Jônatas, modelo de amigo verdadeiro!
Existirá ele em minha vida?
Reflitamos sobre a amizade de Jônatas e Davi, retratada no Tratado sobre a amizade espiritual, pelo Beato Abade Elredo (séc. XII).
“Jônatas, jovem de grande nobreza, sem olhar para a coroa régia nem para o futuro reinado fez um pacto com Davi, igualando assim, pela amizade, o súdito ao senhor. Deu preferência a Davi, mesmo quando este foi expulso por seu pai o rei Saul, tendo de se esconder no deserto, como condenado à morte, destinado à espada. Jônatas então se humilhou para exaltar o amigo perseguido. Que espelho estupendo da verdadeira amizade! (...)
Quando Saul pronunciou sentença de morte contra Davi, Jônatas não abandonou o amigo. Por que deve morrer Davi? Que culpa tem? Que fez ele? Tomou sua vida em suas mãos e feriu o filisteu e tu te alegraste. Por que então irá morrer? A tais palavras, louco de cólera, o rei tentou transpassar Jônatas, com a lança contra a parede, ameaçando aos gritos: Filho de mãe indigna, bem sei que gostas dele para vergonha tua, confusão e infâmia de tua mãe. Depois vomitou todo o veneno sobre o coração do jovem, acrescentando incentivo à sua ambição, alimento a inveja, estímulo à rivalidade e a amargura...
Jônatas, o moço cheio de afeição, guardou o pacto da amizade, forte contra as ameaças, paciente contra o furor, desprezou o reino por causa da amizade, esquecido das glórias, bem lembrado da graça. Tu serás rei e eu serei o segundo depois de ti. Esta é a verdadeira, perfeita, estável e eterna amizade, aquela que a inveja não corrompe, suspeita alguma diminui, não se desfaz pela ambição. Assim provada, não cede; assim batida não cai; assim sacudida por tantas censuras, mostra-se inabalável e, provocada por tantas injúrias, permanece imóvel. ‘Vai, então, e faze tu o mesmo’ ”.
É na Sagrada Escritura que encontramos uma amizade assim, que encanta os olhos e alegra o coração, pois, ela, embora alguns não acreditem, é possível!
Foi o amor que moveu Jônatas a por sua vida em risco em favor de seu amigo Davi, e assim, preferiu a sua amizade a posse do Reino.
Foi o amor que moveu Jônatas a deixar interesses pessoais para cuidar dos interesses do objeto de seu amor, e nos remete às palavras do Apóstolo Paulo na Carta aos Coríntios quando diz: “O amor não procura os seus interesses...” (1 Cor 13,4-5).
Ficamos sensibilizados com a declaração de amizade de Davi para com Jônatas: “Que sofrimento tenho por ti, meu irmão Jônatas, tu tinhas para mim tanto encanto, a tua amizade me era mais cara do que o amor das mulheres” (2 Sm 1,26).
Jônatas amou Davi como a sua própria alma! Uma amizade Verdadeira firmada no Sincero Amor, portanto, um modelo de amigo verdadeiro.
De fato a amizade é bem maior encontrado, mas quem de nós seria capaz de quantificar, avaliar uma verdadeira amizade?
Amizade que não pode ser palavra esvaziada de conteúdo, amarelada pelos desencantos, esvaecida pela incredulidade, inexistente como realidade.
Amizades inautênticas evaporam como orvalho da manhã; são como nuvem que passa; cristal fino e belo que se quebra ao cair no chão; uma planta bela e viçosa ao amanhecer, murcha e seca no próximo ou mais breve crepúsculo de um dia!
Amizades autênticas não podem ser ditas como quimeras, fantasias impossíveis, inexequíveis, porque elas são, desde sempre, o desejo mais profundo de todos nós, pois são possuidoras da semente da eternidade no tempo presente uma plausível realidade.
Amizades são aventuras incansáveis porque, do contrário, viver não teria razão de ser, fazendo com que o viver seja criação de laços indestrutíveis de amizades, vínculos incorruptíveis que asseguram, amenizam e fundamentam a existência.
Amizades que se edificam, acrisolam, reluzem na mútua ajuda, na compreensão, correção e perdão, em respeito à liberdade absoluta do outro, do contrário seria indesejável possessão, egoísmo.
Amizades verdadeiras ampliam a liberdade do outro, numa reciprocidade inexaurível, na mútua ajuda no enfrentamento dos desafios, com mais alegria e encantamento lutar.
Não há nada mais tristonho e extenuante que lutar sozinho, não há nada mais amargo do que a solidão,
O abandono, o desencontro, o sentimento da não comunhão. Da mão que não se alcançou, da mão que não se vislumbrou, porque um amigo de verdade não se encontrou.
Diante de tão bela amizade, conclui-se que toda comunidade deve ser espaço do aprendizado do amor fraternal com a promoção da paz, respeito, sinceridade, transparência...
Comunidade como espaço de verdadeiras amizades que sorriem na alegria, são suaves alívios na dor, eternizando-se em Deus!
Jesus, mais do que ninguém, Se relacionou como Amigo, como nosso Verdadeiro e mais Autêntico Amigo:
“Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que seu senhor faz; mas vos chamo amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai Vos dei a conhecer” (Jo 15,15).
Todos desejamos que haja “Jônatas” em nossa vida! Mas não basta querer a amizade de Jônatas, antes, é preciso empenhar-se em ser Jônatas na vida de alguém.
- Quem é Jônatas em minha vida?
- Há mais de um Jônatas em minha vida?
- Sinto-me Jônatas na vida de alguém?
- Caso não tenha e não o seja, o que há de errado?
- Caso haja e seja, rezemos por eles...
Amizades não são como pacotes belos e enfeitados, tampouco são plantas que já deram seus frutos e nada mais se espera, ou um solo extenuado e exaurido condenado à esterilidade.
Amizades renascem sempre num Mistério Pascal de Morte e ressurreição. Amizades são sempre sementes plantadas e cultivadas com a Oração, paciência, mansidão, caridade..., para que possam germinar sempre frutos novos como manifestação do Espírito Santo de Deus!
Em todo tempo, ponhamo-nos sempre em riquíssima aventura divina de construir amizades verdadeiras, que são laços indestrutíveis e criam vínculos incorruptíveis, que se eternizam nos céus!
Encerro com um versículo do Livro dos Provérbios:“Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão” (Pv 17, 17).
Fortaleçamos, em todo o tempo, os vínculos das sagradas amizades.
PS: oportuno para a reflexão sobre a passagem do Primeiro Livro de Samuel (1 Sm 18,6-9;19-1-7)