“Coragem, Ele te chama”
Joguemos o manto e
saltemos ao encontro do Amor
No 30º Domingo do Tempo Comum (Ano B) refletimos sobre a preocupação de Deus para que alcancemos a vida verdadeira e o caminho que Ele nos apresenta para alcançarmos esta meta.
Na passagem da primeira Leitura (Jr 31,7-9), o Profeta Jeremias nos apresenta uma mensagem de conversão e fidelidade a Javé. É crítico das injustiças sociais, da infidelidade e do abandono que o povo faz em relação a Deus e à Sua Aliança, confiando em alianças passageiras e externas, em poderes que passam.
Jeremias tem também uma mensagem de esperança de um novo recomeço, que é iniciativa de Deus e resposta do Povo. Deus caminha conosco e nos conduz pela mão.
Não estamos sós. De modo que, nos momentos mais dramáticos da caminhada histórica de Israel, Deus está presente conduzindo à liberdade e à vida plena.
Deus mesmo, por amor, reunirá, conduzirá e fará com que o povo volte à sua terra para recomeçar, após duro tempo de sofrimento e exílio. Deus é sensível, atento e cuida do Seu povo com Amor de pai.
Com Deus supera-se todo olhar de pessimismo. Há sempre um futuro melhor, pois Ele nos ama e caminha conosco, não Se faz indiferente a nossa história e está sempre pronto para perdoar, e nos reconciliar consigo, porque é um Deus de suprema e infinita misericórdia.
Terrorismo, crimes ambientais, dificuldades econômicas, doenças, fome, miséria, falta de princípios éticos, banalização da vida, violação de sua sacralidade, não é o último olhar. O último olhar é o de Deus, que nos pede superação e está conosco na reconstrução de novos caminhos.
Há olhares diferenciados: olhares pessimistas e derrotistas, olhares confiantes e esperançosos quando fundados em Deus, em Sua Palavra e presença.
A passagem da segunda leitura (Hb 5,1-6) apresenta, para uma comunidade fragilizada, cansada e desanimada, Jesus como o Sumo Sacerdote que intercede a Deus em nosso favor.
Jesus é o Sumo Sacerdote por excelência! Escolhido por Deus, saído do meio dos homens e mediador entre nós e Deus, entende perfeitamente, como Homem e Deus, nossas dificuldades reais da existência.
Com Jesus, a comunidade precisa revitalizar o seu compromisso, empenhando-se numa fé mais coerente e mais comprometida. Contemplar e corresponder ao Amor de Deus por nós que é imensurável, sem limites, indescritível, indefinível.
A passagem do Evangelho (Mc 10,46-52) nos apresenta a cura do cego Bartimeu (filho de Timeu). Com esta cura, podemos compreender o caminho que Deus trilha para nos libertar das trevas e nos fazer nascer para a luz, e assim passarmos da escravidão à liberdade, da morte à vida.
Esta passagem bíblica é mais do que a história da cura de um cego por Jesus, trata-se de uma catequese batismal com todas as suas etapas.
O cego Bartimeu está sentado, numa expressão real de desânimo e conformismo, está privado da luz e da liberdade e conformado com sua aparente irredutível situação, sem qualquer perspectiva.
Suplicando ao Senhor, tem que superar as resistências, mas até o seu grito tentam calar.
Diante da Palavra de Jesus – “Coragem, levanta-te que Ele te chama”, irrompe a novidade. O cego atira a capa, dá um salto e vai ao encontro com Jesus.
“É claro o significado simbólico do gesto: para seguir o Senhor é preciso saber libertar-se de tudo aquilo que serve de obstáculo a uma adesão pronta à Sua Palavra. Não se trata somente de nos libertarmos dos pecados, mas de saber antepor a riqueza espiritual da fé no Senhor aos recursos a que o nosso coração está demasiado apegado e que o tornam pesado” (1).
É preciso que joguemos fora nossa capa, com a coragem de desapegos, despojamentos, esvaziamentos.
De fato, diante do Senhor rompemos com o passado, simbolizado na capa, saltamos para o novo, para o encontro que transforma a nossa vida e pomo-nos com novo ardor a caminho: o caminho da luz, do amor, da verdade e da vida.
Bartimeu depois do encontro se torna modelo de verdadeiro discípulo para nós. Em nosso encontro com Jesus há quem nos conduz, como também há os que nos impedem, obstaculizam. Não podemos desanimar jamais de ir ao Seu encontro, pois somente com Ele nossa vida se torna plena de luz, paz, amor e alegria, e tudo mais quanto possamos desejar, conceber, dizer.
Pôr-se no caminho do amor, do serviço, da entrega, do dom da vida, a partir do encontro com Jesus é o caminho que todos devemos fazer.
Somente curados pelo Senhor a cada instante é que não desanimamos da caminhada de fé, sabendo, crendo, anunciando e testemunhando que somente Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. Somente Ele nos introduz na luz no tempo presente e um dia na luz eterna, na plena claridade que é o céu. Claridade plena, porque assim é o amor. Onde houver amor, há luz. Onde houver a plenitude do amor haverá a plenitude da luz.
Jesus quer dos discípulos uma vida de luz, uma vida nova e para isto é preciso romper com o mundo da escuridão e acolhe-Lo como luz – “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12).
Precisamos que nosso olhar seja curado, para que se torne o olhar de Deus: olhar de ternura, de solidariedade, de confiança, de esperança, de compromisso, de amor sem limites, de horizonte do inédito, de alcance do aparentemente intangível...
Jesus é o Sumo Sacerdote do Pai e nos comunica pelo Seu Espírito a plenitude do Amor, da Vida e da Luz. Amém.
(1) Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa - pág. 647.
PS: Oportuno para a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 18,35-43)
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