quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Mensagem para o 48º Dia Mundial da Paz (Papa Francisco)



Mensagem para o 48º Dia Mundial da Paz

“Já não escravos, mas irmãos"

Na Mensagem para o XLVIII Dia Mundial da Paz, celebrado em 1º de janeiro de 2015, o Papa Francisco propõe uma reflexão sobre os conflitos e guerras ideológicas entre as religiões e países, bem como chama a atenção para a necessidade do diálogo e da paz.

Também alerta para as diferentes formas de escravidão existentes no mundo, que precisam ser superadas, pois não há lugar para a escravidão aos olhos de Deus e a revelação bíblica - ‘já não escravos, mas irmãos’, que é exatamente o versículo inspirador de sua Mensagem, da Carta de Paulo a Filemon.

Na fundamentação bíblica, o Papa faz menção a outras passagens (Gn 1,27-28; Gn 4, 1-16; Gn 9,18-27),  em que nos fala de uma nova realidade que devemos estabelecer entre os povos, para que a vida e a dignidade humana sejam preservadas, contra toda forma de guerra, conflito, violência:

“... a conversão a Cristo, o início de uma vida de discipulado em Cristo constitui um novo nascimento (cf. 2 Cor 5, 17; 1 Ped 1, 3), que regenera a fraternidade como vínculo fundante da vida familiar e alicerce da vida social”.

Após a fundamentação, ele afirma que o próprio Jesus disse aos Seus discípulos:

«Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai» (Jo 15, 15), e é esta relação que devemos estabelecer entre nós.

Apresenta as múltiplas faces da escravatura, ontem e hoje:

- milhões de pessoas – crianças, homens e mulheres de todas as idades – são privadas da liberdade e constrangidas a viver em condições semelhantes às da escravatura;

- trabalhadores e trabalhadoras, mesmo menores, escravizados nos mais diversos sectores, a nível formal e informal, desde o trabalho doméstico ao trabalho agrícola, da indústria manufatureira à mineração, tanto nos países onde a legislação do trabalho não está conforme as normas e padrões mínimos internacionais, como – ainda que ilegalmente – naqueles cuja legislação protege o trabalhador;

- as condições de vida de muitos migrantes que, ao longo do seu trajeto dramático, padecem a fome, são privados da liberdade, despojados dos seus bens ou abusados física e sexualmente;

- tantos que chegando ao destino, depois de uma viagem duríssima e dominada pelo medo e a insegurança, ficam detidos em condições às vezes desumanas;

- tantos que em diversas circunstâncias sociais, políticas e econômicas impelem a passar à clandestinidade, e naqueles que, para permanecer na legalidade, aceitam viver e trabalhar em condições indignas, caracterizando no trabalho escravo;

-pessoas obrigadas a se prostituírem, entre as quais se contam muitos menores;

- mulheres forçadas a casar-se, umas são vendidas para casamento e outras são deixadas em sucessão a um familiar, por morte do marido, sem que tenham o direito de dar ou não o próprio consentimento;

- menores e adultos que são objeto de tráfico e comercialização para remoção de órgãos, recrutados como soldados, para servirem de pedintes, para atividades ilegais, como a produção ou venda de drogas, ou formas disfarçadas de adoção internacional;

- aqueles que são raptados e mantidos em cativeiro por grupos terroristas, servindo os seus objetivos como combatentes ou, especialmente no que diz respeito às meninas e mulheres, como escravas sexuais, e muitos deles desaparecem, alguns são vendidos várias vezes, torturados, mutilados ou mortos.

Em seguida, apresenta algumas causas profundas da escravatura, quando se trata o outro como um objeto consequência da rejeição da humanidade do outro.

A primeira causa acenada por ele é a combinação da pobreza, com o subdesenvolvimento e exclusão, resultando na falta de acesso à educação, falta de oportunidades de emprego:

– “Não raro, as vítimas de tráfico e servidão são pessoas que procuravam uma forma de sair da condição de pobreza extrema e, dando crédito a falsas promessas de trabalho, caíram nas mãos das redes criminosas que gerem o tráfico de seres humanos. Estas redes utilizam habilmente as tecnologias informáticas modernas para atrair jovens e adolescentes de todos os cantos do mundo”

A segunda é a corrupção daqueles que, para enriquecer, estão dispostos a tudo, isto se deve – “Quando a pessoa é deslocada e chega o deus dinheiro, dá-se esta inversão de valores”.

Apresenta outras causas da escravidão, como os conflitos armados, as violências, a criminalidade e o terrorismo.

Mas também exorta a todas as pessoas de boa vontade para um compromisso comum, para que se vença a escravatura; menciona as congregações religiosas femininas, que realizam, silenciosamente, valiosos trabalhos em favor das vítimas da escravatura, numa tríplice ação: o socorro às vítimas, a sua reabilitação sob o perfil psicológico e formativo, e a sua reintegração na sociedade de destino ou de origem.

Outros atores são fundamentais neste trabalho, e o Papa exorta para que não meçam esforços nesta missão de inverter esta lógica de escravidão que atenta à vida e à dignidade humana:

o papel dos Estados, que deveriam vigiar para que as respectivas legislações nacionais sobre as migrações, o trabalho, as adoções, a transferência das empresas e a comercialização de produtos feitos por meio da exploração do trabalho sejam efetivamente respeitadoras da dignidade da pessoa;

as organizações intergovernamentais são chamadas, no respeito pelo princípio da subsidiariedade, a implementar iniciativas coordenadas para combater as redes transnacionais do crime organizado que gerem o mercado de pessoas humanas e o tráfico ilegal dos migrantes;

as empresas têm o dever não só de garantir aos seus empregados condições de trabalho dignas e salários adequados, mas também de vigiar para que não tenham lugar, nas cadeias de distribuição, formas de servidão ou tráfico de pessoas humanas;

a responsabilidade social do consumidor, porque cada pessoa deveria ter consciência de que «comprar é sempre um ato moral, para além de econômico»;

 - as organizações da sociedade civil  que têm o dever de sensibilizar e estimular as consciências sobre os passos necessários para o combate e erradicação da cultura da servidão.

Para que a paz se torne uma realidade, convoca os cristãos para que sejam “artífices da globalização da solidariedade e da fraternidade que possa devolver-lhes a esperança e levá-los a retomar, com coragem, o caminho através dos problemas do nosso tempo e as novas perspectivas que este traz consigo e que Deus coloca nas nossas mãos”. É preciso globalizar a fraternidade, com um não à escravidão e à indiferença.

Um ícone desta atitude, o Papa cita Josefina Bakhita, “a Santa originária da região do Darfur, no Sudão. Raptada por traficantes de escravos e vendida a patrões desalmados desde a idade de nove anos, haveria de tornar-se, depois de dolorosas vicissitudes, «uma livre filha de Deus» mediante a fé vivida na consagração religiosa e no serviço aos outros, especialmente aos pequenos e fracos.

Esta Santa, que viveu a cavalo entre os séculos XIX e XX, é também hoje testemunha exemplar de esperança para as numerosas vítimas da escravatura e pode apoiar os esforços de quantos se dedicam à luta contra esta «ferida no corpo da humanidade contemporânea, uma chaga na carne de Cristo».

Todos precisamos reconhecer que estamos perante um fenômeno mundial que excede as competências de uma única comunidade ou nação e, que para vencê-lo, é preciso uma mobilização de dimensões comparáveis às do próprio fenômeno, multiplicando gestos pequenos e grandes de solidariedade e fraternidade:

– “lanço um veemente apelo a todos os homens e mulheres de boa vontade e a quantos, mesmo nos mais altos níveis das instituições, são testemunhas, de perto ou de longe, do flagelo da escravidão contemporânea, para que não se tornem cúmplices deste mal, não afastem o olhar à vista dos sofrimentos de seus irmãos e irmãs em humanidade, privados de liberdade e dignidade, mas tenham a coragem de tocar a carne sofredora de Cristo, o Qual Se torna visível através dos rostos inumeráveis daqueles a quem Ele mesmo chama os «meus irmãos mais pequeninos» (Mt 25, 40.45)”.

São indispensáveis, porque questionadoras, as palavras finais de sua Mensagem:

“Sabemos que Deus perguntará a cada um de nós: Que fizeste do teu irmão? (cf. Gen 4, 9-10). A globalização da indiferença, que hoje pesa sobre a vida de tantas irmãs e de tantos irmãos, requer de todos nós que nos façamos artífices de uma globalização da solidariedade e da fraternidade que possa devolver-lhes a esperança e levá-los a retomar, com coragem, o caminho através dos problemas do nosso tempo e as novas perspectivas que este traz consigo e que Deus coloca nas nossas mãos”.

PS: O texto na íntegra, o leitor poderá conferir acessando:

Mensagem para o 47º Dia Mundial da Paz (Papa Francisco) (2014)



“Fraternidade, fundamento e caminho para a paz”

Apresento ao leitor uma síntese da Mensagem do Santo Padre Francisco quando da Celebração do 47º Dia Mundial da Paz - 1º de Janeiro de 2014.

Intitulada “Fraternidade, fundamento e caminho para a paz”, logo no início da Mensagem encontramos o seu conteúdo. O papa expressa seu desejo de “...formular a todos, indivíduos e povos, votos duma vida repleta de alegria e esperança.

Com efeito, no coração de cada homem e mulher, habita o anseio duma vida plena que contém uma aspiração irreprimível de fraternidade, impelindo à comunhão com os outros, em quem não encontramos inimigos ou concorrentes, mas irmãos que devemos acolher e abraçar”

Sendo o homem um ser relacional, a fraternidade é para ele uma dimensão essencial, que começa a ser aprendida habitualmente no seio da família, graças, sobretudo, às funções responsáveis e complementares de todos os seus membros, mormente do pai e da mãe.

Ressalta o papel da família como fonte de toda a fraternidade, sendo por isso mesmo também o fundamento e o caminho primário para a paz, já que, por vocação, deveria contagiar o mundo com o seu amor.

Abrir-se às comunidades maiores onde se viva a autêntica globalização da solidariedade, num mundo caracterizado muitas vezes pela «globalização da indiferença» que lentamente nos faz «habituar» ao sofrimento alheio, fechando-nos em nós mesmos.

Esta globalização da indiferença, ausência da cultura da solidariedade, é facilmente constatada por novas ideologias que levam ao individualismo, ao egocentrismo e ao consumismo materialista, que fragilizam os laços sociais, promovem a cultura do descartável dos mais fracos, porque considerados inúteis.

Três gravíssimas preocupações ameaçam a vida humana: o fenômeno do tráfico de seres humanos; as guerras com confrontos armados e as guerras menos invisíveis nos campos econômico e financeiro, com meios igualmente demolidores de vidas, de famílias, de empresas.

Acentua que a verdadeira fraternidade entre os homens supõe e exige uma paternidade transcendente, o reconhecimento desta paternidade, consolida-se a fraternidade entre os homens, ou seja, aquele fazer-se «próximo» para cuidar do outro.

A partir do versículo Gn 4,9 «Onde está o teu irmão?» e de outros das primeiras páginas da Sagrada Escritura, fundamenta a fonte de todo rompimento da fraternidade com a dramática perda da reciprocidade e comunhão.

Reafirma sobre a “paternidade eficazmente geradora de fraternidade, porque o Amor de Deus, quando é acolhido, torna-se no mais admirável agente de transformação da vida e das relações com o outro, abrindo os seres humanos à solidariedade e à partilha ativa” (n.3)

Cito, propositalmente, este pequeno trecho da mensagem “...a fraternidade humana foi regenerada em e por Jesus Cristo, com a Sua Morte e Ressurreição. A Cruz é o «lugar» definitivo de fundação da fraternidade que os homens, por si sós, não são capazes de gerar.

Jesus Cristo, que assumiu a natureza humana para redimi-la, amando o Pai até à morte e morte de Cruz (cf. Fl 2, 8), por meio da Sua Ressurreição constitui-nos como humanidade nova, em plena comunhão com a vontade de Deus, com o Seu Projeto, que inclui a realização plena da vocação à fraternidade.” (n.3)

Com a Morte e Ressurreição do Senhor há um só povo, um só homem novo e uma só humanidade.

Apoiando-se em duas Encíclicas de seus Predecessores, “Populorum Progressio” e Sollicitudo Rei Socialis”, fundamenta a afirmação título de sua mensagem: “A fraternidade, fundamento e caminho para a paz”.

Na primeira, com o Paulo VI, apreendemos que o desenvolvimento integral dos povos é o novo nome da paz, quando acenou para a construção do futuro da humanidade, no qual três deveres não podem ser omitidos: a solidariedade entre as nações, a promoção da justiça social e a caridade universal.

Na segunda, com João Paulo II, apreendemos que paz é “opus solidaritatis”, fruto da solidariedade, e também um bem indivisível, ou seja, ou é bem de todos, ou não o é de ninguém.

Na realidade, a paz só pode ser conquistada e usufruída, como melhor qualidade de vida e como desenvolvimento mais humano e sustentável, se estiver viva em todos «a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum».

É fundamental que vivamos a solidariedade cristã que “pressupõe que o próximo seja amado não só como «um ser humano com os seus direitos e a sua igualdade fundamental em relação a todos os demais, mas [como] a imagem viva de Deus Pai, resgatada pelo Sangue de Jesus Cristo e tornada objeto da ação permanente do Espírito Santo» como um irmão.

«Então a consciência da paternidade comum de Deus, da fraternidade de todos os homens em Cristo, “filhos no Filho”, e da presença e da ação vivificante do Espírito Santo conferirá – lembra João Paulo II – ao nosso olhar sobre o mundo como que um novo critério para o interpretar», para o transformar.

Uma autêntica fraternidade, portanto, vê no outro uma imagem viva de Deus, e se torna um imperativo sua supressão, que caracteriza a ausência da fraternidade.

Para tanto é preciso promover a fraternidade que nos pede o desapego, vivido como quem escolhe estilos de vida sóbrios e essenciais, por quem, partilhando as suas riquezas, consegue assim experimentar a comunhão fraterna com os outros, o que é fundamental, para seguir Jesus Cristo e ser verdadeiramente cristão.

Exorta para a redescoberta da fraternidade na economia: “As sucessivas crises econômicas devem levar a repensar adequadamente os modelos de desenvolvimento econômico e a mudar os estilos de vida. A crise atual, com pesadas consequências na vida das pessoas, pode ser também uma ocasião propícia para recuperar as virtudes da prudência, temperança, justiça e fortaleza” 

A fraternidade também pede a extinção da guerra: “...desejo dirigir um forte apelo a quantos semeiam violência e morte, com as armas: naquele que hoje considerais apenas um inimigo a abater, redescobri o vosso irmão e detende a vossa mão!

Renunciai à via das armas e ide ao encontro do outro com o diálogo, o perdão e a reconciliação para reconstruir a justiça, a confiança e esperança ao vosso redor!

...Não podemos, porém, deixar de constatar que os acordos internacionais e as leis nacionais, embora sendo necessários e altamente desejáveis, por si sós não bastam para preservar a humanidade do risco de conflitos armados.

É precisa uma conversão do coração que permita a cada um reconhecer no outro um irmão do qual cuidar e com o qual trabalhar para, juntos, construírem uma vida em plenitude para todos.”

Outros graves problemas que fragilizam a fraternidade também são abordados com muita propriedade em sua mensagem como a corrupção e o crime organizado.

Mas a fraternidade também nos interpela para que ajudemos a guardar e cultivar a natureza que se encontra a nossa disposição, utilizando com sabedoria e responsabilidade os recursos para proveito de todos, respeitando a beleza, a finalidade e a utilidade dos diferentes seres vivos e a sua função no ecossistema.

Acena para o modo de se encontrar um caminho para acabar com o escândalo da fome que condena milhões de pessoas: “... é necessário encontrar o modo para que todos possam beneficiar dos frutos da terra, não só para evitar que se alargue o fosso entre aqueles que têm mais e os que devem contentar-se com as migalhas, mas também e, sobretudo, por uma exigência de justiça e equidade e de respeito por cada ser humano.

Na Conclusão, acena novamente para a necessidade “de que a fraternidade seja descoberta, amada, experimentada, anunciada e testemunhada; mas só o amor dado por Deus é que nos permite acolher e viver plenamente a fraternidade”.

Aos cristãos, uma exortação final: “acreditamos que, na Igreja, somos membros uns dos outros e todos mutuamente necessários, porque a cada um de nós foi dada uma graça, segundo a medida do dom de Cristo, para utilidade comum (cf. Ef 4, 7.25; 1 Cor 12, 7).

Cristo veio ao mundo para nos trazer a graça divina, isto é, a possibilidade de participar na Sua vida. Isto implica tecer um relacionamento fraterno, caracterizado pela reciprocidade, o perdão, o dom total de si mesmo, segundo a grandeza e a profundidade do Amor de Deus, oferecido à humanidade por Aquele que, Crucificado e Ressuscitado, atrai todos a Si: «Dou-vos um novo Mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei.

Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 34-35).

Esta é a boa nova que requer, de cada um, um passo mais, um exercício perene de empatia, de escuta do sofrimento e da esperança do outro, mesmo do que está mais distante de mim, encaminhando-se pela estrada exigente daquele amor que sabe doar-se e gastar-se gratuitamente pelo bem de cada irmão e irmã.”

Acenando para a vida cristã, que tem no serviço a alma da fraternidade que edifica a paz, exorta para que “Maria, a Mãe de Jesus, nos ajude a compreender e a viver todos os dias a fraternidade  que jorra do coração do seu Filho, para levar a paz a todo o homem que vive nesta nossa amada terra.”

Em poucas palavras...

                                                       


Maria, modelo de vida cristã

“Maria não é a meta da existência cristã, mas seu modelo e, neste sentido é insubstituível.”  (1)

 

(1)       Comentário Missal Cotidiano – Editora Paulus – pág. 1767

Mensagem para o 46º Dia Mundial da Paz (Papa Bento XVI) (primeira parte) (2013)



Mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz

“Bem aventurados os que promovem a paz ,
porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9)

Apresento uma síntese da Mensagem do Papa Bento XVI para o dia 1º de janeiro de 2013, quando celebramos a Solenidade da Mãe de Deus e o Dia Mundial da Paz. Divido em três partes para facilitar a leitura.

Inspira-se o Papa na passagem do Evangelho (Mt 5,9) – “Bem-aventurados os que obreiros da paz, porque serão chamados filhos de Deus”, que é o título da Mensagem.

Na introdução menciona os 50 anos da realização do Concílio Vaticano II, reconhecendo a sua valiosa contribuição para que a missão da Igreja tivesse mais força no mundo, como Povo de Deus em comunhão Ele, caminhando entre a realidade humana, compromissados com a história, compartilhando suas alegrias e esperanças, tristezas e angústias, com a inadiável missão de anunciar a Salvação que Jesus Cristo nos trouxe, colaborando intensivamente para que a paz aconteça, sendo esta a aspiração que cada início de ano desperta no coração da humanidade.

Faz uma substancial apresentação da realidade de nosso tempo, caracterizado pela globalização, com seus aspectos positivos e negativos, e também por sangrentos conflitos ainda em curso e por ameaças de guerra, exigindo um renovado e concorde empenho na busca do bem comum, do desenvolvimento de todo o homem e do homem todo.

Fala da preocupante realidade mundial marcada por focos de tensão e conflito causados por crescentes desigualdades entre ricos e pobres, pelo predomínio de uma mentalidade egoísta e individualista, que se exprime inclusivamente por um capitalismo financeiro desregrado.

Some-se a tudo isto as variadas formas de terrorismo e criminalidade internacional, que põem em perigo a paz e aqueles fundamentalismos e fanatismos que distorcem o verdadeiro sentido da religião.

No entanto, sendo de cada pessoa o desejo de paz, é preciso promover desenvolvimento integral, social, comunitário, e isto faz parte dos desígnios que Deus tem para o homem, pois somos feitos para a paz que é dom de Deus.

Apresenta em seguida uma fundamentação bíblica para que sejamos obreiros da paz, trilhando o caminho da verdade, da justiça e do amor.

Acolher Jesus Cristo, Homem-Deus é acolher a fonte da paz verdadeira, que somente Ele pode nos dar, no encontro sincero e confiante do homem com Deus.

A Igreja está convencida de que urge um novo anúncio de Jesus Cristo, primeiro e principal fator do desenvolvimento integral dos povos e também da paz.

Explicito com suas palavras: “Na realidade, Jesus é a nossa paz, a nossa justiça, a nossa reconciliação (cf. Ef 2, 14; 2Cor 5, 18). O obreiro da paz, segundo a Bem-Aventurança de Jesus, é aquele que procura o bem do outro, o bem pleno da alma e do corpo, no tempo presente e na eternidade.”

A paz é, portanto, dom messiânico e obra humana e para alcançá-la é preciso desmantelar a ditadura do relativismo e a moral totalmente autônoma, dito de modo simples, o individualismo.

Afirma categoricamente: “A paz é construção em termos racionais e morais da convivência, fundando-a sobre um alicerce cuja medida não é criada pelo homem, mas por Deus. Como lembra o Salmo 29, « o Senhor dá força ao Seu povo; o Senhor abençoará o Seu povo com a paz » (v. 11).”

A busca da paz envolve o ser humano na sua integridade e supõe o empenhamento da pessoa inteira: é paz com Deus, vivendo conforme a Sua vontade; é paz interior consigo mesmo, e paz exterior com o próximo e com toda a criação.

Cita o Beato João XXIII na Encíclica Pacem in terris – paz implica principalmente a construção duma convivência humana baseada na verdade, na liberdade, no amor e na justiça.

Apresenta as condições para que nos tornemos autênticos obreiros da paz, que não é um sonho, nem uma utopia; é uma verdadeira possibilidade: a atenção à dimensão transcendente e o diálogo constante com Deus, Pai misericordioso, pelo qual se implora a redenção que nos foi conquistada pelo Seu Filho Unigênito.


Somente assim pode-se vencer o “... germe de obscurecimento e negação da paz que é o pecado em todas as suas formas: egoísmo e violência, avidez e desejo de poder e domínio, intolerância, ódio e estruturas injustas”, e assim procurar os caminhos para a implementação do bem comum que serão, por sua vez, os caminhos a serem seguidos para que se obtenha a paz.

Mensagem para o 46º Dia Mundial da Paz (Papa Bento XVI) (segunda parte) (2013)

Mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz

“Bem aventurados os que promovem a paz ,
porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9)

Em vários parágrafos acentua a beleza e a dignidade da vida na sua integridade, exortando o respeito pela vida humana em todas as suas dimensões.

Transcrevo literalmente suas palavras:
Caminho para a consecução do bem comum e da paz é, antes de mais nada, o respeito pela vida humana, considerada na multiplicidade dos seus aspectos, a começar da concepção, passando pelo seu desenvolvimento até ao fim natural.

Assim, os verdadeiros obreiros da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida humana em todas as suas dimensões: pessoal, comunitária e transcendente. A vida em plenitude é o ápice da paz. Quem deseja a paz não pode tolerar atentados e crimes contra a vida.

Aqueles que não apreciam suficientemente o valor da vida humana, chegando a defender, por exemplo, a liberalização do aborto, talvez não se deem conta de que assim estão a propor a prossecução duma paz ilusória.

A fuga das responsabilidades, que deprecia a pessoa humana, e mais ainda o assassinato de um ser humano indefeso e inocente nunca poderão gerar felicidade nem a paz...

Tão pouco é justo codificar ardilosamente falsos direitos ou opções que, baseados numa visão redutiva e relativista do ser humano e com o hábil recurso a expressões ambíguas tendentes a favorecer um suposto direito ao aborto e à eutanásia, ameaçam o direito fundamental à vida”.

Faz uma longa defesa para que se promova e estrutura natural do matrimônio, como união entre um homem e uma mulher, contra “... as tentativas de a tornar, juridicamente, equivalente a formas radicalmente diversas de união que, na realidade, a prejudicam e contribuem para a sua desestabilização, obscurecendo o seu carácter peculiar e a sua insubstituível função social.”

Não passa indiferente para o Papa a defesa da liberdade de expressão religiosa, o perigo das ideologias do liberalismo radical e da tecnocracia, fomentando uma mentalidade de que o crescimento econômico se deve conseguir mesmo à custa da erosão da função social do Estado e das redes de solidariedade da sociedade civil, bem como dos direitos e deveres sociais.

Aborda com propriedade sobre um dos direitos e deveres mais ameaçados, o trabalho; e tem plena convicção de que construir o bem da paz se dá através de um novo modelo de desenvolvimento e de uma nova visão da economia.

São animadoras e comprometedoras suas palavras, de modo que ninguém pode ser omisso:

“Para sair da crise financeira e econômica atual, que provoca um aumento das desigualdades, são necessárias pessoas, grupos, instituições que promovam a vida, favorecendo a criatividade humana para fazer da própria crise uma ocasião de discernimento e de um novo modelo econômico.

O modelo que prevaleceu nas últimas décadas apostava na busca da maximização do lucro e do consumo, numa óptica individualista e egoísta que pretendia avaliar as pessoas apenas pela sua capacidade de dar resposta às exigências da competitividade.

É preciso relações de lealdade e reciprocidade com os colaboradores e os colegas, com os clientes e os usuários, de modo que a pessoa que “... exerce a atividade econômica para o bem comum, vive o seu compromisso como algo que ultrapassa o interesse próprio, beneficiando as gerações presentes e futuras.

Deste modo sente-se a trabalhar não só para si mesmo, mas também para dar aos outros um futuro e um trabalho dignos.”

Mensagem para o 46º Dia Mundial da Paz (Papa Bento XVI) (parte final) (2013)


Mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz

“Bem aventurados os que promovem a paz ,
porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9)

Em relação à Educação para uma cultura da paz ressalta o papel imprescindível da família e das instituições, de modo que os obreiros da paz “... são chamados a cultivar a paixão pelo bem comum da família e pela justiça social, bem como o empenho por uma válida educação social.”

A família cristã, de modo muito especial, guarda em si o primordial projeto da educação das pessoas segundo a medida do amor divino.

Afirma: “A família é um dos sujeitos sociais indispensáveis para a realização duma cultura da paz. É preciso tutelar o direito dos pais e o seu papel primário na educação dos filhos, nomeadamente nos âmbitos moral e religioso. Na família, nascem e crescem os obreiros da paz, os futuros promotores duma cultura da vida e do amor”.

A Igreja tem papel fundamental nesta grande responsabilidade “... através da nova evangelização, que tem como pontos de apoio a conversão à verdade e ao amor de Cristo e, consequentemente, o renascimento espiritual e moral das pessoas e das sociedades.

O encontro com Jesus Cristo plasma os obreiros da paz, comprometendo-os na comunhão e na superação da injustiça.”

Papel também especial em favor da paz possuem as instituições culturais, escolásticas e universitárias – “Delas se requer uma notável contribuição não só para a formação de novas gerações de líderes, mas também para a renovação das instituições públicas, nacionais e internacionais...”

Acena para uma necessária pedagogia do obreiro da paz que “... requer uma vida interior rica, referências morais claras e válidas, atitudes e estilos de vida adequados... é necessário ensinar os homens a amarem-se e educarem-se para a paz, a viverem mais de benevolência que de mera tolerância... dizer não à vingança, reconhecer os próprios erros, aceitar as desculpas sem as buscar e, finalmente, perdoar, de modo que os erros e as ofensas possam ser verdadeiramente reconhecidos a fim de caminhar juntos para a reconciliação.

Isto requer a difusão duma pedagogia do perdão. Na realidade, o mal se vence com o bem, e a justiça deve ser procurada imitando a Deus Pai que ama todos os Seus filhos (cf. Mt 5, 21-48).

Em resumo, a pedagogia da paz implica serviço, compaixão, solidariedade, coragem e perseverança, tendo Jesus como a encarnação do conjunto destas atitudes na Sua vida até ao dom total de Si mesmo, até «perder a vida» (cf. Mt 10, 39; Lc 17, 33; Jo 12, 25).

Finaliza convidando a todos que se tornem autênticos obreiros e construtores da paz, para que a cidade do homem cresça em concórdia fraterna, na prosperidade e na paz.



terça-feira, 31 de dezembro de 2024

ORAÇÃO DO JUBILEU (2025)

 


ORAÇÃO DO JUBILEU (2025)

Pai que estás nos céus,

 que nos deste no teu filho Jesus Cristo, nosso irmão,

e a chama de caridade

derramada nos nossos corações pelo Espírito Santo

despertem em nós a bem-aventurada esperança

para a vinda do teu Reino.

 

A tua graça nos transforme

em cultivadores diligentes das sementes do Evangelho

que fermentem a humanidade e o cosmos,

na espera confiante

dos novos céus e da nova terra,

quando, vencidas as potências do Mal,

se manifestar para sempre a tua glória.

 

A graça do Jubileu

reavive em nós, Peregrinos de Esperança,

o desejo dos bens celestes

e derrame sobre o mundo inteiro

a alegria e a paz

do nosso Redentor.

A ti, Deus bendito na eternidade,

louvor e glória pelos séculos dos séculos.

Amém. (1)

 

(1) Papa Francisco

 

Quem sou eu

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG