ele pode-se vencer as forças e ventos contrários, que se contrapõem ao Projeto de salvação que Deus tem para a humanidade.

A simbologia do mar é sempre muito forte na mentalidade judaica: “para falar de realidade assustadora, indomável, orgulhosa, desordenada onde residiam os poderes caóticos que o homem não conseguia controlar e onde estavam os poderes maléficos que queriam destruir os homens...

Só Deus, com o Seu poder e majestade, podia por limites ao mar, dar-lhe ordens e libertar os homens dessas forças descontroladas do caos que o mar encerrava” (1).

Deste modo, a passagem do Evangelho é uma página catequética, em que a partir dos elementos simbólicos (mar, barco, tempestade, noite e o sono de Jesus), nos fala da comunidade dos discípulos de Jesus em sua desafiadora caminhada na história, haja vista que Marcos escreve o Evangelho numa época em que a Igreja estava enfrentando sérias “tempestades” e a mais desafiadora de todas, a perseguição de Nero, somado aos problemas internos causados pela diferença de perspectivas entre judeo-cristãos e pagano-cristãos.

Voltemo-nos para a simbologia:

Barco - na catequese cristã, é o símbolo da comunidade de Jesus que navega pela história.

Barco rumando para a outra margem, ao encontro das terras dos pagãos: a salvação se destina a todos - universalidade da salvação.

O sono de Jesus - aparente ausência.

A tempestade - dificuldades, perseguição e hostilidades, que os discípulos terão de enfrentar ao longo do caminho até o fim dos tempos.

Jesus acalmando a fúria do mar e do vento com a Sua Palavra - manifestação da presença divina em sua Pessoa e Palavra.

Portanto, a grande pretensão do Evangelista é apontar o caminho da fé, que se expressa em total confiança na presença e Palavra do Senhor para enfrentar as “tempestades”, e em todos os tempos: a comunidade é chamada a fazer a experiência de adesão, confiança, obediência, em entrega total e incondicional nas mãos de Deus, que conduz a história.

A comunidade dos discípulos de Jesus, em plena fidelidade e confiança n'Ele, deve passar para a outra margem, ou seja, aqui é a dimensão missionária da Igreja que não pode se acomodar, mas deve se colocar a serviço da transformação do mundo, como tão bem expressou o Papa Francisco, superando todo medo e acomodação:

Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com o ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos.” (n.49 – Alegria do Evangelho).

Reflitamos:

- Quem é Jesus para mim?
- Sinto a presença de Jesus na comunidade que participo?

- Confio na Palavra do Senhor para enfrentar as “tempestades” e os ventos contrários do dia a dia na travessia para a outra margem?
- Sinto a força divina que nos anima em todas as dificuldades?

- Como é minha adesão ao Senhor e acolhida de Sua Palavra?
- Acredito que, com a Pessoa de Jesus e Sua Palavra, as forças do mal não têm a última palavra?

Finalizando, é preciso encontrar-se com o Senhor e deixar-se transformar por Ele, numa relação de amor e confiança total n’Ele, para que assim vençamos todo medo e enfrentemos todas as “tempestades”, e a pior de todas as tempestades: não sentir a presença e o Amor de Deus, ou de Seu Amor prescindir.


Fonte inspiradora e citações (1)

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Que cada um faça bem e com amor o que lhe é próprio!

                                                             


Que cada um faça bem e com amor o que lhe é próprio!

Há muito tempo a Igreja insiste na Pastoral de Conjunto e no respeito às instâncias decisivas e participativas dentro ou até mesmo fora dela, do qual não podemos esquecer, pois estaríamos nos afastando no retrato das primeiras comunidades: “Os cristãos eram perseverantes na doutrina dos apóstolos...” (Atos 2,42-45).

Nas páginas bíblicas contemplamos o agir de Deus e vemos que é próprio do Seu amor nos educar para a liberdade, a responsabilidade e a verdade.

Lamentavelmente, muitos ainda não aprenderam a corresponder à altura este amor, pois não querem ou não se abrem para estes ensinamentos que nos conduziriam inevitavelmente a uma autêntica espiritualidade e maturidade cristã, e consequente fortalecimento de nossas comunidades, conferindo à evangelização mais ardor e renovação em expressões e métodos.

Isto nos leva a refletir sobre a necessidade de retomar um princípio muito forte, o Princípio da Subsidiariedade, que tem seus momentos nascentes na Encíclica “Quadragesimo Anno” (1931), quando o Papa Pio XI já chamava o mundo para a necessária busca de caminhos para uma verdadeira ordem internacional.

O Princípio da Subsidiariedade deve promover uma harmonização das relações entre os indivíduos e as sociedades, instaurando uma verdadeira ordem internacional, sendo também fundamental para a construção de relações de poder e serviço dentro da própria Igreja, devendo ser incansavelmente aprendido em âmbito paroquial, regional, diocesano, enfim, na Igreja como um todo.

Vejamos o que diz o Catecismo da Igreja acerca do referido Princípio no parágrafo 1883: “Segundo este Princípio, uma sociedade de ordem superior não deve interferir na vida interna de uma sociedade inferior, privando-a de suas competências, mas deve, antes, apoiá-la em caso de necessidade e ajudá-la a coordenar sua ação com as dos outros elementos que compõem a sociedade, tendo em vista o bem comum”

E no parágrafo 1884, insistindo na liberdade humana para a qual Deus nos criou e que deve ser acompanhada e inspirada de sabedoria no governo, independente de que ordem seja, diz que: “Deus não quis reter só para si o exercício de todos os poderes. Confia a cada criatura as funções que esta é capaz de exercer, segundo as capacidades da própria natureza. Este modo de governo deve ser imitado na vida social. O comportamento de Deus no governo do mundo, que demonstra tão grande consideração pela liberdade humana, deveria inspirar a sabedoria dos que governam as comunidades humanas. Estes devem comportar-se como ministros da providência divina”.

Portanto, se o Princípio da Subsidiariedade, em nossas comunidades, bem entendido e vivido o for, o poder será a expressão do serviço, como nos ensinou o Senhor; a abertura ao outro e a alegria em servir se farão presentes em todos. Importa nos espaços da Igreja, no bom desempenho da pastoral observar o que lhe é próprio e intransferível sem invadir o espaço do outro.

Concluindo:

Temos ainda muito a aprender para, de fato, correspondermos ao amor e a confiança que Deus, em nós, deposita. Somente assim cresceremos e amadureceremos para aquilo que Deus espera de nós, pois é próprio do Amor de Deus querer sempre o melhor de nós... Eis uma das faces da Misericórdia Divina que alguns já descobriram...

Princípio da Subsidiariedade vivido, pastoral frutuosa será, a começar das comunidades, mas se espraiando na Igreja como um todo.

Temos ainda muito a nos converter para sua prática, estejamos onde estivermos, ou independentemente de onde ou em que participamos.

Que o Princípio da Subsidiariedade jamais seja esquecido! Pois se levado em conta, nos ajudará a avançar para águas mais profundas na perfeita comunhão e participação... 

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