terça-feira, 1 de outubro de 2024

“À vossa proteção..."

                                                           


 “À vossa proteção..."

“À vossa proteção recorremos, santa Mãe de Deus;
não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades,
mas livrai-nos sempre de todos os perigos,
ó Virgem gloriosa e bendita”. (1)

 

 

(1)  A mais antiga Oração à Nossa Senhora: 

https://www.vaticannews.va/pt/oracoes/a-vossa-protecao.html 

 

 

 

Lições para uma Espiritualidade Mariana

                                                     

Lições para uma Espiritualidade Mariana

Mãe Discípula:

Aquela que ouve, escuta, acolhe a voz de Deus para realizar a Sua vontade; é Mãe e Mestra, porque antes foi discípula modelo, por excelência. Perfeita sintonia com Deus, é para nós modelo de escuta.

Mãe da Fidelidade:

Em toda e qualquer situação a fidelidade marcou sua existência – fiel porque acreditou nas Promessas de Deus, por isto é cheia de graça, feliz, bem-aventurada.

Mãe da Disponibilidade:

Vai apressadamente servir sua prima Isabel, sem medir esforços. Mesmo grávida, percorreu mais de cem quilômetros, em prontidão imediata, sem lamentos, sem queixas, sem prantos, sem adiamentos, constrangimentos. No amor não cabe nada disto! O amor suaviza a missão!

Mãe Servidora:

Vai a Isabel para servir e colocar seus amáveis dons em favor da vida, assim como nas mais diversas situações que vivenciou.

Mãe da Alegria:

No encontro com Isabel, tendo acolhido em si a Obra do Espírito Santo, leva consigo O Salvador, provocando um clima envolvente de alegria e louvores, cantos de ação de graças... No encontro de duas mulheres a manifestação de Deus num clima radiante de alegria!

Mãe da Esperança

Maria é cantora da esperança dos pobres! Sonha e canta um mundo novo que nasce da intervenção de Deus e da participação humana: uma nova sociedade em todos os níveis: religioso, político e social. O orgulho dará lugar à humildade, à obediência a Deus, à simplicidade de coração. A prepotência humana cederá à onipotência Divina, o poder será colocado em favor do bem comum. O mundo viverá novas relações de amor, partilha e comunhão, em que ninguém será privado da vida e do pão. A esperança não dispensa compromissos e responsabilidades.

Mãe da Humildade:

Maria sabe entrar e sair de cena – vai, serve, volta. A Glorificação se dá somente nos céus. Fazer o bem e sair de cena, com toda humildade. O bem feito com amor não precisa de publicidade e holofotes – Deus na hora certa e no tempo oportuno é quem nos coroará. Ela foi coroada como Mãe da Glória.

Mãe da Solidariedade:

Sensibilidade e solidariedade foram suas marcas nas bodas de Caná, na visita a Isabel, e em todos os momentos. Também presente na Paixão e Morte de Seu Filho, aos pés da Cruz, para ter a alma transpassada. Solidariedade nos primeiros encontros dos Apóstolos e em toda a história com suas aparições.

Mãe boa pastora:

Maria é na fidelidade a Deus, acolhendo ao bom Pastor, aquela que O carregou no colo, também Mãe de todas as ovelhas pelas quais Seu Filho entregou a própria vida. Como não se sentir protegido, amado e seguro no colo de Maria?

Mãe do amor pelos últimos:

A parábola do Evangelho nos fala do amor misericordioso de Deus pelos últimos (das 5 horas que não foram contratados), que recebem a moeda de prata (diária para um dia Mt 20,1-16). Deus ama os últimos, os excluídos, os pequeninos, aqueles que a sociedade privou da vida e do pão cotidiano, do essencial para viver com dignidade… Maria no Magnificat canta o amor de Deus pelos empobrecidos, quando diz que Deus despediu os ricos de mãos vazias e saciou de bens os famintos. Tal Mãe, tal Filho, tal Igreja. Maria está sempre junto do Filho assegurando-nos, a moeda de prata de cada dia, O Pão Nosso de cada dia, em cada Eucaristia que celebramos.

Mãe da paciência:

Maria é a Mãe da paciência por excelência: recordemos vários momentos em que ela revelou serenidade, confiança e, sobretudo paciência. A paciência para ver o trágico momento da morte se transformar numa alegre e inovadora Madrugada da Ressurreição. Paciência para ver passar a noite da escuridão que parecia eterna, em radiante luz da Ressurreição, aurora da alegria, do esplendor, da vitória…

Mãe Lutadora:

Nada temeu, nem as forças diabólicas que devoraram a vida de Seu Filho, mas que foi por Deus Ressuscitado. O mal tem aparente vitória – a vitória final pertence a Deus. Por isto ela é modelo de luta para todos que combatem em favor da vida. É modelo de luta para nossas comunidades.

Mãe da Glória:

Elevada em corpo e alma aos céus, acende em nós o mais precioso desejo: a eternidade. Ela já alcançou depois da Ressurreição de Seu Filho, como a primeira da fila. Maria puxa a fila dos que desejam entrar no céu. Entrada nos céus de corpo e alma é sinal da dignidade, da sacralidade da vida e da existência humana, onde Deus fez Sua morada.

Por isto podemos repetir o que disse Santo Amadeu (séc.XII):

Maria está assentada no mais alto cume das virtudes, repleta do oceano dos carismas divinos, do abismo das graças, ultrapassando a todos, derramava largas torrentes ao povo fiel e sedento”

Continuemos o aprendizado de maravilhosas lições para uma devoção à ela sincera e frutuosa.

Sabiamente a Igreja nos ensina e nos convoca a superar uma esterilidade devocional a Maria, na imitação de suas virtudes em nosso cotidiano.

Não há devoção mais agradável a Deus do que o amor e o serviço aos pobres, com os quais Ele quis Se identificar e Se fazer presença. Maria, neste sentido, mais do que ninguém, foi Mãe e Mestra!

Aprendamos estas dentre outras lições para uma Espiritualidade Mariana, que nos conduzirá à essência da Espiritualidade, que é viver segundo o Espírito, como discípulos missionários do senhor, em amor pleno e incondicional a Deus.

“Salve Rainha, Mãe de Misericórdia...” 

“Igreja missionária, testemunha de misericórdia”

“Igreja missionária, testemunha de misericórdia

Celebrando o Mês Missionário, voltemos à mensagem do Papa Francisco para Dia Mundial das Missões (2016), com o tema: “Igreja missionária, testemunha de misericórdia”.

Ao longo da Mensagem, o Papa retoma alguns parágrafos da Bula “Misericordiae Vultus”, para que continuemos aprofundando o Jubileu Extraordinário da Misericórdia.

Convida-nos a olhar a missão “ad gentes” como uma grande, imensa obra de misericórdia quer espiritual quer material, e para tanto precisamos “sair”, como discípulos missionários, colocando em comum talentos, criatividade, sabedoria e experiência para levar a mensagem da ternura e compaixão de Deus à família humana inteira.

A missão é a concretização do mandato do Evangelho – «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado» (Mt 28, 19-20). Esta nunca se dá por terminada, pois a Igreja vive em estado permanente de missão, e somos impelidos a ser presença nos mais diversos cenários, com seus inúmeros desafios, numa renovada “saída” missionária: “...sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho» (Exortação Apostólica Evangelii gaudium n. 20).

É missão da Igreja anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho, a todos e em todos os cantos da terra, pois esta  gera íntima alegria no coração do Pai, sempre que encontra cada criatura humana, de modo especial os descartados, os oprimidos, pois Deus comove-se e estremece de compaixão (cf. Os 11, 8), e é misericordioso para com todos, Sua ternura estende-se sobre todas as criaturas (cf. Sl 144, 8-9).

Citando o Papa São João Paulo II, exorta-nos a viver a misericórdia, que encontra a sua manifestação mais alta e perfeita no Verbo encarnado, porque Jesus Cristo, com Sua Palavra e Vida, revela o rosto do Pai, rico em misericórdia.

Para tanto o discípulo missionário tem que aceitar e seguir Jesus por meio do Evangelho e dos Sacramentos, com a ação do Espírito Santo, para que seja misericordioso como o Pai celestial, aprendendo a amar como Ele nos ama e fazendo da própria vida um dom gratuito, um sinal da Sua bondade.

Ressalta o protagonismo feminino ao lado da presença masculina, no mundo missionário, no anúncio do Evangelho e no serviço sociocaritativo. Ser discípulo missionário é ser um vinhateiro misericordioso do Evangelho (cf. Lc 13, 7-9; Jo 15, 1), com paciência, dedicação e esforço, levar a Palavra de Deus aos lugares mais desafiadores, pois cada povo e cultura têm direito de receber a mensagem de salvação, que é dom de Deus para todos, sobretudo se considerarmos as injustiças, guerras, crises humanitárias que aguardam por uma solução, acentua o Papa.

Para que tenhamos uma “Igreja missionária, testemunha de misericórdia”, nossa Diocese (paróquias, comunidades religiosas, associações e movimentos) precisa estar devidamente motivada e conscientizada da Coleta Missionária, a ser realizada no penúltimo domingo do mês de outubro.

Este gesto expressa a comunhão eclesial missionária, uma Igreja que não se fecha em suas preocupações particulares, mas tem horizontes alargados.

Finaliza a mensagem fazendo-nos voltar para Santa Maria, ícone sublime da humanidade redimida, modelo missionário para a Igreja, pedindo a ela que nos ensine a gerar e guardar a presença viva e misteriosa do Senhor Ressuscitado, que renova e enche de jubilosa misericórdia as relações entre as pessoas, as culturas e os povos.

Vai nascer a flor...

                                                                    

Vai nascer a flor...

Da esperança, na planície árida dos desesperados.
Da confiança, na planície inconstante dos inseguros.
Da alegria, na planície obscurecida dos entristecidos.
Da ação, na planície inibidora de sagrados compromissos.

Vai nascer a flor...

Da pureza, no cume da montanha, no coração dos inocentes.
Da verdade, no cume da montanha dos que não se curvam à mentira.
Da liberdade, no cume da montanha dos que a nada se escravizam.
Da sinceridade, no cume da montanha, dos que são transparentes.

Vai nascer a flor... 

Da acolhida, no vale dos que são rejeitados.
Da ternura, no vale dos que suplicam atenção.
Da valorização, no vale dos que são pisoteados.
Da dignidade sagrada, no vale dos que são violados.

Vai nascer a flor... 

Da fé, no abismo profundo do coração dos que não esmorecem.
Da esperança, no abismo profundo do coração dos que não vacilam.
Da caridade, no abismo profundo do coração dos que cultivam o amor.
Das virtudes divinas, que fazem florir o mais belo jardim.

Vai nascer a flor... 

De mil nomes possíveis, no canteiro imenso do mundo,
Porque assim faz Deus com Suas sementes imensuráveis,
Se acolhidas e regadas com Oração, e por vezes com lágrimas,
Na morte das sementes, vidas novas renascidas – Ressuscitadas.

Vai nascer a flor... 

Que perdemos provisoriamente lá no belo Paraíso,
Mas que pela fidelidade à Palavra vivida,
Com o arado da Cruz, o mundo preparado,
Novo céu, nova terra floridos: esperados, realizados.

Vai nascer a flor... 

No coração dos que não fixaram âncoras no passado,
Mas que se puseram a caminho com o Senhor:
Ora atravessando o deserto com seus desafios,
Ora a turbulenta água do mar da existência.

Vai nascer a flor...

No coração dos poetas e dos Profetas
Que sonham e descrevem um mundo diferente, renovado...
Que olham para o futuro com os olhos de Deus, o mais belo olhar.
Que veem, além do horizonte do sol poente, um novo amanhecer.

Vai nascer a flor...

No coração dos que não perdem a confiança na humanidade,
Que se abrem ao Mistério do Amor revelado pela Santíssima Trindade,
Que nutrem e germinam, no tempo presente, flores de eternidade. Amém.

Vai nascer a flor...

Em poucas palavras...

Viver por amor

“Depois do exílio da terra, espero ir gozar de Vós na Pátria, mas não quero acumular méritos para o céu, quero é trabalhar só por vosso amor [...] 

Na noite desta vida, aparecerei diante de Vós com as mãos vazias, pois não Vos peço, Senhor, que conteis as minhas obras. Todas as nossas justiças têm manchas aos vossos olhos. 

Quero, portanto, revestir-me com a vossa própria Justiça, e receber do vosso Amor a posse eterna de Vós mesmo..”. (1)

 

(1) Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897)

 

 

 


O exigente caminho da Salvação

                                                        

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Como discípulos missionários de Jesus Cristo, é preciso que trilhemos o mesmo caminho por Ele percorrido, como tão bem retrata o Evangelista Lucas (Lc 9,51-56), na passagem proclamada na terça-feira da 26ª Semana do Tempo Comum.

Ele inicia uma viagem que é a caminhada para a glória, mas passa pelo inevitável caminho real da Cruz. Sem murmurações, contando sempre com a força, presença e ação do Espírito Santo que O leva a viver incondicional fidelidade ao Pai. 

Com Sua Vida, testemunha o que ensinou com a Sua Palavra, e é o Servo do Senhor que Se deixa conduzir ao matadouro, sem a boca abrir e, porque Cordeiro mudo, tornou-Se Pastor imortal para o rebanho por toda a eternidade. 

Muitas vezes, também nós cristãos gostaríamos de ver o triunfo da fé e da Igreja, mas segundo critérios mundanos.

O aplauso dos homens, as aclamações dos poderosos, o favor dos meios de comunicação podem ser, na verdade, modo de açaimar a verdadeira profecia, que compete aos sequazes de Cristo no mundo. 

Foi diferente o percurso traçado e indicado pelo Messias sofredor.” (1) 

Nada poderá calar a verdadeira profecia dos discípulos missionários do Senhor. nada poderá calar a voz daqueles que creem, anunciam e testemunham a Sua Palavra.

Da mesma forma, nada poderá amordaçar nossa boca e amarrar nossos pés, pois tão somente assim trilharemos o caminho que nos conduz ao Céu, carregando com fé nossa cruz quotidiana.

Reflitamos:
- O que poderá roubar a capacidade de nos entregarmos, com paixão, pela causa do Reino?
- O que poderá se sobrepor à missão da Igreja, na continuidade da missão do Senhor?

Oportunas são as palavras do Apóstolo Paulo aos romanos: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?” (Rm 8,35).

Supliquemos sempre a força do Espírito Santo, que vem em socorro de nossa fraqueza, para que não vacilemos na fé, não esmoreçamos na esperança e jamais esfriemos na caridade, com total e incondicional confiança e entrega ao Senhor.

Façamos esta súplica tantas vezes quanto for necessário, mas jamais desistamos do caminho árduo da salvação, que passa pela porta estreita, com as renúncias necessárias, carregando nossa cruz de cada dia.
 

(1) Lecionário Comentado - Volume Tempo Comum - Ediora Paulus - Lisboa - pág. 460. 

“A necessidade e o limite”

“A necessidade e o limite”

Somos o resultado de uma sucessão de fatos vividos, assimilados, rezados, amadurecidos. Portanto, é preciso que revisitemos a História, e a nossa própria história, assegurando viagem frutuosa para o futuro…

A beleza da vida consiste em aprender a viver equilibradamente, sobriamente… Entre a necessidade e o limite.

Por três anos, coloquei Ministério Presbiteral a mim confiado, pelo Sacramento da Ordem, a serviço da Diocese de Ji-Paraná (Ro),  junto às comunidades que me conquistaram, dia pós dia; na evangelização da mesmas; formação, inserção na vida do povo, com seus dramas e alegrias; no trabalho de formação junto aos seminaristas do Propedêutico e outras tantas atividades que poderiam ser mencionadas.

No entanto, houve a necessidade da volta conflitando com o desejo de permanecer. Tudo isto me levou a refletir sobre a relação entre a real necessidade e nossos limites, e a necessária tomada de uma difícil decisão.

Viver momentos de decisão oferece a oportunidade de refletirmos que somente Deus é Ilimitado, Infinito em possibilidades, Absoluto, Onipresente e Onisciente. Nós, humanos, limitados, imperfeitos e incapazes de responder a todos os apelos que nos cercam.

Passamos toda a nossa vida nesta procura do equilíbrio entre a necessidade e nossos limites. Nem opulência, nem carência, mas a exata medida, para que possamos encontrar a verdadeira realização.

Necessidades humanas respondidas com os nossos limites humanos, eis o que nos propõe o Apóstolo Paulo: “A graça de Deus se manifestou para a salvação de todos os homens. Essa graça nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas, para vivermos neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade, aguardando a bendita esperança, isto é, a manifestação da glória de Jesus Cristo, nosso grande Deus e Salvador” (Tt 2,11-13).

Vivia um amor pela Diocese de Guarulhos e a de Ji-Paraná. Duas realidades tão distintas e tão próximas dentro de mim. Incardinado (pertencente à Diocese de Guarulhos), sou o que sou graças a tudo o que ela me ofereceu. Como missionário, fui o que fui também por tudo que ela também me ofereceu.

Como disse o poeta Carlos Drumonnd de Andrade:

“Meu Deus, por que me abandonaste
Se sabias que eu não era Deus
Se sabias que eu era fraco.

Mundo, mundo vasto mundo
Se eu me chamasse Raimundo
Seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo, mundo vasto mundo,
Mais vasto é meu coração”. 

Assumir as duas realidades, mas num único amor, pois somos uma mesma Igreja. Quando se ama se vive o dilema do poeta muçulmano:

“Quando estás comigo, o amor não me deixa dormir. E quando não estás comigo, as lágrimas não me deixam dormir. Teu amor chegou ao meu coração e partiu feliz.

Depois retornou e me colocou o gosto do amor, mas mais uma vez foi embora. Timidamente pedi que ficasse comigo alguns dias. Então veio, sentou-se junto a mim e se esqueceu de partir”. 

Quem sou eu

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG