quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Em poucas palavras...

 


Enviai, ó Deus, vossos Santos Anjos

“Ó Deus, que na vossa inefável providência vos dignais enviar os vossos Santos Anjos para nos guardar, concedei que sejamos sempre defendidos pela sua proteção e gozemos eternamente de sua companhia. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.” (1)

 

 

(1)               Oração da Coleta – Santos Anjos da Guarda - Memória

“Santo Anjo do Senhor...”

                                                             



“Santo Anjo do Senhor...”

À luz da Sagrada Escritura, reflitamos sobre a presença e ação dos Anjos, que são mensageiros de Deus que nos comunicam a Sua vontade, Seus desígnios. 

Um Anjo anunciou o Mistério da Ação do Espírito, para gerar o Verbo no ventre de Maria.

Do mesmo modo, a José para que entendesse e participasse do Projeto de Salvação Divina, assumindo Maria como esposa, pois a concepção de sua amada esposa era uma ação do Espírito Santo.

Também em outro momento proclamado na Solenidade da Sagrada Família, em que por três vezes um Anjo fala com José: ora para fugir com Maria e o Menino para o Egito; ora para retornar para Israel e por fim para se dirigir para Nazaré para o cumprimento da Escritura, ainda mais que a vida da frágil Criança, do Divino Salvador ainda corria ameaça de morte (cf. Mt 2, 13-15).

Caminhando como discípulos missionários do Senhor, para maior fidelidade a Ele, suplicamos ao Senhor para que nos envie sempre Seus Anjos para nos proteger das ciladas do inimigo, para que nossos passos sejam cada vez mais firmados na verdade, na justiça, no amor, na liberdade e na paz.

Deus sempre nos envia Seus Anjos: os que vemos e outros não, sempre presentes em nossa vida, para que não vacilemos em nenhum instante, sequer tenhamos lampejos de esquecimentos dos Preceitos de Deus, para que O adoremos em espírito e verdade, com toda nossa alma, entendimento e coração.

E que em nossas fraquezas, os Anjos nos lembrem de que quando somos fracos então é que somos fortes, pois Deus manifesta Sua força e poder, como bem nos disse o Apóstolo Paulo: “Tudo posso n’Aquele que me fortalece” (cf. Fl 4,13), e ainda: “Quando sou fraco, então é que sou forte” (2Cor 12,10).

Que tenhamos, também, a graça de sermos como “Anjos” na vida de tantos quantos precisarem; “Anjos” que ajudam e animam o outro para não sucumbir diante das tentações que o mundo oferece, a não ceder ao domínio da mentira, da injustiça, da vaidade, do orgulho e da ambição, do ódio e do desamor...

“Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador...” 

Anjos que não vejo e anjos que vejo!

                                                     

Anjos que não vejo e anjos que vejo!

A Igreja celebrará, no dia 02 de outubro, a Memória dos Anjos de Guarda (Ex 23,21-23; Salmo 91; Mt 18,1-5.10).

São Anjos e Arcanjos que não vemos; que nos trouxeram e nos trazem sempre alegres notícias. Como pedagogos e mestres, nos acompanham e nos defendem. Por isto toda reverência, gratidão e confiança.

Há Anjos que não vemos, mas cremos! Nossos pais deles nos falaram desde o ventre materno. Sentimos sua presença; sua amável e indispensável companhia, pois quis Deus que de nós fossem intrépidos defensores.

Na Bíblia, incontáveis passagens sobre eles encontramos, quer no Antigo, quer no Novo Testamento.

Mas, há também anjos que vemos. Anjos com nome e sobrenome, endereço...

- Anjos que fazem parte de nossa história.

- Anjos que vejo são mães que educam, acalentam e a semente do Verbo plantam no coração de seus filhos.

- Anjos que vejo são pais (também mães) que acordam de madrugada, ao trabalho acorrem (quando empregados), na busca do pão de cada dia, que a fome dos seus filhos sacia. Para além de todo cansaço, distâncias, congestionamentos, estresses, tensões... 

Anjos que nas comunidades espalhadas pelo campo e cidade evangelizam:

- Anjos que cantam, louvam e dançam;

- Anjos que cuidam das crianças para que nutridas sejam;

- Anjos que anunciam em tantos grupos de catequese;

- Anjos que nas Liturgias escrevem roteiros, criam, proclamam;

- Anjos que enfermos visitam, suas feridas tocam, lavam, curam, simplesmente por amor;

- Anjos que trabalham na prevenção, que acreditam na força e alegria da sobriedade, fruto da liberdade;

- Anjos que cestas enchem e partilham; que saciarão clementes barrigas vazias;

- Anjos que promovem festas; incentivam e cuidam do dízimo para que a Igreja evangelize;

- Anjos que acolhem, consolam; esperança plantam; sorrisos nos lábios colhem;

- Anjos que da vida cuidam, lutam contra a violação da vida, desde sua concepção até seu declínio natural – imortal teimosia e profecia.

Anjos...

Quantos anjos que vejo nos rostos de nossa Igreja! Talvez não tão “belos e televisivos”, mas sem eles, o mundo seria indiscutivelmente mais feio, gélido, sem brilho, vazio...

- Anjos que promovem a paz, que fazem da política o gesto sublime de caridade, exercício do poder que gera o bem comum.

- Anjos que comunicam boas novas à humanidade; reencantam a vida; refazem sonhos; revigoram esperanças...

O mundo precisa de anjos:

- Anjos sem asas para voar, mas com asas no coração, para que o amor alce voos mais altos.

- Anjos visíveis em ternas feições humanas que encantados e enamorados pela vida, por Cristo apaixonados, nos assegurem que vale a pena lutar, viver, sonhar, dias melhores buscar, paraíso construir.

- Anjos com rostos inocentes de crianças; com brilho imortal, pois por Deus plantado.

- Anjos com rosto da beleza da juventude, que nos desafiam com sua garra e inquietude.

- Anjos com rostos enrugados, cabelos agrisalhados, experiências adquiridas.

Anjos: anjos humanos, humanos anjos. Que não pairem nas nuvens, mas que conosco caminhem.

Comigo há sempre anjos que vejo e anjos que não vejo!

Mas, serei eu anjo na vida de alguém? 
É bom ter anjos! 
Mas, também é preciso que sejamos anjos na vida de alguém.

Santos Anjos da Guarda: reverência, gratidão e confiança

                                                           

Santos Anjos da Guarda: reverência, gratidão e confiança

No dia 02 de outubro, celebramos a Memória dos Santos Anjos da Guarda, sejamos enriquecidos pelo Sermão do Abade São Bernardo (séc. XII).

A teu respeito ordenou a Seus anjos que te guardem em todos os teus caminhos (Sl 90,11). Louvem o Senhor por Sua misericórdia e Suas maravilhas para com os filhos dos homens. Louvem e proclamem às nações que o Senhor agiu de modo magnífico a favor deles. Senhor, que é o homem para que assim o conheças? Ou por que inclinas para Ele teu coração? Aproximas dele teu coração, enches-te de solicitude por sua causa, cuidas dele. Enfim, a ele envias o Teu Unigênito, infundes o Teu Espírito, prometes até a visão de Tua face. E para que nas alturas nada falte no serviço a nosso favor, envias os Teus Santos Espíritos a servir-nos, confia-lhes nossa guarda, ordenas que se tornem nossos pedagogos.

A teu respeito, ordenou a Seus anjos que te guardem em todos os teus caminhos. Esta palavra quanta reverência deve despertar em ti, aumentar a gratidão, dar confiança. Reverência pela presença, gratidão pela benevolência, confiança pela proteção. Estão aqui, portanto, e estão junto de ti, não apenas contigo, mas em teu favor.

Estão aqui para proteger, para te serem úteis. Na verdade, embora enviados por Deus, não nos é lícito ser ingratos para com eles, que com tanto amor lhe obedecem e em tamanhas necessidades nos auxiliam.

Sejamos-lhes fiéis, sejamos gratos a tão grandes protetores; paguemos-lhes com amor; honremo-los tanto quanto pudermos, quanto devemos. Prestemos, no entanto, todo o nosso amor e nossa honra Àquele que é tudo para nós e para eles; de quem recebemos poder amar e honrar, de quem merecemos ser amados e honrados.
Assim, irmãos, n’Ele amemos com ternura Seus anjos como futuros coerdeiros nossos, e enquanto esperamos nossos intendentes e tutores dados pelo Pai como nossos guias. Porque agora somos filhos de Deus, embora não se veja, pois ainda estamos sob a tutela quais meninos que em nada diferem dos servos.

Aliás, mesmo assim tão pequeninos e restando-nos ainda uma tão longa, e não só tão longa, mas ainda tão perigosa caminhada, que temos a temer com tão poderosos protetores? Eles não podem ser vencidos, nem seduzidos, e ainda menos seduzir, aqueles que nos guardam em todos os nossos caminhos. São fiéis, são prudentes, são fortes; por que trememos de medo? Basta que os sigamos, unamo-nos a eles e habitaremos sob a proteção do Deus do céu”.

De fato, deve aumentar sempre em nós a reverência pelos anjos, por sua presença conosco, acompanhada da gratidão sempre maior por sua benevolência constante por nós, bem como a confiança porque podemos contar com sua proteção em todos os momentos.
Reverência, gratidão e confiança sejam sempre renovadas em nós pela presença e ação dos anjos em nosso favor, pois assim é o desejo de Deus.

Contemplemos a ação dos anjos nas inúmeras páginas da Sagrada Escritura, bem como no ensinamento da Igreja, como podemos ver nos parágrafos 328-336 do Catecismo da Igreja Católica.

Concluo com os parágrafos 328 e 336, respectivamente:

Santo Agostinho diz a respeito deles: ‘Angelus [...] officii nomen est, non naturae. Quaeris nomen naturae, spiritus est; quaeris officium, angelus est: ex eo quod est, spiritus est: ex eo quod agit, angelus –Anjo é nome de ofício, não de natureza. Desejas saber o nome da natureza? Espírito. Desejas saber o do ofício? Anjo. Pelo que é, é espírito: pelo que faz, é anjo (anjo = mensageiro)’. Com todo o seu ser, os anjos são servos e mensageiros de Deus. Pelo fato de contemplarem ‘continuamente o rosto do meu Pai que está nos céus’ (Mt 18, 10), eles são ‘os poderosos executores das suas ordens, sempre atentos à sua palavra’ (Sl 103, 20)”.

“Desde o seu começo até à morte, a vida humana é acompanhada pela sua assistência e intercessão. ‘Cada fiel tem a seu lado um anjo como protetor e pastor para guiá-lo na vida’. Desde este mundo, a vida cristã participa, pela fé, na sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus”.

Como é bom saber que os anjos nos guardam em todos os caminhos, como rezamos no Salmo 91!

“Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador...”

Missão: dom total de si mesmo

                                              

Missão: dom total de si mesmo

“E o rei concedeu-me tudo, pois a bondosa
mão de Deus me protegia” (Ne 2, 8)

Na Liturgia da Quarta-feira da 26ª Semana do Tempo Comum (ano ímpar) é proclamada a passagem do Livro de Neemias (Ne 2, 1-8).

Ele viveu o dificílimo período do Povo de Deus que, voltando do exílio da Babilônia, teve que reconstruir a cidade e o templo. As tristes notícias que chegavam da Cidade Santa, Jerusalém, o perturbavam interiormente, e não encontrava a paz.

Neemias era um funcionário do rei Persa, Artaxerxes I, (não era sacerdote, mas um copeiro-mor da casa real e, portanto, um político de alta condição).

Acompanhava de longe a história de seus compatriotas judeus, e apaixonadamente, na Primavera do ano 445 a.C. obteve do rei permissão para voltar provisoriamente à pátria com credenciais que facilitariam a obra de reconstrução.

Juntamente com Esdras, Neemias coloca-se ao lado dos grandes reformadores religiosos da história do Povo de Deus, e o seu êxito somente foi possível porque “a mão bondosa de Deus” estava com ele (v.8).

Sejamos enriquecidos com esta reflexão:

“É tarefa de todo cristão hoje (Neemias é ‘leigo’) tornar as estruturas de suas comunidades, no maior grau possível, transparentes de amor cristão, para serem inteiramente sinal do empenho de Deus no mundo.

O poder da morte foi despedaçado e surgiu nova esperança na morte e ressurreição de Cristo. Por isso, o cristão deve realizar em torno de si um modo de existência livre dos poderes pessoais e sociais do mundo, para dar, acima de todas as mortes, um pressentimento de vida e de ressurreição: no escondimento, é certo (Cl 3,3), mas com tanta eficiência que chegue a mudar, em nível de vida, as estruturas da sociedade humana.
Deve estar presente onde não há mais nenhuma esperança humana e o empenho parece não mais adiantar. Presente junto aos moribundos, aos velhos, incuráveis, mortos, lá onde não mais se espera um sorriso de agradecimento.” (1)

Pode ocorrer que também nós escolhamos lugares, situações, comunidade, pastorais ou serviços mais favoráveis para vivermos nossa fé. Que esta tentação seja afastada de todos nós e, com coragem e disponibilidade, ponhamo-nos nas mãos de Deus, certo de que “Sua Mão Poderosa”, “Seu braço forte” repousa sobre nós e nos acompanha no difícil combate da fé. E assim, curados de nossas enfermidades e fragilidades, vivamos com ardor nossa missão.

Como discípulos missionários do Senhor, aprendamos com Neemias que somente encontraremos a paz se nos pusermos a caminho, enfrentando as situações mais adversas, sombrias e obscuras, na fidelidade do carregar da cruz, fazendo resplandecer a luz de Cristo e proclamando a Sua Palavra que abrasa o coração.

Há um canto que expressa isto muito bem, e nos revigora na missão, para vivê-la como total doação de si mesmo nas mãos de Deus:

“Senhor, toma minha vida nova
Antes que a espera desgaste anos em mim
Estou disposto ao que queiras
Não importa o que seja, Tu chamas-me a servir.” 
(2)


(1) Missal Cotidiano - pp.1329-1330


(2) http://letras.mus.br/ziza-fernandes/1109398/

terça-feira, 1 de outubro de 2024

Memórias missionárias

                                                    


Um dia inesquecível!

Todos os dias são importantes em nossa vida, pois são presentes que Deus nos concede. Há, porém, dias que são inesquecíveis, seja pela dor, alegria, ou algum outro fato marcante.

Um destes dias inesquecíveis foi, para mim, o dia 22 de março de 2001 – uma Quinta-feira. Naquela semana, estava na Paróquia São João Batista, em Presidente Médici - RO, ajudando na rodada de primeira visita às Comunidades.

Naquele dia, acordei, tomei o café da manhã junto com Pe. Afonso, Pároco daquela Paróquia, e o João, Agente de Pastoral, liberado da Paróquia. Bagagens prontas, fomos para as Comunidades da Quarta Linha (nome das estradas).

O carro era um Gurgel 85, não muito comum para nós, mas naquela realidade e tempo um tipo de carro mais barato, que consegue romper atoleiros, buracos, morros etc... Por falar nisto, a Quarta linha estava com vários pontos desafiadores por causa dos atoleiros e pontos escorregadios. Ainda bem que o João tinha experiência neste assunto.

Finalmente, chegamos à primeira Comunidade, para a celebração da primeira Missa do dia (normalmente duas por dia, quando na realização das visitas).

Antes disto, tivemos que atravessar um carreador (trilho) com muita água empoçada. Com muito custo, por sinal, conseguimos atravessar os duzentos metros que nos separava da casa onde foi celebrada a Missa (ainda não tem o Centro Comunitário da Comunidade, mas tem uma bonita Igreja-Povo).

Um rapaz, empurrando sua bicicleta, atravessava tranquilamente... Talvez eu não estivesse tão bem acostumado com a realidade, mas chegaria lá!

A Missa foi muito simples e bonita. A motivação do Ato Penitencial, à luz do tema da Campanha da Fraternidade, foi maravilhosa.

Após a Missa, subi numa charrete (tinha sempre a impressão que iria virar) com um casal, e fui a uma casa próxima almoçar. Almoço: galinha caipira, arroz, feijão, sempre muito bem temperado.

Logo após, fui visitar um jovem de 21 anos, a pedido de sua mãe, em quase tom de súplica. Um rapaz muito bom e com algum problema que os médicos não conseguiam descobrir (já tinham vindo até para São Paulo).

Enquanto almoçava, conversei com ele, após alguma resistência à minha visita. No desespero de sua família, como acontece em outras tantas, foi levado a uma Igreja, e lá disseram coisas do tipo: “é possessão do diabo” e coisas assim...

Palavras como estas destroem as pessoas ao invés de ajudá-las. Conversei, orei e o abençoei. Ao final, ele me desejou boa viagem e que tudo daria certo, que eu seria feliz e me chamou de amigo. Prometi rezar muito por ele.

Subi na moto de seu irmão que me levou de volta a casa onde estava a minha mala. Andar de moto no meio de buracos e tocos é muito emocionante. Tive alguns minutos para um descanso, enquanto aguardava a vinda do Gurgel para a segunda Missa.


  1. Após um café moído e feito na hora, com o tradicional coador de pano sustentado no mancebo, voltei ao local de encontro, e aí, no caminho (aquele que falei acima), vi uma cobra enorme; levei um tremendo susto, não sabia se voltava ou se corria para frente. Graças a Deus ela também se assustou comigo e voltou para dentro do mato (mais tarde me falaram que não era uma cobra perigosa, era a conhecida cobra “limpa mato”, mas até saber disto tinha a impressão de que era a mais perigosa da Amazônia...Não chegava a uma anaconda...risos).

Indo para as Comunidades onde celebraríamos à tarde, depois de ter passado por vários atoleiros, nosso Gurgel ficou encavalado num aguaceiro; nem para frente e nem para trás. O jeito foi descermos. Tirei o tênis branco e confortável que, a propósito, não combinava com aquela água barrenta e cheia de pedras, arregaçamos as calças até o joelho. Empurrar? Não adiantou nada! Alavanca com uma tora para remover a roda traseira esquerda, e nada!

Apareceu, providencialmente, um motoqueiro experiente no assunto, solidário, tirou a bota e nos atolamos juntos. Enfim, conseguimos empurrar para trás e sair. O João conseguiu passar por um atoleiro ao lado, que hesitamos passar no primeiro momento, mas foi o melhor caminho. É errando que se aprende. O prejuízo maior foi para ele, que perdeu os óculos nesta confusão toda! (Na volta, procuramos, e nem sinal do mesmo).

Antes de chegar à primeira Comunidade, tivemos que passar numa ponte. Mas para isto tivemos que descer, eu e o Pe. Afonso, para orientar o João, e aliviar o peso, e que peso! Que loucura, passar as rodas equilibradamente em dois troncos! Estávamos indo à Missa ou a um rali?

Chegamos à primeira Comunidade onde Celebrei a Missa: Comunidade Pe. Josimo. Lavei as mãos com a pouca água que tinha, aliás, tirada do filtro, por não ter outra.

A Comunidade se reunia numa sala de aula, que chamavam de Escola. Precária, como outras tantas. Estavam construindo sua Igreja ao lado, num assentamento recente.

Perguntei aos membros da Comunidade se podia celebrar só com a estola, pois estava com a calça toda encharcada de lama, bem como as pernas. O pessoal respondeu: “ Padre, prá nóis o que importa é a Missa!” .

Terminei a Missa, como sempre, povo simples mas cheio de Deus no coração. Aguardei a volta do Pe. Afonso e o João. Pelo eterno problema de avisos, o João não celebrou naquele dia, pela segunda vez. A questão de comunicação era problema lá e em qualquer lugar, e continua ainda hoje.

Voltando, um pouco antes daquele famoso atoleiro, um ônibus que vai e volta da Cidade todos os dias estava atolado. Sabe lá como sairia dali. Mas para eles isto é um fato normal, não se assustavam mais...

Enfim chegamos em casa. Tudo o que queria era um bom banho e descansar para o dia seguinte. Mas o segundo Gurgel que o João tinha levado até um certo trecho de manhã, não havia retornado. Pelo simples motivo de que as chaves se encontravam no seu bolso. Já era 17:40 horas.

Já tinham tentado ligação direta do carro, o que causou pane na parte elétrica. Não havia outra coisa à fazer. Peguei a Toyota da Paróquia em que era Pároco (Sagrado Coração - Ministro Andreazza), e com o João rebocamos  o Gurgel.

Finalmente, chegando em casa, pude tomar meu banho e comer alguma coisa e fim de dia. Antes das 21 horas já estava dormindo, para um novo dia, uma nova visita...

Como disse, há dias memoráveis em nossas vidas. Este dia foi um daqueles que marcaram meus três anos em Missão naquela Diocese que faz parte de minha história e que lembro com carinho e saudade, acompanhado de contínuas orações.

Paciência e imediatismo

                                                    

Paciência e imediatismo

Como Igreja Sinodal que somos, urge o aprendizado da linguagem do Espírito, cessando as palavras, com renovados compromissos com a Evangelização, a fim de construirmos uma Igreja viva e solidária, fiel ao Cristo Ressuscitado, atenta ao sopro do Espírito, sem jamais nos omitirmos na construção de uma sociedade justa, solidária e fraterna, conforme o desejo e sonho de Deus Pai.

À luz da Palavra de Deus, dos ensinamentos da Igreja, contidos em seu Catecismo, e dos escritos de um dos grandes santos da religiosidade popular e da Igreja, Santo Antônio, refletimos sobre a virtude da paciência, e as suas implicações na vida quotidiana em todas as dimensões, pois vivemos numa sociedade marcada acentuadamente pela cultura do imediatismo.

Oportunas são sábias palavras de Santo Antônio em  um dos seus Sermões: “Quem está repleto do Espírito Santo fala várias línguas. As várias línguas são os vários testemunhos sobre Cristo, a saber: a humildade, a pobreza, a paciência e a obediência; falamos estas línguas quando são as obras que falam”.

Animados pelas virtudes teologais – fé, esperança e caridade –  cultivemos a virtude da paciência, sem nos curvarmos à cultura do imediatismo, mas comprometidos com a cultura da vida, para que vivenciando o Mandamento do amor santifiquemos nossas famílias, pois de nada adiantaria falar em paciência ou em linguagem do Espírito se não tivermos o amor.

Quanto mais intenso o amor, maior será a paciência vivida, como bem nos alertou São Paulo: “amor é paciente, o amor é prestativo; não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade, tudo desculpa. Tudo crê, tudo espera e tudo suporta" (1Cor 13, 4-7).

Como Igreja, sintamo-nos sempre animados e fortalecidos pelo Fogo do Espírito que ilumina nossa vida, reavivando a chama da fé que em nosso coração foi acesa, e num crepitar permanente tenhamos o coração ardente e os olhos abertos em cada Eucaristia celebrada.

Iluminados pela Palavra de Deus e nutridos pelo Seu Corpo e Sangue, renovemos nossas forças para maior empenho, dedicação no carregar da cruz hoje, para alcançarmos e merecermos a glória da eternidade no amanhã de Deus, sem cairmos na tentação do imediatismo inútil e estéril. 

Quem sou eu

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG