Uma fé iluminada e iluminadora
Ouvimos, na segunda-feira da 33ª Semana do Tempo Comum, a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 18,35-43), que tem uma narração paralela no Evangelho de Marcos (Mc 10, 46-52), quando se celebra o 30º Domingo do Tempo Comum (ano B).
Vejamos o que nos diz o Comentário do Missal Dominical:
“Se no passado, a fé podia constituir uma explicação ou uma interpretação do universo, um lugar de segurança diante dos absurdos da história e do mistério do mundo, hoje não é mais assim.
Os movimentos de ideias, o processo tecnológico, a expansão do consumo, os movimentos migratórios e turísticos, a urbanização crescente e caótica com as consequentes dificuldades de integração comunitária, a agressão da publicidade, a instabilidade política, econômica e social, com todos os problemas daí derivados, concorrem para aguçar a dilaceração interior, ainda mais sensível nos homens de cultura.
Nesse quadro, a carência de uma fé consciente e robusta favorece a dissolução da religiosidade, até a ruptura com a prática religiosa” (1)
Vivemos num mundo secularizado, com fortes marcas de ateísmo, em que o espaço do sagrado muitas vezes é sinônimo de alienação, atraso, anti-história...
O Papa São João Paulo II, brilhantemente, abordou estas questões na Encíclica Fé e Razão.
Não são inconciliáveis a fé e a razão. Uma não pode prescindir da outra, do contrário não corroboram para o processo de fraternidade e promoção da vida, da dignidade humana.
Evidentemente que podemos cultivar uma fé ingênua, marcada pelo infantilismo, renunciando aos compromissos inerentes à mesma; delegando a Deus o que é tarefa humana, descomprometendo-se, lamentavelmente, com aquilo que é próprio e inadiável nosso.
A fé deve ser vista como resposta, e não uma fuga dos problemas. E muito mais que uma resposta, é preciso que seja uma proposta transformadora, fundada e nutrida pelo Pão da Palavra e pelo Pão da Eucaristia. Na fé deve consistir a resposta sedenta de sentido de vida.
Ela deve ultrapassar todo o pragmatismo evasivo; todas as explicações que se encerram em si mesma.
Há sempre muito mais do que se possa verbalizar e racionalizar, a fim de que cultivemos uma fé consciente e robusta, procurando respostas aos incontáveis problemas mencionados, de modo que a fé, a esperança e caridade, como virtudes teologais, amadureçam, inseparavelmente, em nosso interior, afastando toda a estimulação e excitação de dilaceramentos interiores...
Tão somente assim, veremos a fé expressa em gestos concretos, afetivos e efetivos de caridade.
Urge uma Fé viva e uma Esperança com âncoras nos céus, onde se encontra o Ressuscitado, de modo que a Caridade dará respostas libertadoras para o mundo que precisa ser transformado.
(1) Missal Dominical - Editora Paulus - pág.1057
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