quinta-feira, 4 de abril de 2024

Olhos que se abrem, corações que ardem

Olhos que se abrem, corações que ardem…

“E aconteceu que, estando com eles à mesa, tomando o pão, abençoou e partiu-o, e lho deu. Abriram-se-lhes então os olhos,
e o conheceram, e Ele desapareceu-lhes.

E disseram um para o outro:
Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos abria as Escrituras?” (Lc 24,30-32)

Naquela tarde, dois discípulos para Emaús caminhavam:
Desilusão, fracasso, sonhos frustrados, pura decepção.
Ainda não tinham acolhido, no mais profundo de si mesmos,
A graça revitalizadora da Boa Nova da Ressurreição.

É a caminhada daqueles que se dobram diante da morte;
Daqueles que da luta se retiram na perda do sentido;
Daqueles que da vida nada mais esperam,
A não ser viver apenas por ter vivido.

Cléofas e o anônimo discípulo, que para Emaús retornam,
São imagens da não vida, do vazio, escuridão e não confiança.
Daqueles para quem já não há mais esperança,
Que jamais assim façamos, e com o Senhor caminhemos...

Caminhando, redescobrem a chama que fora acesa,
Repensam o caminho e refazem seus sonhos e planos,
Acolhem na intimidade Aquele que dera Sua vida,
Para que o mundo fosse mais fraterno e humano.

Que tarde memorável daqueles discípulos,
Que no caminhar, o Verbo que fora vivo e morto,
Agora com eles, Ressuscitado para sempre está:
Âncora segura, luz resplandecente, seguro porto.

Daqueles lábios de que tantas palavras se ouviram,
Agora voltam a acolher outras belas e tantas.
Somente destes lábios saem palavras que ardem,
Pois não são vazias, porque são eternas e santas.

Corações que ardem ao acolherem aquelas memoráveis palavras,
Palavras que no dia a dia plenificam, preenchem, sustentam;
Palavras de sabedoria que revigoram, corrigem, orientam;
Palavras vivas para quem com a vida se compromete, pois por elas se deixam conduzir.

Olhos que se abrem, dos discípulos ontem e em todo tempo.
Olhos que se abrem quando o Pão Verdadeiro é partilhado,
Gesto que Ele tantas vezes com eles realizara,
Sinal profético do Banquete a ser na vida prolongado.

Só é possível reconhecer a presença do Ressuscitado,
Quem com Ele se puser, sem dúvida e medo, a caminho;
Quem deixar inflamar o coração com Sua ardente Palavra,
Suportando, com amor, dificuldades, dores e espinhos.

Só é possível reconhecer a presença do Ressuscitado,
Quem com Ele à mesa se assentar para o Pão partilhar,
Na Mesa da Eucaristia belas lições sempre aprender.
Prolongando-as na vida, vida nova há de brilhar.

Como cristãos, vivamos a experiência atualizada de Emaús.
Como homens e mulheres de Deus, para lá jamais voltaremos,
Pois sabemos que a Jerusalém é aqui mesmo,
As forças da morte com disposição enfrentaremos.

Que a graça do Amor de Deus no coração seja impressa,
Acendei Senhor, em nós, a chama do amor sedutor e eterno.
Tudo nos será mais fácil: faremos grandes coisas muito depressa,
E com pouco trabalho, faremos o mundo mais belo e fraterno.

Olhos que se abrem, corações que ardem!
Ontem, hoje e sempre, somos discípulos do Senhor também.
Olhos que se abrem, corações que ardem
No coração da Sua amada Igreja. Amém! Aleluia! Aleluia!




Poesia inspirada na passagem do Evangelho dos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35).

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