segunda-feira, 10 de junho de 2024

Guiados pelo Espírito à plenitude de Cristo

 


Guiados pelo Espírito à plenitude de Cristo

Sejamos enriquecidos pelo Sermão de um Autor anônimo (séc. IV):

“Aqueles que chegaram a ser filhos de Deus e foram considerados dignos de renascer do alto pelo Espírito Santo, e possuem em si a Cristo, que os ilumina e os recria, são guiados pelo Espírito através de vários modos diversos, e os seus corações são conduzidos de maneira suave e invisível pela ação da graça.

Às vezes eles choram e se lamentam pelo gênero humano e suplicam por ele com lágrimas e pranto, abrasados de amor espiritual para com o mesmo.

Outras vezes, o Espírito Santo os inflama com uma alegria e um amor tão grandes que, se pudessem, abraçariam em seu coração a todos os homens, sem distinção de bons e maus.

Outras vezes experimentam um sentimento de humildade que se colocam abaixo de todos os outros homens, tendo-se a si mesmos como os mais abjetos e desprezíveis.

Outras vezes, o Espírito lhes comunica uma alegria inefável.

Outras vezes são como um homem valoroso que, equipado com toda a armadura régia e lançando-se ao combate, batalha com valentia contra os seus inimigos e os vence.

Da mesma forma o homem espiritual, tomando as armas celestiais do Espírito, lança-se contra o inimigo e o submete sob os seus pés.

Outras vezes, a alma repousa em um grande silêncio, tranquilidade e paz, gozando de um maravilhoso otimismo e bem-estar espiritual, e de um sossego inefável.

Outras vezes, o Espírito lhes concede uma inteligência, uma sabedoria e um conhecimento inefáveis, superiores a tudo o que possa se falar ou se expressar.

Outras vezes não experimenta nada de especial.

Assim, a alma é conduzida pela graça através de vários e diversos estados, conforme a vontade de Deus, que desta forma a favorece, exercitando-a de diversas formas, com a finalidade de torná-la íntegra, irrepreensível e sem mancha diante do Pai celestial.

 

Peçamos também nós a Deus, e o peçamos com muito amor e esperança, que nos conceda a graça celestial do dom do Espírito, para que também nós sejamos governados e guiados pelo mesmo Espírito, tal como o dispuser em cada momento a vontade divina, e para que ele nos reanime com seu consolo multiforme; assim, como o auxílio de sua direção e exercitação, e de sua moção espiritual, poderemos chegar à perfeição da plenitude de Cristo, como afirma o Apóstolo: ‘Assim chegareis à vossa plenitude, conforme a plenitude de Cristo’.” (1)

Com o Sermão contemplados as diversas manifestações e ação do Espírito Santo em nossas vidas.

Sejamos sempre guiados pelo Espírito à plenitude de Cristo, a fim de que cada vez mais por pensamentos, palavras e obras, correspondamos aos desígnios divinos.

Oremos:

“Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo...”

 

 

 

(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pág. 411-412

Solidariedade fraterna: A face humana do Amor Divino


Solidariedade fraterna:
A face humana do Amor Divino

Reflitamos sobre o caminho para a eternidade, o caminho da salvação, que nos alcance a felicidade também para o tempo presente: este único caminho passa pelo amor a Deus e ao próximo, e que são coordenadas que orientam a nossa vida.
  
Deste modo, mais importante do que saber quem é o próximo a quem devo amar, é tornar-me próximo de quem precisa; de quem se encontra à beira do caminho.

Deste modo a Lei de Deus não é posta fora de nosso alcance. É inscrita em nosso coração e em nossa mente, proclamada pela nossa boca, mas principalmente com a nossa vida: a adesão ao Projeto Divino implica a vivência dos Seus Mandamentos.

Quando Cristo, a imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda a criatura, a Cabeça da Igreja que somos é o centro de nossa vida e da comunidade, abrimo-nos ao outro, fazemo-nos próximos daqueles que estão à beira do caminho, no amor vivenciado, misericórdia, compaixão e solidariedade.

O Senhorio de Jesus se dá na vivência do Mandamento Novo do Amor que nos deu, somente assim revelamos Sua supremacia, centralidade, soberania e poder.

O Papa Bento XVI em sua Encíclica Deus caritas est”, assim nos enriqueceu com estas breves e profundas palavras:

“O amor ao próximo é também uma estrada que conduz a Deus. Não amar o próximo é tornar-se míope de Deus”.

Ao mesmo tempo em que Jesus é o Caminho, Ele nos desafia ao amor e solidariedade com aqueles que se encontram marginalizados à beira do caminho, o nosso próximo, seja quem for, é aquele que necessita de nós, amigo ou inimigo, conhecido ou desconhecido...
É, portanto, qualquer irmão caído nos caminhos da vida que necessite da nossa ajuda e amor para se levantar... Eis o amor sem limites que Ele viveu e nos ensinou a viver!

Reflitamos:

- Como estou vivendo a verdadeira religião que nos permite experimentar a proximidade divina para uma maior proximidade humana, em gestos de comunhão fraterna?

- Qual é a diretriz de minha vida? Leis, ritos ou o amor?

Concluindo:

Somente quem ama e se aproxima solidariamente do outro alcança a eternidade!

Amar é criar condições para que o outro “se levante” e caminhe!
Eis aqui a essência da missão de uma comunidade que professa sua fé no Senhor Jesus.

Há sinais de luz na escuridão da noite!

                                                   


Há sinais de luz na escuridão da noite!

Esta reflexão foi inspirada no Livro Sabedoria (Sb 18,6-9), quando o autor fazia memória da Noite da Libertação em que Deus interveio, libertando-os da escravidão do Egito.

Continuamos resgatando a memória desta noite...

Quando celebramos a Eucaristia: Memorial da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Quando cremos na força interventora de Deus na história

Quando cremos num Deus aliado e apaixonado pela vida dos pobres!

Quando cremos em Deus que suscitou e suscita Profetas e Profetizas de um novo tempo!

Quando cremos que o Verbo Se fez e Se faz Carne, não mais no ventre de Maria, mas no nosso coração e na carne da História. O Verbo Se faz Carne na História para o seu resgate!

Quando amarmos Cristo em nossa vida e o imitarmos em Sua morte como fez e faz nossos mártires de ontem e de hoje!

Quando sacrários vivos do Senhor se dobram silenciosamente e em adoração diante do Sacrário. Silêncio não como ausência de sons, mas com o ressoar do Verbo-Palavra que habitou entre nós!

Quando o povo simples calcula suas dívidas e contas e se refaz nas contas de um terço!

Quando acreditamos na missão da Igreja que é Evangelizar, ajudando a construir comunidades mais perseverantes na Doutrina dos Apóstolos, na Fração do Pão, na Comunhão Fraterna e na Oração!

Quando juntos, homens e mulheres, numa autêntica e madura relação de gênero sabem viver a complementaridade e subsidiariedade!

Quando somamos e multiplicamos nossas forças para que nossas lutas, sonhos e compromissos saiam da tinta da caneta para a prática expressiva e concreta!

Quando sabemos romper toda barreira de preconceitos raciais, sexuais e sociais que ainda nos dividem e nos empobrecem (muitas vezes dentro da própria Igreja).

Quando há aqueles que se organizam para defender o espaço, a ecologia, o kosmos, o homem e a mulher, a criação num compromisso com o Criador...

Quando vivemos a necessária intervenção de Deus na vida de nosso povo, conduzindo-o à Terra Prometida, da partilha, da saciedade de toda e qualquer fome e sede de amor, vida em abundância e paz, sobretudo se considerarmos a realidade de fome e miséria crescente que estamos vivendo.

Quando passamos de uma devoção estéril à Maria a uma prática e imitação de suas virtudes: Confiança, disponibilidade, serviço, alegria, profetismo, esperança...

Quando percebemos a intervenção de Deus, a luz aparece na escuridão da noite de nosso tempo. O “Kairós” anseia pela Luz Divina.

Há sinais de luz na escuridão da noite!

Há sinais de luz na escuridão da noite, porque sinto que disse muito, mas ainda não disse nada! Porque como disse São Francisco: “Deus é o nunca bastante”, ou ainda como disse Santo Agostinho: “Deus é um Mistério tão inextinguível que uma vez encontrado ainda falta tudo para encontrá-Lo”.

Há sinais de luz na escuridão da noite de nosso tempo, porque acredito que muitos poderão me ajudar a completar e enriquecer esta reflexão...

 “A nós descei divina luz...
Em nossas almas acendei o Amor de Jesus”

A vida é um dom precioso de Deus

 


A vida é um dom precioso de Deus
 
“De longe Iahweh me apareceu:
Eu te amei com amor eterno, por isso conservei para ti o amor” (Jr 31,3)
 
Infelizmente, quase todos os dias, ouvimos notícias que nos preocupam: o alto índice de suicídio entre a juventude; transtornos mentais; automutilações; depressão e indiferença para com a realidade da própria existência, e tantos outros fatos.
 
Que palavra dirigir aos jovens, para que redescubram o valor sagrado de sua vida, e quão preciosa ela é aos olhos de Deus, da Igreja e de todos nós?
 
Inicialmente, lembremo-nos sempre que Jesus também foi jovem, e deu a Sua vida em uma fase que hoje definimos como um jovem adulto. E foi em plena juventude que começou a Sua missão pública e, assim, brilhou “uma grande luz” (Mt 4, 16), sobretudo quando levou até o extremo o dom da Sua vida.
 
São preciosas as palavras do Papa Francisco, sobre a missão que Jesus confia à juventude e a todos nós: “acender estrelas na noite doutros jovens” (Christus vivit n.33).
 
Precisamos ajudar nossos jovens a fazerem um verdadeiro encontro pessoal com Jesus, e deste modo, terão um novo sentido para viver, e um horizonte de alegria, vida e esperança.
 
Em Jesus Cristo, todos os jovens podem se rever, por isto Ele ilumina a juventude de hoje como jovem que foi e, com Ele, cada jovem pode aprender a:
 
- ter confiança incondicional em Deus, que é nosso Pai, com um olhar de esperança para o futuro;
 
- cultivar amizades sinceras, assim como Ele teve e cultivou, mesmo nos momentos difíceis as manteve vivas;
 
- viver uma profunda compaixão pelos mais fracos, especialmente os pobres, os doentes, os pecadores e os excluídos;
 
- amar a vida como dom precioso de Deus, ainda que tenhamos dificuldades, provações, e relacionamentos difíceis no dia a dia.


Deste modo, cada jovem viverá o aprofundamento da amizade e intimidade com Ele, redescobrindo que a vida é dom divino e precioso aos olhos de Deus, e assim reencontrarão sentido para todo o existir, com compromissos e projetos que promovam a vida e testemunhem um amor gratuito e solidário, como discípulos missionários do Senhor, cultivando a esperança de um novo dia. Coragem, querida juventude!

Revigorados e animados para a missão

Revigorados e animados para a missão


Retomemos a passagem da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios (2 Cor 13,11-13):

“Enfim, irmãos, alegrai-vos, procurai a perfeição, encorajai-vos, tende um mesmo pensar, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco.

Saudai-vos uns aos outros com o beijo santo. Todos os santos vos saúdam.

A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós”.

Sete palavras do Apóstolo são iluminadoras para nosso caminhar de discípulos missionários do Senhor: fraternidade, alegria, perfeição, coragem, comunhão, amor e paz.

Com a força do Espírito Santo, na fidelidade ao Senhor, no renovado compromisso com o Projeto de Deus é preciso:

Viver como irmãos e irmãs, no mesmo caminhar de fidelidade ao Senhor, no carregar de nossa cruz cotidiana, assim Ele nos chamou e nos falou (Lc 9,23).

Irradiar sempre a alegria Pascal, alegria plena e verdadeira, somente com o Senhor e no Senhor, exortou o Apóstolo aos Filipenses (Fl 4, 4)

Buscar incansavelmente a perfeição, pois também o Senhor nos falou – “Sede perfeitos como vosso Pai Celestial é perfeito” (Mt 5,48).

Renovar a coragem em nossas travessias, enfrentando ventos e tempestades do cotidiano – “Coragem, sou Eu, não tenhais medo” (cf. Mt 14,22-33).

Fortalecer incansavelmente a comunhão, vivendo o amor de Deus, pois “a caridade é o vínculo da perfeição” (Cl 3,14).

Viver, inseparavelmente, os Mandamentos do amor que nosso Senhor nos deu: “amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei e ao próximo como a si mesmo” (Jo 15,12-17).

Promover em todo o tempo e em todo o lugar a paz, pois os bem-aventurados que promovem a paz, serão chamados filhos de Deus (Mt 5,9).

Concluindo, poderemos nos saudar com as palavras do Apóstolo, de modo que assim, estas terão densidade de conteúdo:

‘A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (2Cor 13,13).

Ainda que percas...

                                                        

Ainda que percas...

Por vezes, o verbo perder nos surpreende:
Ainda que percamos a lembrança de sua conjugação,
Poderá se fazer presente na história de cada pessoa.

Por vezes, se faz presente no subjuntivo:
Ainda que se perca a capacidade de sonhar,
Que seja tão apenas por um instante.

Ainda que se percam as forças, é preciso resistir,
Renovando-as em silêncio orante recolhido,
Pelo imensurável amor divino, renovado e envolvido.

Que apareça em nossa vida como imperativo afirmativo:
Perca você todo o medo, insegurança e n’Ele confie;
No Senhor, que nos acompanha e fortalece.

Na forma do imperativo negativa seja conjugado:
Não perca jamais o encanto e o sentido do viver,
Revitalizando os laços de ternura com o Amado Redentor.

perda das folhas das árvores no outono
São necessárias para novo florescer,
E no tempo certo novamente florir.

perda das oportunidades que tivemos,
Ainda que não voltem da mesma forma,
Viveremos à espera que possam se repetir. 

perda do brilho dos olhos pelas dificuldades
Ou pelas provações, incompreensões ou decepções,
O brilho voltará, se não houver a perda da fé.

perda de alguém que partiu para a eternidade,
Não é uma “perda”, como dizemos, pois alguém advertiu:
Porque cremos e sabemos onde se encontra: céu.

perda da própria vida por causa do Senhor,
Não será perda para sempre, pois Ele nos disse:
“Quem perder a sua vida por causa de mim, a encontrará” (Mt 16,25).

Vejo-Vos...


 Vejo-Vos...

“Tal como ouvimos, assim vimos...”
Tal como ouvi, assim vi.

Eu Vos adoro, Senhor, Rei da terra,
Com todas as nações Vos sirvo,
Contemplo Vossa glória por toda a terra.

Vejo Vossos pés e mãos não mais por pregos fixos.
Vejo-Vos nos pés cansados e mãos calejadas.
Vejo-Vos nas mãos enrugadas pelo tempo.
Vejo-Vos nas mãos dos que se abrem e se solidarizam.

Vejo-Vos nos corpos pendentes pelo peso da cruz;
Da cruz do desemprego, da enfermidade, da solidão.
Vejo-Vos nos corpos pendentes, em corpos anêmicos
Que suplicam um copo de água, um pedaço de pão.

Vejo-Vos nos que estão nus, despidos de sonhos,
De esperança, porque lhes foi arrancada e pisoteada.
Vejo-Vos nos que foram sugados, vilipendiados,
Com direitos naturais à vida, subtraídos, negados.

Mas, vejo-Vos reinando naqueles que não se dobram
Diante da tirania do lucro, do poder, do prestígio, da fama,
E não traem seus princípios de igualdade, comunhão,
Na mais bela relação de liberdade, paz e fraternidade.

Vejo-Vos agindo naqueles que se comprometem
Com a Boa Nova do Vosso Reino, pelo qual Vos consumistes,
A própria vida entregastes, numa incrível História de Amor,
Que se consumou Ressuscitando e no céu fostes coroado.

Vejo-Vos naqueles que vivem e creem em Vós
Com fé inquebrantável, esperança viva e fortificada,
Caridade ativa, semente de um novo e belo tempo,
Pelo Pão da Palavra e da Eucaristia alimentados.

Vejo-Vos por um instante no tempo com coroas de espinhos
Escarnecido, crudelissimamente maltratado, por ela coroado.
Vejo-Vos por um tempo infinito recebendo uma nova coroação,
Acompanhada pelos Anjos e Santos que Vos louvam e glorificam. 

“Tal como ouvimos, assim vimos...” Tal como ouvi, assim vi.
Assim Vos vejo, Senhor, e quero assim imitar-Vos,
Praticando a compaixão, alcançando a máxima felicidade.
Vejo-Vos Encarnado, Padecente, Morto, Glorioso e Ressuscitado.

Vejo-Vos em corpos que vão silenciosamente morrendo.
Vejo-Vos em sinais de Ressurreição que vão acontecendo.
Vejo-Vos morrer, Vos vejo Ressuscitar,
A fé me concede um novo olhar...

                                            Amém. Aleluia! 

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