Temos sede de Deus
Sejamos iluminados pela Homilia do Presbítero São Jerônimo (séc. V) aos neófitos, à luz do Salmo 41.
“Como o cervo deseja as fontes das águas, assim minha alma te deseja, ó Deus. Como aqueles cervos desejam as fontes das águas, assim os nossos cervos que, afastando-se do Egito e do século, afogaram o faraó em suas águas e mataram todo o seu exército no batismo, depois da morte do diabo, desejam as fontes da Igreja, isto é, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Que o Pai seja dito fonte, encontramos em Jeremias: Afastaram-me a Mim, fonte de água viva, e cavaram para si cisternas rachadas que não podem reter as águas. Sobre o Filho, lemos em certo lugar: Abandonaram a fonte da sabedoria. E sobre o Espírito Santo: Quem beber da água que Eu lhe der, dele brotará uma fonte de água que jorra para a vida eterna, que logo o Evangelista explica tratar-se do Espírito Santo nesta Palavra do Salvador. Prova-se assim claramente que as três fontes da Igreja são o mistério da Trindade.
A esta Trindade aspira o fiel, aspira o batizado que diz: Minha alma tem sede de Deus, fonte viva. Não quer ver a Deus apenas de leve, mas com todo o ardor, todo abrasado em sede. Com efeito, antes do Batismo, os futuros cristãos falavam entre si e diziam: Quando irei e me apresentarei diante da face de Deus? Agora obtiveram o que pediam: vieram e ficaram diante da face de Deus, apresentaram-se ante o altar, perante o mistério do Salvador.
Admitidos no Corpo de Cristo e renascidos na fonte da vida, proclamam com confiança: Entrarei no lugar do admirável tabernáculo, até a casa de Deus. A casa de Deus é a Igreja, é ela o admirável tabernáculo, nele mora a voz da exultação e do louvor, o ruído dos convivas.
Dizei, portanto, vós que agora, guiados por nós, vos revestistes de Cristo, fostes retirados pela Palavra de Deus do mar deste mundo como um peixinho preso pelo anzol. Em nós, porém, a natureza se transformou, pois enquanto os peixes morrem, quando retirados das águas, a nós os Apóstolos nos tiraram e pescaram do mar deste mundo para que de mortos passemos a vivos. Enquanto estávamos no século, com os olhos nas profundezas, nossa vida se passava no lodo. Depois de erguidos das ondas, começamos a ver o sol, começamos a olhar a verdadeira luz; e deslumbrados pela imensa alegria dizemos a nossa alma: Espera em Deus porque O louvarei, a Ele, salvação de minha face e meu Deus”.
Oremos:
Ó Eterna Trindade Santa, Vos glorificamos,
Vós que sois a fonte genuína e inesgotável da Igreja,
A Divina Fonte de amor, alegria, vida, luz e paz,
E quanto mais precisamos para o encontro da felicidade,
E do sentido para o existir, no tempo presente e
Também para o tempo futuro, o desabrochar da eternidade: céu.
Desejamos ardentemente contemplar Vossa divina face,
Com o coração abrasado de sede, diante de Vosso altar,
Contemplando na Eucaristia Vossa divina presença,
Assim como no silêncio do sacrário,
Pois estais presente no tão sublime Sacramento,
Que adoramos e contemplamos,
Os joelhos dobramos, com nossos lábios, louvamos e suplicamos.
Suplicamos que nos tireis sempre do mar deste mundo,
Atraídos por Vós e por Vossa Palavra e Projeto de Vida,
Aconteça em nós o que dissestes ao Vosso servo:
Fomos retirados pela Palavra de Deus do mar deste mundo,
Como um peixinho preso pelo anzol, e de fato, em nós
A natureza se transformou: “pois enquanto os peixes morrem,
Quando retirados das águas, a nós os Apóstolos nos tiraram e pescaram do mar deste mundo para que de mortos passemos a vivos”.
Então, retirados do mar deste mundo,
Abrasados de sede de modo especial do amor,
Do qual sois, Trindade Santíssima e Eterna,
A única e insubstituível Fonte,
Animados e iluminados pela Vossa presença no Pão Palavra,
Alimentados e revigorados
pela mesma presença no Pão da Eucaristia,
Viveremos a graça da vocação que nos concedestes:
Reis, sacerdotes e profetas seremos,
Irradiando Vossa luz onde quer que estejamos. Amém.
(1) Liturgia das Horas – Ed. Paulus - pp. 392-393.