A graça de ser Presbítero
Resplandecer é reluzir, refletir, irradiar, e também comunicar e ressoar a luz de Deus.
Há palavras que passam sem deixar marcas, há outras que entram em nossos ouvidos, criam raízes em nosso coração e produzem seus frutos no cotidiano de nossa existência. Isto é resplandecer.
Há alguns anos, no Encontro Nacional de Presbíteros, ouvi um Bispo afirmar: “o Presbítero tem que resplandecer a luz de Deus...” num mundo marcado pelo pecado, violação da sacralidade da vida, violência, injustiça, depredação ecológica etc.
Num mundo que amarga o caos gerado pelo egoísmo e ambição de poucos, que condena milhões à miséria, à exclusão, o Presbítero é desafiado a resplandecer a luz de Deus, sendo sinal de esperança de um novo tempo e novo mundo; onde o pecado dá lugar à graça, a morte à vida, a miséria cede lugar para a partilha e saciedade, a tristeza converte-se em canto de alegria, a súplica torna-se um hino de ação de graças...
Cristo assumiu o deserto da nossa pobreza, enriquecendo os Presbíteros com a graça do Sacramento da Ordem, mais do que nunca, carregando tesouros em vasos de argila, a estes confia uma missão especial, divina.
Portanto, ser Presbítero é:
Ser apaixonado pela cultura da vida, pelo Evangelho, em tempo de pós-modernidade, numa acentuada cultura de morte, marcada pelo individualismo, busca do prazer pelo prazer, materialismo, indiferença, a degradação da vida humana e do planeta; não deixar esfriar a chama do primeiro amor, retomando a conduta de outrora;
Acender a chama da fé no coração daqueles que ainda não se abriram à realidade de um Deus terno, pleno de amor e, portanto, onipotente e absoluto;
Não ter medo de amar as pessoas, pois do contrário, não entenderíamos nada de Deus. O pior analfabetismo não é aquele que impede saber ler as letras que se escrevem, é não saber amar;
Fecundar sua mente e coração, e também do povo, com a semente do Verbo, com a Palavra de Deus;
Renunciar um amor único para dedicar-se ao Único amor, que nos preenche em favor de tantos sedentos de amor, vida e paz;
Exalar o perfume de santidade para a qual fomos vocacionados;
Não ser pedra de tropeço para os pequeninos, pelo contrário, é ser um ponto de apoio, sobretudo para aqueles que tropeçam nas dificuldades e obstáculos do caminho;
Empenhar-se na coerência de vida, entre aquilo que se crê, que se prega e que se vive;
Ter coragem de rever os passos dados, para poder acertar no presente, para que o futuro não seja marcado por sonhos frustrados, mas seja a certeza de que o empenho foi para melhor, e só por isto já terá valido a pena;
Não ter a pretensão de saborear os doces e saborosos frutos, mas ter a certeza de que somos chamados a plantar, a regar, para que outros também possam comer;
Irradiar a luz da Luz Divina que em nós habita;
Ser insaciável do amor de Deus. Beber a cada dia da inesgotável fonte do amor de Deus, para que possa fazer jorrar o mesmo amor a tantos quantos cruzar pelo caminho;
Ser incansável na jornada do amor universal, mas ao mesmo tempo preferencial pelos empobrecidos;
Ser homem de profunda intimidade com Deus, marcada na vida de Oração;
Saber contemplar os mistérios de Deus, a exemplo de Maria. Saber calar e meditar tudo no coração, para com ela poder cantar; “Minha alma glorifica o Senhor, exulta o meu espírito em Deus meu Salvador...”;
Aprender na escola de Maria as lições que brotam da Eucaristia a iluminar nossos passos;
Entregar-se a Deus e confiar, a exemplo de Maria, experimentando a Sua onipresença e onipotência, presentes em Sua misericórdia e solicitude para com os pequenos.
Finalizando, ser Presbítero é perceber a antecipação do céu no tempo presente; em cada Eucaristia que se celebra: ”A Eucaristia é verdadeiramente um pedaço do céu que se abre sobre a terra, e os raios da Jerusalém Celeste atravessam as nuvens da história para iluminar nossos caminhos” (Papa São João Paulo II).
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