quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Cair, levantar e caminhar

                                                    


Cair, levantar e caminhar

Por vezes, podemos experimentar a queda,
mas temos que nos levantar e continuar o caminho...

Ainda que não tenhamos forças para nos levantar,
Deus, em Sua bondade e providência, nos assiste.

Não nos deixa faltar mãos solidárias estendidas,
Que não apenas nos levantam, mas condividem os fardos.

Agradeçamos a Deus por estas mãos tantas,
Que nos foram estendidas para sermos o que somos.

Mãos que tocaram nossas feridas com o bálsamo da atenção,
E nos enfaixaram com as faixas da ternura e coragem.

Sejam nossas mãos também estendidas e solidárias,
A quantos caídos, feridos sem vontade de viver e caminhar.

Contemplemos a tríplice queda do Senhor,
E a solidariedade de Simão Cirineu no carregar da cruz.

O Senhor caiu pelo peso de nossos pecados e maldade.
Caiu porque expressão máxima da misericórdia divina.

Caiu pela misericórdia redentora por todos nós vivida.
Caímos, por vezes, por causa de nossos pecados e miséria.

Se cairmos, que não seja para sempre,
Pois há um longo deserto a atravessar...

Reavivar a fé sempre

                                              


Reavivar a fé sempre

Uma reflexão para um mergulho mais profundo na vivência de uma autêntica fé, sobre as exigências no seguimento de Jesus, à luz do Evangelho (Lc 14, 25-33):

- Sem liberdade interior radical não há como seguirmos Jesus. Não há autêntico discípulo missionário sem esta liberdade, com seus complementos mencionados:

“Seguir Jesus é uma aventura, cujas implicações devem ser ponderadas com sabedoria. O discípulo entrega-se completamente na relação com o seu Senhor, a sequela exige uma liberdade interior radical...”

Que nossa fé não perca o ímpeto dos primeiros momentos, jamais perca a necessária lucidez:

“As palavras do Evangelho de hoje podem parecer duras, mas são salutares, são um antídoto contra o risco de uma certa habituação própria de uma vida de fé que perdeu o ímpeto dos momentos originários e que se adapta facilmente aos costumes, perdendo a lucidez de uma avaliação crítica”.

- Jesus Cristo e Sua Palavra têm que ocupar o primeiro lugar em nosso coração sempre: “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça e tudo mais vos será acrescentado...”

“Recordam que a nossa vida de fé é autêntica quando cristo ocupa o primeiro lugar no nosso coração, e obrigam-nos constantemente a verificar quando isso acontece, confessando os nossos espaços de autossuficiência e de desatenção à Palavra de Deus... O primeiro lugar cabe só a Deus e à sua Palavra, o seu Filho Jesus, o qual não é alternância a afetos, relações e compromissos humanos, antes é critério decisivo quanto ao modo de se viver tudo isso”.

Sendo Cristo o centro e ocupando Ele o primeiro lugar em nossa vida, nossa fé não é uma quimera, ilusão, fuga, alienação, mas uma práxis concreta a ser vivida na comunidade e no mundo:

“Se Cristo ocupa o primeiro lugar, a fé torna-se práxis, e não só realidade ideal. Mas, para se tornar práxis, deve ser ao mesmo tempo força que educa e determina o mundo dos afetos e das sensibilidades orientado para os bens criados, não para os inibir, mas para o endereçar para aquilo que é prioritário (virtude da temperança” (Leccionário Comentado p.  720 – 721)

Avaliemos a nossa fé e o nosso compromisso cristão:

- Que lugar o Senhor e Sua Palavra ocupam em nossa vida?
- Qual o ímpeto de nossa fé?
- Com que ardor a vivemos?

A nós descei a divina luz, em nossas almas acendei o Amor de Jesus! Agora e sempre. Amém.

Concluamos com esta Oração da Liturgia Armênia:

“Que a labareda do Vosso Amor derramado sobre
a terra, sobre as nossas almas, acenda-se
e purifique os pensamentos dos nossos corações.
Resplandeça a luz do Vosso conhecimento,
desperte-nos do sono da morte e
inflame o nosso espírito com o Vosso fogo”



Uma fé autêntica

                                                       


Uma fé autêntica

Com a Catequese do Bispo São Cirilo de Jerusalém (Séc. IV), refletimos sobre o poder da fé que ultrapassa as forças humanas.

“A fé tem um só nome, mas duas maneiras de ser. Há um gênero de fé que se relaciona com o dogma e inclui a elevação de uma pessoa e seu assentimento sobre determinado assunto; diz respeito ao interesse pessoal, conforme o Senhor: Quem ouve minhas palavras e crê n’Aquele que me enviou, tem a vida eterna e não incorre em condenação (Jo 5,24); e de novo: Quem crê no Filho não será julgado, mas passa da morte para a vida (cf. Jo 3,18.24).

Ó bondade imensa de Deus para com os homens! Com efeito, os justos foram agradáveis a Deus pelo labor de muitos anos. Mas aquilo que alcançaram, entregando-se corajosamente e por dilatados anos ao serviço de Deus, isto mesmo em uma simples hora Jesus te concede. Porque se creres que Jesus Cristo é Senhor e que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo e levado ao paraíso por aquele que nele introduziu o ladrão. E não hesites em acreditar ser isto possível, pois quem salvou o ladrão neste santo Gólgota, pela fé de uma só hora, pode também salvar-te a ti, se creres.

O outro gênero é a fé que Cristo concede por graça especial. Pois a uns pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria, a outros a palavra da ciência, segundo o mesmo Espírito. A outros a fé, no mesmo Espírito, a outros o dom de curar (1Cor 12,8-9).

Este carisma da fé dado pelo Espírito não se relaciona apenas com o dogma; torna ainda capaz de realizar coisas acima das forças humanas. Quem tiver uma fé assim, dirá a este monte: Vai daqui para ali; e irá (Mt 17,20). Quando, pois, pela fé, alguém isto disser, crendo que acontecerá sem hesitar em seu coração, então é sinal de que recebeu esta graça.

Dela se disse: Se tivésseis fé como um grão de mostarda (Mt 17,20). Como o grão de mostarda, tão pequenino, possui uma força de fogo, e semeado em estreito pedaço de terra produz grandes ramos, que depois de crescidos podem dar sombra às aves do céu, assim também, num abrir e fechar de olhos, a fé realiza as maiores coisas na pessoa. Porque lhe dá uma ideia sobre Deus e o vê tanto quanto é capaz, inundada pela luz da fé. Percorre os confins da terra; e antes da consumação do mundo, já prevê o juízo e a entrega das recompensas prometidas.

Guarda então a fé que de ti depende e que te leva a Ele; para que recebas de Suas mãos também aquela que age muito além das forças humanas.”

De fato, a fé tem um só nome, mas duas maneiras de ser: a que se relaciona com o dogma e inclui a elevação de uma pessoa e seu assentimento sobre determinado assunto; e a fé que Cristo concede por graça especial.

Cabe-nos viver a fé, que depende de cada um de nós e que nos leva até Jesus, a fim de que recebamos de Suas divinas mãos a fé que age muito além das forças humanas.

Fé renovada no Senhor, é certeza de que nossa esperança será sempre frutuosa, porque expressa em gestos multiplicados de caridade, concretizando os inseparáveis Mandamentos do Amor a Deus e ao próximo (Mc 12,28b-34).

 

Cristãos leigos e leigas perseverantes no amor

                                                       

          Cristãos leigos e leigas perseverantes no amor
 
Reflitamos sobre a graça da missão realizada pelos cristãos leigos e leigas na obra da evangelização à luz da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 14,25-33).
 
Para que tenhamos na Igreja, alegres e convictas testemunhas do Ressuscitado, são necessárias renúncias até de si mesmo, acompanhados de separação, radicalidade e realismo.
 
Tudo isto se faz na vivência dos desapegos de toda a ordem, na radicalidade própria do amor que sabe elencar o que é prioritário, num realismo inadiável, de modo que, sem renúncias, jamais haverá fidelidade no seguimento ao Senhor.
 
A fé cristã será, portanto, movida pela virtude da esperança enraizada no chão da caridade que é o próprio coração do homem e da mulher.
 
Somente assim, cristãos leigos e leigas serão discípulos missionários do Reino, sem medo, mas com muita alegria, procurando ter do Senhor Jesus os mesmos sentimentos, em total e incondicional fidelidade, com a presença e ação do Espírito Santo (Fl 2,5).
 
Cumpra-se, portanto, a Palavra Divina, para que na fidelidade ao Senhor progridamos: “Aqueles que perseverarem no amor ficarão junto de Deus, porque a graça e a misericórdia são para Seus eleitos”, já nos dizia o autor do Livro da Sabedoria (Sb 3,9).
 
Como Igreja sinodal, ponhamo-nos todos a caminho, firmados nos pilares da Palavra, Pão da Eucaristia, Caridade e Missão, vivendo a graça do batismo recebido, com o coração ardente e os pés a caminho.
 

Fidelidade e perseverança no carregar da cruz

                                                     

Fidelidade e perseverança no carregar da cruz

“Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo,tome sua cruz de cada dia e siga-me" (Lc 9,23)


Retomo uma parte do Sermão do Bispo e Doutor Santo Agostinho (séc. V), para refletirmos sobre a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 14,25-33).

“Siga-lhe (Jesus), pois, a totalidade da Igreja única, esta pomba e esposa redimida e enriquecida com o Sangue do Esposo. Nela encontra o seu lugar a integridade virginal, a continência das viúvas e o pudor conjugal.

Todos estes membros que encontram nela o seu lugar, de acordo com as suas funções próprias, sigam a Cristo; neguem-se, ou seja, não se vangloriem; carreguem a sua cruz, ou seja, suportem no mundo por amor de Cristo tudo o que no mundo vos aflija.

Amem Àquele que é o único que não atraiçoa, o único que não é enganado nem engana; amem-Lhe, porque é verdade o que promete.

Tua fé vacila porque suas promessas tardam. Mantém-te fiel, persevera, tolera, aceita a demora: tudo isso é carregar a cruz”. (1)

Algumas exigências para a vivência da fé:

1 – Ser discípulo é pôr-se atrás do Mestre, como aprendiz. Seguimento incondicional e trilhar seus caminhos e ter mesmo horizonte e destino;

2 – É preciso negar-se a si mesmo, com renúncias necessárias: desprendimento, despojamento, tendo Jesus e Sua Palavra como valores absolutos em nossa vida: “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça...” (Mt 6,33);

3 – Tomar a cruz de cada dia, pois não há discipulado sem cruz, e inevitavelmente a glória passa pela cruz, martírio silencioso ou em sua expressão máxima (sangue derramado), numa vida marcada pela doação, entrega, serviço, disponibilidade em favor do próximo, na mais genuína expressão de misericórdia, para que sejamos misericordiosos como o Pai (Lc 6,36);

4 – Manter uma aliança indissolúvel de amor com o Senhor e a Sua Igreja: assumir na carne os sofrimentos e paixão por amor de Cristo e Sua Igreja, como falou o Apóstolo Paulo (Cl 1,24);

5 – Confiar plenamente no Senhor e em Sua promessa, pois Sua Palavra é vida e verdade. Somente Ele tem Palavra de Vida Eterna;

6 – Jamais vacilar na fé, ainda que tardem a realização das Suas promessas;

7 – Fidelidade incondicional ao Senhor, vivendo o Mistério Pascal – Paixão, Morte e Ressurreição;

8 – Perseverança dando razão da esperança em todas as circunstâncias;

9 – Tolerar e aceitar a demora do alcance da vitória no bom combate da fé: mantendo a serenidade em todos os momentos;

10 – Carregar a cruz, sem lamentações, confiantes na força que nos vem do alto, e pôr-se sempre a caminho buscando as coisas do alto, contando com a força do Espírito Santo que jamais nos deixa órfãos.

As exigências citadas não se separam, mas se completam e se dão em nosso cotidiano.

Entretanto, tudo isto somente é possível se criarmos e mantivermos momentos de profunda intimidade e comunhão com Deus, tanto na oração pessoal, como na Oração Maior, que é a Santa Missa, na qual nos fortalecemos pelo Pão da Palavra e o Pão da Eucaristia.


(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – p.713-714.

Alegria na missão

                                                             

Alegria na missão

Reflexão à luz da passagem da Carta de Paulo aos Gálatas (Gl 6,14-18).

Como membros da Igreja, pelo Batismo, recebemos a graça de sermos sacerdotes, profetas e reis. De fato, pelo Batismo recebemos a graça de sermos Profetas do Reino. 

Só gerados e alimentados por essa fonte é que poderemos ser novas criaturas. No que diz respeito, Paulo declara que no centro da sua glória não está a observância rigorosa da Lei, mas Cristo Crucificado”. (1)

 “Não nos surpreende ouvir da boca do Mestre que a missão não é fruto de decisões ou de empenhos humanos. O primeiro responsável é o Pai, o dono da seara: a Ele cabe a salvação dos homens, é Ele que suscita os anunciadores do Reino.

Por isso o missionário é sereno e corajoso no anúncio, atua na confiança e na ausência total de seguranças ou de recursos materiais, não se deixa tentar pelo fascínio da imposição forçada, não impressiona o auditório com meios poderosos ou efeitos especiais, está consciente de que a fecundidade da missão está toda na força inerme da Palavra de que é arauto, uma Palavra capaz de curar e libertar todas as enfermidades”. (2)

A Deus, supliquemos graça para vivermos a nossa vocação batismal, plenamente disponíveis para o anúncio do Reino de Deus; com a imprescindível coragem apostólica e liberdade evangélica, iluminando todos os lugares em que vivamos, com a luz da Palavra de Amor e de paz, como alegres e convictos discípulos missionários do Senhor!


(1)  Lecionário Comentado - Volume I Tempo Comum - Editora Paulus - Lisboa - pág. 669.
(2)  Idem pág. 670.



A missão cristã e a política são indissociáveis

A missão cristã e a política são indissociáveis

“Alegres por causa da esperança”
(Rm 12,12)

Retomemos um trecho do parágrafo 46 da Carta Apostólica “Octogésima Advenies”, escrita pelo Papa São Paulo VI, ao celebrar o octagésimo aniversário da Rerum Novarum, que nos fala sobre um tema que está na pauta do dia: a política, sobretudo neste período que antecede as Eleições Municipais em nosso país.

O poder político a serviço do bem de todos e além das fronteiras nacionais:
“Atendo-se, pois, à sua vocação própria, o poder político deve saber desvincular-se de interesses particulares, para poder encarar a sua responsabilidade pelo que se refere ao bem de todos os homens, passando mesmo para além das fronteiras nacionais”.

A política tomada a sério, em seus diversos níveis, na promoção do bem comum:
“Tomar a sério a política, nos seus diversos níveis, local, regional, nacional e mundial, é afirmar o dever do homem, de todos os homens de reconhecerem a realidade concreta e o valor da liberdade de escolha que lhes é proporcionada, para procurarem realizar juntos o bem da cidade, da nação e da humanidade”.

Uma definição do que vem a ser a política:
“A política é uma maneira exigente - se bem que não seja a única - de viver o compromisso cristão, ao serviço dos outros. Sem resolver todos os problemas, naturalmente, a mesma política esforça-se por fornecer soluções, para as relações dos homens entre si”.

O campo de atuação e domínio da política:
“O seu domínio é vasto e abrange muitas coisas, não é porém, exclusivo; e uma atitude exorbitante que pretendesse fazer da política algo de absoluto, tornar-se-ia um perigo grave”.

A autonomia da realidade política e o compromisso dos cristãos em coerência ao Evangelho:
“Reconhecendo muito embora a autonomia da realidade política, esforçar-se-ão os cristãos, solicitados a entrarem na ação política, por encontrar uma coerência entre as suas opções e o Evangelho e, dentro de um legítimo pluralismo, por dar um testemunho, pessoal e coletivo, da seriedade da sua fé, mediante um serviço eficaz e desinteressado para com os homens”.

Retomar este parágrafo é enriquecedor, para que vejamos a necessária superação de apatia, indiferença e omissão diante da atuação política, como tem insistido o Papa Francisco em seus pronunciamentos e encontros.

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