Quando acolhemos o Senhor, tudo se transforma!
Reflitamos sobre a conversão de Zaqueu (Lc 19,1-10), chefe de cobradores de impostos, à luz do Sermão de São João Crisóstomo (séc. VI).
“’Entrou Jesus em Jericó e atravessava a cidade. Um homem chamado Zaqueu, chefe dos publicanos e rico, procurava ver quem era Jesus’.
Veja-o correr, ardendo em desejos de Deus, e subir a uma árvore e olhar ao seu redor procurando ver a Jesus para conhecer a fonte de vida. Ao ver Jesus, Zaqueu saciou a curiosidade de seus olhos, mas sentiu o seu coração incendiar-se de um desejo muito mais intenso.
Observa o desejo deste homem. ‘Procurava ver quem era Jesus, mas não conseguia, por causa da multidão, pois era muito baixo. Então ele, correu à frente e subiu numa figueira para ver Jesus, que devia passar por ali’.
Zaqueu, baixo em estatura, mas grande em ponderação do espírito, procurava ver Jesus; procurava ver ao Deus que distribui entre os homens os dons celestiais. Não tinha a dulcíssima alegria de conhecer a Deus, mas desejava ver o Profeta do amor. Enfermo, desejava ver a saúde; faminto, buscava o Pão do Céu; sedento, suspirava pelo manancial de água. Desejava ver Aquele que concede aos sacerdotes uma vida nova e tinha despertado Lázaro do sono da morte.
Zaqueu viu o Senhor, e a chama de seu amor aumentava continuamente; Cristo tocou o seu coração, e ele se converteu em outro homem: de publicano, em homem cheio de zelo; de infiel, em fiel. Quem ama tanto ao pai e à mãe, quem jamais amou a mulher e aos filhos como Zaqueu amou ao Senhor, conforme testemunham os fatos?
Por amor de Cristo, repartiu os seus bens aos pobres, e devolveu quatro vezes mais para aqueles de quem tinha se aproveitado. Que boa disposição no discípulo, que discrição e poder o de Deus, que induziu para a ação somente por ter visto Jesus! Todavia, Zaqueu ainda não tinha falado – somente tinha sido visto por quem tanto o desejava -, e já a potência da fé elevava ao alto aquele coração cheio de desejo.
‘Zaqueu, desce depressa, apressa-te a entrar na tua casa, porque ali tenho que me abrigar, porque me recolho onde existe fé: vou onde existe o amor. Já sei o que tu vais fazer: sei que darás teus bens aos pobres e, sobretudo, irás restituir quatro vezes mais àqueles de quem te aproveitaste. Eu entro de boa vontade na casa deste tipo de homens’.
Zaqueu desceu em seguida, foi para a sua casa e hospedou a Jesus. Cheio de alegria e de pé, disse: ‘Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres, e se me aproveitei de alguém, lhe restituirei quatro vezes mais’.
Ó confissão sincera, que brota de um coração verdadeiro cheio de fé, resplandecente de justiça! Tal justiça se digne conceder a nós o Deus do universo, pela graça e a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.”
Aprendamos com Zaqueu a fazer nossa confissão sincera, que brote de um coração verdadeiro de fé.
Com ele, também aprendamos a buscar, como enfermos que somos pelo pecado, a saúde que Ele pode nos conceder; famintos que somos, o Pão Celestial e o Sangue Diviníssimo, que nos sacia e nos revigora; sedentos que somos de justiça e de vida plena e feliz, saciar n’Ele a Divina Fonte de amor, vida, alegria, paz e eternidade, a fonte inesgotável de Água Viva, que nos sacia e nos dá vida nova pelo Espírito.
Como Zaqueu, não desistamos jamais de correr ao encontro do Amado, Jesus. Não percamos a oportunidade ao vê-Lo passar tantas vezes em nossa vida. Em cada Eucaristia que celebramos, é sempre tempo de graça e conversão para nós. Tudo isto acontece quando da Mesa da Palavra e da Eucaristia participamos e, transformados n’Aquele que recebemos, o Mistério celebrado na vida prolongamos.
(1) Lecionário Patrístico Dominical - Ed Vozes - 2013 - pp. 749/750
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